1996
Fic: Presente de Natal
Capítulo Três – 1996
“Não. Eu não posso ter acordado... Não vou nem abrir os olhos e vou dormir de novo”
Cinco minutos depois:
“Saco. Não consigo dormir de novo. Mas não vou abrir os olhos.”
Três minutos depois:
“Certo. Agora eu vou ter que abrir os olhos. Preciso ir ao banheiro, e se não os abrir vou trombar com alguma coisa e acabar me machucando.”
Na volta:
“Onde foi que o Harry se meteu? Pelo meu relógio são 3:45 da madrugada. Não que eu queira bisbilhotar a vida dele, mas eu estava voltando e as cortinas da cama dele estavam abertas. Ele não está na própria cama. Será que ele desceu?”
Fui até a porta e a abri. Silenciosamente. Ouvi vozes lá em baixo. Vozes conhecidas. Harry e... Gina?
Eu não sou muito curioso. E o Harry sabe – ou deve saber – o que faz da própria vida... mas é a minha irmã, oras!
Embora eu possa ouvir as vozes – e identificá-las – ,–, eu não entendo nada do que eles falam. Espera... eles estão em silêncio...
“Ah, meu Merlin... o que eles estão fazendo em silêncio? Falem alguma coisa!!”
Apurei meus ouvidos, mas ainda não ouço nada. Espera... som de... passos? “Quem será? Será que é a Mione? Digo... a Hermione?”
Silêncio. E passos novamente. Voltaram a falar. “Harry, Hermione... não ouço a voz da Gina... só dos dois... ah, voz da Gina agora.”
É, eu vou tentar dormir de novo. Talvez eu não consiga. Eles estão lá conversando. Eu não vou descer. Pra ser atacado por um bando de passarinhos conjurados pela Hermione? Não, muito obrigado.
Voltei para a minha cama. Fechei as cortinas a minha volta. Fechei os olhos. Mas o sono... hunf, esse não vem.
Algum tempo depois (muito tempo depois, na verdade):
Esse som... é o da porta se abrindo...? É, é sim. Deve ser o Harry. Eu estou curioso. Sobre o que foi que eles conversaram? Só me resta pensar. Eu sei que se perguntar ele talvez até me fale... fechou as cortinas... mas eu não vou perguntar. Não quero que ele pense que eu estou curioso quanto a Hermione. Eu não estou. Eu quero saber o que ele e a minha IRMÃ estavam conversando. E porque ficaram em silêncio.
Sinceramente? Dane-se o que quer que eles tenham feito. Se é que fizeram alguma coisa. Agora... eu já não agüento mais essa situação. Não que eu vá me desculpar com a Hermione, ou que fique esperando, contando os segundos até ela vir falar comigo. Eu já não agüento mais é a Lilá. Ela fica no meu pé o tempo inteiro. Enche! Tudo bem que a gente não conversa muito. Mas talvez eu quisesse exatamente isso. Conversar.
Se bem que eu comecei isso. E não foi por querer conversar. Eu queria provar pra Gina que... ah, deixa pra lá.
Tá tudo um bolo tremendo. Gina, Hermione, Lilá, Harry, Voldemort, Malfoy... Malfoy?? Eu disse Malfoy? Devo estar mal mesmo. Eu só quero fugir de tudo isso. Será que ainda dá pra ficar pior? Bobagem. Eu sei que pode piorar e muito. Com Voldemort atacando a cada dia que passa, a cada dia as coisas ficam piores. Mas nós temos Dumbledore. E Harry. Harry esse que não pode – e sabe que não pode – ter o mesmo pensamento que eu. Fugir. É dele que tudo depende. Matar ou morrer. Destino... cruel, talvez.
Harry já está deitado. Aliás, eu não sei se ele está deitado. Talvez ele esteja deitado. Talvez esteja sentado. Talvez dormindo, talvez acordado. Talvez lendo, talvez pensando, talvez... ah, chega. Acho que já tá bom. Em resumo, está escondido atrás daquelas cortinas. Entrou quieto e continua calado. Ele tem estado estranho. O que será que ele tem? Será que Hermione sabe? Se fosse pelo bem do Harry eu até arriscaria ser atacado por bípedes raivosos. Isso soou esquisito. Mas eu apenas estou preocupado com o salvador do mundo mágico. Que por um acaso é meu melhor amigo! E se ele resolver fugir? O que será de nós?
— Pare de pensar besteiras, Rony. Tá tudo bem.
Eu ouvi o que eu ouvi? Foi o Harry quem falou? Peraí, ele está lendo a minha mente?
— Rony...
— Harry, você aprendeu legilimência?
— Não.
— Então... como...?
Harry riu.
— Você estava falando.
Eu... falando...? Não...
— Desde quando? Desde que parte você ouviu?
— Desde os milhares de ‘talvez’. – ele falou divertido.
— O que está acontecendo...? Não. O que aconteceu? Pra você descer, sabe...
— Eu só estava precisando pensar, Rony. – ele suspirou, cansado.
— Pensar? – a curiosidade me mata qualquer dia desses. – No que?
— Você tem, certeza de que quer saber? – a voz dele soou sombria. Fria. Carregada. Eu senti que era algo que talvez fosse melhor não ser falado. Demorei a responder. E mesmo assim, respondi cautelosamente, num nada de voz.
— Só se você tiver a necessidade extrema de me contar. Se não, pode guardar só pra você. Tudo bem. Eu não faço questão.
Uma risadinha veio dele.
— Que foi? – perguntei.
— Nada não.
— Harry... sabe... – Comecei, receoso. Mas é claro! O que vocês esperariam de mim? Tenho que tomar muito cuidado. – Você resolveu pensar assim... do nada? Ou aconteceu alguma coisa...? – a frase ficou no ar por alguns segundos.
— Eu falei com a Mione. – ele falou por fim. Eu já esperava algo assim. Hei, rimou!
— Ah... – comentei. Se é que isso é um comentário. – Ela está bem? Aliás, não, eu não quero saber. Ela que fique com o Vitinho. E com aqueles passarinhos. Hunf!
— Rony... – ele respirou fundo. É bem capaz de ele ter segurado um sorriso. – Você provocou. E sabe disso. Mas eu não vou me meter nessa história.
— Ou pode acabar atacado por passarinhos. Mesmo que eu ache que ela não vá fazer isso a você.
Se eu o estivesse vendo, tenho certeza de que veria ele balançar a cabeça de um lado para o outro em divertida negação. Ou talvez revirando os olhos ou talvez... sei lá! Ele tem estado tão estranho ultimamente...
E eu preciso parar com esses “‘talvez”! Logo!
o.o.o.o.o.o.o.o
— Ah, Harry, chega de falar do Rony. Eu cansei. – falei. Olhei então para Harry e depois para Hermione. E de volta a Harry. – E pra falar a verdade acho que fiquei com sono. Boa noite pra vocês dois.
Eu então me levantei e fui andando lentamente em direção às escadas, pensando.
— Boa noite, Gi. – A voz de Hermione chegou aos meus ouvidos e logo depois a risada da mesma. Isso me tirou totalmente dos meus pensamentos.
— É... boa noite. – Harry falou. O que ele teria feito para Hermione rir?
Comecei a subir os degraus e um pouco antes do topo, onde eles já não poderiam me ver, mas eu poderia escutá-los.
— Vocês estavam só conversando mesmo? – Mione perguntou, parecendo desinteressada. Mas é claro que ela estava completamente interessada. O porquê me é completamente desconhecido.
— Claro. – é, o Harry não responderia outra coisa. Afinal, não havia outra coisa para responder, não é mesmo? Um leve tempo se passou, e de repente pude ouvir as chamas da lareira crepitarem.
— Você melhorou em feitiços não-verbais. – Hermione comentou. Feitiços não-verbais. Certo, é matéria do sexto ano. Não haveria mais nada de interessante para mim naquela conversa. Terminei de subir em silencio absoluto os dois degraus que me restavam, e segui até o quarto que estou dividindo com Mione. Abri a porta, passei por ela e a fechei, recostando-me na mesma. A madeira estava gelada. O que eu queria, afinal? É dezembro! Está nevando lá fora! Lá fora...
Olhei para a janela. Eu não me lembrava de tê-la aberto. Talvez Hermione a tivesse deixado assim antes de descer. Observei a paisagem lá fora. O céu estava no seu mais puro azul escuro. Não havia nuvens. Além da lua cheia, “hoje é o primeiro dia!”, apenas as estrelas, brilhando insistentemente, estavam por ali. Eu podia ver um pedaço da Floresta Proibida de onde estava, mas ela não me chamava à atenção em nada. Apesar de não poder ver, por estar longe da janela, eu sabia que o chão estava completamente branco. Neve. Depois do Natal, a coisa que eu mais gosto do inverno é a neve. Tão pura, tão branca, tão macia... Tão fria...
O vento gelado entrou pela janela aberta e me fez tremer. Eu não gosto do frio. Quem me dera ter uma lareira acesa por aqui... lareira acesa... eu posso me lembrar das chamas da lareira brincando no rosto dele. Do efeito bonito de luz e sombra.
Escorreguei pela porta até chegar ao chão. Abracei meus joelhos. Tudo estava voltando. Um turbilhão de sentimentos voltava ao meu corpo sem pedir licença. “Eu já não tinha esquecido tudo isso? Já não tinha mudado?”
Uma lágrima solitária quis escorrer pelo meu rosto e eu deixei. “Por quê? Por que, Merlin? O que foi que eu fiz?”
Eu sabia que jamais o havia esquecido. Mas eu estava conseguindo esquecê-lo. Ele já não povoava meus pensamentos. Afinal, ele estava neles antes mesmo de saber. Meu super-herói. Tá certo, heróis de infância deveriam ficar na infância. Mas é muito mais difícil deixar seu herói de infância na infância quando você o vê todas as férias, quando ele se torna, efetivamente, seu herói, ao salvá-la da morte certa. E quando você se apaixona pela pessoa, o título fica esquecido. Mas é claro, você sempre saberá que tudo começou na infância.
Outra lágrima foi se juntar à primeira.
“Eu estou tão bem com o Dino, por que isso agora?”
Mentira. Eu não estou assim tão bem com o Dino. As coisas estão começando a ir mal. Sabe, brigamos por qualquer besteira, e até mesmo por coisas completamente naturais. Às vezes eu tenho a impressão de que quanto mais o tempo passa, piores as coisas vão ficando.
Mas isso não é, de jeito nenhum, motivo para o Harry voltar a fazer parte dos meus pensamentos. Aliás, não há nenhum motivo. Tudo bem que isso já se estende desde as férias, n’A Toca, mas se ele nunca quis nada comigo, por que vai querer agora? Eu só estou sendo idiota de ficar pensando nele, e de deixar tudo voltar a ser como era antes. Não vai voltar. Eu não posso deixar.
Levantei-me e fechei a janela. Sentei-me na cama e respirei fundo.
— É no Dino que eu tenho que pensar, é com o Dino que eu estou, e é com ele que eu vou ficar. – fechei então o dossel e me deitei. Me cobri e fechei os olhos. Assim que as cobertas me esquentaram, caí no sono. E, por mais que eu tivesse resolvido que era em Dino que eu iria pensar, eu não posso controlar os meus sonhos. Sonhos esse que foram povoados de Harrys.
N/A: Bom, eu arrumei um tempinho (enquanto escrevia a parte 4 do cap 5...) pra vir att aqui, postar os cap 3 e 4...
um BIG THANK YOU pra quem está lendo... e comentar não faz mal, sabem? Faz até muito bem...
Bjus
§høfï§
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