Talvez...
A lua crescente preenchia o céu, lançando feixes de sua luz refletida por entre as nuvens ralas que a tentavam, em vão, ocultar. A grandiosidade do firmamento fazia com que o rapaz percebesse a realidade do que representamos perante o universo: um grão de areia no mar, minúsculo e, neste caso, solitário.
Mais uma vez, Harry Potter estava de volta ao número 4 da rua dos Alfeneiros, no acanhado quarto do sobrado dos Dursley, ainda refém do feitiço de proteção que o falecido diretor de Hogwarts havia lançado há quase dezesseis anos atrás.
Desde que chegara da estação de King’s Cross, há dois dias, o tempo vinha se arrastando lentamente, as horas pareciam dias, os dias pareciam meses...
Ele aproximou-se da janela, que dava para a rua deserta e sonolenta de uma noite de terça-feira, o calor naquela época do ano era normalmente elevado, mas neste verão, em especial, estava insuportável.
— “Talvez...” – pensou consigo mesmo, apoiando as duas mãos nos batentes de madeira envernizada.
Maybe...
(Talvez…)
Oh, if I could pray, and I try, dear,
(Oh, se eu pudesse orar, e tentar, meu bem,)
You might come back home, home to me.
(Você voltaria para casa, para casa para mim.)
O olhar, perdido no horizonte além da janela, deixava que seu pensamento vagasse longe, distraído, tentando esquivar-se da solidão.
De tantas coisas e lugares que pudesse pensar, de tantas pessoas que pudesse se lembrar, sua mente fixou-se na imagem de alguém que saberia o que se passava em seu interior naquele instante, alguém que compreendia, como ninguém, as dúvidas e receios que habitavam sua mente.
— “Oh, você entenderia...” – e esse pensamento o confortava.
Maybe
(Talvez)
Whoa, if I could ever hold your little hand
(Whoa, se eu tivesse segurado a sua mão)
Ooh, you might understand.
(Ooh, você entenderia)
Maybe, maybe, maybe, maybe... yeah
(Talvez, talvez, talvez, talvez... yeah)
Maybe, maybe, maybe, maybe, maybe, dear,
(Talvez, talvez, talvez, talvez, talvez, meu bem,)
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Longe dali, deslizando lenta e distraidamente por uma estreita estradinha de pedras que contornava os canteiros de flores, agora banhados pela mesma lua crescente, o motivo dos devaneios que pairavam na cabeça do bruxinho também mantinha o olhar distante, o bichano caminhava em seu paralelo, atravessando de um lado a outro, de quando em vez, pelos vãos das pernas da menina: era um animal da noite e, como todos os felinos, regozijava-se em ser solitário, estava no seu sangue, no seu instinto, mas sua companheira exauria-se com a solidão.
Hermione, tomando a fresca pelo jardim da casa de seus pais, meditava sobre a distância do dia-a-dia bruxo: aquelas férias não tinham vindo em boa hora, ela pensava, estaria mais tranqüila se estivesse ao lado do amigo, Harry, e poderia, talvez, impedi-lo de fazer alguma bobagem, impedi-lo de se atirar em direção ao perigo, sem pestanejar, impedi-lo de ser... ele mesmo. E, depois, passaria horas a ouvi-lo reclamar por tentar controlá-lo.
— “Eu ficaria satisfeita em admitir isso!” – ela sorriu, enquanto observava o gato afastar-se de um salto e sumir na escuridão.
I guess I might have done something wrong,
(Acho que eu tenha feito algo errado)
Honey, I'd be glad to admit it
(Querido, eu ficaria satisfeita em admitir isso)
Ooh, come on home to me!
(Ooh, Venha para casa, para mim!)
Honey, maybe, maybe, maybe, maybe... yeah
(Querido, talvez, talvez, talvez, talvez... yeah)
Mas ela não era como aquela criatura, não era livre para ser engolida pela noite sem sequer olhar para o que pudesse ter ficado para trás. Ela era prisioneira, prisioneira de um sentimento que ainda não estava totalmente definido para ela.
Amigo? Estranho pensar nele desta forma, agora. Não que não tivesse sido sempre assim, mas agora era diferente, haviam passado por tanta coisa juntos, e os poucos dias de distância estavam sendo tão dolorosos... Não, Harry era apenas um amigo, um grande amigo. Eles sempre compartilharam uma afeição mútua, e ele sempre se preocupou tanto com ela, e ela sempre soube que seria capaz de tudo para ver o seu bem... O que ele estará fazendo agora?
— “Estou presa a essa necessidade de precisar de você...” – ela divagou.
Well, I know that it just doesn't ever seem to matter, babe,
(Bem, eu sei que nunca parecerá ter importância.)
Ooh, honey, when I go out or what I'm trying to do,
(Ooh, querido, quando eu saio ou tento sair,)
Can't you see I'm still left here?
(Você não percebe que eu ainda estou abandonada aqui?)
And I'm holding on in needing you
(E que estou presa a essa necessidade de precisar de você)
Please, please, please, please,
(Por favor, por favor, por favor, por favor)
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Amiga? Sim, Hermione sempre esteve ao seu lado quando ele precisou, nunca a encarou de outra maneira, mas, talvez… talvez existisse um “quê” ainda não explicado.
Sempre que ele estava nervoso ou em perigo, era dela que ele se lembrava e, antes de tomar uma decisão importante, era normal que o bruxo pensasse se ela aprovaria sua atitude.
Oh, won't you reconsider, babe,
(Você não irá reconsiderar nada?)
Now come on, I said come back,
(Agora, venha, Eu disse para você voltar,)
Won't you come back to me!
(Você não irá voltar para mim?)
Maybe, dear, oh maybe, maybe, maybe,
(Talvez, meu bem, oh, talvez, talvez, talvez,)
Hermione sempre estivera a seu lado, desde quando começou a engatinhar no aprendizado e uso da magia, foi alguém que o apoiou desde o primeiro instante e sempre acreditou nele, sua maior e melhor amiga, sempre o ajudando, às vezes se esquecendo dela mesma para ajudá-lo ou ouvi-lo, sempre o orientando com suas atitudes muito racionais e pelo fato dela ser... sua amiga, enfim.
— “Você não percebe que eu estou abandonado aqui?” – reclama com seus botões.
Let me help you show me how
(Deixe-me me ajudá-lo a me fazer entender)
Honey, maybe, maybe, maybe, maybe,
(Querido, talvez, talvez, talvez, talvez,)
Maybe, maybe, maybe, yeah,
(talvez, talvez, talvez, yeah)
Maybe, maybe, maybe, yeah.
(talvez, talvez, talvez, yeah)
Ooh!
(Ooh!)
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Afastados pela distância, mas unidos pelo pensamento... O corpo imerso na solidão, mas o coração sincronizado ao eco do peito amigo... Amizade?... Amor?... Amizade platônica?
Talvez, a ausência de alguém nos faça perceber quanta falta esse alguém nos faz.
Talvez, as lembranças dos momentos vividos juntos nos façam perceber o quão bom foi o tempo passado com aquela pessoa.
Talvez a solidão nos ajude a entender melhor a nós mesmos e compreender o que pode preencher o vazio em nossos corações.
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