Cap 5(PIII )- Manhã e Tarde



Fic: Presente de Natal

Capítulo Cinco – Dia de Natal
Parte III – Manhã e Tarde


Já eram mais de dez horas. Já era hora de levantar. Aliás, a hora de levantar já havia chegado e passado. É claro que meu queridíssimo amigo cachorro não tinha a mínima noção disso. Aliás, o infeliz parece disputar com Rony quem ronca mais alto e dorme por mais tempo. Devo comentar que a disputa está completamente igual.
Não sou apenas eu que estou acordado, claro. Harry também está. E é um Harry já completamente entediado e exausto, que neste momento tenta acordar Rony.
— Rony, acorda. – Harry falou, balançando o amigo. Eu já havia chacoalhado tanto Almofadinhas, que estava sentado na cama, descansando. Até gritar eu havia gritado. E nada. – Acorda!
— Você já devia ter desistido. – comentei, observando. Ele suspirou e se afastou da cama de Rony, indo sentar na sua.
— Normalmente, ele já teria acordado. – respondeu, desviando o olhar de Rony para Sirius, e então olhando para mim.
— Mas hoje não é um dia normal. – murmurei, como que constatando.
— Não mesmo. – ele concordou, num suspiro. - Hoje é um dia completamente atípico.
Atípico. De repente eu percebi que era exatamente essa a palavra que eu esperava para perguntar...
— Falando em coisas atípicas... – comecei, como quem não quer nada. Ele se deitou, embora eu devesse dizer ‘se jogou’, na cama e me olhou pelo canto do olho, desconfiado.
— O que é que você quer saber?
— Eu me casei com a Lily? Ou só...tivemos você? – ele piscou, parecendo ter sido pego de surpresa. Mas espero que ele não me entenda mal. Atualmente, a coisa que eu mais quero, é estar do lado da Lily. Eu só preciso saber se aconteceu mesmo. Ou se não.
— Vocês se casaram. – respondeu, olhando o teto.
— Mas... eu casei com e ela e aí tivemos você... ou o contrário? – uma ruga apareceu na testa dele.
— Vocês se casaram primeiro. Por quê?
— Pra saber. - eu falei, deitando na cama. Ele deixou um muxoxo escapar.
— Seria interessante a reação dela se soubesse isso.
Eu me sentei de um pulo, arregalando os olhos.
— Você não contaria pra ela, contaria? – ele se levantou, e pareceu analisar a situação. Eu poderia dizer que ele estava se divertindo com aquela conversa. Ou pior: estava se divertindo às minhas custas!
Ele deu um sorriso torto, e respondeu devagar.
— Não. Ela provavelmente teria um ataque no qual te mataria. E, bom, eu preciso de você vivo pra nascer.
— Como é que você sabe?
Ele deu de ombros.
— Que ela teria um ataque? – eu confirmei com um aceno. – Você não deu pela minha falta de madrugada?
Eu ia responder, mas um ronco vindo de Rony me interrompeu. Harry o olhou, e pareceu se lembrar que estava cansado de tentar acordá-lo.
— Quer trocar? – Harry perguntou, automaticamente.
— Como? – trocar? trocar o que? Ele apontou para os dois dormindo.
— Quer trocar antes da gente jogá-los da cama?
Eu olhei para o Almofada e depois para Rony, antes de responder, com um sorriso ao maior estilo Maroto.
— Só jogar da cama? - Harry me olhou curioso, e pensativo... como é que ele consegue juntar as duas coisas numa só expressão? Eu não faço idéia! Alguém me explique, por favor?!
— Tem outra idéia em mente? – mas é claro! Eu sempre tenho idéias em mente. Com quem ele acha que está falando?
— Já ouviu falar em Levicorpos?
— Claro. – ele falou, rindo. E então ficou sério. – Mas não fale dele perto de Hermione, pelo bem do seu pescoço.
Foi a minha vez de rir.
— Nem da Lily. – eu puxei a varinha, e ele fez o mesmo. – Pronto?
— Pronto.

o.o.o.o.o.o.o.o

— Alguma novidade? – perguntei, enquanto Hermione abria o Profeta Diário. Lílian pareceu se interessar.
— Nada de novo, Gi. A não ser que você considere o Ministério aprontando as trapalhadas de sempre como algo novo.
— Eles não soltaram o Lalau ainda?
— Não. – Hermione respondeu, cansada.
— Quem é Lalau? – Lílian se interessou.
— Lalau Shunpike. Condutor do Nôitibus Andante. Ele foi preso injustamente porque o Ministério acha que ele é um Comensal da Morte... patético. – Mione explicou.
— Mas ele não é, certo?
— Claro que não. Ele diria qualquer coisa para impressionar os outros.
— Mas Comensal da Morte não é meio forte?
— Você iria prender alguém em Azkaban por contar uma mentira meio forte, ia?
— Não.
— Exatamente.
Lílian pareceu pensar um pouco. E então perguntou.
— Mas... Comensais da Morte. Esses babacas ainda existem?
— Existem. – respondi.
— Mesmo depois de mais de vinte anos? Porque Voldemort não foi derrotado ainda? E como é que esses idiotas ainda estão vivos?
Eu e Mione nos entreolhamos. É, ela realmente não sabe do que aconteceu desde que ela foi mandada pra cá.
— Acho que você precisa de uma breve aula de História. – Hermione concluiu. – Preste atenção.
— Claro.
— Você está em 1974. Voldemort segue conquistando e bruxos seguem virando Comensais ou morrendo, até Outubro de 1981. No Dia das Bruxas, não se sabe como ou o porquê, mas ele perdeu todos os seus poderes. Vira algo pior do que um fantasma, vagando por aí. Não morre, embora a grande maioria das pessoas ache que sim. E desaparece.
— Desapareceu? Sem poderes? Mas... continue.
— Final do nosso quarto ano... terceiro da Gina. Voldemort volta. Ressurge das cinzas. Era junho de 1995. Quase catorze anos depois.
— Então... nesse tempo em que ele desapareceu... tudo ‘parou’? Por quase 14 anos? E agora, ele voltou e tudo está voltando junto...
— Basicamente. – Hermione terminou.
Lílian – que nos pedira para chamá-la de Lily – afundou-se na poltrona, em silêncio, abraçando uma almofada. Hermione e eu trocamos um olhar cúmplice. Ela não fizera perguntas. Então, não precisava saber que nós sabíamos sim, como – e eu tenho certeza de que Harry sabe o porquê. E, conseqüentemente, Rony e Hermione. – Voldemort perdera seus poderes. E muito menos que ela havia morrido para que isso acontecesse. Mione voltou sua atenção para o Profeta. E eu me virei para a lareira, passando a observar as chamas.
Um tempo considerável se passou, sem que nada desviasse a nossa atenção. Até que passos na escada fizeram com que nós olhássemos para a mesma. Segundos depois, Harry, Rony, Tiago e Sirius apareceram.
— Até que enfim! – Hermione exclamou. – Vocês sabem que horas são?
— Bom dia pra você também, Hermione. – Harry respondeu. – Bom dia Gina, bom dia Ly.
— Bom dia, Harry. – nós três falamos juntas, e todos riram. Aliás, quase todos riram. Sirius e Rony pareciam decididamente emburrados.
— Bom dia, Lily. – Pontas falou. Lily revirou os olhos e não respondeu. Aliás, desviou sua atenção – e a de todos – para Sirius.
— Por que tanto mau humor, Sir?
— O novo despertador do Pontas. – ele respondeu, cruzando os braços.
— Faltou o biquinho, Almofada. – Pontas falou. Sirius bufou, descruzando os braços.
— Certo... qualquer dia desses estaremos rindo sobre isso. – falou, embora ainda parecendo contrariado. – Mas agora... nós vamos ou não vamos tomar café?

o.o.o.o.o.o.o.o

— Eu não acredito! – Sir resmungou. Na verdade, ele já vinha resmungando a mesma coisa desde metade do caminho. Eu e Mione suspiramos. – Eu não acredito que vocês já tomaram café! – qualquer um que o ouvisse falar, acreditaria que ele estava completamente indignado. Mas depois de tanta convivência com ele, eu apenas comentaria que ele é um bom ator.
— Mas é claro! – respondi, já cansada de ouvir todas as variações possíveis – e impossíveis – para: “Vocês não nos esperaram para tomar café!” – Nós acordamos antes mesmo das nove horas, e estávamos morrendo de fome. O que queria? Que esperássemos pacientemente as Belas Adormecidas resolverem acordar, mais de uma hora e meia depois?
Ele cruzou os braços, enquanto viramos o último corredor que faltava para chegarmos ao Salão Principal. Eu ri da careta que ele fez, e fui acompanhada por Hermione. Alguns segundos depois, Harry e Rony, muitos passos à frente, e entretidos numa conversa aparentemente muito secreta, pararam bruscamente de andar. Aliás, eles pararam assim que olharam para dentro do salão. Gina e Potter, discutindo – no sentido total da palavra – quadribol, não estavam prestando a devida atenção, e trombaram com Harry e Rony. Sir, Mione e eu, apenas observamos calmamente enquanto o Feto praguejava.
— Que foi? – Gina perguntou. – Por que vocês pararam?
— O salão está vazio. – Rony falou, chocado.
— Claro. – Hermione falou, como se fosse a coisa mais obvia do mundo. E devemos concordar. Era. – Já são mais de onze horas. Os elfos já pararam de mandar comida para o salão há muito tempo. E já tiraram tudo também.
Harry suspirou.
— Para as cozinhas, então. - e nós voltamos a andar na nossa estranha formação. 2-2-3. Dessa vez, Gina e Potter deram mais espaço entre eles e os dois da frente. Mas voltaram a falar qualquer coisa sobre balaços, goles e pomos-de-ouro.
— Engraçado. – comentei, depois de algum tempo. Sir e Mione perguntaram ao mesmo tempo.
— O que?
— A Gina. – esclareci. Sirius riu. Mione nos olhou curiosa.
— Um pouco. - ele falou, ainda rindo.
— Do que, afinal, vocês estão falando? – Hermione perguntou, enfim. Eu e Sir nos entreolhamos.
— Bom, depois que você saiu da sala... o Potter ficou fazendo perguntas, e perguntas... querendo saber o que estava acontecendo, etc. Ele estava torrando a paciência dela. E, bom, ela se irritou.
— O Pontas não tem mesmo jeito com as ruivas... – Sirius riu-se.
— A Gi... se irritou com ele? – Mione perguntou e, assim que eu afirmei, ela virou-se para olhá-lo. Demorou-se alguns segundos, tempo esse em que Sir e eu ficamos sem entender muita coisa. Ele voltou-se para nós. – Mas... como é que ele está tão bem assim? Ele não está mancando nem nada... nenhuma marca no rosto... ou outra coisa do gênero.
Sir arregalou os olhos.
— Como assim?
— O último cara que irritou a Gina, bom... – ela sussurrou misteriosa. Sir chegou mais perto, a fim de ouvir melhor. – Eu diria que ele, definitivamente, precisou da Madame Pomfrey. – concluiu. Sirius voltou a andar normalmente, e olhou para Gina.
— Só de olhar ninguém diria. – comentou.
— Acho então que ela deve ter se controlado. Ou ele não a irritou tanto assim. – falei. – Porque ela só respondeu. E muito bem, por sinal. Fez ele calar a boca. Tem noção do quão raro é isso?
— É. – Sirius comentou, como se ninguém pudesse ouvi-lo. – Só a Lils tinha feito isso antes. Espero que ele não comece a chamá-la para sair também.
— Então – Hermione continuou, ignorando-o. – a parte engraçada seria... eles estarem discutindo quadribol amavelmente?
— Basicamente, sim. – Sir respondeu. E continuou, num sorriso típico que era só dele. – Tão amavelmente que pensaríamos que eles são normais, não? – nós duas rimos. Não é possível que ele tenha um comentário pra tudo! – Hum... já que falamos em quadribol... a quantas anda o campeonato? E a última Copa Mundial? Quem...
Hermione cruzou os braços e ficou séria. Sirius silenciou-se.
— Não venha me falar de quadribol.
— Por quê? – eu perguntei, quase que automaticamente. Eu e minha enorme boca. Cale-se, Lílian Evans!
— Porque eu não vejo graça alguma em....
— Você já falou isso pro Vitinho, Granger?
Nós estávamos tão entretidos na nossa conversa que nem sequer havíamos percebido que já havíamos chegado em frente ao quadro da fruteira. Todos os outros já estavam parados, aparentemente esperando-nos. E foi a voz de Rony que nos despertou. Hermione respirou fundo ao meu lado, atingindo uma postura severa. Sir sussurrou algo como: “Mini-McGonagall”, e eu sorri, não ousando fazer qualquer som, ao mesmo tempo em que ela deu um passo à frente, e no segundo seguinte eu percebi que nós cinco havíamos formado como que um circulo em volta dela e de Rony.
Quando ela falou, a voz saiu baixa e venenosa.
— Se eu já falei pro Vitor que eu não vejo muita graça em quadribol? – os olhos dela faiscaram. – Não que seja da sua conta Weasley... – ela falou, ao mesmo tempo em que fazia cócegas na pêra, e assim que a maçaneta verde apareceu, ela a girou, e olhou de novo para Rony. Dessa vez, sua voz saiu displicente. – Mas já. E não faz muito tempo, sabe? – e entrou na cozinha.
Harry balançou a cabeça de um lado para o outro, sorrindo. Deu dois tapas no ombro de Rony e entrou na cozinha, sendo seguido por Gina. Rony bufou, e entrou irritado. Sirius e Potter se entreolharam, e eu estava passando por eles, para poder entrar na cozinha, quando Gina e Hermione saíram de lá como dois furacões, e empurraram Potter e Sir, respectivamente, para longe da porta. Eu as olhei, intrigada. Rony também saiu da cozinha, fechando a porta atrás de si.
— Hei, que é isso? Eu sei que eu sou o grande Sirius Black, mas isso já não é assédio? – Sirius perguntou, e Hermione lhe deu um tapa de leve no braço.
— Silêncio! – falou, rindo. – E não, não é.
— Pois parece.
Eu sorri. Eles continuaram falando por mais algum tempo, mas eu não percebi. Eu desviei meu olhar para Gina e Potter; e de repente, eu só podia vê-los.
Eles estavam muito perto um do outro. Aparentemente Gina havia apoiado as duas mãos no peito dele para empurrá-lo, mas diferente de Hermione, que havia soltado Sirius tão logo ele batera as costas na parede, ela permanecera no mesmo lugar. Aliás, ela não tinha como estar tão perto apenas por tê-lo empurrado. Ou será que tinha? Talvez a força aplicada mais a velocidade utilizada, combinadas com o percurso mínimo e de medida desconhecida e de fácil erro... CHEGA! Isso não é momento para pensar em Física, Lílian Evans!
Mas... eles estão muito perto. Perto demais!!!! Potter parece hipnotizado. Gina também. Eles não desviaram os olhos um do outro. Eles sequer piscam!!! Oh Merlin, oh Merlin, oh Merlin! Isso de novo não. De novo NÃO! Não, não e NÃO!!! Por favor... isso não está acontecendo. Não pode estar...
— Lils? – eu ouvi a voz de Sir, ao mesmo tempo em que ele colocava a mão em meu ombro. Eu não conseguia desviar o olhar dos dois. – Lils! – chamou de novo. Eu não respondi. Eu queria responder. Mas eu... apenas não podia. – Lils! – ele passou a mão em frente aos meus olhos, e eu pisquei, dirigindo meu olhar à ele.
— Sir... – murmurei. Eu tenho plena consciência de que disse isso muito baixo. Nem eu mesma pude me ouvir. – Me diz que... é um pesadelo.

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— Eu devo admitir, Mione – falei, entrando na cozinha. – Eu esperava outra resposta de você. Mas isso foi muito melhor...
Hermione virou-se assustada para mim, ao mesmo tempo em que vários elfos chegavam perto de nós, e quando Gina passou pela porta, ela falou.
— Harry... o Monstro!
Eu pisquei. Quem? Como? Onde? E então eu me lembrei.
— Monstro... mas... Sirius não pode vê-lo!
— E o que faremos? – Gina perguntou, enquanto Rony entrava na cozinha, lentamente. Eu falei e primeira – e única – coisa que se passou pala minha mente.
— Não os deixe entrar na cozinha. Nenhum dos três.
Gina e Mione saíram às pressas da cozinha, e Rony me olhou, intrigado.
— O que você vai fazer?
— Mantê-lo longe de nós. – dei de ombros. – Mas não me pergunte onde. Monstro!
Poucos segundos depois Monstro apareceu, arrastando os pés. Dobby o seguia de perto. Rony acenou para mim da porta e saiu, fechando-a atrás de si.

o.o.o.o.o.o.o.o

— Eu estou ficando com fome... – Sirius falou. Eu revirei os olhos. Sem chance!
— Mas nós acabamos de tomar café! – argumentei. Ele suspirou.
— Certo, certo. Mas que eu estou com fome estou.
— Sir... – Lily começou. – Nós sabemos que você tem um estomago de avestruz, ok? Mas você acabou de tomar café. Nós mal saímos das cozinhas! Tente pensar em outra coisa...
— Talvez eu deva pensar no porque nós não podemos ficar andando pelo castelo...
Eu ia abrir a boca e responder, mas Harry foi mais rápido.
— Talvez porque você veio do passado e alguém pode te reconhecer. Precisa mesmo de outro motivo?
— O motivo é só esse? Porque esse é um motivo realmente... – qual a opinião de Sirius sobre o que realmente era o motivo, nós nunca saberemos. O quadro da Mulher Gorda se abriu, e ele se calou. Todos nós olhamos para a entrada.
Eu reconheci a forma de andar. Mesmo fora de Hogwarts há três anos, ele não mudara muito. Gina fechou a cara. Ela também reconhecera o barulho dos passos. Rony parecia curioso. Talvez se perguntando o que havia de tão conhecido na cena. Harry mantinha o olhar na entrada, concentrado. Pude perceber que o barulho de passos se intensificou, como se houvesse mais de uma pessoa andando. Mas... quem estaria com ele? O barulho do quadro se arrastando para ser fechado pode ser ouvido, no momento em que percebi que não havia errado. Era ele mesmo. Percy Weasley havia entrado no nosso campo de visão.
— Percy?! - Rony se levantou. Gina também. Eu e Harry fizemos o mesmo.
— O que está fazendo aqui? – Gina perguntou, ríspida.
— Eu estava nas redond... – alguém pôs a mão sobre o ombro direito de Percy, e ele silenciou-se.
— Acho que um feliz Natal seria um bom começo, não, Percy? – o homem ao lado de Percy comentou, num sorriso falso, ao mesmo tempo em que saía das sombras.
— Ministro. – Harry falou, como num cumprimento. Mas estava mais para reconhecimento. O ministro lhe sorriu.
— Harry, Harry, Harry. – falou, batendo a bengala no chão. – Férias no castelo, é?
Eu e Gina nos entreolhamos. Rony e Percy se encaravam. Harry não respondeu. O homem continuou.
— Hum... vejo que seus amigos também ficaram... – ele deu uma olhadela para Lily, Pontas e Sirius. Harry deu um passo à frente. – Será que eu poderia... conversar um pouco com você? Em particular, sabe?
Rony desviou o olhar de Percy após a última frase de Rufus Scrimgeour. Harry o olhou. Depois olhou para mim, e de mim para Gina. Arriscou olhar para Lily e Sirius, sentados lado a lado. Pontas estava fora do alcance de sua visão.
— Ah, certo. Lá em cima então, ministro? – Harry opinou, apontando para as escadas. O adulto concordou, e atravessou a sala, rumo às escadas. Pouco depois, não se via mais nenhum dos dois. Nós pudemos ouvir a porta se fechar.

o.o.o.o.o.o.o.o

Nós entramos no primeiro dormitório vazio. E assim e passamos, fechei a porta, tomando o cuidado de ter certeza de que ela não se abriria sozinha.
— Então... – Scrimgeour começou. – esse é o seu dormitório?
— Não. E segundo a placa na porta é o do terceiro ano.
— Claro, claro. – eu me mantive em silêncio. Após alguns instantes, ele voltou a falar. - Há muito tempo que queria conhecê-lo. Você sabia?
— Não. – respondi. E, realmente, eu não sabia.
— Ah, sim, há muito tempo. Mas Dumbledore o protege muito. O que é natural, depois de tudo por que você passou... principalmente o que aconteceu no Ministério... – ele pareceu esperar alguma resposta minha, mas eu não correspondi, então ele continuou. – Estou esperando uma oportunidade para conversar com você desde que assumi, mas Dumbledore tem, e, como digo, é compreensível, me impedido.
Eu continuei calado, aguardando. Eu o deixaria continuar até que ele chegasse onde ele queria chegar.
— Os boatos que têm corrido! Bem, é claro que sabemos que as histórias acabam distorcidas... todos os rumores de uma profecia... de você ser “o Eleito”...
É... estamos perto agora, da verdadeira razão que lhe trouxe aqui, ministro, eu achei que demoraria mais... que você enrolaria mais...
—... presumo que Dumbledore tenha discutido essas questões com você, não?
Mas é claro! Oras... mas não sei... será que eu deveria lhe falar a verdade?
O vento invernal entrou pela janela parcialmente aberta, balançando o cortinado mais próximo. Eu o observei por um momento. Talvez... meia verdade...
— É, temos discutido. – respondi, sem olhá-lo.
— Têm, têm. – Scrimgeour se animou. Eu podia vê-lo me observando, os olhos semicerrados. Bom... a cortina balançando poderia ser um bom objeto para fingir distração... – E que é que Dumbledore tem lhe dito, Harry?
— Desculpe, mas isto é só entre nós. – respondi, tentando manter a voz o mais agradável possível. E ele também foi leve e simpático quando disse:
— Ah, claro, são confidências, eu não iria querer que você as revelasse... não, não... e, de qualquer forma, faz diferença se você é ou não “o Eleito”?
Se faz diferença ou não eu ser “o Eleito”? Sinceramente! É só mais um título inútil inventado pelos jornais! Diferença? O que raios ele quer dizer com isso?
— Não sei o que o senhor quer realmente dizer, ministro.
— Bem, naturalmente, para você, fez uma enorme diferença – ele deu uma risada. – Mas para a comunidade bruxa como um todo... é uma questão de percepção, não é? É aquilo em que as pessoas acreditam que é importante.
Eu não disse nada. Talvez... será mesmo que ele quer chegar à esse ponto? A cortina agora se enrolava em si mesma, e eu me mantive olhando-a.
— As pessoas acreditam que você é “o Eleito”, entende? Acham que você é um herói, o que é claro, você é, Harry, eleito ou não! Quantas vezes você enfrentou Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado até agora? Bem, seja como for – ele continuou, dessa vez sem esperar resposta, enfim! – a questão é que você é um símbolo de esperança para muitos, Harry. A idéia de que alguém de sentinela que talvez possa, ou até talvez esteja destinado a destruir Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado... bem é natural que isso revigore as pessoas. E não posso deixar de sentir que, quando perceber isto, você talvez considere, bem, quase como um dever, apoiar o Ministério e dar alento a todos.
A cortina finalmente se enrolou de vez. Eu fiquei em silêncio tanto tempo que Scrimgeour desviou sua atenção para a cortina também.
— É algo interessante o que o vento pode fazer, não? Mas que me diz, Harry?
— Não compreendo exatamente o que o senhor quer. – respondi vagarosamente. – Apoiar o Ministério... que quer dizer com isso?
— Ah, bem, nada muito oneroso, posso lhe assegurar. Se você fosse visto entrando e saindo do Ministério de vez em quando, por exemplo, daria a impressão correta. E, naturalmente, enquanto estivesse lá, você teria ampla oportunidade de conversar com Gawain Robards, meu sucessor na chefia da Seção de Aurores. Dolores Umbridge me disse que você alimenta a ambição de se tornar auror. Bem, isso poderia ser facilmente arranjado...
Como? Então Dolores Umbridge continua no Ministério?
— Então, basicamente – falei, como se apenas esclarecesse alguns pontos –, o senhor gostaria de dar a impressão de que estou trabalhando para o Ministério?
— Daria mais animo a todos pensar que você participa mais, Harry – ele falou, parecendo aliviado. É, eu entendi muito rápido, ministro. – “O Eleito” sabe... é uma questão de dar esperança às pessoas, a sensação de que há coisas emocionantes acontecendo...
— Mas se eu ficar entrando e saindo do Ministério – perguntei, me esforçando para manter o tom amigável da conversa. –, não irá parecer que eu aprovo o que o Ministério está fazendo?
— Bem – ele franziu ligeiramente a testa. –, bem, sim, em parte é por isso que gostaríamos...
— Não, acho que não vai dra certo – falei gentilmente. – Veja senhor, não gosto de algumas coisas que o Ministério está fazendo. Prender o Lalau Shunpike, por exemplo.
Scrimgeour calou-se, mas sua expressão endureceu instantaneamente.
— Eu não esperaria que você compreendesse – disse, mas eu posso garantir que ele não disfarça a raiva tão bem quanto eu. – Vivemos tempos perigosos, e é preciso tomar certas medidas. Você tem dezesseis anos...
— Dumbledore tem muito mais de dezesseis anos e também acha que Lalau não devia estar em Azkaban. O senhor está transformando Lalau em bode expiatório do mesmo modo que quer me transformar em mascote.
Nós nos encaramos demorada e inflexivelmente. Por fim, ele falou, nada cordial.
— Entendo. Você prefere, como seu herói Dumbledore, se desassociar do Ministério?
— Não quero ser usado.
— Alguns diriam que é seu dever se deixar usar pelo Ministério! – Percy, claro, eu não.
— É, e outros diriam que é seu dever verificar se as pessoas são realmente Comensais da Morte antes de metê-las na prisão. O senhor está fazendo o mesmo que Bartô Crouch fez. Os senhores nunca entendem muito bem, não é? Ou temos Fudge, fingindo que tudo está ótimo enquanto as pessoas são assassinadas debaixo do nariz dele, ou temos o senhor, metendo as pessoas erradas na prisão e querendo fingir que “o Eleito” está trabalhando para o Ministério!
— Então você não é “o Eleito”? - ele indagou.
— Pensei ter ouvido o senhor dizer que não faria diferença. – respondi com uma risada amargurada. – Pelo menos, não para o senhor.
— Eu não devia ter dito isso. – ele interpôs, ligeiro. – Foi falta de tato...
— Não, foi sincero. Uma das poucas coisas sinceras que o senhor me disse. O senhor não se importa que eu viva ou morra, mas faz questão que eu o ajude a convencer a todos que está ganhando a guerra contra Voldemort. Não esqueci, ministro.
Ergui a mão direita. Ali, nas costas da minha mão, destacavam-se, lívidas, as cicatrizes que Umbridge me obrigara a gravar: Não devo contar mentiras.
— Não me lembro do senhor ter corrido em minha defesa quando eu estava tentando dizer a todos que Voldemort tinha retornado. O Ministério não esteve tão interessado em ser meu amigo no ano que passou.
O silencio chegou. Nós ficamos parados. O vento parara de balançar a cortina. Parara de ventar, mais precisamente.
— Que anda fazendo Dumbledore? – ele perguntou bruscamente, quebrando o silêncio. – Aonde vai quando se ausenta de Hogwarts?
— Não faço a menor idéia. - bem que eu gostaria de saber...
— E não me diria se fizesse, não é?
— Não, não diria.
— Bem, então, terei de ver se descubro por outros meios.
— Pode tentar – falei, indiferente. – Mas o senhor parece mais inteligente do que Fudge, por isso seria de imaginar que tivesse aprendido com os erros dele. Fudge tentou interferir em Hogwarts. O senhor deve ter reparado que ele não é mais ministro, mas Dumbledore continua a ser diretor. Eu deixaria Dumbledore em paz se fosse o senhor.
Houve uma longa pausa.
— Bem, é evidente que ele fez um excelente trabalho com você – falou, o olhar frio e duro atrás dos óculos. – Você é por inteiro um homem de Dumbledore, não, Potter?
— Sou. Que bom que deixamos isso claro.
E, dando as costas ao ministro, abri a porta e saí do quarto, rumo ao meu próprio dormitório.
“Por inteiro um homem de Dumbledore”. Pode ter certeza, Rufus Scrimgeour. A minha lealdade está com Alvo Dumbledore. Não com o Ministério da Magia.



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