Os 4 herdeiros de Hogwarts
- Digamos que você deveria ter se esquecido, se Belatriz não fosse uma péssima obliviadora - disse o homem, aproximando-se de Harry para encará-lo de frente, como se assim ele se tornasse mais real. – Eu disse ao Mestre para que me deixasse fazer o feitiço, mas ele preferiu confiá-lo a uma mulher. Às vezes os homens podem ser muito inocentes quando se trata de um belo par de pernas.
Lúcio riu, como se a colocação fosse extremamente espirituosa. Hermes, no entanto, não conseguia tirar os olhos do pai, quase suplicando em silêncio por explicações. O que ele fazia ali, ao lado daquele homem? Como se quisesse responder à pergunta do menino, Lúcio se aproximou dele e tocou-o no ombro, fazendo com que ele se retraísse enquanto encarava os olhos absurdamente parecidos com os seus próprios. Então, falou com a voz para a qual tentava imprimir um tom adocicado:
- Meu pequeno neto...aliás, agora não tão pequeno assim. A última vez que o vi, você era apenas um bebê que sequer poderia se lembrar de mim. Por isso, jamais se lembraria que...
- Não faça isso, pai! – Draco se aproximou dos dois, puxando o ombro de Lúcio para si e obrigando-o a encará-lo. – Não diga nada, eu não quero que ele sofra.
- Você não contou ao seu filho o que fizemos? – Lúcio sorria, visivelmente deliciado com a perspectiva que se delineava diante de seus olhos maldosos. - É uma pena que o Lorde não tenha ficado nada feliz em saber que você havia fugido com uma traidora do sangue, não é mesmo, Draco? É uma pena maior ainda que ele o tenha encontrado bem no momento em que ela havia dado à luz. E, veja só, eram justamente gêmeos, não é, meu caro filho?
Hermes encarava o pai e o avô discutindo à sua frente e tentava acompanhar as palavras que saíam da boca de ambos. Foi como se sentisse um soco na boca do estômago, forte demais para que ele pudesse agüentar. Não foi capaz de se conter e puxou o punho das vestes do avô para perguntar:
- O que foi que você disse?
- Filho, esqueça esse assunto – Draco se interpôs entre os dois homens, e era possível notar o ar de cansaço que ele trazia estampado na face. – Há certas coisas das quais não vale a pena se lembrar.
No entanto, Lúcio empurrou o filho e dirigiu-se novamente a Hermes:
- Deixe o menino saber o porquê de ele conseguir fazer com que os estúpidos amigos traidores do sangue entrassem em Azkaban no ano passado, Draco. Vocês cavalgaram testrálios, Hermes. E sabe porque seus amigos não os enxergavam e você sim?
Hermes sacudiu a cabeça, em sinal de negação, e passou a temer ansiosamente o que veio em seguida:
- Porque o Lorde das Trevas matou pessoalmente a sua irmã gêmea – Draco levou a mão à cabeça e passou-a impacientemente pelo cabelo, enquanto Hermes abria a boca, tentando em vão encontrar algo para dizer. – E sabe como ela se chamava, a pequena traidora do sangue? Hermione. Sua mãe suja quis fazer uma homenagem à amiga, tanto no nome da menina quanto do menino. Seu nome carrega a herança de uma sangue ruim, Hermes.
Embora seus olhos estivessem cheios de lágrimas, o loiro sequer conseguia derramá-las. Olhou para Harry, parado ao lado do filho, e pensou no quanto aquele homem havia lutado para estar lá, no quanto ele havia sofrido, e em como ele tinha a certeza de que precisava salvar aquele que era sangue do seu sangue, mesmo que isso lhe custasse a vida. Depois, olhou para Mia, que não sabia como encarar o amigo. Ela apenas tentou transmitir força, enquanto analisava as possibilidades que teriam de sair dali com vida. Ela precisava pensar racionalmente, mas o turbilhão de acontecimentos e descobertas relacionados à vida de Hermes faziam com que ela entrasse em desespero diante do que ele poderia resolver fazer. E o que ela mais temia foi o tema do convite que Lúcio fez a seguir:
- Venha para o lado certo, Hermes. Nós relevaremos os seus erros, bem como os de seu pai. Você tem vaga garantida na Escola de Magia Negra do Lorde das Trevas e ainda terá a chance de se redimir de suas companhias erradas – disse Lúcio, apontando para Harry, Daniel, Lúthien e Mia. – O que me diz da minha proposta? O neto do Diretor poderia ter certas regalias aqui que apenas o sangue nobre pode lhe garantir.
Hermes encarou o avô, o coração batendo num ritmo descompassado. Lúcio acreditava que ele estava considerando a proposta, mas Mia sabia que cada músculo retesado do amigo significava que ele estava se preparando para algo muito maior. Um ato muito mais corajoso do que uma simples negação. Aquele homem havia matado sua irmã, e agora considerava possível que Hermes rumasse para o seu lado, de cabeça baixa. Mas ele não se deixaria vencer. Ele não seria covarde como o pai era a ponto de voltar para o lado negro. E Mia pensou, com amargura, que cogumelos venenosos nunca perdem sua natureza.
- Já escolhi o meu caminho – disse o loiro, vagarosamente, enquanto levantava a mão como se fosse apertar a do avô. – E, definitivamente, não é ao lado de um assassino!
O olho de um enorme furacão apareceu no meio da sala, sacudindo a estrutura das paredes de pedra e derrubando Lúcio e Draco, que não esperavam a atitude do menino. Enquanto lutava para manter a intensidade dos golpes de ar, Hermes gritou para os amigos:
- Saiam daqui! Eu estou logo atrás de vocês, andem!
Harry foi o primeiro a correr para fora, seguido de perto por Lúthien e Daniel, que se deteve por alguns instantes para agarrar a mão de Mia. A ruiva estava petrificada e não conseguia deixar Hermes para trás, mesmo que este tivesse prometido que os seguiria. Ela tinha medo de que o abandonar pudesse fazer com que acontecesse o mesmo que a Daniel, e ela não seria capaz de lidar com a idéia de vê-los afastados novamente. Por isso, a menina se deteve e invocou o poder do fogo para afastar ainda mais os dois homens, que correram em busca de reforços.
Quando viram Draco e Lúcio rumarem para o fim do corredor, de onde haviam surgido, Mia interrompeu o feitiço, embora Hermes continuasse, o rosto demonstrando uma fúria quase animal. A ruiva tocou no braço do amigo e fez com que o fluxo de energia fosse interrompido.
- Vamos sair daqui, Hermes!
No entanto, ao alcançaram a escada em espiral que os levaria novamente para o primeiro piso, descobriram que não seria assim tão fácil abandonar o Castelo. Vários dementadores desciam os degraus levitando sobre eles, as enormes chagas aparecendo por debaixo das mangas das vestes rasgadas, as mãos descarnadas e putrefatas apontadas para frente como se prestes a agarrar o primeiro deles que se rendesse.
Os pensamentos de Mia foram invadidos por uma profunda tristeza e o frio começou a tomar conta de seu corpo, como se quisesse conduzi-la lentamente a uma morte certa. Nesse momento, Harry foi mais esperto e, com a varinha nas mãos, conseguiu gritar:
- Expecto Patronum!
- Venham por aqui! – disse Daniel, enquanto um enorme veado prateado incidia sobre as criaturas e lhes dava tempo para que rumassem para o outro lado do corredor.
O moreno ia à frente e parecia conhecer bem o local, pois começou a guiá-los pelo corredor. Alcançaram o Salão Principal de Hogwarts e conseguiram abrir a pesada maçaneta da enorme porta.
No momento em que esperavam estar livres para fugir, o grupo visualizou algo que deixou a todos sem perspectivas de esperanças. Os jardins do Castelo estavam cobertos de gelo, enquanto milhares de dementadores se aproximavam das escadas de entrada do Castelo.
O frio ia se tornando cada vez mais intenso e Mia se ajoelhou, tremendo dos pés à cabeça. Lúthien caiu ao seu lado em seguida, e parecia quase desacordada, os olhos fechados e os cabelos esparramados pelo chão, a boca tremendo ligeiramente. Harry continuava de pé, a varinha em riste e os lábios abertos, tentando em vão murmurar o feitiço, seu rosto se contorcendo diante das lembranças que afluíam à sua mente em turbilhões, fazendo com que ele se sentisse o homem mais infeliz do mundo.
Foi quando Daniel apontou para o céu e gritou:
- Olhem!
Como se acordasse de um transe, Mia viu que um animal muito grande cruzava os céus, quebrando com suas asas negras e brilhantes o lusco-fusco da aurora que estava por vir. O animal deu um vôo rasante sobre o castelo e suas asas faziam um barulho que pareceu à menina muito familiar. A ele se seguiram mais dois gigantes répteis voadores, um vermelho e um azul, que ganhavam os céus com velocidade e se aproximavam da terra. Quando estavam perto o suficiente, os dragões sopraram gigantes bolas de fogo que fizeram um barulho ensurdecedor. Os dementadores corriam, assustados com o excesso de luz e o fogo que os queimava.
Foi quando Mia se lembrou. A guerra, os dragões, a ilha perdida, a magia antiga, as brumas, os sonhos. Agora ela sabia o que fazer. Ela tinha a força de Rowena Ravenclaw dentro de si. Ela era a herdeira da Corvinal.
Tomada pela súbita energia da descoberta, a menina se levantou do chão e esqueceu qualquer medo e tristeza que pudesse afligi-la. Apenas impôs ambas as mãos e gritou:
- Expecto Patronum!
Uma enorme águia prateada se desprendeu das mãos da menina, voando em direção aos dementadores, que corriam assustados para todos os lados.
No entanto, eles eram muitos, e aqueles que não eram queimados pelos dragões e nem alcançados pela águia de Mia continuavam produzindo o estranho elixir da tristeza e do medo, que ainda invadia os corações daqueles que estavam no campo de batalha. Aos dementadores, agora se somavam alguns membros da Polícia Negra, que apareciam usando as antigas máscaras de Comensais no rosto e brandiam as varinhas para os dragões, tentando em vão acertar seus condutores.
Foi quando vários uivos se fizeram ouvir da floresta proibida, e Mia sentiu o coração gelar de medo novamente. Apesar de ainda conseguir manter a energia que dava vida à sua águia, a menina se assustou tremendamente quando viu os estranhos lobos saírem da Floresta Proibida. Eles caminhavam apenas sobre duas patas, e tinham presas enormes e afiadas. Alguns dos tratadores ocupantes dos dragões haviam desmontado e, embora Mia não os pudesse enxergar direito, temia que fossem os membros da OdRR que ali estavam, juntamente com tio Carlinhos.
Ao mesmo tempo em que os tratadores desmontavam dos dragões para enfrentar os Comensais e os lobisomens, Mia ouviu um barulho de cascos que irrompiam da Floresta Proibida. Apenas pôde notar que eles eram conduzidos por um homem que parecia um gigante, de tão alto e largo que era.
Mas sua atenção se voltou novamente para os dementadores, que avançavam enquanto Lúthien continuava no chão, e Harry não se movia. Ela gritou, buscando a ajuda dos dois rapazes que a observavam:
- Anda! Convoquem os seus patronos! Eu sei que vocês conseguem!
Daniel foi o primeiro a estender as mãos ao lado da menina e gritar o feitiço. O enorme leão, símbolo da Grifinória e de Godrico Gryffindor, irrompeu das mãos do menino e se somou aos esforços da águia de Mia. Ambos estavam lado a lado, os ombros praticamente colados, numa troca de energias que os fazia manter o feitiço enquanto afastavam os dementadores.
Foi quando Lúthien se levantou, mais fortalecida, e percebeu o que estava acontecendo. Seu olhar assumiu um tom de intensa maturidade quando encarou Mia, e disse em seguida:
- Por isso eu gostei tanto do retrato de Helga...
A herdeira da Lufa-Lufa impôs as mãos ao lado da amiga e falou calmamente o feitiço, com a força e a determinação da terra. Um enorme texugo se juntou à águia e ao leão. Faltava apenas a serpente para completar os quatro herdeiros de Hogwarts.
No entanto, Hermes estava indeciso. Não sentia que tinha energia suficiente depois de todos os acontecimentos daquela noite. Só conseguiu agir quando um grito assustador irrompeu pelos terrenos de Hogwarts, sobressaindo-se a todos os outros barulhos produzidos por eles. Hermes reconheceu imediatamente o barulho e avistou ao longe uma figura de cabelos muito vermelhos que era atacada por um enorme lobisomem.
Sem pestanejar, ele parou ao lado dos amigos e gritou:
- Expecto Patronum!
Uma serpente prateada se juntou ao leão, à águia e ao texugo. Os quatro herdeiros emprestavam os poderes dos fundadores de Hogwarts para salvar o Castelo das forças do mal. E a força da amizade e do amor que unia aqueles quatro amigos era o que faltava para afastar de vez os dementadores.
Os olhos de Mia se fecharam, e foi como se séculos separassem aquela cena de uma anterior, muito parecida. Uma que ela só havia visto em seus sonhos. Mas que agora ela sabia ser absolutamente real.
Da fusão dos patronos produzidos pela energia dos quatro elementos da natureza, um enorme dragão prateado riscou os céus de Hogwarts, iluminando a noite como se já fosse dia.
N/A: Ah! Só falta um capítulo e o epílogo! Sei que vão querer me matar por terminar o capítulo assim, mas é necessário. E, prometo, vai valer a pena (ao menos eu acho).
Terminei de ler Deathly Hallows e estou O.o! O livro foi perfeito, muito bem amarrado. E já me inspirou a escrever fics novas, Lírio Negro é a primeira delas. Mas não se preocupem, não vou colocar nenhum spoiler em Expecto Patronum e ainda não sei como será na Terceira Parte, mas acho que talvez eu vá usar alguns spoilers, principalmente do desenrolar da guerra.
A terceira parte já tem nome: Priori Encantatem: o quinto elemento. O que vocês acham?
Comentários são sempre muito importantes, portanto, se você leu, me deixe saber disso!
Obrigada!
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