Aqueles óculos meia-lua



Harry correu até o castelo, sua visão estava embaçada, lágrimas involuntárias escorriam-lhe pelo rosto. Como Dumbledore e Sirius puderam esconder tal segredo dele todos esses anos, por que ninguém havia lhe contado? Por que apenas ele teve que carregar a fama do menino-que-sobreviveu se outra pessoa também havia sobrevivido ao ataque de Voldemort?


Ele lutava bravamente contra o sentimento de raiva, se revoltar naquele momento não ajudaria em nada, nada mesmo. Queria saber a verdade, toda a verdade, daqui para frente como vou saber se os outros, em quem confio estão sendo sinceros com ele?


Entrou em Hogwarts, ainda correndo para que ninguém o visse naquele estado, quando estava subindo as velhas escadas de madeira em direção ao dormitório, viu Malfoy sentado ao lado da estatua do Velho que ri, passou muito rápido mas conseguiu notar a expressão solitária e enraivecida do rapaz, mas ainda assim, não conseguia sentir uma ponta de culpa por Lúcio estar naquele inferno, ele era culpado, e deveria estar lá, e não tinha pena pelos Malfoy, mas algo o incomodava... Ele percebeu que estava na mesma situação que Malfoy, só que todos que o amavam o estavam enganando, e Malfoy não tinha pessoas que o realmente gostassem dele.


Entrou no dormitório, Roni e Hermione estavam lá, Hermione deu um salto e disse:


—Harry! Graças a Merlyn, onde esteve? Estávamos preocupados.


—Não estou pra papo Mione, estou cansado, vou dormir, depois conto tudo a vocês – Estava mentindo, não estava preparado pra contar a verdade a seus amigos, não queria que ninguém soubesse de nada. Entrou no quarto, empilhou alguns travesseiros e jogou as cobertas por cima – assim ninguém estranhará – pensou o garoto. Colocou a capa de invisibilidade e desceu silenciosamente.


Esperou que alguém saísse da Sala Comunal para sair junto, Neville estava a caminho, quando o corpulento rapaz passou pela porta, Harry se esgueirou para passar também, mas foi forçado a empurra-lo, quando Neville caiu, Harry saiu correndo antes que alguém fosse procura-lo, chegou a porta da sala de Dumbledore, e começou a respirar calmamente, voltando pro ritmo normal, estava tomando coragem, coragem pra saber de tudo, coragem para não se descontrolar. Quase morreu de susto quando as escadas começaram a aparecer, alguém estava lá com Dumbledor, se abaixou num canto e ficou observando imóvel.


Snape saiu, com um ar melancólico, se virou olhou bem para Dumbledore que jazia na porta, suspirou e disse:


—Estamos encrencados, não é? – Dumbledore permaneceu com o olhar firme e não disse uma palavra – Nunca deveria ter feito aquilo Alvo, nunca... – E saiu com passos largos.


Dumbledore continuou imóvel na porta por alguns instantes e logo disse:


—E então, vai ficar escondido ai no canto? Entre. – E abriu um largo sorriso, Harry se assustava com a inteligência do bruxo, mas o admirava acima de tudo.


Subiram em silêncio, Harry só tinha corajem de olhar para o chão. Quando chegaram ao topo, ele se sentiu em casa, um sensação de proteção o envolveu, acariciou Falkes que parecia mais viva do que nunca, olho e comprimentou com a cabeça todos os diretores que estavam na parede, se sentou e encarou o diretor, que já o olhava por cima daqueles óculos meia-lua.


—Então criança, diga-me o que sabe.


—Não sei, não sei o quanto eu sei, não sei o quanto o senhor e todos os outros esconderam de mim todo esse tempo – percebeu a alteração em sua voz, e procurou relaxar, afundando na cadeira.


—Sabe de Mellanie? – disse o velho calmamente.


—Sim. De muito mais que o senhor pensa, sei de Sirius e do senhor. – disse ele baixando a cabeça sem querer faltar ao respeito.


—Cedo ou tarde você teria que saber. Vou te contar tudo então.


—Por que não me contou antes? Eu tinha o direito de saber, tem tudo a ver com minha vida... – foi interrompido por uma fala um tanto quanto agressiva de Dumbledore.


—As coisas nem sempre giram em torno de você Harry, não te contamos para proteger a ela. - fez uma pausa e continuou – ela ficou com algo mais de Voldemort do que você, ele só poderá voltar por completo, quando ela estiver morta. – Harry olhou preocupado pela janela, estava envergonhado de seu egoísmo – achei mais seguro se vocês ficassem juntos, ambos são extremamente poderosos. Já se falaram pelo visto, ela é uma linda menina, muito esperta, mas está assustada de mais. Ficou recentemente órfã – Harry sentiu vontade de chorar, mas não conseguiu – e recebeu ameaças de comensais da morte, e uma carta supostamente do próprio Valdemort. – Harry achou tudo aquilo muito estranho, sentiu uma tontura mas tinha que continuar ali, ouvindo – Deixe me ver por onde começo, minha filha, ah, minha única filha, era linda, tinha a pele mais alva que eu já vi, cabelos compridos muito claros, muito frágil a meus olhos. Imagine meu espanto quando um rapaz desengonçado, um maroto nos tempos de escola, cabelos compridos de aparência suja e uma cara fina. Não achei ele nada digno para minha fadinha, mas tive que aceitar, eles se amavam, aprendi a conviver com Sirius, aprendi a ser seu amigo, e quando Mellanie nasceu, fiquei encantado, tinha uma mistura dos dois, era linda, um anjo. Olhos fundos como os do pai azuis como os da mãe, loirinha, branquinha, aquilo sim era uma boneca, um dia, eles queriam visitar um casal de amigos, seus pais Harry. – mais do que nunca Harry queria se deitar, a qualquer minuto iria vomitar – não era uma ocasião especial, mas eu, queria que minha neta estivesse linda, mais linda. Comprei seu primeiro vestido de festa, vermelho, feito de cetim, com babadinhos brancos por toda a volta, quando a olhei naquele vestido, vi que ela seria um grande bruxa, e que não havia nada no mundo mais importante para mim do que ela, antes de sair de casa, ela saiu correndo e me deu um abraço, e disse que me amava. Nunca vou esquecer aquilo, depois de algumas horas, estava os esperando, e a notícia de que eles haviam sido atacados por Voldemort havia chegado a mim, corri para lá, o ministério já havia feito seu trabalho, e eu encontrado meu tesouro sentada na beira da calçada chorando, com um rasgo no vestido, ela ainda não havia entendido que sua mãe havia partido para sempre ou que seu pai estaria trancafiado em Azcaban, ela me olhou e disse “Desculpe vovô, eu rasguei meu vestido novo.”. Você estava com Hagrid, dormindo profundamente, depois de averiguar se os dois estavam bem, levamos você a casa de seus tios e eu trouxe minha sobrinha para casa, como ela não poderia ficar no castelo enquanto eu trabalhava, durante o período de aulas ela morava na cabana de Hagrid, o que seria de nós sem ele não é Harry? – as lágrimas de Harry escorriam ao lembrar de Sirius e de seus pais – Nada é fácil, temos que ser fortes. Por um tempo não tirava minha filha da cabeça, a maneira com que prenderam Sirius injustamente fazendo-o ver sua filha crescer a cada dia de visita. Mellanie o visitava freqüentemente, depois de crescida, sua mágoa pela mãe e pela prisão do pai se tornou em puro ódio por Voldemort e todos os comensais, e agora com a morte de Sirius já não sei mais como ela se sente, não quero te assutar Harry, mas eu mesmo estou com medo, medo do que está acontecendo com ela, ela está fria, está tomada por uma tristeza, eu não sei Harry, mas o vinculo que ela criou com o pai mesmo a distância foi muito grande. Acho que isso é tudo que eu tinha pra contar pra você.

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