Sob a Marca Negra, Um Dragão



— Que insignificância! Vamos, vamos sair daqui.
— Mas pai, os jogadores vão subir agora. Eu queria... — Draco começou a tentar argumentar com o seu irritado pai, Lúcio malfoy
— Não discuta comigo Draco! Eu quero ir embora e não vou deixar que meu filho participe da festa dessa ralé!
Draco se viu obrigado a ir embora com seus pais no momento que Krum entrava no camarote, com seu jeito soturno e seu grande nariz adunco. O menino já o tinha conhecido antes, mas nunca o observara voar. Ele era realmente fantástico sobre uma vassoura.
Há três anos, quando seu pai pensava em matriculá-lo no Instituto Durmstrang, Draco, em uma visita ao lugar, havia visto Krum. Na época ele já era o favorito do prof. Karkaroff, talvez porque já começava a demonstrar habilidades esportivas. Não conversou nem um pouco com ele e agora se arrependia por isso. Deveria ter feito amizade com Victor Krum enquanto tinha sido possível.
No momento em que desciam as escadas, Draco ouviu um grande estrondo e fortes berros vindo do estádio e notou que mesmo perdendo, Krum ainda era um astro. Estava irritado com seu pai, afinal por que raios ele tinha que tira-lo naquela exata hora do camarote? Draco ficou com cara fechada durante todo o trajeto de volta a sua barraca, ouvindo as imprecações de Lúcio e sua mãe tentando acalmá-lo.
Chegaram no acampamento deserto e se dirigiram a sua barraca, que ficava no mesmo lado que as da torcida da Bulgária: uma barraca incomum de três andares, com um lindo jardim ao redor e uma estátua de uma serpente em uma fonte. Seu pai puxou a varinha e a porta da barraca se abriu para eles entrarem. Lá dentro podia se notar claramente a riqueza dos Malfoy. Estavam dentro de uma mansão, com hall de entrada, salas e quartos, tudo que a magia e o dinheiro deles haviam tornado possível existirem
— Venha, sente-se e acalme-se. Vou preparar algo para você, enquanto esperamos nossos amigos — disse sua mãe Narcisa, com suavidade, direcionando seu marido a uma sala ao lado. Draco a seguiu, sentou num enorme pufe perto da lareira ainda bravo pelo que tinha acontecido — Silly! Venha cá logo, sua elfa nojenta!
Draco observou, desinteressado, entrar a sua nova elfa doméstica. Ela era praticamente igual ao Dobby, apesar de a única diferença ser seus incríveis olhos amendoados cor-de-rosa. Vestia o pano de prato mais encardido que Draco já vira. Era mais jovem que Dobby, portanto, um pouco inexperiente, o que irritava a todos.
— Prepare algo para Lúcio e as bebidas para os nossos companheiros que chegarão daqui a pouco. E por favor, não queime nada — acrescentou Narcisa, com um toque amedrontador na voz. — Digamos que já estamos fartos de seus acidentes. Se falhar mais uma vez, seremos obrigados a presenteá-la com roupas.
— Não, minha senhora! Por favor! Silly será perfeita está noite.
— Impossível — Draco teve que acrescentar, desprezando aquela criatura nojenta.
— E você, meu tesouro, quer alguma coisa? — Sua mãe lhe direcionou a voz com o tom mais macio que possuía.
— Para essa imprestável me deixar com dor de barriga novamente? Não, obrigado!
Silly o olhou com algo que poderia lhe lembrar raiva, mas Draco, com seu tom mais prepotente possível, disse:
— O que foi, sua idiota? Meu pai está esperando! Vá fazer o seu trabalho medíocre!
A elfa entrou na cozinha e sua mãe subiu as escadas para, como Draco sabia muito bem, tomar banho mais uma vez. Isso na sua mãe o irritava muito. Ela e sua mania de limpeza... na verdade, tudo neste momento o estava irritando. Só de lembrar os gritos e risos de Potter, Weasley e Granger...
— Aquele Karkaroff... — Draco ouviu seu pai comentar baixinho, perdido em seus devaneios, olhando incessantemente para a chama da lareira.
— O que foi, pai? Falando sozinho?
— Oh, o quê? Não, não. Só estou pensando em como os ratos conseguem sempre se safar, mesmo sendo das formas mais sujas que existem.
— Mas você mencionou o nome do Sr. Karkaroff, o diretor de Durmstrang — Draco não estava entendendo nada.
— Pois era exatamente dele que eu estava falando.
Draco achou melhor esquecer aquela conversa. Seu pai, quando começava a falar coisas sem nexo assim, nem mesmo sua mãe era capaz de entender. A campainha acabava de tocar e Draco foi atender.
— Ó Draco, que bom, que bom vê-lo. Onde está seu pai? — disse um bruxo pequeno e atarracado
— Boa Noite senhores. Como vão? Meu pai está ali na sala ao lado, sr. Nott. Entrem por favor — Draco disse com o seu maior sorriso para o Srs. Avery, Nott, Crabbe e Goyle.
— Obrigado, jovem Malfoy.
Draco deu passagem para os visitantes amigos de seu pai entrarem. Já estava acostumado com essas visitas, mas estranhou o fato de os filhos deles não estarem junto para visitá-lo também.
— Onde estão seus filhos? — direcionou a pergunta para os senhores Crabbe e Goyle, os pais de seus colegas de Hogwarts.
— Ah sim, eles foram para a cabana deles. Estavam com muito sono e tristes pela derrota da Bulgária, jovem Malfoy. Além do mais, suas mãe preferiram que eles fossem dormir ao invés de ficar aqui até tarde — o sr. Crabbe lhe respondeu.
Sentou-se novamente irritado no pufe. Será que seus amigos não se importavam com ele? Quem permitiu que eles fossem descansar sem vê-lo. Enquanto fazia-lhe essas perguntas, começou a prestar atenção na conversa do grupo a sua frente. Algumas vezes os companheiros do seu pai falavam coisas interessantes e contavam histórias sobre os tempos passados...
— Por que demoraram? — seu pai perguntou em um tom irritado.
— Ah, sim. Estávamos saindo do estádio. Depois da vitória dessa corja da Irlanda, foi realmente difícil sair no meio daquela multidão. Viemos o mais rápido que pudemos — explicou o sr. Avery.
— Não posso acreditar que a Irlanda ganhou, mas não pegou o pomo. Aquele Victor Krum é bastante talentoso, mas ele não poderia esperar um pouco antes de agarrar o pomo — comentou sr. Goyle
— Ele é burro isso sim. Também, não é para menos. Olhe só por quem ele foi educado... — sr. Nott respondeu.
— Provavelmente ele veio assistir ao jogo. Para o bem dele, foi bom não ter me encontrado — disse sr. Avery
Draco estava muito curioso em saber quem era ele que nem notou a chegada de Silly, equilibrando uma bandeja com diversas taças preparadas com uísque de fogo, mas, ao perceber, reparou na dificuldade dela em traze-las, e achou que seria engraçadíssimo colocar o pé na sua frente para faze-la tropeçar.
“CRASH!”
— O que foi isso!? — seu pai se levantou, alarmado.
— A idiota da elfa fez burrada de novo.
— ISSO É MENTIRA! — a elfa doméstica guinchou. — FOI... — e parou e deu um soco no próprio estômago. — Foi a minha incapacidade, meu senhor. Por favor, por favor, deixe-me reparar esse erro.
— ESTÚPIDA! — agitou a varinha contra a elfa, e ela gritou de dor, como se tivesse sido atingida por um chicote, ao mesmo tempo em que um feio vergão surgiu em todo o seu rosto. — LIMPE ISSO AGORA! E QUERO NOVOS DRINQUES EM MENOS DE VINTE SEGUNDOS.
Draco se deliciava com toda aquela cena. Finalmente algo para quebrar o seu tédio, já que não estava entendendo nada daquela conversa chata dos mais velhos. Silly usou sua magia para consertar todas as taças e limpar o chão e saiu correndo para a cozinha com os olhos lacrimejantes.
— O que aconteceu? Draco você está bem? — sua mãe surgiu alarmada na porta da sala, pálida.
— Calma, querida, está tudo bem. Os senhores já chegaram — e se dirigiu a eles. — Me desculpem a incompetência dessa elfa. Sabe como está difícil conseguir uma elfa decente hoje em dia. Perdi o meu antigo, graças ao maldito Harry Potter.
— Está tudo bem, Lúcio. E pensar que no tempo do nosso Lorde, esses elfos realmente andavam na linha — acrescentou sr. Nott com um suspiro.
Narcisa saiu da sala após ter cumprimentado a todos, provavelmente indo para a cozinha, onde foi ralhar mais com Silly. Draco voltou a sentar no pufe, prestando atenção na conversa do seu pai novamente.
— Você perdeu Dobby para Harry Potter, Lúcio? — perguntou o sr Avery.
— Sim, há um ano. Ele ajudou aquele elfo nojento a conseguir roupas de mim, sem eu perceber. Foi no ano da reabertura da Câmara Secreta, lembra-se? A Câmara do nosso Lorde.
— Esse Potter é realmente muito esperto e poderoso, não é mesmo? — comentou debilmente sr. Crabbe, e Draco teve a absoluta certeza que ele era tão idiota quanto o filho.
— Glória ao nosso Lorde das Trevas! Você é realmente idiota, você... — rosnou Lúcio.
— Por que você ainda diz essas expressões antigas. Nosso mestre já está morto, não há mais como glorifica-lo! — interrompeu sr. Goyle
— Eu sinceramente não acredito que ele esteja morto... — comentou sr Avery. — Ele mesmo vivia dizendo que era impossível mata-lo. Que ele tinha tomado providências muito poderosas para evitar a sua própria morte.
— Então onde afinal ele está? Onde se encontra o nosso soberano? — perguntou sr Crabbe.
— Para mim ele apenas dizia aquilo para nos assustar, para evitar uma revolta entre os Comensais. — disse sr. Goyle.
— Não — começou lentamente sr. Nott. — Eu já me perguntei diversas vezes sobre isso. Ele pode muito bem ter tomado essas precauções, isso explicaria muita coisa como por exemplo o porquê de ele ter sumido e nem seu corpo ter sido encontrado. E além disso, o torna completamente poderoso.
— O que você acha que ele fez?
— O que quer que tenha sido ele guardou com muito segredo. Talvez com tanto segredo que impediu a sua ressurreição — finalizou Lúcio e olhou com uma cara de espanto para o sr. Nott. Draco achou que ele havia se dado conta de alguma coisa, mas que tinha resolvido esconder dos demais.
Draco finalmente estava achando a conversa interessantíssima. Se o Lorde das Trevas estava realmente vivo, não via a hora para poder fazer parte do seu exército de Comensais! Não via a hora de que o Lorde se vingasse de Harry Potter... Sua mãe entrou novamente na sala, seguida por Silly, que parecia estar prestes a desmaiar, carregando uma bandeja com taças de uísque de fogo, um pires com salgadinhos, e uma garrafa, interrompendo a conversa.
— Desculpe pela demora. Aqui estão as bebidas. Espero que não reparem na incompetência do serviço dessa casa. Acompanhei a em todo o processo, podem se deliciar tranqüilos.
Os senhores e seu pai se serviram, cada um com sua taça e começaram a beber e conversar novamente de outros assuntos. Sua mãe chegou bem perto de Draco e lhe deu uma enorme caneca com cerveja amanteigada com cobertura de chantily.
— Pode tomar meu filho. Fui eu mesmo que preparei — acrescentou com um sorriso de ternura
Draco se distraiu deliciando-se com a incrível bebida que a sua mãe havia preparado.

Os gritos o acordaram. Não tinha percebido, mas havia adormecido no pufe, com a caneca vazia no seu colo. Meio atordoado, tentou focar de onde vinham aqueles gritos, tentou focalizar a sala ao seu redor. Mas a sala estava vazia, havia uma garrafa vazia jogada ao chão e outra pela metade sobre a mesa. Silly estava estirada no chão, com a pele roxa e provavelmente inconsciente. Até que Draco notou... do outro lado da sala, sentada diante da lareira, sua mãe parecia estar paralisada. Draco bocejou e foi até ela e notou que ela estava chorando. Mas o que afinal tinha acontecido ali?
Os gritos pareciam cada vez mais distantes, mas indicavam que as pessoas que faziam aquela confusão toda estavam saindo do hall de entrada para fora. Draco perguntou:
— O que aconteceu, mãe? Que barulheira e bagunça são essas?
Sua mãe se assustou, como se não tivesse percebido a presença de Draco antes. Enxugou rapidamente suas lágrimas, mas disse em um tom triste.
— Seu pai e aqueles amigos dele. Beberam demais, estão indo procurar por Karkaroff no acampamento. Querem mata-lo.
Draco ofegou.
— Mas, mãe, estamos em plena Copa Mundial de Quadribol. O ministério está aos montes aqui. Meu pai não faria algo tão estúpido. E o que fez esse de tal de Karkaroff, aliás?
— Ele está frustrado, meu filho, desde o desaparecimento de nosso Lorde das Trevas. Ele não consegue se conformar até hoje de ter que esconder os seus hábitos para mostrar uma imagem de cidadão respeitável. E a bebida o ajudou a tomar essa decisão.
— Precisamos impedir, mãe. Precisamos.
— Não adianta.

Draco saiu na noite escura. Havia poucas fogueiras, e muitas das cabanas já haviam sido fechadas. Provavelmente já era muito tarde da noite. Mesmo assim ele conseguiu localizar o grupo de seu pai. Eles estavam vestidos com capas negras, gritando e gargalhando. Draco foi rapidamente em seu encontro e levou um susto ao encara-lo. Ele tinha uma máscara em forma de caveira cobrindo todo o seu rosto. Draco sentiu repentinamente um orgulho estranho, misturado com uma vontade de vomitar que ele não sabia muito bem donde vinha.
— Pare pai, você não vai querer fazer uma estupidez dessa, não é? Vamos voltar para casa. O ministério está todo aí, vamos...
E se calou, porque seu pai havia desferido um tapa fortíssimo no seu rosto.
— DESDE QUANDO EU TE ENSINEI A TER MEDO DO MINISTÉRIO? DESDE QUANDO MEU FILHO VIROU UM COVARDE? QUANDO VIU HARRY POTTER? QUANDO ESTEVE APRENDENDO COM DUMBLEDORE?
Draco estava paralisado, não conseguia se mover. Mas seu pai, repentinamente o abraçou e disse com uma voz macia
— Você tem que crescer, meu filho. Você tem que crescer, crescer mais do que qualquer um a sua volta, ficar acima de todos. Fique tranqüilo. Só vamos nos divertir e ninguém vai pegar a gente. Mas se você está com tanto medo, vá ali se esconder naquelas árvores.
— O.... o que vocês vão fazer?
— O que não fazemos há uns 13 anos... caçar trouxas! — disse com seu sorriso mais paternal possível.
— Vamos Lúcio! Vamos logo! Ainda temos que chamar os outros! — gritou Sr. Avery, com um jeito forte de bêbado.
— Vá, Draco
E Draco, atordoado, confuso começou lentamente a ir para àquela floresta. Sua mente estava completamente vazia e era como se algo tivesse sugado suas forças. Seu pai havia lhe batido. Em toda sua vida, seu pai e nem sua mãe haviam levantado à mão para ele e era assim que começava? Era assim que ele o via? Como um covarde? Como uma criança? Pois provaria a todos que não era mais uma criança, provaria a todos...
Chegou na orla da floresta e esperou. Viu ao longe o grupo sombrio de seu pai crescer em número de uma forma assustadora. Então havia tantos comensais soltos pelo mundo? Um jorro de luz verde iluminou os quatro cantos do acampamento e o choro de um bebê começou a ser ouvido, depois seguido por um grito de mulher e mais luzes e brilhos, até que lentamente, mas de forma acentuada, o lugar inteiro estava um caos total. Draco começou a assistir tudo aquilo como se fosse um filme, algo longe da sua realidade e bem distante da sua consciência. Viu pessoas correndo, caindo, barracas explodindo em fogos e o grupo de Comensais da Morte aumentar ainda mais.
As pessoas começaram a correr desabaladas para a floresta e ele saiu do caminho para não o notarem. Estavam todas desesperadas, como se estivessem revivendo o pior pesadelo de suas vidas, apesar disso, nada conseguia cativar Draco, tira-lo de seus devaneios e de sua observação fria. Viu até mesmo um elfo doméstico se movendo de um jeito estranho, como se algo o segurasse, mas não se importou com isso. Draco queria continuar assistindo, observar aonde tudo aquilo chegaria, qual seria a conseqüência que seu pai sofreria.
Uma voz conhecida chegou aos seus ouvidos e tirou do seu estupor.
— Lumus!
— Tropecei numa raiz de árvore — disse Weasley, levantando-se, aborrecido
— Ora, com pés desse tamanho, é difícil não tropeçar — disse Draco, não se contendo
Potter, Weasley e Granger se viraram rapidamente. Estavam, aparentemente, de pijamas, suados como se tivessem corrido muito e com uma cara bem desesperada.
— Ah, Malfoy, vá tomar...!
— Olha a boca suja, Weasley. Não é melhor você se apressar, agora? Não quer que descubram sua amiga, não é? — e indicou Granger com a cabeça
— Que é que você dizer com isso? — perguntou Granger em tom de desafio.
— Granger, eles estão caçando trouxas. Você vai querer mostrar suas calcinhas no ar? Porque se quiser, fique por aqui mesmo... eles estão vindo nessa direção, e todos vamos dar boas gargalhadas.
— Hermione é bruxa — rosnou Potter
— Faça como quiser, Potter. Se você acha que eles não são capazes de identificar um Sangue Ruim, fique onde está — disse Draco com seu maior sorriso.
— Você é que devia olhar sua boca suja! — gritou Weasley, sabendo que “Sangue-Ruim” era uma grande ofensa.
— Deixa para lá, Rony — disse Hermione depressa, agarrando Weasley pelo braço para conte-lo.
Ouviu-se um estampido do outro lado das árvores mais alto do que qualquer dos anteriores. Várias pessoas que estavam próximas se assustaram, inclusive Draco, mas não gritou e deu um risinho abafado para esconder o seu susto.
— Eles se assustam à toa, não é? Imagino que papai disse a vocês para se esconderem? Que é que ele está fazendo, tentando salvar os trouxas?
— Onde estão os seus pais? — perguntou Potter. — Lá no acampamento usando máscaras, é isso?
Draco encarou o rosto de Potter, com um sorriso no rosto.
— Ora... se eles estivessem, eu não iria dizer a você, não é mesmo, Potter?
— Ah, vamos procurar os outros, gente — Granger disse, lançando um olhar de intensa repugnância para Draco, que comentou.
— Fica com essa cabeça lanzuda abaixada, Granger.
— Anda gente.
E foram embora sussurrando e comentando que o pai de Draco poderia ser um dos Comensais, no que eles estavam absolutamente certos. Draco voltou a sua observação vazia daquela noite que mais parecia saída de devaneios. A raiva ainda queimava ali dentro, fervia todos os seus intestinos e fazia sua barriga formigar. O ódio por tudo aquilo somado a recente discussão com Harry Potter parecia estar lhe dando incômodos em todo o corpo. Oh Deus, como odiava Harry Potter e seus amigos! Como queria fazer com que desaparecessem!

Draco continuou anestesiado, olhando a toda a confusão a sua frente sem demonstrar nenhum pingo de sentimento ou emoção. Observando o Ministério tentar se aproximar dos Comensais e de seu pai de forma completamente inútil. O menino registrou mentalmente o fato: mesmo sem o apoio do Lorde das Trevas, os seus seguidores ainda eram poderosos demais para a comunidade bruxa, bastava apenas outra bandeira na qual se reunirem.
Repentinamente um brilho avermelhado acima do acampamento se acendeu de súbito. O garoto ficou imaginando que aquilo era um tipo de feitiço do Ministério, mas ainda não entendia o que aquela faísca poderia ajuda-los. O brilho começou a pairar sobre o campo de batalha em círculos e uma melodia horrorosa começou a se elevar nos céus. Era terrível ficar ali, como se aquela canção esmagasse todo o ódio q estava dentro do coração do menino e ele sentisse um peso enorme no peito. Estava se sentindo mal por ter odiado tanto Harry Potter há pouco.
Os Comensais pareciam estar sentindo os mesmos sintomas, aos poucos alguns gritos de raiva começaram a ser escutados lá. O Ministério estava chegando cada vez mais perto deles e de forma cada vez mais rápida, mas ainda não puderam alcança-los. A família que os servos de Voldemort tinham feito de reféns e brinquedos ainda pairava no ar, contudo estava descendo cada vez mais ao chão.
— Intrigante não?
Draco levou um susto tão forte que quase caiu da árvore em que havia se empoleirado. Ao seu lado, como se estivesse vendo aquela guerra a todo o momento com Draco, de pé, estava Alvo Dumbledore, o diretor da sua escola, Hogwarts.
— O que você está fazendo aqui? — perguntou Draco, ainda boquiaberto por não ter notado a aproximação do bruxo.
— O mesmo que você, assistindo. Bom, devo admitir que de certa forma, um pouco diferente. Estou lutando ali embaixo também.
— Lutando? Você... você... é louco.
— Está vendo aquele brilho vermelho sobrevoando o campo e cantando essa música divina? Sim? Ela é minha fênix, Fawkes, um animal fabuloso! Ela está ajudando...
— Sei, sei. Por favor, pode me deixar sozinho...
— Você não se importa que eu esteja ajudando a capturar seu pai?
— E quem disse para você que o meu pai está lá em baixo?
— Seus olhos. Assim como seus olhos também sempre demonstram um medo desmedido de mim? Eu só gostaria de saber o porquê.
— Qual é o seu problema? Nós não estamos em Hogwarts, não preciso lhe demonstrar respeito e nem ter que ouvir seus sermões.
— Ah, sim. Com certeza não precisa. Demonstrar respeito por mim seria o mesmo que desrespeitar o seu pai, não? Sim, então é disso que você tem...
— Chega! Não preciso ouvir isso...
Draco estava farto. Aquela discussão não tinha o mínimo propósito, a mínima noção. Estava conversando com um velho que surgiu do nada ao seu lado e parecia ler a sua mente. Ridículo. Levantou-se, pronto para sair daquele lugar quando um alarido subiu por toda a floresta e todas as crianças e mulheres que pareciam estar escondidos gritaram como nunca naquela noite, de medo e terror.
Um brilho verde parecia aumentar sobre eles e iluminar todas as copas das árvores. Dumbledore olhou para cima, e pela primeira vez na vida de Draco, o viu com uma expressão de profundo horror. O garoto seguiu a visão do velho e observou uma caveira iluminar com um brilho fantasmagórico todo o lugar, enquanto da sua boca saia uma cobra como uma língua.
Draco conhecia aquele símbolo muito bem, seu pai não cansava de descreve-lo. Contudo vê-lo era algo completamente diferente. Uma emoção completamente nova. A Marca Negra brilhava e piscava com uma malícia bem característica que Draco ilustrava sobre Voldemort e seus tempos de terror. E era assustador, o garoto não podia negar.
Vários berros irromperam do acampamento ao mesmo tempo. Draco se virou para lá a tempo de ver vários Comensais se ajoelhando no chão e olhando para o céu, em ato de clemência, como se a visão da marca de seu Mestre fosse algo pior que os próprios inimigos que enfrentavam. Então sem mais nem menos, todos de uma só vez, desaparataram. Ele ofegou, o que quer que tenha acontecido não foi muito bom, nem para os Comensais, nem para o seu próprio pai. Alguns membros do Ministério também desaparataram logo em seguida
— Não deu tempo. Quem quer que tenha conjurado não ajudou a ninguém nessa noite. Ainda bem que os trouxas estão a salvo, você não acha?
Draco olhou para Dumbledore e notou que a mesma expressão de paz ainda existia no seu rosto e se irritou com a calma e com aquela pergunta idiota, após tudo aquilo que acabava de acontecer, mas preferiu continuar calado e voltar a sua barraca. Queria se distanciar daquele bruxo que parecia lhe causar um cansaço incrível com aquele jeito pacífico de ser. Ele não discutia com Draco, não lutava contra suas mal-criações. Não lhe batia e nem lhe passava palavras de repreensão. Com alguém podia ser tão paciente?
Com um farfalhar e um leve som de crepitar, viu, de repente, aparecer empoleirado em uma árvore próxima a sua, Fawkes. Se ao menos estivesse com a sua varinha, poderia tentar acerta-la dali com algum feitiço. Quem sabe conseguiria ao menos incomodar Dumbledore.
— Dê lembranças a Lúcio! — disse Dumbledore, com uma displicência irritante.

Draco chegou em seu acampamento bem lentamente, como se nada tivesse acontecido e ele apenas tinha dado um passeio noturno. As luzes no andar de cima estavam acesas e ao chegar próximo a porta, ele começou a ouvir sons de arrastamento e gritos. Quando apareceu na porta, sua mãe berrou.
— Onde você esteve? Estávamos todos preocupados aqui! Estamos de saída, vá e arrume suas coisas agora!
— Onde está o papai?
— Já está em casa, não se preocupe. E temos que chegar logo lá, se não quisermos nem problemas lá, nem problemas aqui. Vamos, vamos.
— Mãe, aquilo que aconteceu...
— Não tenho tempo e nem pretendo explicar...
— Por acaso, os Comensais fugiram de medo...?
Sua mãe olhou bem diretamente nos olhos de Draco, com aqueles profundos olhos azuis. Não sorriu, não se zangou, sua expressão estava completamente apática.
— Você não sabe o que aconteceria... você não tem idéia do que o Lorde das Trevas seria capaz...
Draco ficou extremamente confuso, mas parecia que em seu cérebro, uma porta de entendimento começou a se abrir e uma pena misturada com raiva foram se avolumando dentro do seu ser.
— Agora vá arrumar suas coisas. Precisamos partir.
— Precisamos fugir, você quer dizer.
— Sim, precisamos. — disse sua mãe, não entendendo o que o filho disse, e com os olhos na pequena valise que arrumava.
— Entendo. Já estou indo. Aliás, mãe, quero lhe pedir desculpas. Não fui capaz de trazer o pai de volta...
— Não se preocupe. Seu pai está bem porque ele fugiu a tempo. Agora chega de conversa, eu quero sair desse lugar o mais rápido possível.
“Com certeza, mãe” pensou Draco “Nós sempre estamos bem porque fugimos.”
Draco subiu as escadas pensando de como o mundo a sua volta era covarde. Todos, exceto Dumbledore e Harry Potter. E como os odiava por isso!

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