A Confissão



Dream

Simple Plan

— É sério, Harry, eu preciso muito falar com você – suplicou a garota, pela quarta ou quinta vez.

Estavam no meio da Sala Comunal da Grifinória. O rapaz acabara de ganhar a Copa de Quadribol, e estava sendo assediado por mais de metade das garotas que Hermione conhecia. Não era sempre que o moreno brigava com Gina a ponto de dar um tempo. Dessa vez, os dois pareciam prestes a se separar. Ao menos, era o que todos pensavam. Era o penúltimo dia, antes do final do sexto ano. Depois, ninguém sabia quando veriam Harry novamente: ele estava cotado para ir a um campo de treinamento de aurores durante as férias, e ninguém sabia onde ficava esse local.

— Diga, Hermione – respondeu ele, finalmente, dispensando as outras garotas para poder falar com a amiga.

— Eu... Harry...

Ela engoliu em seco. Agora que conseguira ter a atenção do garoto só para si, não conseguia dizer. Não que fosse a primeira vez que tentava; na realidade, tentava contar a ele havia três meses, sem sucesso. Nunca o encontrava sozinho, nunca conseguia formular a frase. Nunca. Morreria de ódio, se pudesse morrer, assim, simplesmente, do nada. Afinal, ela passara boa parte de sua vida ao lado daquele moreno.

Take a step forward then
Dê um passo à frente, então
I end up right back where I started from
Eu terminarei bem onde eu comecei

— Então...? – Ele cruzou os braços, num gesto que empreendia muito, desde que começara a namorar Gina. – Diga logo, Mi; Gina está lá, me esperando... Desculpa a ansiosidade, mas é que vou reatar com ela hoje...

— Eu... – A informação a abalou. Ela suspirou e deu um beijo na face do amigo. – Boa sorte no campo de treinamento.

— Você... não passou no teste? – perguntou Harry, sem entender.

— Vou para a França, Harry. – Ela baixou a cabeça para esconder os olhos marejados. – Sumir por uns dois anos.

— Como... Quando? – O rapaz estava, sim, aparvalhado.

— Assim que terminar Hogwarts – respondeu ela, sorrindo, as lágrimas brilhando tanto nos orbes castanhos que a visão da garota turvara.

— Não é verdade.

Mas, com um simples aceno de cabeça, ela confirmou, dando as costas ao rapaz logo depois.

Back where I belong
De volta a meu lugar
Away from reality
Fora da realidade

Hermione pegou uma garrafa de cerveja amanteigada de sobre a mesa e deixou o líquido escorrer por sua garganta, limpando a mágoa. Ótimo. Não dissera a Harry o que sentia. Mas ao menos dissera que logo o deixaria. Lutara como nunca pela vaga em um campo de treinamento de aurores na França. Empenhara-se nesse empreendimento tanto quanto se empenhava no colégio. Tudo para manter o amigo longe de si. Qualquer coisa para mantê-lo longe de si.

— Mione! – exclamou a voz grave e quente de Rony.

— Oi, Rony. – A garota enlaçou o amigo, recebendo um beijo carinhoso do ruivo.

— Contou a ele? – Ela sabia que ele se referia aos sentimentos dela pelo moreno.

— Não – confessou Hermione, enterrando o rosto no ombro do amigo. – Rony, ele namora a sua irmã...

— Gina não é besta, ela sabe se cuidar. – O rapaz ergueu o rosto da amiga e fitou-a fundo nos olhos. – Eu quero saber da sua felicidade, não da dela.

— Eu vou para a França, ser feliz, arranjar um francês bonito, ou voltar para cá e me casar contigo.

Rony sorriu e beijou a garota ardentemente. Se Hermione precisava de uma válvula de escape, ele não se importava de fazer esse papel. Ela fizera muito por ele, e nada mais justo que uma pequena ajuda.

This dream is neverending
Esse sonho é interminável
I want to wake up from this dream
Eu quero acordar desse sonho
I can’t help my mental state
Eu não posso evitar meu estado mental

Harry separou-se de Gina, ofegante. Sorriu para a ruiva, recebendo um olhar de censura e paixão muito explícito. Desviou os olhos por um momento para procurar uma bebida, e não pôde evitar um sobressalto ao ver Hermione e Rony se beijando a um canto. Com um palavrão reprimido, o rapaz sentiu o tão familiar monstro verde crescer em seu estômago.

— Licença, Gina – pediu ele, beijando carinhosamente a testa da namorada. – Já volto.

O rapaz encaminhou-se para uma mesa, pegando um copo e enchendo de whisky de fogo. Engoliu a dose de uma vez só, olhando novamente para o casal. Não sabia que Rony e Hermione estavam juntos. Teve o impulso de bater no amigo, um impulso tão forte que ele próprio se assustou.

I play hard but I never can win
Eu tento muito, mas eu nunca consigo ganhar
Just don’t look back and keep on fighting
Apenas não olhe para trás e continue lutando

— Rony... – Ela enlaçou-o, ofegante, lacrimejando. – Obrigada.

— Foi um prazer. – Ele sorriu. – Em todos os sentidos.

— Rony! – exclamou ela, corando. Seu olhar baixou, relanceando no moreno sentado, fitando-os. Desnorteada, a garota deixou o rosto apoiar-se no peito do rapaz a sua frente. – Rony, ele está olhando. Para nós.

— Sem drama, Mione – advertiu-a ele. – Decida-se: você o quer ou não?

— Eu quero, mas... – Ela fitou o ruivo. – Mas acho que é tarde. Acho que é uma batalha que eu não conseguirei vencer.

— Então, querida, não olhe para trás.

Hermione concordou com a cabeça, entregando-se nos braços do melhor amigo. Se ela queria esquecer Harry, sabia que não o conseguiria sozinha. Com a ajuda de Rony, talvez suportasse o próximo ano. Talvez.

I feel so empty right now
Eu me sinto tão vazio bem agora
Nothing to inspire me but somehow
Nada para me inspirar, mas, de alguma forma,

Harry baixou os olhos. Sentia-se como se tivesse levado um balaço no estômago. O monstro verde desaparecera. A excitação pela conquista da taça se fora. A alegria de ter reatado com Gina desvanecera-se. A amizade entre ele e Rony parecia ter-se extingüido nesses milésimos em que ele o viu com Hermione. Não sentia raiva, ou frustração. Não estava surpreso. Não estava feliz. Estava vazio.

“Ele é seu melhor amigo, e está tentando ser feliz!”, exclamou a eterna e irritante vozinha em sua cabeça. “Ele não quis te matar quando você começou a namorar Gina. E ele tinha o direito.”

Não quero matá-lo. Só quero-o longe, bem longe de Hermione.

“E por quê? É namorado dela? Ficante? Ex-ficante? Pretendente? Admirador? Se enxergue; você está com ciúmes deles dois porque ela é sua melhor amiga e, agora, subitamente, do nada, mesmo, só porque seu melhor amigo a está beijando, você lembrou que ela é uma garota crescida, não mais a menininha que vocês salvaram do trasgo no primeiro ano.”

O moreno puxou uma garrafa de cerveja amanteigada e foi bebendo aos golinhos, esperando que aquele vazio amainasse. Sabia o que era aquela sensação. Sentia-se como se Rony tivesse roubado algo que era seu por direito. Ele não conseguia evitar. Não entendia, também. Hermione não era sua propriedade, era sua amiga! Por que se sentia tão mal ao vê-la junto a Rony? Ele já havia dito que achava que os dois amigos formavam um belíssimo par; por que não acreditava nisso, então, quando mais precisava?

— Harry? – hesitou Gina, ao lado do rapaz. – McGonnagall disse para subirmos. – Ele voltou-se para a namorada. – Nossa, você está bem? Está pálido...

— Estou bem, Gina, querida. – Ele forçou um sorriso cansado, que se prestou ao propósito. – Lamento, querida, mas estou exausto... Nos vemos amanhã.

E, pela primeira vez, desde que começara a namorar a ruiva, ele não a beijou nos lábios para dizer boa noite. Beijou-a na testa, com carinho, como Rony a beijaria. Ela, confiante e feliz, não chegou a perceber a intenção do beijo, mas ele sabia. Algo estava errado. Ah, sim, estava. Muito errado.

I keep on dreamin’ away
Eu continuo sonhando
Hoping I will wake up soon some day
Esperando que eu vá acordar logo, algum dia

Subiu as escadas para o dormitório. Encontrou Rony e Hermione sentados na cama, conversando. Como em segundo plano, viu-se andando até o amigo e quebrando-lhe o pescoço. Depois, tão rápido quanto viera, a visão se fora.

— Oi, cara – disse Rony, se erguendo. – Mione, vou tomar banho... Se quiser me esperar... Não demoro.

Ela acenou afirmativamente com a cabeça, e o ruivo adentrou o banheiro. Enquanto se despia, ouvia a conversa dos amigos:

— Então vocês estão juntos? – perguntou Harry.

— De certa forma – respondeu a garota, num tom de voz tímido. Rony podia jurar que ela corara.

— Ah... – Houve uma pausa de alguns segundos. – Pensei que não gostasse assim dele.

— Eu... Bem...

Depois disso, o ruivo não ouviu mais nada: encheu a banheira e passou quase quinze minutos no banho, mal se preocupando com o que acontecia do lado de fora. Quando se ergueu, enxugou-se e vestiu-se, estava tudo quieto novamente. Abriu a porta com cuidado. Hermione não estava lá. Harry, sentado na própria cama, tirara os óculos e comprimia os olhos e as têmporas com as mãos, numa atitude entre desconsolada e desesperadora. Sabendo que não queria saber o que ocorrera ali, o ruivo deitou-se e fingiu não ter notado o amigo.

Sentiu lágrimas ainda mornas no travesseiro.

I used to be a happy guy but not today
Eu costumava ser um cara feliz, mas não hoje
Don’t cry and tell me I will be ok
Não chore e me diga que eu ficarei bem
There’s nothing I can do to wake up from this dream
Não há nada que eu possa fazer para acordar desse sonho

Harry baixou a varinha, ofegante. Olhou para o homem alto e esguio que o treinava e relaxou ao vê-lo sorrir.

— Por hoje, chega – disse o homem. – Pode ir.

Sem qualquer demonstração externa de alívio, o rapaz encaminhou-se para os alojamentos. O primeiro campo de treinamento de aurores ficava em algum lugar ao norte de Yorkshire, e era uma espécie de quartel de bruxos. Homens e mulheres eram separados em alas, e, para alívio total de Harry, nenhum de seus companheiros de alojamento ficava ali dentro à tarde.

Cansado, o rapaz tirou a capa e a camisa, substituindo-a por uma camiseta limpa. Olhou, esperançoso, para a estante à cabeceira da cama, onde ficavam os pertences pessoais e onde um auror sempre deixava as cartas do dia. Havia uma de Gina, perguntando se ele estava bem, e as coisas de praxe, uma de Rony, contando um caso hilário sobre um auror chefe que perdera de um iniciante em um duelo, no campo de Cambridge, e uma carta sem remetente. Era esta a que ele esperava.

Abriu-a com cuidado. O envelope era grosso, mas a carta de dentro era escrita em papel-manteiga, e ele sabia que este se rompia facilmente. Tirou o bilhete de dentro do envelope como se estivesse investigando um papiro secular. Abriu-o.

Você sabe. Eu não esqueci. Ainda quero uma resposta, mesmo que seja negativa. Mas não se preocupe; esperarei até o fim.

Tua ... e você sabe o quanto.

Era semelhante aos outros papeizinhos. Ele sabia quem escrevia os bilhetes. Como não poderia? Acompanhara sua escrita durante sete anos, vira-a, analisara cada curvatura de letra e cada vírgula, copiara frases que pareciam tão sofisticadas e limpas naquela caligrafia suave. Observara-a entregando a lição relutantemente quando ele e Rony apertavam-se em alguma matéria. Ela, sempre ela.

This dream is neverending
Esse sonho é interminável
I want to wake up from this dream [3x]
Eu quero acordar desse sonho

E, do nada, ela tornara-se aquilo. Para ele. Depois da noite no dormitório, ele simplesmente não conseguia deixar de pensar nela. Ansiava pelos bilhetes curtos e frágeis, que ela escrevia sem remetente, e que ele nunca respondia por medo, puro e simples. Ele ainda tinha Gina. Ainda amava Gina. Mas Gina já não tinha mais a exclusividade. E, conforme o tempo ia passando, a ruiva tinha cada vez menos dele. Ele sentia. E já não sabia se queria que fosse assim. Não sabia o quanto a queria, e se valia a pena. Nunca dizia seu nome. Nunca perguntava por ela. Ainda assim, não querendo, pensava nela. E muito. Mais do que normalmente. Como se sempre a tivesse querido... e sabendo que, de alguma forma, ainda não era o suficiente.

~ღ~~ღ~~ღ~ Gina-Harry & Hermione-Rony ~ღ~~ღ~~ღ~

Primeiro capítulo! Talvez deixe um pouco a desejar, mas... Bom, se vocês leram até aqui... Comentem, por favor, e façam uma escritora feliz! =D

Mantenho a minha súplica: se puderem, please passem na "Pago para Mentir", que está começandinho...

Thank you a lot!
Kisses =**
See ya! o/

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.