Ela também tem



Cap. 20_

Você já sentiu como se um dia muito, muito longo finalmente chegasse ao fim?

Harry podia jurar que via energia emanando de Dumbledore. Nunca, ao olhar para aquele velho aparentemente tão frágil, imaginaria que ele possuía tanta vitalidade.

_Todos os alunos devem estar no Salão Principal em cinco minutos! _Harry ouvia Dumbledore dizer, enquanto descia as escadas e atravessava os corredores, com a voz magicamente ampliada _Os professores devem comparecer imediatamente à entrada da escola!

Harry apressou o passo para acompanhar o ritmo do diretor. Ao entrarem no terceiro corredor, McGonagal alcançou-os e emparelhou-se com Dumbledore.

_Alvo. _ela chamou com o ar visivelmente esvaindo-se de seus pulmões _Alvo, o que está acontecendo?! _a preocupação era evidente. Conhecia Dumbledore suficientemente bem, para saber que estava acontecendo algo. E algo muito grave.

_Ele está vindo para cá, Minerva. _ele respondeu, sem parar de andar.

_Ele? _ela perguntou confusa _O que quer dizer com Ele?

_Voldemort. _Harry respondeu por ele, ultrapassando-os, quando o corredor se alargou. Tinha pressa. Precisava chegar ao lado de fora, antes que eles chegassem ao castelo. Com a velocidade que estavam vindo, já deveriam estar quase nos muros da propriedade. Se... Se não fizessem alguma coisa, rapidamente, eles entrariam.

Ele precisava detê-los. Precisava proteger todas aquelas vidas inocentes.

_Sim, Minerva. _Dumbledore concordou, logo atrás dele _Voldemort está vindo.

_Como pode ficar tão calmo?! _Harry virou-se repentinamente para ele _Eles... Eles estão às portas do castelo! Se... Se não fizermos alguma coisa... Agora... Eles entrarão!

_O que o leva a achar que este castelo não tem proteção, Potter? _Minerva retrucou com um toque de indignação _O que você acha que manteve Voldemort longe, durante o tempo em que ele esteve no poder.

_Chega de conversa! _Dumbledore interrompeu, voltando a andar rapidamente. O corredor à volta deles se enchia de alunos que caminhavam às pressas para o Salão. Vários olhares curiosos viravam-se para eles. Mas ninguém ousava interrompe-los para perguntar o que estava acontecendo _Não podemos confiar que os feitiços o segurarão fora por muito tempo. Temos que tirar os alunos daqui.

Os três voltaram a acompanhar a multidão de crianças e adolescentes que desciam as escadas. Do topo da escadaria do saguão de entrada, puderam ver o restante dos professores, reunidos junto à porta.

Todos olharam para cima, interrogativamente.

Mas nem Dumbledore, nem Harry precisaram dizer alguma coisa.

Em uma voz alta e clara, como se viesse dali mesmo, de dentro do castelo, a voz de Voldemort ressoou. Boa parte dos alunos sobressaltou-se. Alguns se agarraram às pessoas mais próximas. Alguns começaram a chorar, apavorados.

_É chegada a hora de escolherem seu líder crianças. Escolher quem seguirão nos próximos anos. De escolher a quem vão entregar a sua fidelidade. _ele fez uma pausa. Todos olharam para cima, em uma expectativa palpável. _E não são muitas minhas exigências como líder. Se vocês tiverem o juízo em perfeito estado, perceberão que têm mais a ganhar se estiverem ao meu lado do que contra mim.

_Não consigo entender, Alvo, _Minerva murmurou para Dumbledore, quando Voldemort fez mais uma pausa _ele sempre teve... Medo de você.

_Ele está mais confiante agora, Minerva. _ele respondeu, mirando o teto com os oclinhos meia lua cintilando _Ele tem plena ciência do que a profecia dizia sobre Harry e ele. Que somente Harry poderia mata-lo. Ele acredita fielmente que mesmo que eu massacre seu exército de comensais, eu não poderia nada contra ele. E mesmo diante dessa possibilidade de perder todos seus aliados, ele sabe que antes de sucumbir, os comensais levariam consigo boa parte dos meus aliados. E... Ele tem pressa, agora. Ele não podia hesitar nem mais um dia. Ele teve sob seu controle, durante muito tempo, o único que ele acreditava poder fazer algo contra ele. Mas Harry se rebelou. Então ele tem que me matar, antes que Harry se alie a mim. Antes que ele reconstrua seu passado. Porque aí, sim, ele sabe, sua batalha estaria perdida.

_Ele está atrasado. _Harry murmurou ao lado do diretor.

Os olhos azuis de Dumbledore desviaram-se do teto, e pousaram sobre Harry. Harry encarou-o. Imaginou, por alguns segundos, um vislumbre de orgulho. Então a voz voltou a falar.

_Em primeiro lugar, e isso eu digo diretamente a você, Alvo Dumbledore, eu quero que você se entregue a mim. Isso, como você já deve ter calculado, é o meu maior objetivo esta noite. E se seguir exatamente minhas instruções poupará muitas vidas. O que eu tenho certeza, é seu maior objetivo esta noite, certo? É sempre seu maior objetivo mesmo. Porque se você não vier, Dumbledore, eu vou quebrar a proteção que cerca essa maldita escola. E vou triturar cada um que estiver no meu caminho.

Harry sentiu um solavanco no estômago. Dumbledore estava certo. Ele tinha esperanças de que sua chantagem emocional lhe garantiria uma vitória fácil.

_Em segundo lugar, _Voldemort continuou _eu quero a confirmação da lealdade de vocês através da captura de Harry Potter. Àquele que me trazer Harry Potter, eu darei todas as graças e méritos que qualquer um de vocês poderia sonhar. Aquele que me entregar Potter terá riqueza, fortuna, tudo o que desejar.

Harry via as suspeitas de Dumbledore confirmando-se em cada palavra de Voldemort. Assim tudo ficava mais fácil. Dumbledore entregava-se a ele, na esperança de poupar seus alunos e aliados. Confusos, dissipados e enfraquecidos, todos se virariam para a única esperança: cair nas boas graças do novo líder da comunidade bruxa. Diante disso, Voldemort conseguiria capturar Harry. Ele não precisaria enfrenta-lo, e esse era o seu único receio no momento. Harry era o único que podia mata-lo. E, não precisando enfrenta-lo, ele estava a salvo. Tudo fazia sentido.

_E minha terceira e última exigência será a fidelidade cega e constante. Nós entraremos em uma era de poder e avanços. A comunidade bruxa ocupará, finalmente, o lugar a qual pertence: o topo. Finalmente nossos poderes serão revelados e respeitados. Todo o restante será subjugado. Àqueles que se mostrarem fiéis a mim, eu prometo uma radiante liderança, sobre todos os que são inferiores a nós.

E, finalmente, os sangue-ruins. Harry sabia que era a eles que aquelas palavras se direcionavam. Subjugados? Harry sentia nojo. Não conseguia imaginar quem cederia àquela série de charlatanismos e...

Um raio de luz vermelha cruzou os ares e passou a centímetros da orelha direita de Harry. Virou-se repentinamente e deparou-se com um aluno alto, aparentemente do sétimo ano, com o uniforme verde e prata da sonserina, sustentando a varinha erguida e uma expressão de desafio.

_Como se atreve seu... _Harry escutou Hagrid bradar, mas o meio gigante foi interrompido por Dumbledore.

_Basta! _o diretor gritou _Madame Pomfrey, Filch, evacuem o castelo. Todos os alunos devem ser mandados, via Flu, para o St Mungus. Lá eles saberão acionar suas famílias.

_De maneira nenhuma! _ele escutou o aluno que o atacara protestar _É muito simples resolver tudo isso, não é? É você que ele quer? É o Potter? Porque vocês estão bem à mão. Por que não entrega-los e...

_Você só pode estar louco. _Minerva retrucou. _Você é o primeiro a sair, por favor. _ela respondeu indicando uma lareira visível pela porta aberta do salão principal _E se não for por bem, será por mal.

_É um aluno, Minerva. _Dumbledore acalmou-a _Sem exaltações, por favor. Mas concordo que por precaução, vá primeiro. Alguém mais tem alguma objeção?

Imediatamente, as mãos de alguns alunos começaram a se levantar. De uma maioria esmagadora da Grifinória e de alguns alunos da Corvinal e Lufa-Lufa.

_Não podemos ir. _um deles disse com naturalidade _Queremos ficar... E lutar.

_É! _um brado de concordância veio do restante dos alunos. Os da sonserina já se encaminhavam tranqüilamente para a saída.

_Essa opção e inviável para os alunos menores de idade. _o diretor respondeu _E, apesar de não ter muita autoridade sobre a vida dos maiores de idade, por mim, ninguém ficaria. Ainda sou diretor de vocês. Ainda é minha obrigação garantir a segurança de vocês.

_E quem for maior e quiser realmente ficar? _um aluno teimou.

_É perigoso. _Dumbledore insistiu.

_E quem for maior e quiser realmente ficar? _ele repetiu, como se o diretor não tivesse entendido a pergunta.

Dumbledore deu um suspiro cansado. _Poderá ficar.

Madame Pomfrey e Filch começaram a dispersar os alunos. Alguns reclamaram. Outros pareciam aliviados por poderem sair dali. Alguns maiores ficaram para trás.

_Acionem a Ordem da Fênix. _Dumbledore disse a Minerva. Marisa e Snape aproximaram-se nesse momento.

_Você acha que não foi a primeira coisa que alguém fez? _uma voz perguntou saindo da lareira. Harry virou-se a tempo de ver cabelos tão ruivos e vivos quanto os de Rony saindo das labaredas esverdeadas. Na verdade, várias pessoas com cabelos ruivos e loiros. Dois iguaizinhos. Depois um de cabelos mais compridos e várias cicatrizes no rosto. Uma mulher um pouco mais velha e mais gordinha. Um homem de óculos. Um com queimaduras nos braços. Fechando a fila, vinha uma das mulheres mais lindas que ele já vira, com cabelos prateados e esvoaçantes. Logo após, uma garota oriental, com um par de gêmeas. Atrás delas, uma garota loira de olhos sonhadores e distantes e uma senhora com um imenso chapéu de urubu na cabeça. Quando Harry se deu conta, ao seu redor um imenso grupo com todos os tipos de pessoas já tinha se formado.

Ele se sentia acolhido. Por alguns momentos sentira que seria impossível derrotar tantos comensais, mas ali estava... Ajuda. Ajuda de pessoas fiéis. Extremamente bem-vinda.

Mas, ao passar os olhos entre todos que chegaram, percebeu que Hermione não estava ali. Nem Hermione, nem Rony, nem Gina. Nem aquele loirinho arrogante que ajudara muito na última batalha que tiveram.

Sentiu-se vazio novamente. Não queria realmente expor todos eles. Mas mesmo que tivesse reconstruído uma convivência com eles tão recentemente, já sentia um elo tão forte ligando-os que era muito mais fácil confiar na vitória se eles estivessem perto.

Confiava em Rony e Hermione. Confiaria sua vida a eles.

Olhou de relance para Dumbledore e, ao notar como ele olhava os recém chegados da mesma maneira, concluiu que ele também estava sentindo falta de algumas pessoas.

_Eu chamei. _Snape murmurou, despertando Dumbledore de seus pensamentos.

_Ótimo. _ele sorriu. _Então, Minerva, Flitwick, Marisa e Slurgorn, vocês ficam um em cada torre principal. De lá, vocês podem atingir toda a propriedade com seus feitiços e evitar que eles dominem o terreno. Fred, Jorge e Lino Jordan, vocês ficam encarregados de cobrir as passagens para fora do castelo. Montem a equipe que julgarem necessário. Katie, Alicia, Luna, Sra Longbotton, Gui e Fleur, preciso que vocês se espalhem por pontos estratégicos do castelo, de onde possam ter uma boa visibilidade para aumentar a defesa quando necessário e intensificar o ataque. O restante venha comigo. Nós formaremos uma linha de ataque intransponível. Se pudermos contar com o Grope e com os centauros, Firenze, seria ótimo. Toda ajuda no momento é bem vinda.

_Falarei com eles. _o centauro respondeu e desapareceu pela escada que dava para as cozinhas.

Harry constatou que não formavam, no fim das contas, um grupo muito grande.

Mas quando Dumbledore, à frente do grupo, abriu as portas do castelo e eles marcharam para o gramado, ele sentiu que não eram muitos.

Mas eram o necessário.

***

Rony e Draco sentiram as moedas da ordem queimando em seus bolsos. Pegaram-nas quase simultaneamente e leram a palavra “Hogwarts” formada na borda. Ergueram os olhos para o céu.

Haviam acabado de aparatar, naquele momento, nos limites da floresta proibida.

_Ai. Meu. Merlim. _Draco murmurou pasmado, ao encarar aquela legião de comensais sobre vassouras, rodeando os muros do castelo como abutres sobre um pedaço muito apetitoso de carne.

_Mas o que está havendo? _Rony perguntou embasbacado.

Draco sacudiu a cabeça, indicando que não sabia. _Vamos. _ele curvou-se para esconder-se entre as árvores mais altas e puxou o braço de Rony.

Caminharam até um ponto de onde podiam visualizar a entrada do castelo. Das portas abertas, um grupo saía caminhando de modo altivo. O vento batia nas vestes deles, fazendo-os parecer personagens de um filme de aventura. Draco teria sido capaz de zombar disso, se a situação não fosse tão crítica.

_É um ataque. _Rony conclui mordendo o lábio superior _Vamos. _e endireitou-se, mas Draco puxou-o de volta.

_Ei, espera aí.

Rony virou-se com as sobrancelhas erguidas. _O quê? –ele perguntou sem entender _Vai se mostrar um covarde agora, Malfoy?

_Não seja idiota, Weasley. _ele retrucou com os dentes cerrados _Você não sabe contar? Nós estamos de minoria de qualquer forma. E lá seríamos apenas mais dois. Daqui não. _ele concluiu _Daqui teremos o elemento surpresa. Podemos acertar quantos comensais conseguirmos, sem que nos percebam, e, quando a coisa ficar feia, atacaremos pela retaguarda.

Rony abaixou-se ao lado dele novamente.

_Ainda acho que você não quer se expor. _ele retrucou cruzando os braços.

_Ainda acho que você é um teimoso, cabeçudo, sem técnica nenhuma de guerra.

***

Hermione sentiu a moeda queimar em seu bolso. Mas não precisou tira-la de lá para saber o que estava acontecendo.

Ela estava vendo.

Um grupo de excelentes aurores a acompanhava. De onde estava, ela podia ver as outras equipes que pedira. Abrigavam-se em um dos limites da propriedade, protegidos pelas sombras que as pedras dos muros projetavam sobre eles.

Acima, bem acima, um pouco mais para o sul, viam Voldemort. Voldemort em pessoa ladeado por vários comensais.

Mas ela não sentia medo. Também estava ladeada pelos melhores bruxos e bruxas que conhecia.

Virou-se. Fez um sinal para Finnigan. Ele virou-se e passou o sinal adiante. Um pouco mais a frente, Tonks, por sinais, indicou que tinha alguém saindo do castelo.

Hermione prendeu a respiração.

De onde estava não podia ver as portas, mas tinha certeza que era Harry.

Harry estava entre eles.

Respirou fundo. Tinha que manter a calma em operações assim. Tudo precisava ser calculado e seguido à risca.

Respondeu para Tonks com outros sinais. Virou-se e repetiu-os para Simas. Viu quando Tonks se levantou e começou a caminhar, junto com sua equipe.

Respirou fundo mais uma vez.

Então se levantou e, seguida por alguns bruxos do alto esquadrão, seguiu a companheira de cabelos rosa chiclete.

***

Sentia o ruído da própria respiração.

Não era porque as coisas ao seu redor estavam mais silenciosas.

Era porque, repentinamente, ele começou a sentir como se o tempo estivesse se arrastando lentamente. Lentamente demais. Talvez apenas para tortura-lo.

Ele era capaz de ouvir cada batida de seu coração. Uma. Duas. Era capaz de contá-las.

Ergueu os olhos, para a nuvem negra que se espalhava no céu a sua frente. Voldemort erguia-se à frente de todos os outros comensais.

Abaixo dele, Harry podia notar outra coisa. Ele não via. Mas ele sentia.

Ouvia o farfalhar de seus pulmões sugando o ar. Sentia o odor fétido que emanava de sua capa negra.

Ou ao menos era assim que ele imaginava a Morte, que dali espreitava, faminta, aguardando para se alimentar da alma de um ou de outro.

Tanto fazia de quem.

Ela só tinha fome. E pressa.

E dessa vez seria o Adeus.

Por um momento, mesmo a distância, teve a impressão de que seus olhos cruzaram com os dele. Por alguns momentos, menos talvez, ele se perguntou como não conseguira ler, antes de conhecer Hermione, as verdadeiras intenções daqueles olhos.

A resposta era óbvia. Não era aqueles olhos que ele via toda manhã. Voldemort era excelente em mentir, enganar.

Deu um passo a frente. Suas mãos mergulharam nas vestes e puxaram sua varinha. Como se fosse um espelho, Voldemort repetiu seu movimento.

Por um momento, o ar estalou, a morte se ergueu o chão, onde estivera aguardando e o vento parou de soprar.

Então, sem nenhum motivo aparente, Harry viu o corpo de um comensal ser arremessado da vassoura e rodopiar pelo ar. Todos se viraram intrigados. Vários outros corpos tiveram o mesmo destino que o primeiro, antes que tivessem tempo o bastante para se esquivarem.

Então eles viram. Um grupo de aurores que varria velozmente a primeira fila de comensais da lateral.

O olhar de Dumbledore foi até o grupo que se aproximava. De longe ele reconheceu os cabelos rosa chiclete de Tonks.

E sorriu.

Ele sempre soube que ela não deixaria de ir.

Em seu interior, Harry também sorria. Porque de uma forma ou de outra, aquele grupo tinha que ter vindo do ministério.

Não podia ser diferente.

Foi o estopim da batalha. Raios luminosos começaram a sair das torres e das janelas do castelo e culminavam em pequenas explosões com fagulhas. Seguindo o grupo que atacou primeiro os comensais, outros grupos surgiram, concentrando-se na retaguarda e no lado oposto ao do primeiro grupo.

O grande exército se fragmentou, dando início a pequenos duelos individuais.

Então, o portão se abriu.

Não que Voldemort tivesse conseguido quebrar as defesas do castelo.

Propositalmente.

Para que Dumbledore e os outros pudessem sair.

***

Rony e Draco viram quando os vários grupos de pessoas se uniram, formando uma massa enorme de feitiços, vestes e cabelos que se agitavam.

Rony ergueu-se, mas Draco puxou-o novamente pela manga da camisa.

_O quê? _o ruivo perguntou chocado _Não é agora que a gente sai daqui?

_Não. _ele respondeu como se o outro fosse estúpido _Nós temos que ter cautela, esperar o momento certo e... _mas sua fala não foi terminada. Seus olhos recaíram sobre cabelos vermelhos que se agitavam não muito longe dali. Ele viu Gina, duelando com dois comensais de uma vez só. Exclamou um palavrão com os dentes cerrados e, levantando-se, passou correndo pelo ruivo.

_E quanto à cautela? –Rony perguntou escandalizado, abrindo os braços.

_Para o inferno com a cautela. _Draco respondeu _É minha esposa que está duelando ali.

Draco correu com tanta velocidade que sentiu os joelhos protestarem. Não lhes deu ouvido. Correu ainda mais rápido.

Os dois comensais com que Gina duelava a encurralaram contra uma sebe perto dos muros altos. Ela tentou um feitiço duplo, que derrubaria os dois de uma vez só. Mas, enquanto um deles, agilmente bloqueava sua investida, o outro mirou diretamente em seu peito.

_Sectusempra... _mas o feitiço não chegou a seu destino. Draco parou entre eles, derrapando e levantando uma pequena nuvem de poeira sob seus tênis de corrida.

Com o deslize, apoiou uma das mãos no chão e encarou o adversário que tentara matar sua esposa, em uma posição que lembrava muito um felino.

Furioso.

Ninguém mexia assim com a sua garota.

Gina arfou atrás dele. Mas ele não se virou. Endireitou o corpo, segurando firmemente a varinha. Gina deu um passo a frente.

Então, passada a paralisia da surpresa, os comensais voltaram a atacar, com mais fúria do que antes.

A fúria dos dois não chegava a metade do que Draco sentia. Antes que eles pudessem proferir metade de uma maldição imperdoável, Draco já os nocauteara.
Somente depois se virou para Gina, com um ar cansado de tanto correr.

_Tem outros de onde vieram esses. _ela murmurou. Ele sacudiu os cabelos para longe do rosto.

E sem dizer mais nada, os dois jogaram-se um nos braços do outro, somente para se afogarem em um ardente beijo.

Não sentiram algo que passava a farfalhar ao lado.

A morte espreitava entre os duelistas.

Ainda não carregava nenhuma alma entre os braços.

***

Rony procurava uma única pessoa entre as tantas que duelavam. Antes de encontra-la, porém, deparou-se com o dono dos cabelos negros e rebeldes que conhecia há tanto tempo.

Ele abria caminho entre os comensais que tentavam pará-lo. Rony sabia onde ele queria chegar. De onde estava, podia ver Dumbledore e Voldemort duelando bem no meio do círculo. Seus poderes estavam além dos imaginados por qualquer um naquele lugar. Conforme lutavam, o espaço em volta deles se abria mais. Ao redor, a terra tremia, raízes se erguiam do chão, pedras levitavam, bolas de fogo caíam do céu.

Rony correu até Harry. Um grupo de nada menos do que doze comensais se agrupava em torno dele.

Conhecendo o poder que Harry tinha, eles sabiam que não poderiam enfrenta-lo de outro jeito. Tinha que ser covardemente.

Não que eles se importassem, claro.

Rony não hesitou. Abriu uma brecha no círculo negro, derrubando um comensal desavisado.

Eram onze agora.

Postou-se ao seu lado. Imediatamente os comensais começaram a atacar.

_Obrigado. _Harry murmurou para Rony, com um leve sorriso no rosto.

Rony não tinha tanta certeza de que Harry precisava realmente de ajuda.

Mas achava que ia se divertir bastante.

Sabe como é... Os velhos tempos...

***

Uma vassoura cambaleante. Dois pares de curtas perninhas agitadas no ar. Um menino com vontade de se provar. Uma garota com medo de perder o controle.

Essa é uma mistura que, inevitavelmente, acabaria em encrenca.

E Thiago gostava de encrencas.

Desceram razoavelmente longe do campo de batalha. Logo que Prue desceu, ele jogou a vassoura para trás de uma árvore. Encurvados, caminharam até alguns arbustos, de onde podiam ver melhor a guerra acontecendo.

Por alguns instantes, apenas olharam tudo acontecer. Então Thiago virou-se esperançoso para Prue.

_E aí?

Prue piscou confusa.

_Aí o quê?

_Magia, oras. _ele respondeu como se fosse óbvio _Você não sabe fazer magia? O que está esperando? Ajude-os.

_Eu... _Prue gaguejou, incomodada e sem graça _Eu não sei fazer magias... Não assim...

_Mas como não assim? _ele perguntou com um toque de decepção _Tio Draco disse que você sabia. Que você derrubou um montão de comensais sozinhas. E com uma mão nas costas.

Prue encarou-o, chocada. _Você não me trouxe aqui só por isso, trouxe? _ele não respondeu. Seus olhos encheram-se de lágrimas _Porque eu não sei, ok? Você devia se informar melhor sobre as coisas antes de concluir tudo assim, precipitadamente. _uma lágrima abriu caminho em seu rosto moreno _O caso dos comensais foi um caso isolado. Eu... Eu nem sabia o que estava fazendo. Eles estavam atacando meu pai. E... Eu já tinha tido esse problema. Meu poder se descontrola. Eu posso até ferir inocentes. _outras lágrimas seguiram a primeira _Você devia se informar melhor sobre as coisas. _e virou-lhe as costas, caminhando pela grama. Deus uns três ou quatro passos fundos e virou-se novamente _E ele nunca mencionou as mãos nas costas! _e virou-se novamente.

_Ei, ei. _Thiago gritou indo atrás dela. Como ela não se virou, puxou seu ombro e virou-a. _Tudo bem. _ele disse para o rosto emburrado da menina _Nem nós precisamos de magia. _No fundo, ele até sentia um contentamento secreto. Por não ser mais fraco que ela no fim das contas. Por ela não ser uma garota prodígio que o arrastaria até o eminente fracasso. Era uma criança drástica, afinal _Nós temos... _seu olhar vagou até um ponto acima da cabeça dela. Prue virou-se para ver o que era, e se deparou um monte coberto com diversas pedras _Inteligência.

Prue virou-se novamente para ele. Thiago sorria.

***

Hermione nocauteou com uma expressão de triunfo um comensal grande e forte com aparências lupinas. Sabia que ele era uma ameaça fortíssima. Ficava contente por tira-lo do caminho.

Afastou o cabelo do rosto. Ergueu os olhos, buscando o céu.

O céu era sempre sinal de esperança. Ele era interminável e mostrava que não existem nuvens suficientes para cobri-lo por inteiro. Em algum lugar do mundo, um pedaço seu estará azul.

Da mesma que forma que não podem existir problemas suficientes para turvar uma vida inteira.

Em algum ponto, ela vai ser feliz.

O que viu, no entanto, não pareceu muito condizente com o que estava pensando. De longe, distinguiu duas criaturinhas que conhecia muito bem, entre as enormes pedras de um monte que se erguia ao lado da multidão que duelava.

Thiago e Prue.

Hermione sentiu um solavanco no estômago. O que raios eles estavam fazendo ali. O que cargas d’água duas crianças estavam fazendo em um campo de batalha.

Uma batalha contra Voldemort.

Hermione sentia algo pesado e frio subindo e descendo em seu estômago. Precisava tira-los dali. Precisava fazer isso o quanto antes. Antes que eles se machucassem de verdade. Antes que algum comensal os visse e se aproveitasse do fato de que ele era filho de Harry Potter e da Ministra da Magia para tirar proveito da situação.

Hermione atingiu mais um comensal que se precipitara contra ela. Então começou a correr.

Com agilidade, transpôs a parede rochosa que circundava o monte onde eles haviam subido. Não pensou em aparatar. Aparatar, onde estavam, era impossível. Subiu a encosta ainda correndo.

Tranqüilizou-se um pouco, ao ver que já estava perto deles.

_Thiago. _ela chamou, baixinho. Era essencial que ninguém se desse conta da presença dele.

Ele não ouviu.

As duas crianças estavam de costas, e Hermione não podia ver o que estavam fazendo.

_Thiago. _ela chamou novamente, e deu dois passos a frente.

Então ele virou-se para ela e abriu uma passagem por onde ela pôde ver o que eles estavam fazendo.

Uma alavanca. Em uma ponta, uma enorme pedra. Na outra, duas crianças prestes a pular. Hermione sentiu-se congelar.

Não foi suficiente rápida. Quando exclamou um contido “Não!” De ar sugado, os dois já haviam pulado.

A pedra rolou com estrondo para baixo. Uma boa parte dos que estavam lá embaixo ergueu os olhos para ver o que estava acontecendo.

Muitos desviaram da pedra. Dois comensais foram acertados. Um torceu o joelho ao pular para fora do alcance da pedra. O outro foi efetivamente esmagado.

E foi só.

Pois quando a pedra alcançou a alvo preterido, ele apenas desintegrou-a com um estalar de dedos.

Não era uma pedrinha à toa que iria abalar Voldemort.

Alguns voltaram a lutar. Mas Hermione não teve sorte o suficiente para que fossem todos. Alguns comensais não acharam normal uma pedra desmoronar desse jeito, ainda mais dessas proporções.

Esses ergueram os olhos.

E se depararam com uma cópia em miniatura de Harry Potter. O ameaçador Harry Potter que acabara de frustrar a tentativa de emboscada que os comensais haviam feito para ele.

Hermione estava entorpecida. Correu a frente. Agarrou os dois pelos ombros. Viu minúsculos sorrisinhos diabólicos à distância.

Os feitiços já haviam sido ditos. Destinavam-se a Thiago e a Prue. Acabaram em Hermione Granger.

Mais do que uma dezena de cruciatus atingiram-na diretamente no peito.

Hermione gritou. Sentiu seus nervos se dilacerarem, os músculos de distenderem, as fibras queimarem.

Caiu de joelhos no chão. Não queria perder a consciência. Sentia tanta dor que estava quase a ponto de desejar morrer.

Mas, se morresse, deixaria Thiago e Prue vulneráveis.

Não sabia por quantos minutos a tortura se estendeu.

Só sabia que, em determinado momento, ela parou.

Hermione caiu de lado no chão, com o corpo todo dolorido e diversos cortes pelos braços e pernas.

Olhou uma última vez para Thiago e Prue.

Sorriu para eles.

E seus olhos se fecharam.

A morte ergueu seu rosto encapuzado, no meio da batalha.

Algumas almas pendiam molemente de seus braços.

Nenhuma lhe pareceu mais apetitosa do que aquela.

***

Voldemort também viu tudo acontecer. O titânico duelo entre ele e Dumbledore foi suspenso por um segundo. O segundo em que Hermione sucumbiu.

Ele também via a oportunidade que ali surgia.

Thiago. Desprotegido. Desavisado. Vindo de tão bom grado até ele.

O que ele podia fazer? Agradecer, é claro.

À sua maneira.

Fez um sinal autorizando seus comensais a fazer o que estavam pensando em fazer.

Eles começaram a seguir o mesmo caminho que Hermione trilhara.

Dumbledore, instantaneamente, voou para onde as duas crianças estavam.

Ele não precisava de vassoura para voar.

Assim como Voldemort.

Voldemort deu um impulso para segui-lo.

Mas uma varinha foi erguida a sua frente, desviando sua atenção.

Deparou-se, quando virou, com uma expressão calma de Harry. Ele não vira o que tinha acontecido. Atrás dele, Rony já duelava com outro comensal.

_Eu sou seu oponente. _ele disse com uma sobrancelha erguida.

Voldemort não se importou de ficar e ter a chance de esfregar naquele rosto orgulhoso um filho e uma mulher mortos.

Ambos começaram a andar em círculos e a se medir.

_Neste momento, a vida vai pesa-lo, medi-lo e testa-lo. E você será considerado mau e indigno de uma vitória.

Voldemort quase riu. _Do que está falando? Poupe seu fôlego, Potter. Dê-me, pelo menos, a chance de me divertir com você.

Harry poupou. Mas poupou apenas palavras. Não o fôlego. Empregou o fôlego no exímio exercício de enfrentar Lord Voldemort. Exercício que praticava tão bem.

De ambos os lados, feitiços vinham e voltavam. Raios de luz passavam zumbindo pela direita e esquerda de cada um deles. Eram ágeis, fortes e poderosos. A batalha parecia interminável.

Parecia se arrastar por dias. Não terminar nunca.

A morte rondava. Sua presença era perturbadora. Quanto mais ela desejava se abastecer daquelas almas, mais parecia que os dois sentiam-na se aproximando.

Por um milésimo de segundo, ambos pararam.

Encaram-se.

Era chegada a hora.

No fundo, Harry sempre se perguntara se teria capacidade de matar

Agora que o momento chegara, sabia que não podia nutrir dúvidas.

Tinha que fazer.

Era isso, ou morrer.

E morrer não lhe parecia atraente.

Ainda trocavam olhares carregados de fúria.

_Avada... _Harry ergueu sua varinha.

_...Kedavra. _A voz de Voldemort uniu-se a dele.

Jatos verdes saíram de ambas as varinhas. Antes que qualquer um deles pudesse evitar, os feitiços uniram-se no ar, formando um elo de ligação com contas douradas deslizando para cima e para baixo.

Harry teve a leve vontade de querer aquelas contas longe de si.

Sua outra mão foi até a varinha, segurando-a com mais força. Voldemort imitou-o. As contas oscilavam de um lado para o outro, pendendo mais para o lado de Harry do que de Voldemort.

Harry fechou os olhos com força. Precisava vencer aquilo. Precisava fazer isso, se queria ter uma vida feliz e normal ao lado de sua esposa e filho.

Então sentiu uma mão quente sobre a sua. Uma mão áspera, de quem passa muito tempo jogando goles. Abriu os olhos. Deparou-se com Rony, ao seu lado, uma das mãos sobre a sua.

Harry sorriu. As contas começaram a caminhar lentamente para o lado de Voldemort.

Entretanto, antes que atingissem seu destino, as contas pararam, parecendo querer fazer seu caminho de volta. Voldemort contorcia o rosto ofídico, no esforço de mantê-las longe de si.

Harry percebeu que faltava algo.

Faltava o terceiro elemento daquela famosa tríade. Faltava o terceiro componente do trio maravilha. Somente com esse terceiro elemento, eles teriam força o suficiente para mandar aquelas contas direto para Voldemort.

O elo começou a tremer. Voldemort sorriu. As contas começaram a voltar.

Harry apertou as mãos com mais força e sentiu Rony fazendo o mesmo. Ambos olharam em volta, quase ao mesmo tempo. Onde ela estava?

Onde ela estava que não vinha?

Foi Harry quem viu primeiro.

Dumbledore derrubara todos os comensais que investiram contra Thiago e Prue. Ele viu o garoto ao lado do diretor, puxando suas vestes.

O diretor não lhe dava atenção.

Sua atenção estava totalmente voltada a pessoa que erguia nos braços.

Harry reconheceu Hermione pelos cabelos castanhos.

E pelo simples fato de que a reconheceria em qualquer momento, em qualquer lugar.

Quase soltou a varinha. Sentiu-se tentado a largar aquilo e a correr para ela. As contas retrocederam para ele. Suas mãos se afrouxaram.

Foi Rony quem as segurou.

Foi ele quem o lembrou do que estava fazendo ali. Do que precisava fazer ali.

Por ela.

A Morte dividiu-se também. Queria desviar os olhos daquela disputa acirrada pela vida e ir buscar aquela alma que lhe piscava carregada de coragem e inteligência.

Mas sua ambição a manteve no lugar.

Ela queria uma daquelas ali.

Harry estava encontrando dificuldades em se concentrar no que estava fazendo. Ficava se perguntando porque. Ficava pedindo, rezando, implorando para que ficasse tudo bem.

Agora que a encontrara, parecia meio inaceitável perde-la. Agora que a tivera por algum tempo, parecia impossível viver sem aspirar seu perfume, tocar seus braços, beijar seus lábios.

Hermione.

Não sabia o que ela representara no passado. Se tinha a amado tanto quanto amava agora. Sabia que não podia ser mais. Porque a amava mais do que o limite da razão permitia.

E a admirava. Como mulher, como mãe, como amiga, como profissional.

Como ela enfrentava qualquer um que cruzasse seu caminho.

Harry se lembrou de várias coisas, vários momentos vividos com ela. Alguns ele conseguia situar no tempo e no espaço. Outros faziam parte de um passado que ele não era capaz de reconhecer.

Sorriu. Por tudo. Por tudo que ela lhe dera. Sorriu, enquanto uma lágrima desvencilhou-se de seus cílios e desceu rápida por seu rosto, caindo, displicentemente sobre a varinha.

As contas pararam. E voltaram a deslizar para Voldemort.

Rony viu os olhos de Voldemort se abrirem. Ele não sabia o que estava ocasionando isso. Tinha a certeza absoluta de que estava no controle da situação. De que, sem Hermione para completar o trio, eles não teriam chances.

Harry, não. Harry não viu nada. Continuava de olhos fechados. Cada sorriso da ministra. Cada palavra sussurrada, ou gritada para ele em meio a uma briga, era mais uma lágrima furtiva que acaba escorregando por suas bochechas e terminando entre seus dedos, na varinha.

Eram lágrimas alimentadas de amor.

Rony viu as contas deslizarem sem dificuldade até a ponta da varinha de Voldemort. Então percebeu que não era mais necessário ali.

_Você tem que fazer isso sozinho. –ele murmurou para Harry. E então soltou a varinha.

O murmúrio fez Harry abrir os olhos. Viu os olhos vermelhos de fendas de Voldemort que o encaravam com pânico do outro lado da ligação.

Jamais vira aquilo antes. E jamais esqueceria.

Era um medo deturpado e constrangedor. Era o medo de quem sente a Morte se aproximar e não sabe o que fazer para evita-la.

Harry jamais esqueceria como aqueles olhos o encaravam com asco, ódio, nenhum arrependimento. E medo.

_Desta vez é mesmo adeus. _ele disse séria e calmamente. Apertou uma última vez a varinha entre os dedos, as contas bateram na varinha de Voldemort e um clarão verde se fez visível onde ele estava.

Então, tudo se acalmou. Todos ao redor pararam e viraram-se. Quando o clarão desapareceu, Voldemort pôde ser visto, com olhos abertos.

As mãos estendidas ao longo do corpo.

E ele caiu de joelhos. E não mais se levantou.

A Morte se arrastou sedenta até ele.

***

Os comensais pareceram perder o controle. Ao ver que o Lord caíra, muitos tentaram fugir. Mas foram habilmente aprisionados pelos aurores e aliados da Ordem da Fênix.

Harry não pensava nisso. Seus pés batiam com força no chão e ele não enxergava nada ao seu redor. Só à frente. Só via as enormes portas de madeira na entrada do castelo.

Cruzou-as, mas parou arfando no saguão de entrada. Não sabia aonde ir. Não tinha a mínima idéia de onde ficava a enfermaria daquele lugar.

_Por aqui. _Rony passou correndo por ele, seguido de Gina e Draco.

Harry não demorou a ultrapassar os dois últimos. Estava ombro a ombro com Rony. Só não o passava, em seu desespero em encontrar Hermione, porque não adiantaria de nada. Ele não sabia o caminho.

Seus passos ecoavam violentamente pelos corredores. Finalmente, chegaram a uma porta no final de um corredor estreito.

Somente então Harry ultrapassou o ruivo. E entrou sem bater.

Dumbledore estava parado ao lado de uma cama. Thiago se debatia contra a enfermeira que tentava leva-lo, juntamente com Prue, para fora do lugar.

Hermione permanecia imóvel em uma cama.

_Me! Solta! _Thiago berrava, se debatendo enquanto a enfermeira o mantinha com os dois pés fora do chão _É minha culpa! _ele chorava compulsivamente e se engasgava _É minha culpa ela estar assim! Eu tive a idéia!

Parou apenas para virar-se e ver que chegara. Ao vê-los, soltou-se da enfermeira com um tranco e saiu correndo. Quando os alcançou, bateu com força em Rony e abraçou suas pernas.

_Por favor, tio Rony! _ele chorava mais vigorosamente ainda _Por favor! Eu acabei de ganhar um pai! Não deixe eu perder minha mãe! _e deixou seu choro ficar ainda mais alto. Rony passou as mãos em seu cabelo, sem saber o que dizer a ele. Ergueu os olhos, tentando receber alguma resposta de Dumbledore, mas o diretor evitava encara-los.

Prue esgueirou-se timidamente até o pai. Draco curvou-se e pegou-a no colo.

Não precisava dizer nada.

As palavras estavam ali. Muito bem ditas. Bastava que alguém as recolhesse e as ordenasse novamente.

Harry, em seu estado de torpor, deu alguns passos vacilantes para frente. Foi até a cama da ministra e ajoelhou-se ao lado dela.

_Por favor. _ele repetiu a frase do filho, apesar de mais fracamente _Por favor, Hermione. _e voltou a chorar. Suas lágrimas abriam caminho livremente em seu rosto, caindo em suas vestes e no lençol branco da cama _Não vá embora. Não me deixe aqui.

Nutrido pelo desespero, ele curvou-se e abraçou o corpo da mulher _Por favor, _começou a chorar com mais intensidade. Ao longe ainda ouvia os soluços de Thiago, abafado pelas roupas de Rony _Eu amo você. _ele encostou sua bochecha a sua testa e fechou os olhos _Você não. Pode. Ir. _apertou-a com mais força _Nós... Nós temos uma vida para vivermos juntos. Temos um filho _ele soluçou _planos. Por favor, Hermione. Você não pode ter me tirado da escuridão em que eu vivia _ele afastou seu rosto para olhar a face pálida da ministra _para me atirar de volta a ela. Não pode ter feito isso para me deixar sozinho novamente.

Então, a Morte surgiu na janela. Espiou por um momento para dentro, abriu o trinco, sem nem tocar no vidro, abriu a janela, subiu no parapeito e entrou.

Ninguém a viu, embora ela tivesse feito bastante barulho quando seus pés bateram no chão.

Ou não a viram, ou não se deram conta. Estavam todos ocupados no momento.

Harry especialmente, ainda apertava o corpo de Hermione contra si, com força, com se pudesse impedir que algo mais escapasse de suas veias. Tomado do ápice de seu desespero, segurou seu rosto e contraiu seus lábios contra os dela.

_Não vou deixar você ir, meu amor. _ele murmurou ainda com os lábios comprimidos aos dela –Não esperei tanto tempo por você, para isso.

A Morte deu um passo à frente. Bastava erguer a mão e puxa-la.

Sua alma era leve. Não tinha pecados como as almas dos comensais que ela estava carregando. Bastava erguer a mão.

Não era a presença de um vivo que poderia impedi-la.

Harry ainda chorava.

Thiago ainda chorava.

Rony, silenciosamente, por precisar ser alguém forte para Thiago, chorava também.

Então, a Morte deu dois passos para trás, virou-se e fez seu caminho de volta.

Já tinha almas suficientes por um dia, afinal.

Viu?

A Morte também tem coração.

***

Um mês depois

_Aposto dez galões como a minha filha é mais rápida que o seu filho. _Draco falou em um tom arrastado e debochado, curvando-se na toalha estendida na grama, apoiando o cotovelo no chão e a cabeça sobre a mão. Esparramados ao sol, no Parque próximo ao campo do Tempestade, Draco e Harry se divertiam vendo os filhos alimentando o hábito mais marcante nos dois: Voar.

_Está apostado. _Harry respondeu jogando um salgadinho na boca. Prue e Thiago apostavam uma corrida em volta do lago, naquele mesmo momento _Ele vai ganhar. Ele é tão bom jogador de quadribol quanto o pai.

_E como você pode saber que era bom? _Draco perguntou com um tom de sarcasmo _Você nem se lembra.

_Draco. _Gina exclamou escandalizada, ajoelhada ao seu lado.

_Opa, desculpe, escapou. _Draco complementou com um sorrisinho maldoso.

_Eu sei _Harry respondeu com uma calma fria e calculista _que ele vai ganhar, porque eu sou bom jogador, e ele tem meu sangue correndo em suas veias. Você não pode ter essa certeza, pode? _Hermione virou-se e deu um tapa no seu joelho.

_Harry!

_Opa. _ele respondeu com o mesmo sorriso de Draco _Escapou. _ele complementou, enquanto passava a mão, distraidamente, na barriga dela, que abrigava o segundo filho de Harry Potter com a ministra da Magia.

_Não sei o que quer dizer. _Draco respondeu empinando o nariz _Prue é mais parecida comigo do que seria se fosse meu clone.

_Eu o que o diga. _Gina suspirou cansada, deitando-se na toalha, ao lado do marido, e deixando o sol cair sobre si.

Draco tampou momentaneamente a visão do Sol.

_Você é uma reclamona, mal-agradecida. _ele resmungou _Sei de mulheres que dariam o pé esquerdo para casarem comigo. _Gina riu _Sei de algumas que dariam a mão direita também.

_Eu sei. –ela riu mais, e puxou-o para mais perto pelo pescoço _A Pansy o que o diga. _ela murmurou para ele, puxou-o pelo pescoço e beijou-o.

Nenhum deles viu quando Thiago e Prue fizeram a curva do outro lado do lago.

As mãos dependuraram-se das vassouras e seus dedos entrelaçaram levemente.

Nenhum deles ganhou os dez galeões.

De mãos dadas, eles só poderiam cruzar a linha de chegada juntos.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.