O Caminho do Sol



   No dia seguinte, Harry chamou Gina no almoço para encerrar de vez aquela história. Ele a levou para uma sala vazia, sem jeito.


  - Gina, eu... Sinto muito, mas...


  - Eu sei, vai terminar comigo. Desde ontem eu estava pensando, e acho que esse seu amor por mim foi mesmo bastante repentino. E, com tudo o que aconteceu ontem, vi que não era a mim que você amava, era sua mãe.


  - É. Agora eu sei disso. Desculpe ter lhe dado esperanças de algo que não aconteceu... Eu realmente não queria, eu sou mesmo um idiota, mas eu...


  - Shhhh... Não diz isso. Na verdade, eu sempre soube que você não gostava de mim, não de verdade. Mas eu também fui boba. Queria aproveitar, nem que fosse só um pouquinho mais... – ela desviou o olhar. – Mas agora eu sei. Não é comigo que você deve ficar. Não sei com quem, e juro que quando souber eu mato, mas... – ela riu. – Sei que não é a mim que você ama. E eu não poderia amar pelos dois... – Harry a calou, com um último beijo.


  - Guarde isto com você: eu te amo, Gina Weasley. Mas não do jeito que você me ama. Pra mim, te ter por perto já basta. E, quando eu achar a pessoa certa, não mate! – ele riu com ela. – Tudo bem, pode espancar um pouco, eu entendo, sempre quis fazer isso com o Dino antes, sei como é... Mas, se matar, não vai sobrar nada pra mim! – eles riram.


  - Você é um cara legal, Harry. Sei que vai ter alguém bom pra você. Não será, por exemplo, uma sonserina.


  - Não, espero que não... – Ele respondeu, rindo mais uma vez. Mas era sexta-feira, e tinham ambos que ir para aula.


 


*~*~*~*~*~*~*~*~*~*


 


  Durante o jantar, Dumbledore anunciou uma notícia surpreendente:


 


  - Infelizmente, a Prof. McGonnagal precisou se ausentar por muito mais tempo do que ela esperava. A Prof. substituta, Helene Bonjardim, vai continuar dando aula a vocês até o fim dessa etapa. As funções normalmente exercidas por monitores-chefe, na falta destes, serão divididas entre os monitores. Quando ela chegar anunciará os escolhidos.


 


  “É mesmo”, Hermione pensou, “Depois que ela apareceu ferida, na batalha, eu não a vi mais...” Mas, mais surpreendente ainda foi o fato de que, em seguida às suas palavras, as portas do Salão se abriram com um estrondo. Enrolada em um cachecol escocês e uma capa de viagem, carregando uma pesada mala, a Prof. McGonnagal entrou, mancando um pouco.


 


  - Desculpe entrar assim, Alvo, mas tenho notícias. – ela disse, serenamente. Ambos se ausentaram por todo o jantar. E vários boatos malucos começaram a aparecer. Mas nada ficou esclarecido. Os dois foram vistos retornando às suas funções normais, como se nada tivesse acontecido.


 


*~*~*~*~*~*~*~*~*~*


 


  Naquela manhã de sábado, Hermione havia tirado o dia para ler na biblioteca. Eles já haviam começado treinos separados, e Deryl treinava com Harry hoje. Caíque teria ficado encarregado de ensina-la, mas aparentemente estava com alguns problemas para resolver. Claro, ela teria de ir à aparatação, mas era só às três da tarde. Ainda faltava muito.


  Mas, ao ver a Prof. McGonnagal entrar, perguntando a Madame Pince por ela, se assustou. Nunca fora chamada assim por McGonnagal antes, e quando a viu assim, os meninos a quem ela chamou normalmente tomaram detenções. Ao vê-la, McGonnagal se aproximou.


  - Srta. Granger?


  - Sim, professora? – respondeu, receosa.


  - Me acompanhe até minha sala, sim? – ela se retirou. Hermione a seguiu, se perguntando o que poderia ter feito. A senha da porta da sala, conforme ouviu de McGonnagal, era ‘leões escoceses’. A Prof. entrou, mandando-a se sentar. Ela obedeceu.


  - Srta. Granger, tenho o prazer de informar que, embora com alguns meses de contratempos, temos a escolha dos monitores-chefes de Hogwarts. – Ela começou, solene. – Devo lembra-la de que o corredor à esquerda no quinto andar é da monitoria-chefe. A primeira porta é um escritório para relatórios. A segunda é um depósito para objetos confiscados e também o local para cumprimentos de detenções que não necessitem da supervisão de um professor. A terceira é o quarto do monitor. A quarta, que tem uma porta de ligação direta com a terceira e a quinta, é o banheiro dos monitores. Ah, só se precisa de senha pela porta de fora. As portas de ligações não precisam... Bem, deve estar se perguntando porque em nome de Merlin estou lhe dizendo isso. – Hermione concordou. Ficara tão tonta com a quantidade de informações que ainda não havia conseguido parar para pensar direito. – Srta. Granger, a quinta sala à esquerda da estátua de Boris, o Pasmo, pertence à nova monitora-chefe de Hogwarts, você!


  Hermione arregalou os olhos. Ela ia ter um quarto só pra ela? Um banheiro só pra ela? Ia poder andar até dez horas da noite por aí? Era bom demais para ser verdade.


  - Devo lembra-la de que, agora, você tem obrigação de deter quaisquer atos ilegais que porventura ocorrerem em Hogwarts, e que tem a autoridade de retirar ou conceder pontos de acordo com seu julgamento, e até de conceder detenções, desde que com a prévia autorização de um professor.


  - Sim professora! – ela respondeu, feliz, enquanto se virava pra sair da sala.


  - Espere, senhorita Granger! Não quer saber quem será seu companheiro de monitoria? – Hermione se voltou pra ela, ainda com um sorriso de orelha a orelha, tentando se lembrar de quem mais era monitor.


  - Claro, professora!


  - Você fará suas rondas noturnas juntamente com o novo monitor-chefe... Draco Malfoy. – ela respondeu, alegre. O sorriso de Hermione despencou. Como assim ia patrulhar toda noite com ele? Ia dormir em um quarto ao lado daquela doninha loira? Ia ter que DIVIDIR UM BANHEIRO COM ELE? Ah, não. Isso já era demais. – E sinto muito, mas sem reclamações. Ou vai com ele, ou dê seu posto para outra pessoa. – A Prof. se adiantou, prevendo a explosão de raiva de Hermione. Ela se acalmou. Não ia deixar aquele idiota babaca estragar mais nada na vida dela.


  - Nada contra, professora. – Ela respondeu, calmamente, voltando a sorrir. Afinal, ela tinha se tornado monitora-chefe.


  - Pode se mudar quando quiser a partir de agora.


  Saiu da sala, pretendendo conhecer seu novo quarto antes de se mudar. Foi ao quinto andar, até a estátua de Boris, o Pasmo, que dividia o corredor. Virou à esquerda. Abriu a primeira porta. Se deparou com um imenso escritório, contendo uma escrivaninha cheia de pergaminhos e penas e potes de tinta, um sofá vermelho que parecia confortável, duas cadeiras verdes (talvez para equilibrar as duas casas), cortinas prateadas, uma estante com muitos livros e uma escada no fundo. Curiosa, ela subiu.


  Havia um pequeno quarto com uma pequena cama de solteiro, um criado-mudo e um abajur, provavelmente para quando o monitor ficasse trabalhando até tarde e ficasse com sono demais pra sair dali. Desceu novamente as escadas e saiu da sala, passando à segunda porta.


  Deparou-se com uma sala que, à primeira vista, parecia um caos total. Mas, ao parar para se prestar atenção, percebia-se que o que parecia ser uma bagunça era na verdade várias estantes altas e até bem organizadas. A aparência de zona se devia aos milhares de diferentes objetos nas estantes: desde Frisbees dentados até a garrafas de Felix Felicis, todo tipo de contrabando que pudesse imaginar. Aparentemente, a senha ainda não havia sido colocada por falta dos monitores. Depois perguntaria à McGonnagal sobre a senha. No centro da sala havia uma pequena escrivaninha, com rolos de pergaminhos, penas e tinta, e duas cadeiras, provavelmente para cumprimento de detenções. Saiu também desta sala.


  Passou direto pela terceira. Não estava a fim de conhecer o quarto do Malfoy. Tentou abrir a quarta, mas a senha já havia sido habilitada nesta. Enfim chegou à porta de seu quarto. Ao destrancar a fechadura, porém, a porta não se abriu. Um feitiço da Fala, instalado na maçaneta, perguntou:


  - Hermione Jane Granger?


  - Sim, sou eu. – ela respondeu, meio surpresa.


  - Você deve decidir a senha para a porta. – a maçaneta explicou, com uma voz de ‘sou-coisa-não-tô-nem-aí-vou-perder-o-feitiço-assim-que-a-senha-for-decidida-mesmo-e-coisas-não-tem-sentimentos’.


  - Hummmmm... Eu posso mudar depois?


  - Sim. A cada dois meses a senha deverá ser trocada. – a maçaneta respondeu, ainda com a voz de ‘pelamordeMerlin-não-faça-a-autora-repetir-tudo-aquilo’.


  - Então, por agora, deixa a senha sendo ‘Recanto’...- ela falou, e a porta perdeu o feitiço, se abrindo. Enquanto a porta se abria, a boca de Hermione ia caindo. Havia uma enorme cama de casal, bem abaixo da janela, vermelha com as almofadonas douradas. Ao lado da cama, um criado-mudo de três gavetas, com detalhes perfeitamente trabalhados, e um abajur em cima. Um enorme tapete vermelho com o brasão da Grifinória se estendia pela maior parte do chão. Um armário trabalhado em branco e dourado, duas estantes douradas e um lustre enoooorme completavam a decoração. O quarto era imenso e arejado, o tipo de lugar que Hermione gostava. E, do outro lado da cama, quase escondida, havia uma porta.


  Hermione primeiro se jogou na cama. Tanto ela quanto as almofadas eram macias, parecia que ela estava deitada em uma nuvem. Só de ficar ali já lhe deu vontade de descansar. Mas, com algum custo, se levantou, indo até a porta. A destrancou, verificando que essa porta não precisava de senha. Mas, mesmo assim, a porta falou.


  - Quando for usar o banheiro, não se esqueça de trancar a porta do outro monitor! – ela advertiu, também com aquela voz de... Ah, você já sabe, né?


  Ao entrar no banheiro, sua boca caiu mais alguns centímetros. Assim como Harry descrevera, uma banheira que se afundava no chão como uma piscina tinha várias torneiras douradas em volta, e haviam os boxes de chuveiro a um canto, além do lindo vitral com a sereia a pentear os cabelos. Voltara à torre da Grifinória, para buscar suas coisas, decidida a não deixar nem mesmo Malfoy atrapalhar aquela felicidade.


 


*~*~*~*~*~*~*~*~*~*


 


  Terça-feira à tarde. Harry desceu para o Campo de Quadribol, como de costume. Jason já estava lá, assim como Hermione. Deryl chegou logo depois dele.


  - Você... – Deryl falou, simplesmente, ao ver Jason. Fitou-o por alguns segundos, depois deu-lhe as costas. – Hermione, Caíque quer treinar você na Floresta Proibida, hoje. – Hermione soltou um gemido, mas foi até a floresta, se arrastando. – Agora, Harry, parece que você chamou um convidado.


  - Esse é o Jason, aquele que lutou com os outros alunos e com o senhor na batalha. Eu descobri que ele tem uma aura, e que sabe controlá-la um pouco. O senhor me disse que tinha uma escola, e que ensinava pessoas a controlar a aura, então pensei em trazê-lo para o senhor...


  - Fez bem. Então, hoje vou treinar o seu amigo. Tenho um convidado especial para você.


  - Olá, Harry. Faz muito tempo, não? – Harry se virou. Lá estava Carlinhos Weasley, a queimadura de dragão reluzente à luz do sol.


  - Carlinhos! Veio saber do Rony? Não temos nenhuma novidade, por enquanto...


  - Não Harry. Eu já fui um Guardião, lembra? Ao contrário de Deryl, e até mesmo de Caíque, eu sou o único que pode te ensinar como é ser realmente um guardião. Embora eu não saiba muito sobre o seu elemento, nunca me dei bem com Dreik. Bom, o mais importante em um guardião é ter plena consciência de seu Hemon, o seu verdadeiro ‘eu’. - ele começou, assumindo um tom professoral. -  Isso é a maior arma e ao mesmo tempo a maior fraqueza de um guardião. Permite que ele conheça todos os seus medos e anseios, e todo o limite de seu poder. – Carlinhos sentou-se. Harry o acompanhou, reparando que Jason e Deryl não estavam mais lá.


 - E como eu posso fazer isso?


 - Cada Guardião descobre à sua maneira. Eu poderia lhe contar como eu fiz, mas não adiantaria em nada se não fosse o seu jeito. E, na maioria das vezes, um estilo é totalmente diferente do outro.


  - Mas eu nem sei por onde começar...


  - Harry. Presta atenção. Eu sei que você vai fazer alguma burrice de novo, e vai atrás do meu irmão. Mas eu também sei que, por mais idiotice que for, eu não vou pará-lo, porque eu na verdade também queria poder fazer alguma coisa. Infelizmente, já faz muito tempo que meu poder se foi. Eu vou te ensinar todo o principal, que só um Guardião poderia saber. Mas você terá de se esforçar também.


  - Pode deixar. Eu vou. Mas... Porque Hermione não está aqui também?


  - Porque a busca pelo Hemon requer, primeiro de tudo, assumir seus erros. E Hermione parece acreditar piamente que ela pôs Rony nessa situação toda. Há outro motivo, também... - Ele abaixou o tom da voz, como que para Deryl não ouvi-lo. - Lembra-se da minha missão? A que eu estava, a mando de Dumbledore, enquanto vocês estavam na Toca...


  - Sim, da Ordem, não é? Secreta...


  - Eu estava atrás do esconderijo de Voldemort, Harry. E eu finalmente o encontrei. Provavelmente, é lá que eles estão mantendo Rony, porque as informações que recebi sobre a busca de Caíque batem com as minhas.


  - Você o encontrou? - Harry perguntou, ansioso.


 - O esconderijo, sim. É por isso que não quero que Hermione saiba. Ela não pode ir.


 - O quê? Porque?


 - Porque ela ainda não está pronta. A água é muito mais maleável e menos suscetível à vontade do Guardião do que a Terra, por exemplo. Se ela falhar em um momento crítico, será o fim dela.


 - Acho que posso dar um jeito. Ela é muito cabeça-dura, mas não vai recusar ser importante aqui. Se ela ficar para que Deryl não nos impeça, ela não achará ruim. Só que isso quer dizer também que não vamos poder contar com a ajuda de Deryl, ou seja, teremos que ir pra lá escondidos, nas férias de Natal. O que significa que teremos que trabalhar dobrado... - ele disse, se sentindo determinado. - Ok! Como eu devo começar a encontrar meu Hemon?


  - Bom - Carlinhos começou, notando a súbita determinação nos olhos do garoto. - Há cinco passos básicos para se encontrar o Hemon. Os obstáculos são os mesmos - ele acrescentou, observando a incompreensão no rosto de Harry. - o que diferencia o estilo de cada um é como ele os supera. Seja como for que você o fizer, se superar esse obstáculo, já está um passo adiante, mesmo que tenha matado alguém ou jejuado um mês pra cumpri-lo. Está entendendo?


  - Cinco passos. Posso cumpri-los como quiser, desde que alcance o objetivo. Entendi. - Harry repetiu, como de hábito, para compreender melhor. - Vamos aprender o primeiro hoje?


  - Sim, você vai. Lembre-se que qualquer um dos passos pode levar de dois minutos a dois anos pra ser cumprido, então não se frustre se não consegui-lo hoje ou essa semana. E eu só posso ficar aqui hoje, também. Vou passar as instruções, te acompanhar por hoje, mas depois, você deverá treinar por si mesmo. Se tiver alguma dúvida, ou conseguir, me mande uma coruja. Responderei a dúvida, se for complicado virei aqui, se tiver conseguido também virei, pra passar a próxima fase.


  - Então... Qual é? - Harry perguntou, inseguro. Carlinhos sorriu de lado.


  - Já te disse, não? É a fase de assumir seus erros. Aqui está... - Carlinhos puxou a varinha e se concentrou.


  Visivelmente com muito esforço, conseguiu produzir uma aura amarela, que brilhava à luz do sol. Uma linha branco-gelo quase não aparecia, semi-transparente sob a luz intensa. Ele iniciou uma complicada série de movimentos, que Harry pensou que jamais aprenderia, e por fim, ergueu-a aos céus, em direção ao sol.


  - Sol, date eius potestatem! Illuminare in iter tenebrae, purgandum errores et culpas, dans viribus et animi ad quod quaerenti! - ele terminou. Uma luz também amarela pareceu vir do próprio Sol até a ponta da varinha de Carlinhos, e ele a moveu em um arco para se refletir em Harry. O próprio Harry se sentiu brilhando, e então foi tomado por um intenso calor. Naquele momento, ele se sentiu capaz de enfrentar qualquer coisa, fosse futura ou passada. Em dois segundos, porém, aquilo passou, e ele voltou ao normal. - E então? - Carlinhos perguntou, sorrindo, com uma aparência extremamente cansada.


  - Eu me senti... Incrível. E senti calor também, muito calor, por dois segundos... - Harry calou-se. Acabara de notar que, em cada um dos braços e nos pés, surgiram pulseiras com contas brancas. Carlinhos também notou, e continuou sorrindo.


  - Você tem muita sorte. Eu fiquei três meses com um calor insuportável. Morri de ódio vendo Dreik rir-se de mim. Ele também só ficou dois segundos. Guardiões do Fogo, Harry. Calor pra vocês não existe. - ele explicou. Então apontou as pulseiras. - Marcadores de culpa. Até que você tem poucos... Pelo tanto que passou... - ele disse, pensativo, mais para si mesmo do que para Harry. - Cada uma dessas contas é um erro que você cometeu ou uma culpa que você sente. Livre-se de todas as contas, e a pulseira cairá. Livre-se das quatro pulseiras, e completou o caminho do Sol. Como se livrar delas cabe a você... - Carlinhos piscou pra ele. Cambaleando um pouco, sentou-se no chão. - Vou ficar aqui e me recuperar um pouco. Estarei no castelo o dia inteiro. Pode me procurar quando quiser. Você não terá mais treinos até completar a tarefa, então quanto mais cedo, melhor... Deryl ia treinar Hermione enquanto isso, mas parece que ele se interessou por aquele amiguinho que você trouxe hoje. Acho que Caíque pode cuidar dela. Bem, quanto mais cedo você começar, Harry...


  - Ok. Então, hã... Se eu me arrependi de ter comido ovo no café da manhã de hoje, acho que isso não conta, não é... - ele falou, encarando a pulseira de sua mão esquerda.


  - Não se você não se sente muito culpado por isso. - Carlinhos sorriu para ele.


  Harry sentou-se de frente para Carlinhos, pensativo. Tornou a reviver sua vida até onde podia se lembrar. Pelo que lhe pareceu, não houve muito do que se arrepender do tempo que viveu como trouxa. Sua vida era apenas um dia após o outro, sem expectativas, esperando apenas a hora de ir dormir e acordar de novo, e suas únicas preocupações eram pelo que os tios iriam culpá-lo da próxima vez e se a turma de Duda já estaria pensando em encurralá-lo de novo. Mas então descobrira toda sua história. De como se sentira quando descobrira que era bruxo, e de como ficara admirado com tudo o que vira. De como sentira culpa quando soube que seus pais morreram naquele ataque. De como sua culpa aumentara ainda mais quando soube que foi para protegê-lo, e que isso não teria acontecido se não tivesse sido marcado por aquela profecia. A dor em seu peito aumentou cada vez mais, a cada conclusão que chegava. Sentiu seu braço esquerdo pesar cada vez mais. Olhou para seu pulso. Duas das pulseiras haviam ficado verde-escuras, quase cor de musgo, e pesavam seu braço todo para baixo. Arregalou os olhos assustado. Encarou Carlinhos, que apenas sorriu.


  - Você acaba de achar duas culpas. Agora livre-se delas. Se elas estão aí, é porque você acha que tem culpa nelas, mas não tem. Tente se convencer disso. - ele deu de ombros.


  Harry imediatamente discordou. É claro que havia sido sua culpa. Não tinha como não ser. Seu braço pesou ainda mais, começou a rachar a terra do campo de quadribol. “Não... É claro que foi minha culpa... Pare de me dizer que não é...” ele se culpou. “Mas... E se não fosse?” Esse raciocínio súbito surgiu em sua mente. O peso em seu braço imediatamente parou de aumentar. Permaneceu o mesmo. Ele fechou os olhos e deitou na grama, para relaxar o braço. Em sua mente, viu a si mesmo. Então, viu a si mesmo se dividir em dois. Eles se viraram um contra o outro. Harry não podia acreditar. Abriu os olhos. Lá estava o céu, azul e ofuscante. Tornou a fechá-los. Os dois Harrys ainda estavam lá, se encarando.


  - E então? - o Harry da esquerda disse, e algo em seu braço esquerdo brilhou em um verde musgo, como se fosse uma tatuagem.


  - Você precisa se decidir... - O Harry da direita falou, e seu braço esquerdo brilhou em verde claro, da cor de sua aura.


  - Me decidir? - ele perguntou.


  - De que lado você vai ficar? - Harry da esquerda perguntou, puxando sua varinha. O da direita fez o mesmo.


  - Nenhum de nós vai poder ganhar essa luta sem a sua ajuda. Você tem de se decidir. - O Harry da direita sorriu para ele, ainda encarando Harry da esquerda. Eles se curvaram, ergueram as varinhas...


  - Espera... Vocês vão...? - ele começou, mas não pôde terminar, pois os dois Harrys imediatamente dispararam jatos azuis idênticos de suas varinhas. Isso iniciou uma série de ataques e defesas, em sua maioria idênticos, e nenhum dos lados parecia ter vantagem sobre o outro. Então, Harry da esquerda falou com ele.


  - Seus pais estão mortos! ‘Nossos’ pais estão mortos! De quem é a culpa? Quem é o ‘Eleito’? Quem é o ‘menino-que-sobreviveu’? Nós somos! E a que custo? A VIDA DOS SEUS PAIS! - ele terminou, se desviando de um jato particularmente forte e roxo. Harry se sentiu tremer. Aquilo era tudo que se revolvia em seu íntimo desde que ouvira a profecia. É claro que era verdade... Seu braço pesou ainda mais, a tatuagem verde-musgo brilhou mais intensamente. Imediatamente, houve uma mudança na batalha. O duelo se desequilibrou, e o Harry da esquerda começou a atacar com mais eficiência.


  - NÃO! Você sabe que não é verdade. Você era só um bebê! Você não teve culpa. Nossa mãe e nosso pai morreram salvando a gente, porque nos amavam. Eles teriam feito isso quer houvesse uma profecia ou não, quer fosse Voldemort ou qualquer outro bruxo! Lembre-se que nossa mãe já estava destinada a enfrentar Voldemort, aquilo iria acontecer, e mesmo que ela não estivesse, a culpa não foi sua!


  - Eu... Eu... Eu não queria que eles tivessem morrido...


  - E você ia dizer pra eles não nos proteger? Coloque-se no lugar deles, você não teria feito o mesmo? E gostaria que seu filho achasse que a culpa foi toda dele? - Harry da direita se defendeu de um golpe forte a custo. Lentamente, porém, foi conseguindo desvia-lo. Surpreso, olhou para Harry. Este sentiu que chorava.


  - Eles foram... Corajosos, não foram? Eles me salvaram... Isso deveria ser... Uma honra pra mim... Ou talvez um incentivo... Mas não posso... Não ‘vou’... Me culpar por algo que eu sei que veio do coração deles! - ele quase gritou a última parte, ainda chorando. Harry da direita sorriu.


  - NÃO! - Harry da esquerda gritou. E então, Harry percebeu que estava segurando sua varinha, e que agora estava de frente para Harry da esquerda. Ele havia assumido o lugar de Harry da direita, ao tomar seu partido. Ele anulou o ataque, se sentindo mais forte e mais confiante.


  - Inrig Ectinger! - ele gritou, disparando uma flecha de fogo da ponta da varinha. A flecha pareceu ganhar mais intensidade enquanto voava, e então, ao invés de laranja, suas chamas brilharam amarelas como o Sol. A escuridão ao redor se iluminou fortemente, revelando um salão de mármore branco. A flecha atingiu o outro Harry, fazendo-o desaparecer em chamas.


  Imediatamente, sentiu o peso em seu braço sumir. Abriu os olhos. Carlinhos estava por cima de seu campo de visão, o rosto preocupado. Por trás dele, estava o céu. E, lá no alto, brilhando, estava o Sol, tão forte quanto é há milênios, milhões de anos. ‘Obrigado...’ ele agradeceu mentalmente.


  - Harry? Harry? Você está bem? - Carlinhos perguntou. Harry se levantou.


  - Estou... Foi uma das decisões mais difíceis da minha vida. - ele comentou, mais para si do que para Carlinhos.


  - Mas pelo visto você conseguiu. Olhe sua mão. - Carlinhos sorriu para ele. Harry baixou o olhar. As duas contas que haviam ficado verde musgo agora estavam verde brilhantes, como seus olhos.


 


*~*~*~*~*~*~*~*~*~*


 


N/A.: ... É, não tenho o direito de dizer nada. Só tenho a ousada esperança de que vocês ainda (se por um milagre) não tenham desistido dessa fic. Vou tentar escrever mais, mas mesmo assim ainda tenho a cara-de-pau de não prometer nada. Devia ter posto essa fic em hiatus, mas não o fiz porque sabia que deixaria de escrever de vez se o fizesse. Só posso esperar que alguém ainda se lembre dessa fic...


 


E muito, MUITO obrigada a todos que comentaram. Não teria forças pra terminar esse capítulo se tivesse sido abandonada. (e não, Douglas, eu não ligo, na verdade existem histórias assim já - embora eu só as tenha lido depois de ter feito a minha >.<)


 


 

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Comentários (1)

  • Dryka Jane M. Potter

    Simplismente adorei a sua fic!!! Please ñ pare d escrever!!!!VC é ótima, só um ploblema, vc demora muito para postar, faz anos que essa fic foi criada e ainda está no cap. 8!!!!! Assim os leitores vão cansar de esperar, e desistiram de sua fic!!!!!!Só ñ para de escrever, e um problema, tenha diágolos mais curtos,os longos cansam um pouco!!!!!Mais vc escreve super bem, se der manda uma previ do próximo cap. pra mim!!!!!!!!Postaaaa logooooooo!!!!!PLEASE!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

    2011-08-15
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