A Nova Professora
CAPÍTULO II. A NOVA PROFESSORA
Se alguém a dissesse que algum dia ela chegaria a fazer o que estava para fazer, ela não acreditaria. Teria rido da pessoa, na verdade.
Não podia acreditar... Mas era verdade. O seu Mestre tinha pedido, ela tinha que aceitar.
Suspirou.
Começou a analisar a situação: Estava pela primeira vez na vida no expresso Hogwarts. Já tivera problemas com a parede da estação, já tivera problemas com o seu malão...
Nada mais podia dar errado, uma vez que ela estava dentro do trem, sã e salva...
E somente agora ela começava a se preocupar.
‘Ora, vamos, Katrina, você tem que admitir que não quer fazer!’
Passou as mãos exasperadamente pelos cabelos.
‘Oh, Merlin!’
Já fazia duas semanas que ela não conseguia dormir direito... Isso desde que o seu Mestre tinha lhe convocado pela última vez e lhe apresentara o seu mais novo plano para ela: Teria que ir à Hogwarts, ganhar a confiança de todos e espionar. Mas, no meio tempo, ela teria que seduzir o Comensal da Morte que estava infiltrado lá dentro e descobrir a quem ele era leal.
‘Agora eu me tornei uma puta. Maravilhoso.’
Sim, uma puta. Essas foram as exatas palavras que o seu Mestre tinha usado. Ele dissera, naquele infame encontro, que ela deveria usar de todos os artifícios que ela possuía como mulher. Disse que ela deveria fazer com que ele se apaixonasse profundamente por ela. Disse que ela deveria fazer tudo o que ele quisesse na cama, que virasse a puta dele, só para fazê-lo falar a quem era fiel.
Não era isso que queria...
‘Mas é isso que o seu Mestre quer, então você vai fazer.’
Fechou os olhos e suspirou... Talvez, se dormisse só um pouco, aquela viagem seria menos longa.
XxXxXxX
‘Inferno!’
Ele nem sabia se suspirara ou se apenas pensou. Lá estava ele, em mais um ano, na sala de Dumbledore. As cadeiras estavam dispostas em círculos, quase todos os professores já estavam lá. Faltavam apenas Sibila, Hagrid e a tal professora de Defesa Contra as Artes das Trevas.
Sentou-se no lugar que lhe cabia, ao lado esquerdo do diretor. Olhou insistentemente para porta, esperando que ela se abrisse e toda aquela palhaçada de reunião de boas-vindas acabasse de uma vez, para que ele pudesse ir para o seu quarto, tomar um whisky e rir da sua capacidade de perder um emprego para uma garotinha de vinte e dois anos.
‘Onde diabos andam aqueles dois?’
“Aqueles dois” eram Hagrid a e professora nova. O trem já deveria ter chegado há alguns minutos... Só quem estivera na viagem fora os dois: ela porque, Merlin sabe como, nunca tinha vindo à Hogwarts, logo não podia aparatar nas proximidades, e ele porque estava cumprindo as poucas atividades de guarda-calça que ainda lhe cabiam.
Mas eles já deveriam ter chegado! Já estava mais que na hora!
A porta se abrindo abruptamente quebrou os pensamentos dele.
Ele levantou a cabeça, meio sobressaltado.
‘Finalmente!’
Mas não eram Hagrid e a nova professora... Era apenas a espalhafatosa Sibila, que, mais uma vez, estava atrasada.
Ele rolou os olhos e respirou fundo, enquanto aquele projeto de mulher tomava o seu lugar, entre Flitwick e Hooch.
‘Mais espera...’
Mas a espera não foi tanta assim. Ele mal concluiu a frase em sua mente, a porta tornou a se abrir, dessa vez para o meio-gigante e a menina...
E a menina o surpreendeu. Ele prendeu a respiração por um momento.
Ela não era, de maneira alguma, uma menina. Era uma mulher. Uma bela mulher.
Longos cabelos loiros caiam até a sua cintura, moldavam o seu rosto... Davam a ela um aspecto quase misterioso. Grandes olhos azuis, ele percebeu, o encaravam firmemente. Lábios rosados desenhavam um tímido sorriso... O olhar dele desceu pelo corpo bem desenhado...
...e a voz de Dumbledore chamando o seu nome o despertou.
- Sim, diretor?
- Eu só estava dizendo que essa é Katrina White, a nossa nova professora de Defesa Contra as Artes das Trevas. Mas a sua cabeça parecia estar... Er... num lugar melhor.
Ele crispou os lábios, enquanto via a nova professora enrubescer e baixar o olhar.
- Eu sei que esta é a nova professora – ele respondeu secamente. – Até por que ela é a única desconhecida aqui. Eu não preciso estar concentrado em nada do que você diz para saber disso.
- Mas ela não sabe quem você é, Severo.
Ele olhou ligeiramente para a mulher, que ainda sorria – o que lhe irritava profundamente. Voltou-se para Dumbledore.
- Aparentemente, ela terá bastante tempo para fazer isso. Com licença.
E deixou a sala.
XxXxXxX
Que homem era aquele! Ele era feio, velho, mal-humorado... Como ela conseguiria fingir estar apaixonada por ele?... Como ela faria com que ele se apaixonasse por ela? Ela até achou que pudesse ser possível assim que entrou, quando ele a olhou nos olhos... e depois passou a examinar seu corpo todo... Mas...
‘Mas ele mostrou que, a primeira vista, me despreza.’
O pior de tudo era pensar que ele poderia ser, no fim das contas, apenas um traidor imundo! Além de tudo! Mas ela tinha que fazer isso... Pelo Mestre... Ele merecia tudo.
- Katrina?
A voz do diretor a chamando a despertou de seus pensamentos. Ela o olhou, e então sorriu, tentando se desculpar.
- Desculpe-me, Dumbledore, mas a minha mente estava longe.
O velho sorriu.
- Parece que muitos aqui andam se distraindo... É melhor dar a reunião por encerrada.
XxXxXxX
Batidas na porta.
‘Inferno!’
Ele se levantou lentamente. Há tempos não conseguia dormir... E, quando finalmente consegue, algum desocupado vem atrapalhá-lo.
‘Desocupado e inconveniente...’
Foi até a porta, pronto para mostrar a seja quem fosse a criatura que ousara atrapalhar o seu sono que não era bem vinda... Mas a sua carranca caiu quando viu que a intrusa era a bela nova professora.
White estava, lá, parada em sua frente, com aquele mesmo sorriso tímido e ingênuo que tinha apresentado a ele horas atrás.
- Oi... Er... Eu trouxe vinho.
A mulher levantou a garrafa que vinha trazendo em sua mão esquerda. Era tão graciosa. Mas não. Era apenas a garota que roubara o emprego que era dele por direito.
- Eu vejo.
- Será que posso entrar?
Ele crispou os lábios e se afastou da porta. Será que essa mulher não percebia que ele não queria falar com ninguém, sobretudo com ela? Será que não dava para perceber que ele só queria um momento de paz? Não... Se ela não percebeu que roubara o emprego dele, como perceberia que não queria a presença dela... Ou será que queria?
‘Não queria! Ela roubou o seu emprego!’
Katrina White entrou na sala onde ele costumava dar as suas aulas. Agora ela já estava dentro. Só faltava saber o que diabos ela queria com ele.
- Professora White será que posso perguntar...
- O que eu estou fazendo aqui?
Ele
estreitou os olhos. Detestava ser interrompido. Ela apenas manteve aquele sorriso infame preso na cara. Será que tinha algum parentesco com Lockhart? White continuou a falar.
- É simples, professor Snape – ela suspirou. – Eu estou acostumada a ser amada por meus companheiros de trabalho, seja qual for o trabalho... E posso dizer que já tive tempo suficiente para conhecer um pouco de cada outro professor daqui... Todos parecem ter gostado de mim... Mas o senhor sequer me deu a chance.
- E você está querendo uma chance, é isso?
- Exato. Eu tenho certeza de que você vai acabar gostando muito de mim... Sabe, eu não gosto de ter inimizades e...
- Tudo bem, White. Vamos.
Tudo para calar aquela mulher irritante um pouco...
Ele só não pensou, talvez, que a chamar para ficar significava que concordara em conversar com ela... Pelo menos era isso que ela provavelmente imaginaria.
XxXxXxX
‘Ponto para mim!’
Ela tinha que admitir que, talvez, essa tarefa que fora designada para ela fosse um pouco mais difícil do que pensava. Tudo bem, ela pensava que ele fosse um homem solitário.. Mas o problema é que ele parece ser um solitário convicto.
De qualquer forma, para o bem ou para o mal, o primeiro passo já estava dado. Agora só faltava o mais difícil: ser agradável o suficiente para que ele abrisse a sua vida para ela.
Ela o seguiu pela sala em que ensinava os seus alunos a fazer poções... E depois uma porta, bem no fundo da sala... Que ao se abrir revelou uma confortável sala de estar.
Ela entrou. Escutou a porta se fechado atrás de si. Baixou a cabeça.
‘Apenas seja agradável.’
- Posso me sentar?
Ele crispou os lábios.
- Que tipo de homem seria eu, White, se permitisse que a senhorita ficasse de pé? – Ele não dissera isso com nenhuma gentileza. A olhou com desprezo. – Eu vou pegar as taças.
E deixou a sala.
Ela se recostou na cadeira e suspirou. Aquele homem era, definitivamente, impossível!
‘Tomara que não seja gay, também...’
Ele entrou novamente, trazendo em suas mão duas taças e uma espécie de abridor que ela nunca tinha visto na vida... Na verdade, costumava abrir as suas garrafas com magia... Era muito mais fácil.
Snape pegou a garrafa das mãos dela e tirou a rolha. Ela apenas o observou. As mãos dele, ela notou, eram bem grandes. Muito brancas, também. As unhas eram curtas, bem cuidadas... Os dedos... Eram bem logos... Longos o suficiente para fazer uma mulher muito feliz. Ela quase riu... Mas teve que se conter, pois ele estranharia uma risada fora de hora.
Ele serviu os dois. Ela pegou a sua taça e bebericou.
- Então? Você vai ficar calada aqui o tempo todo?
‘Irritante!’
Ela simulou um sorriso.
- Não, professor. Eu ficaria realmente feliz de lhe conhecer um pouco.
Ele ergueu uma sobrancelha.
- Eu sou Severo Snape, mestre em poções. Satisfeita? Pode ir agora.
- Não, professor, eu não estou nem um pouco satisfeita. Isso eu já sabia. Dê-me um fato novo.
Ele parecia que ia matá-la, tal o
olhar que enviou para ela. Ela se incomodou, mas manteve a compostura. Precisava disso.
- Eu estou com sono.
Ela riu.
- Ora, mas isso passa com vinho! Vamos, professor, nós seremos colegas por muito tempo! Não seria ótimo ter uma convivência saudável comigo? – Ele continuou calado, apenas fitando-a. – Certo... Eu começo, então. Meu nome é Katrina White... Você pode de chamar só de Katrina, por favor... Não Kathy! Eu odeio que me chamem de Kathy!... O que mais...? Ah! Eu sou solteira, tenho vinte e dois anos. Moro em Londres desde que saí da escola... Estudei em Beauxbattons. Falo francês fluentemente, é claro... Mas sou inglesa. Hm... Há dois anos eu vivo no meio dos trouxas... Sabe, tiveram rumores de que a guerra tinha voltado, então eu achei que talvez fosse mais seguro ficar entre eles... Falei demais! Sua vez.
Ele virou os olhos.
‘Isso! Ele vai ceder!’
- Não foram rumores, a guerra de fato recomeçou. Eu odeio a França. Minha idade e o meu estado civil não são da sua conta. Você sabe meu nome. Eu não preciso conviver com você e não, nós não seremos colegas por muito tempo. Satisfeita, agora?
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!