Capítulo Único
por Bruna Malfoy
Amanhecia em Londres. A chuva fustigava a cidade, como uma espécie de presságio. Do que, exatamente, só Deus daria a resposta. A água açoitava as janelas do pequeno apartamento de Lupin, como se quizesse limpar algo imundo; lambendo as vidraças, derrubando um véu transparente, ocultando a forte neblina que cobria a cidade.
Aquele apartamento por dias, pareceu-lhe um refúgio. Agora, tornara-se uma espécie de câmara de tortura, calabouço, masmorra.
As paredes o sufocavam, parecendo retrair-se contra seu corpo frágil. O dia apenas começava e ele parecia não se importar. Remus dirigiu-se á janela, cerrando as cortinas com força, trazendo um pouco de escuridão para o pequeno quarto. O som da chuva diminuiu e Remus permitiu-se esboçar um pequeno sorriso. De uma forma ou outra, a chuva parecia culpá-lo por tudo o que aconteceu. Sim, ele também se culpava. Não havia ânimo, para mais nada em sua vida, agora miserável.
Ele tentou.
Mas a vida segue um destino, que sempre encontra um modo se fugir ao seu controle.
Empenhou-se.
Estudou e arquitetou. E ela escapou-lhe por entre os dedos e só pôde observar. Como a chuva lá fora, deslizando em pele nua.
Havia uma semana. Sete dias, que tudo mudou. Sirius traidor. Peter morto. James e Lily assassinados. Harry, aos cuidados da família muggle.
Uma varinha em riste, um brilho verde, duas palavras. E a vida, simplesmente, deixa de existir. Dois corpos amigos, estendidos no chão. Existência interrompida. Juventude, alegria, sorrisos. Nada mais.
Porque tudo se tornara tão trágico, tão assustador? Solitário, vazio.
Seus olhos vermelhos e inchados de lágrimas contidas. Ele não chorara uma única vez. O corpo reclamando por descanso, que ele negava-se a dar. Ele não queria dormir. Era fechar os olhos e ver Lily sorrindo para o filho, de olhos tão verdes, quanto os dela. Era ouvir a risada canina e contagiante de Padfoot. Era ver Peter chamar a todos para uma partida de Snap Explosivo. Era ouvir James recusar, e preferir voar em sua vassoura.
E tudo isso, felicidade e amizade, tornarem-se a fuga para sobreviver. A ameaça de uma profecia. Tudo acabar, num raio verde de morte e uma risada macabra.
Ele devia ter ouvido o conselho de Dumbledore. Existira um traidor entre eles, mas agora era tarde demais. Lá fora, um trovão cortou o ar cinzento e Remus recuou contra a parede.
Culpa.
Se havia um culpado, esse alguém era ele. Devia ter sido mais cuidadoso, atencioso. Era a vida de James e Lily e o pequeno Harry, que estava em jogo. A Ordem da Fênix não fora o suficiente, ele devia ter dado mais atenção.
Remes errou. Foi tolo. Não quiz acreditar. As evidências estavam claras e ele só fez, fechar os olhos diante delas. Traição. Dessa batalha ele não teve escolha, senão levantar a bandeira branca e se entregar. Rendição. Ele não teve escolhas. Fora tarde demais.
Remus levantou-se e dirigiu-se à saída. Talvez caminhar sob a chuva, o ajudaria a relaxar. A vida continua e ele tinha que seguir em frente. Lavar as lembranças, tentar esquecer.
Total engano. Agora, era quase uma afirmação. Sons propagavam-se no ar, desferindo acusações contra ele. Ecos de vozes fantasmas lhe atiravam a verdade, o acusando. A chuva o açoitava, o castigava.
Ele era o culpado.
Agora, sentado nessa escada de mármore frio, ele observa a chuva cair. As vozes agora na sua mente castigada lhe dizendo palavras desconexas. Atrás de si, aquela construção, sempre imponente, ele espera encontrar um novo refúgio. Remus não quer estar ali, mas não pode fugir do seu destino. Só é preciso esperar.
Um ruído seco ecoou e Remus pôde sentir, as grandes e pesadas portas de carvalho, abrirem-se devagar rangendo ameaçadoras. Remus sabia que isso era coisa da sua imaginação. Aquele lugar, não lhe trazia ameaças. Paz era tudo o que ele precisava.
Seus passos ecoavam alto, no grande espaço vazio do ambiente. O teto côncavo e as altas janelas diminuíam os ruídos intensos da tempestade. Mas seu coração não se acalmava, nesse lugar aparentemente tranqüilo. Não lhe deixava em paz. Cerrando as cortinas negras e pesadas, atrás de si, ele se viu, num cubículo de madeira, menor que um armário de vassouras. Uma grade quadriculada, também de madeira, dividia o cubículo ao meio. Suspirando pesadamente, as roupas molhadas colando-se em seu tórax, ele sentou no único banco que o lugar dispunha.
Os lábios, ligeiramente ressecados, ele começou. Sua voz soando rouca e baixa demais.
“Perdoe-me padre, porque pequei!”
E agora, era definitivo. A culpa tornando-se real e arrebatadora, mostrando todo o negro que tomava seu sangue e corpo e alma. Aquele confessionário, que tanto tomou consciência de tantos outros pecados. Piores, iguais ou inferiores que o dele. Tocos de velas apagadas mostravam a absolvição dos pecados alheios.
Agarrando-se ás grades com fúria, ele falou; sua voz acostumando-se devagar, por tanto tempo sem falar. Remus não falara por longos sete dias. Luto. Sua garganta ardia, por mantê-la sem uso.
Falou e falou e falou. Traduzir isso em palavras era pior que manter para si. Como num filme de terror, a cena que ele não viu, repetiu-se na sua mente. Destruição e dor. O vazio, a inexistência. Um sonho incompleto. Vidas interrompidas, traição de amizade.
Será que um dia, conseguiria esquecer? Esquecer os amigos, seguir em frente? Não. Ele não seria capaz…
“Você não é o culpado, filho. Você fez o que pôde…”
“Não. O senhor não entende. Eu deveria ter descoberto quem nos traiu. Sirius não podia ter feito o que fez…”
Ele confiara em Sirius. Fora um irmão para ele. Aprendera a rir e a sorrir, divertir-se com ele. E tudo não passara de falsidade. Mentiras e manipulações.
Seus dedos ainda apertavam com força a grade de madeira. As articulações sentindo a falta da corrente sanguínea. Um leve toque em sua mão, o fez erguer o olhar para o espaço oculto á sua frente. Uma voz soou suave e ele estremeceu.
“Chore…”
E Remus chorou.
Pela primeira vez em sete dias, ele chorou. Por Padfoot, Prongd, Lílian, Peter e Harry. Ao contrario do que ele imaginara o choro não foi dolente. Não foi como facas que lhe cortavam a pele. Ele pode sentir as lágrimas, descerem doces e cálidas pelo seu rosto cansado. Alívio em meio à turbulência do seu coração.
Triste pelos amigos, mas salvo com a benção do padre.
Sozinho ele teria que reaprender a viver. A dar cada passo, como se fosse o primeiro. A erguer a cabeça, seguir adiante.
“Você nunca cometeria tal atrocidade…”
“Eu fui fraco, padre…”
“Não, você não foi. Não se culpe pelos erros de outro, mesmo ele sendo um amigo… Não presumas do dia de amanhã, porque não sabes o que ele trará.”
Ele não sabia o que aquelas palavras significavam. Só poderia ser um trecho da Bíblia, era a única resposta. Mas o porquê do padre as proferir, era uma resposta que nunca poderia ter. Era apenas aceitar e concordar com a cabeça.
Pedindo sua benção, ele se foi. O sol agora, clareava tímido a manhã triste. Remus voltou a caminhas, sentindo a roupa ainda úmida, da chuva que tomara. Não se importou novamente.
Ter falado e desabafado havia feito um bem enorme. Sabia agora, mais do que nunca, que jamais iria esquecê-los. Seria uma traição à memória dos amigos, senão maior que a de Sirius. Mas agora, nem a lembrança do animago, trancafiado em Azkaban, lhe feria mais.
Voltou a respirar profundamente, sentindo o ar frio, lhe invadir os pulmões. Nada iria apagar a lembrança de que todos um dia, foram felizes. Juntos.
Ele havia entendido finalmente, que não fora culpado de nada.
Título: Pardon, je ne pourrais pas empêcher! - Perdão, nao pude evitar!
¹ Quand dans sa vie, rien à rester à lui… lui pleure seulement. - Quando em sua vida, nada lhe restar… apenas chore.
² Pluie, baume de pardon. Il lave son âme, purifique. - Chuva, bálsamo de perdão. Lave sua alma, purifique-se.
³- Il lave complètement moi de ma cruauté, et le purifica je de mes péchés - “Lava-me completamente da minha crueldade, e purifica-me dos meus pecados.” salmo 51:2
N/A: eu não sou religiosa. Na verdade, nem um pouco. Mas eu acho q o Remus é, portanto eu tive q escrever isso. E foi dificílimo achar esses trechos na bíblia. Qto mais traduzir, bendito seja o Google nosso de cada dia! Espero q gostem, meu lado dark dando as caras novamente. Eu sei o qto é clichê, mas por favor comentem e votem!! XD kissus…
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