O começo do fim
Grossas lagrimas, grandes, escorria por seu rosto já úmido, abrindo caminhos solitários por entre marcas e mais marcas de dor... Dor da lembrança, dor da perda, dor do sofrimento, dor do próprio destino que o torturava e o martirizava... Ele podia sentir cada gota da chuva infinitamente forte que caia sobre seus cabelos, sobre o seu próprio corpo. Gotas pesadas e dolorosas. Era tudo tão estranho e ao mesmo tempo tão entendível... Era tudo tão marcante: cada segundo, cada detalhe, cada momento, cada palavra, cada suspiro... Parecia que tudo era contado para o próprio destino... Era tudo tão simples e ao mesmo tempo tão complicado...
Mas quem disse que seria normal? Não era normal nem as suas próprias decisões... Porque Harry Potter estava agora ajoelhado de frente para o túmulo de Dumbledore, com o malão ao seu lado, esperando para ir, para se esvair daquele lugar, sem saber se voltaria ou não... É, nem ele mesmo sabia... Será que era para ser assim ou eram conseqüências de suas próprias escolhas? Tantas perguntas sem resposta... E tantas respostas para poucas perguntas... A confusão se formava na cabeça do menino-que-sobreviveu... E também se formava fisicamente nele... Era tudo tão escuro, tão vasto e, ao mesmo tempo, tão pequeno, tão claro... Era tudo em duas fases e, ao mesmo tempo, em uma só... Era tudo tão distinto e, ao mesmo tempo, não era... Era tudo tão certo e, ao mesmo tempo, tão errado... Às vezes era chamado de destino, outras vezes de profecia e, na maioria das vezes de Lord Voldemort... Era tudo tão determinado e às vezes era tudo por acaso... Talvez essa fosse à missão de Harry Potter, talvez não... A dor o consumia cada vez mais e mais... A forte chuva ainda a bater em seu corpo já úmido pelo suor intenso. Suor intenso e inexplicável....
Ele estava tão fraco, tão vazio por dentro... Seus olhos não tinham mais o brilho verde que sempre continha... Era incrível o quanto uma pessoa poderia fazer pela outra, com a outra... Era incrível como elas marcavam umas as outras... É incrível como nos fazem ter momentos felizes e ao mesmo tempo tristes... É incrível como o amor pode superar tudo... É mais incrível ainda como certas coisas acabam de modo fútil... Coisas que são grandiosas... Harry não conseguia pensar em outra coisa a não ser nos acontecimentos que se seguiram livres como a brisa de verão, sem rumo, sem dono, sem tempo para ir ou para parar... O enterro que terminou há pouco tempo, o fez ter suas energias esvaídas... Ele sabia que iria acontecer isso... Nem ao menos conseguia imaginar Dumbledore, diretor da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, morto... E agora, esse fato era real.... Tanta coisa aconteceu nestes últimos tempos... Porque a vida tinha que ser tão injusta? Porque às vezes parece que age contra a nossa felicidade? Porque parece que ela só se dá por satisfeita ao ver nosso rosto pálido, sem cor, somente vestido com a cor da tristeza, da desolação, assim como Harry estava agora? Porque é que sempre algumas escolhas nos fazem preferir a morte?
Às vezes as piores coisas acontecidas na vida são as conseqüências das nossas próprias escolhas e feitos; E Harry conseguiu entender e aprender isso de uma vez por todas... A cabeça do menino que sobreviveu, então, começou a doer... Poderia ser efeito da forte chuva que o acompanhava desde os grandes minutos, ou efeito dos pensamentos e lembranças ruins dos fatos dolorosos que viriam... Ele não sabia... Estava fraco e atordoado demais para pensar nisso, aliás, para pensar em qualquer coisa que lhe valesse a pena, mas do mesmo modo pensava... Parecia que eram semanas que ele estava ali, ajoelhado, diante ao túmulo de Alvo Dumbledore... Parecia que eram semanas que ele havia terminado com a Gina, parecia que eram semanas que ele havia decidido seu destino com Rony e Hermione, seus melhores amigos e, agora, companheiros de vida, de destino, de sangue... Pensar nisso o fez sentir-se ainda mais fraco, mais vazio, mais dolorido por dentro...
Era tão difícil pensar que talvez nunca mais visse a pessoa que dentro daquele túmulo, fosse como um pai para o garoto magricela, de olhos verdes... Fosse como um protetor, uma pessoa essencial na sua grandeza espiritual... E atrás? O que ele veria se olhasse para trás e visse os momentos que passou com essa pessoa que agora poderia estar, em espírito, o olhando do alto, como acreditam as pessoas?
Era tão difícil imaginar que poderia existir um outro destino, que isso tudo acontecesse em torno de escolhas... Era tão difícil imaginar que o maior sacrifício que pode ter feito, pode ser uma pessoa: Gina Weasley, a mulher de sua vida... Era tão reconfortante saber que ela poderia estar bem longe dele, mas era tão frio, tão gélido saber que, na hora que ele mais precisar, não poderá contar com ela... Isso estava gastando suas energias, tinha que pensar em outras coisas, pois precisaria de forças para continuar com sua trajetória. Era tão difícil ter que pensar em ir embora e deixar para trás pessoas que ele amava, sem saber se elas sobreviveriam, se ele sobreviveria... E era mais difícil ainda imaginar que seus dois melhores amigos vão arriscar tudo para ir com ele, ele se sentia culpado por isso, culpado por ele estar aceitando, culpado por querer que essa idéia seja realidade, culpado por saber que eles estão com medo por seus familiares, mas pode não estar com eles na hora que precisarem... Era tão difícil uma simples decisão que mudaria tudo... Que poderia fazer as coisas serem mais fáceis, serem mais felizes, serem mais aproveitantes, serem menos Voldemort... Nessa hora um brilho vermelho-escuro perpassou pelos olhos de Harry, um brilho forte que cintilou na pedra fria e polida da tumba branca de Dumbledore...
Ele sentiu um frio encobrir seu corpo, um fraquíssimo frio... Enquanto o frio encobria mais ainda o seu corpo, a luz avermelhada, embora mais fraca e mais clara, ainda perpassava por seu olho; um pequeníssimo fio de raiva, de dor, de lagrima escorrendo pelo seu rosto, novamente, e tudo veio à tona com mais força do que antes, como se dobrando a sua preocupação já demasiada... A duvida do que poderia acontecer no decorrer dos acontecimentos seguintes... Será que um deles poderia morrer? Será que mais uma pessoa seria vitima do mal? Eram tantas perguntas, perguntas que fizeram a cintilante luz vermelha ser substituída pelo verde vazio e sem brilho que antes dominava o lugar.
Ele realmente precisava descer daquele pequeno palco, onde uma escada de poucos degraus que ligava o chão ao lugar alto onde se encontrava o grande túmulo... Tinha que sair dali, não seria possível agüentar, segurar forças com as lembranças que o lugar estava trazendo, iria o atormentar, iria deixá-lo incapaz de pensar, o faria ficar em duvida se iria ou não cumprir a profecia e isso era o que ele menos precisava agora... Precisava escutar a sua própria razão... Ele tinha que, de uma vez por todas, levantar-se dali e sair, deixando para trás o terrível passado e seguir, pelo aventureiro e perigoso presente, até o misterioso futuro...
Ele não podia colocar o coração no lugar da cabeça... “Mas não é isso que o faz agora, Potter? Deixando aquela ruiva de lado e indo atrás de vingança?” Um fio de pensamento grotesco lhe invadiu a mente, soltando seu pequeno poder de confusão... Harry não sabia se isso estava certo... Se ele deveria arriscar sua felicidade assim... Mas quem disse que seria Gina a sua felicidade? Talvez fosse, talvez não fosse, mas ele estava ocupado de mais para perceber a verdade, pois o seu tempo se limita em salvar o mundo bruxo... As palavras da garota mais uma vez invadiram a sua mente... Ele tinha que pensar em outras coisas, isso o enfraqueceria.. Mas quem disse que ele teria força o bastante para seguir em frente com o plano de ultima hora que arranjou? Talvez isso fosse loucura ou suicídio iminente, mas quem disse que não seria bom tentar? A vida também é feita de riscos e sacrifícios e para isso, teria que subir no alto do precipício e lá decidiria se jogava ou dava passos para trás... Parece que Harry resolveu se jogar, mas quem disse que seria diferente? Talvez a profecia? Talvez Alvo Dumbledore? O homem que agora estava morto à sua frente... Seu pensamento o invadiu em sua atenção novamente e Harry se pergunta mais uma vez: e quem disse que ele iria sobreviver? Talvez o seu coração? A sua razão? Às vezes eles não falam tudo, mas porque será que a vida é cheia de perguntas e sem repostas lógicas?
Mas quem disse que teria as respostas compreensíveis? Quem disse que seria tudo mais fácil se ele as tivesse? Sua mente estava tão cheia, tão enlouquecida... Não poderia continuar ali e deixar que os seus devaneios assustadores se explodissem e se transformassem em lagrimas como estava acontecendo várias vezes... Ele tinha que tomar mais decisões em torno de sua vida, sabia disso e sabia que muitas dessas decisões não seriam fáceis... Precisava agir o mais rápido possível e o mais cauteloso, sabia que iria ser assim e sabia que não tinha como impedir, nem como controlar e muito menos acabar...
Mas ele não estava conseguindo mover um músculo para se levantar e ir... Continuava ali, ajoelhado, diante do túmulo, seu coração batendo descompassado, palpitando dolorosamente contra o seu peito já frágil... Era incrível como ele ficara preso aquele lugar... Aquele lugar onde, em vários momentos mais alegres, ele sorriu, por mais difícil que sua vida pode ser, ele sorria ali, as águas calmas e escuras do lago o faziam sorrir... “Então, será que eu devo sorrir pelos momentos felizes que eu passei aqui ou chorar por esse momento difícil que estou vivendo agora?” A escolha era difícil, mas parecia, ao mesmo tempo, simples... Era engraçado como a vida poderia ser surpreendente... Ao mesmo tempo em que o sorriso poderia se formar nos lábios de alguém, as lagrimas poderiam ser expandidas nos olhos de outros ou da mesma pessoa... Era tudo tão instantâneo, tão certo e, ao mesmo tempo, tão errado...
O perfume de flores que inundava suas narinas não devia o enfeitiçar, então, ele não estaria sofrendo tanto por talvez nunca mais o senti-lo... Pois, Gina Weasley, agia em si, como algo que corria em seu sangue, algo que o estimulava a viver, viver para sentir o cheiro de flores, viver para saber até onde a mulher tão especial em si o levaria em vida... Mas parece que o destino é diferente de escolhas, mesmo sendo feito por elas... Parecia que agora, que não tinha mais ela, o seu sangue se tornou mais gélido, menos ativo, mais fraco, menos vermelho... Tornara-se negro, negro como a dor, negro como a tortura, negro como a morte... Seus olhos deixaram cair mais lagrimas, sem brilho, sem rumo, sem vida, sem consolo... A lagrima que desceu pelos olhos sem vida, sem brilho, sem amor, sem alegria... Dos olhos vazios, ocos...
Tudo aconteceu tão rápido: o enterro, a separação, a sua decisão para com o seu destino, a nova prova de que tinha dois grandes irmãos... Um dia tão longo, e ao mesmo tempo, tão triste... Parecia até ser ironia ou destino... Mas ele sabia que não poderia ser nenhum dos dois... Era Lord Voldemort: o homem que causou sua tristeza, seu declínio pelo resto da vida... O homem que o feriu profunda e devastadoramente, o fez sentir ódio, ódio como nunca sentiu... O homem que o fez ser omitido, o homem que o fez ser órfão, o homem que o está fazendo perder o seu amor de vida, o homem que o fez perder seu companheiro sábio que agora estava enterrado, o homem que o fez ter que fazer escolhas e sacrifícios terríveis, o homem que agora o fazia sentir medo... Medo do que irá acontecer... O homem que mudou totalmente o seu destino e que vai mudar totalmente a sua vida e a vida dos outros que a ele amou e a quem ele ama...
Era tão exclusiva a dor que ele sentia... Mas ao mesmo tempo, parecia ser normal, decisiva e repetitiva... Como se ele já a tivesse sentindo em suas veias, em seu corpo, em sua alma já gasta, já destruída, já rasgada.... Porque essa dor simplesmente não ia embora? Porque ela está brincando com Harry? Será que ela não está satisfeita com o que ele deve passar? Ela tinha que ir embora! Ele não podia agüentar o peso dela em seus ossos fracos, frágeis... Os raios caiam mais fortes que nunca, os trovões soavam surdos ao alto... Estava tudo tão escuro, tão morto. Ele estava tão solitário simplesmente pelo fato de ter se perdido dele mesmo e agora estava procurando em vão por sua alma... Sua alma que estava perdida no abismo do destino, da sua verdadeira natureza, da sua vida, do seu cotidiano, perdida na escuridão do medo...
Ele estava tão confuso, tão estranho... Não parecia com o Harry Potter de sempre: corajoso, decidido, aventureiro, pronto para a dor, para senti-la e expurga-la de dentro de ti ao mesmo tempo, pronto para os desafios que lhe eram impostos, pronto para a guerra aberta que ele enfrenta com dificuldades, medos como qualquer um, mas, mesmo assim, sem desistir, sem resistir à tentação nenhuma que lhe cabia ser traiçoeira, não parecia o garoto seguro de que sempre o bem prevalecia... Agora ele se sentia confuso o bastante para não distinguir a verdade, para pensar em sequer desistir de uma luta, batalha que ele sabia que era dele, só dele e de mais ninguém... Uma luta que ele sabia que só ele poderia enfrentar de frente, com pulso firme... Ele sempre soubera qual era o seu rumo e agora parecia tão perdido, tão insano... Ele nunca pareceu tão calado, tão quieto, tão submisso à dor, ao medo, ao curso da morte... A morte que não o deixou nem dar uma ultima palavra com a sua fortaleza... É, fortaleza de conselhos, de palavras confortadoras, de palavras fortes... A morte que o fez enfraquecer diante do seu destino... A sua estrada nunca pareceu tão grande, tão escura, tão fria...
Harry sentia um silencio tão amedrontador ao seu redor, ao redor de seu próprio mundo, de seu próprio coração, de seu próprio corpo, de seu próprio cérebro, de suas próprias entranhas, de sua própria cicatriz que nunca ficou tão nítida, tão realçada, tão sentida em sua testa.... Era tão injusto esse excesso de sentimentos, de pensamentos, de confusões... Era tão injusto a sua vida, o seu destino, o seu caminho, as regras que eram sobrepostas a ele, regra, muitas vezes, feitas por ele mesmo ou até por pessoas ao seu redor... é, parecia que sua vida era apenas resumida em desastres, desgraças e coisas piores que qualquer coisa que uma pessoa normal poderia sentir, poderia ter dentro de si, de seu coração...
Mas quem afirmara que ele por inteiro era normal? Apenas o fato de ser o que é verdadeiramente acabava com todas as hipóteses que o obrigavam a acreditar nisso... Parecia que a vida de Harry era dividida em vários nomes: Dursley’s, Potter’s, Weasley’s, Granger’s, Alvo Dumbledore, Tom Riddle e ela... Ela que não se encaixava em simplesmente “Weasley’s”... Ela que somente se encaixava em Gina... Gina, irmã do Rony; Gina, entusiasmada; Gina, alegre; Gina, fetiche; Gina, paixonite; Gina, aluna; Gina, alvo; Gina, criança; Gina, inocente; Gina, mulher; Gina, corajosa; Gina, popular; Gina, amiga; Gina, extasiante; Gina, amor; Gina, Harry Potter; Gina, vida; Gina, dor... Tudo era tão interligado, tão paralelo. Era exatamente o ponto em que ela se colocara no decorrer dos olhos de Harry.... É, os vários nomes se fundiam em um só, em sucessão de pontos, de qualidades... Simplesmente “Ginas” de sua vida... Mas Harry estava verdadeiramente tão preocupado – e mais uma vez naquele dia, ele se lembrou da frase de sua amada – muito ocupado pra perceber isso; isso e muito além...
Porque aqueles óculos que agora cobria seus inúteis olhos – pelo que ele pensa agora – não o podia fazer enxergar por dentro dele, dela... Assim, eles não demorariam muito para descobrirem, para se juntarem, para se beijarem, para aquela conversa em frente ao lago negro... Mas os seus óculos só serviam em seus olhos, pois os olhos de seu coração é a razão... É, parece que ele teria que reafirmar uma antiga frase; “os olhos só vêem o que nós queremos, acreditamos e possivelmente, estão concretizados”... Concretizados em matéria e não em espírito... É, agora ele estava mais certo que nunca de que esse era o motivo e ele sabia que não podia voltar atrás tão facilmente. Seria mais complicado do que ele mesmo pensara que seria...
Mas quem disse que as melhores coisas são conquistadas com facilidade, sem complicações? Pois as melhores coisas são orgulhosas; são conquistadas por lutas, sacrifícios que teria que fazer na própria luta... Tudo que é bom tem ego para que todos o tenham a partir do suor que deixaremos cair de nosso corpo, de nossa carne, de nossa alma, de nosso espírito, que na hora, estará cansado e será consolado e, além de tudo, terá mais recompensa, como Harry teria se fizesse e ganhasse, ai então, conseguiria a recompensa: o amor de seu coração.
Mas parecia que ele nunca ganharia... E mais ainda, era que ela sabia disso e parecia se conformar de um modo tão indiferente, mas mesmo assim, se conformar... E Harry não entendia, não conseguia acreditar nessa conformidade dela para com isso... É, mas motivos para Harry pensar o quão vai ser difícil a sua estreita trilha em que caminharia até o fim... O fim do que poderia ser a várias coisas... Será que ela estava tão confusa quanto ele? Com certeza poderia ser uma resposta, mas com algumas porcentagens para ser verdade e mais ainda para ser mentira... Era tudo assim: dividido em mais ou menos; mas só os “mais” saiam na frente e ele não entendia muito bem, desde nunca... Não entender muito bem: essa verdade se repetia muitas vezes no cotidiano de Harry... Para lhe atazanar ou simplesmente, para impedi-lo de saber alguma coisa muito importante antes da hora... Antes da hora para se descobrir: essa era outra verdade em seu cotidiano muito repetitiva...
Então, o desequilíbrio chegou como sombra por trás dele e o invadiu até os poços e corredores mais profundos de sua alma... Seus olhos, automaticamente, se embaçaram pela grande quantidade de lagrimas que começaram a escorrer pelo seu rosto, o deformando... Então, ele sentiu... Seu sentimento estava o fazendo se sentir estranho, como se estivesse algo passando por ele... Úmido, frio e áspero, com desfeitos por todos os lados dele, com pedregulhos... Parecia algo desfeito, com rachaduras por todo lado, estava passando por seu corpo, seu tronco, atrás de sua cabeça... Parecia que as lagrimas que ele deixou cair pelo seu rosto serviam como uma cortina dentro dele mesmo, impedindo o sofrimento e a dor se fortalecer em alto grau... Agora, essa corrente estava rompida...... Pois, ao parecer ter desaparecido a sensação, ele soube o que poderia ser aquilo, pois respirou fundo por longos segundos... Ele, finalmente, tomou coragem... Iria sair daquele lugar, entrar no castelo e se juntar com seus amigos: Rony e Hermione... Isso deveria acabar com essa angústia que se expandia dentro do seu ser...
Era tantas variedades de sentimentos do qual ele nunca tinha experimentado sentir em si mesmo... Era como estar em outro mundo, dentro de um livro, mais especificamente; um livro em que tudo girava em torno de si, um livro escrito a partir do seu próprio ponto de vista, em que ele era o protagonista, o que sofria, o que se desesperava e no final, sorria, feliz, na maioria das vezes, com alguém ao lado que amava... Mas ele não sabia se seu personagem seguiria o mesmo passo dos outros, pois ele não sentia nem o mais fino fio dela perto de si ou até mesmo longe, muito longe... O livro poderia ser lido, visto, criticado, elogiado, desprezado, entendido, compreendido com a máxima dedicação, com o Máximo esforço de tentar, ao menos, sentir o livro... Mas, não acontecia, poderia até ver o que acontecia através das palavras escritas, poderiam sentir que estava no livro, pelo modo envolvente como é a historia, mas ninguém, absolutamente ninguém poderia senti-lo, pois era algo impossível; ninguém poderia vivê-lo, ninguém poderia saber a preciosidade das palavras em sua própria vida, em seu cotidiano, ninguém podia sentir a precisão da historia, pois era algo inalcançável pelos seres... Pois, só ele era o principal da historia, como se só fosse ele e Voldemort... Era como se o destino de tudo estivesse em sua mão, era como estivesse no inicio do livro, e ao decorrer do mesmo, iam se criando mais e mais personagens em sua vantagem ou não... E com esses personagens iam sendo criados laços, tanto de amizade e amor, quanto de inimizade, de ódio... Parecia que esses personagens só eram criados no intuito de facilitar o principal e dificultar, ao mesmo tempo... Como se o livro fosse um quebra-cabeça a ser montado e as outras peças eram Rony, Hermione, Gina, Neville, Luna, Alvo Dumbledore, Minerva McGonagall... Mas, ao mesmo tempo, as próprias peças ficavam espalhadas pelos cantos, dando dicas pelo ar, com sua precisão ajudavam, então, Harry recolhia e formava o quebra-cabeça que Voldemort e os seus cervos ficavam a tentar dificultar, tentando fazer parecer impossível montar o quebra-cabeça corretamente... Era assim, na vida real: o quebra-cabeça era a sua vida... Ele sentia que, nesse livro onde ele era o personagem, o que aconteceria consigo mesmo, que ao mesmo tempo em que era o personagem, era o sábio que poderia entender o seu próprio futuro, mas também parecia o adolescente confuso, com os mesmo problemas de uns e até de outros, só com alguns assuntos atrasados para sua idade, pelo simples fato de está sempre preocupado em salvar o mundo mágico... E era assim que os feitos de sua vida eram divididos: em salvar o mundo mágico de planos malignos que ameaça afeta-lo e salvar a si mesmo contra duvidas, problemas, tanto pessoais, quanto sociais... Parecia que o fio de luz que parecia estar tão longe lutava para que ele não o alcançasse... E Harry lutava para alcançá-lo de qualquer forma... Parecia que esse livro qual achava que estava vivendo o personagem tinha duas escolhas: ser ele mesmo, sendo sincero, cumprindo suas obrigações, ao qual achava que serão, salvando o mundo mágico de Voldemort, que ele mesmo achava ser um problema só seu e não do mundo... E apenas não ser ele mesmo, fingindo, simplesmente, que não deveria olhar, a cada passo que dava, por cima dos ombros para ver se uma cobra venenosa ou um vulto encapuzado não vinha atrás de si... Mas essa vida ele podia mudar, esse destino poderia ser moldado de forma diferente, bastava-se ele matar o causador disso tudo: Lord Voldemort... E para isso acontecer tinha que haver um inicio, tinha que se iniciar algo, iniciar-se uma ação, um gesto, um plano, um caminho, uma caminhada... E para o inicio acontecer, ele só precisava de se levantar daquele lugar, defronte a um túmulo que só o estava deixando mais angustiado... Agora ele não podia pensar em mais nada... Devia levantar sem pensar duas vezes... E foi isso que fez... Curvou o braço sobre o tampo do túmulo, apoiando-se e, desdobrando uma das pernas, começou a levantar... Levantou com uma dificuldade dolorosa, pelo fato da dor nos joelhos, pelo tempo que estava ajoelhado... A dor no local onde a cicatriz estava começou a iniciar-se, mas não era uma dor fina, como, nas horas alarmantes, era... e isso ajudou Harry a se despreocupar-se disso... Agora estava de pé, o túmulo um pouco mais alto que seus joelhos. Ele encarou o mesmo, com cautela e aflição... O pequeno brilho esverdeado perpassou por seus olhos e permaneceu nele, dando vida a eles de volta...
- Adeus, Alvo Dumbledore... – Falou com a voz falha, rouca, tremida, e além de tudo, pesarosa... Ele fechou os olhos, respirando fundo... Abriu-os e deixou escapar uma única, leve despercebida lagrima pelo canto de um de seus olhos...
Ele, então, lentamente, virou-se de costa para o túmulo, sem ao menos olhar para trás, sem ao menos pensar duas vezes, mesmo por segundos e segundos... Poderia ser algo inédito, comparado à confusão em sua cabeça... Então, ficou perante a escada de madeira improvisada que ligava o pequeno montinho forrado de veludo azulado ao chão... A escada forrada com um tapete vermelho forte que se desenrolava pelo corredor de cadeira... Ele acompanhou com os olhos o caminho cruzado pelo tapete, não percebendo detalhes gigantes... Então, ao terminar o percurso, olhou para cima, levemente, e olhou para o cenário entorpercedor à sua frente...
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!