O último aniversário

Harry Potter acordou de um impulso com o farfalhar das asas de sua coruja Edwiges voltando de sua caçada noturna com um rato morto preso no bico.
Harry estivera esperando a coruja sentado em sua cama,mas o cansaço lhe vencera nas primeiras horas da noite e ele acabou dormindo.Enquanto Edwiges comia,Harry pegou a carta que escrevera mais cedo e releu:

Caro Rony,
Não se preocupe,os trouxas estão me ignorando,o que acho ótimo.Hoje é o aniversário de Duda e ele e meus tios vão passar o dia fora para comemorar a data.
Não precisa me mandar mais comida,pois Duda convencera minha tia a parar com a dieta na qual todos nós estávamos submetidos por causa dele.
Mande notícias regularmente do que está acontecendo,pois cancelei minha assinatura do Profeta Diário para não chamar atenção para onde estou.
Harry

Ele foi até Edwiges e a mandou sair da gaiola; a coruja,que ainda estava no meio de sua refeição,o fitou com seus olhos cor de âmbar,mostrando um inconfundível olhar de censura.
-Anda logo!-falou Harry;ultimamente qualquer coisa o irritava.
Edwiges voou para o braço estendido do dono e esticou a perna para ele prender a carta.Ela saiu voando pela janela em direção ao céu e Harry voltou a dormir.
Harry acordou na manhã seguinte com um barulho de passadas no corredor.Obviamente os tios estavam enfrentando o habitual corre-corre para tornar o aniversário de Duda perfeito.
-Já pegou a chave do carro,Válter?-Harry ouviu a tia perguntar.
-Já.-respondeu o tio Válter.
-Então acorde o menino que eu estarei esperando lá embaixo.
Harry imaginou que Duda estaria contando os presentes há esta hora,para saber se ganhara mais do que no ano anterior.
Então,alguém bateu na porta e a voz do tio Valter gritou:
-Acorde,moleque preguiçoso!
Harry ficou de pé de um salto,trocou de roupa,enfiou a varinha no bolso da jeans só por precaução e saiu do quarto.
Desceu as escadas e encontrou os três Dursley no hall.Ao contrário do que imaginara,Duda não estava contando nenhum presente,muito pelo contrário,parecia entediado: estava claro que as aventuras noturnas com sua turma eram muito mais interessantes do que passar o dia no shopping com os pais.
-Você ficará com a Sra.Figg.-disse tia Petúnia-Não temos hora para voltar.
Harry não esperou ser convidado a se retirar.Deu as costas aos Dursley e saiu em direção à casa da Sra.Figg.Tocou a campainha e Arabella Figg apareceu à porta trajando um robe
vermelho e pantufas.
-Harry!Vamos,entre...
Harry entrou a tempo de ouvir o carro do tio dar partida e sair.A casa não fedia mais a gato,o que deixou o garoto um pouco mais confortável.Para sua surpresa,Tonks e seu cabelo rosa-chiclete se encontrava bebendo chá numa poltrona velha.
-Tonks!-exclamou Harry aliviado por não ter que passar o dia sozinho com a Sra.Figg.
-E aí,beleza,Harry?
-Pensei que estivesse em Hogsmead!
-Sim,estava,mas quando soube eu você viria aqui,pedi para o Quim me substituir.
-Ah,estou sendo vigiado,é claro.
Ela não falou nada.A Sra.Figg apareceu na sala segurando uma bandeja com uma chaleira, xícaras e torradas.
-Aceita mais,Ninfadora?
-Não,obrigada Arabella.
-E você,Harry?
-Sim,obrigado-respondeu Harry,afinal não havia tomado café da manhã.
A velha lhe passou uma xícara transbordando chá e algumas torradas secas.Harry estava com tanta fome que nem percebeu isso.Ninguém falou enquanto Harry comia,mas assim que acabou,ele perguntou:
-Como anda a Ordem?
-Está seguindo o ritmo -respondeu Tonks- Quer dizer,agora mais do que nunca.
-Sei...
-Eu ainda não acredito que Dumbledore esteja morto...-comentou a Sra. Figg e duas lágrimas caíram de seus olhos para suas bochechas enrugadas.
Mas Harry,que não queria falar sobre Dumbledore,se apressou a mudar de assunto.
-E então?Você e o Lupin estão namorando mesmo?
Tonks sorriu.
-Estamos.Mas ele anda um pouco triste...
-Porquê?Onde ele está?-perguntou Harry;a Sra Figg continuava em silêncio.
-Está numa missão para a Ordem...
Harry passou o dia inteiro na casa da Sra. Figg.Ficou a maior parte do tempo conversando com Tonks sobre a carreira de Auror.
Ao anoitecer,Harry olhou pela janela e viu que o carro dos Dursley já estava estacionado na frente da casa.
-Eles chegaram.-informou Harry se levantando e massageando os quadris dormentes -Tchau,Tonks!Obrigado por tudo,Sra. Figg.
-Tchau,Harry.-disseram as duas.
Harry deixou a casa e se dirigiu ao número quatro;tocou a campainha e tia Petúnia atendeu.
-Ah,é você.
-Quem mais seria?
Mas Harry não parou para discutir.Ouviu as vozes de tio Valter e Duda vindo da cozinha e subiu para seu quarto.
-Edwiges!-exclamou Harry fechando a porta e estendendo o braço para a coruja.
Edwiges pousou no braço de Harry e ele desprendeu a carta que ela trazia.Ao abri-la,se decepcionou com o tamanho da resposta de Rony.

Caro Harry,
Por aqui as coisas também vão bem normais.Papai não pára de reclamar e dizer que o Ministério está um caos.Há também uma onda de pessoas se demitindo e está sendo quase impossível substituí-las.Rufo Scrimgeour está ficando louco.
Infelizmente encontraram o corpo do Olivaras morto sob uma Marca Negra na Albânia.

Rony

Tudo bem que Harry esperava muitas notícias,e boas,mas não pôde reclamar.Olhou para Edwiges como se a culpa pela carta de Rony ser curta fosse dela.A coruja entendeu seu olhar de forma errada e voou pela janela afora antes que Harry a mandasse entregar outra carta.Ele se largou na cama e ficou perdido em seus pensamentos até adormecer.
O restante do mês se passou monótona e rotineiramente igual: Harry passava o dia em seu quarto,saindo somente para as silenciosas refeições com os Dursley e continuava se comunicando com Rony e Hermione,que por meio de cartas curtas e objetivas o contavam sobre o que acontecia no mundo: Rony ficara responsável por informar as notícias do mundo mágico;já Hermione cuidava das notícias trouxas que poderiam estar ligadas ao mundo bruxo.
Harry estivera passeando para lá e para cá em seu quarto na noite em que antecedera seu aniversário,esperando a resposta de Rony da carta que mandara havia dois dias.Imaginara que o amigo deveria ter usado Errol,pois eles mesmos haviam combinado de revesar as três corujas: Edwiges,Píchi e Errol para não chamar muita atenção para uma só ave.Lembrando que a coruja dos Weasley levava o triplo do tempo para fazer uma entrega comparado à Edwiges,Harry se deitou em sua cama.
E não deu outra: depois de um bom tempo de espera,Errol entrou pela janela do quarto de Harry e lhe entregara a carta.

Caro Harry,
Perguntei ao papai e ele disse que poderemos ir buscá-lo na tarde de seu aniversário.Mas teremos de Aparatar,pois o Ministério continua um caos e seria praticamente impossível ligar a lareira dos trouxas à Rede de Flú.
O casamento de Gui e Fleur será daqui a uma semana.Ele está bem,sim;não vira lobisomem na lua cheia,mas não consigo descrever o que acontece com ele.
Hermione chegou ontem.

Rony
P.S.: Se já for dia 31,feliz aniversário!

Harry dobrou a carta e olhou para o relógio que havia em seu quarto: eram duas e vinte da madrugada.Fazia pouco mais de duas horas que completara dezessete anos.Conforme dissera Dumbledore,a magia que o protegia naquela casa havia morrido juntamente com seus dezesseis anos.Mas não queria pensar em Dumbledore.Não podia.
O garoto procurou Errol pelo quarto para dispensá-lo,mas a coruja havia desmaiado na gaiola de Edwiges.Sorrindo,mas sabendo que não tinha nada a ver com Errol,Harry largou-se em sua cama e dormiu quase que instantaneamente.
Harry acordou algumas horas depois para tomar café da manhã.Chegou na cozinha bem a tempo de ver tia Petúnia servindo generosas quantidades de ovos com bacon no prato do filho.Duda,que emagrecera muito desde que entrara para o boxe,convencera ,por ora,a mãe a ignorar os conselhos da enfermeira de Smeltings e cancelar sua dieta.
-Hoje é um dia especial.-comentou tio Válter fingindo não notar a presença do sobrinho-É o último aniversário que o moleque passará conosco.E o último dia também,espero...
Antes que a tia pudesse confirmar,Harry disse secamente:
-É,tio Valter,hoje é realmente um dia especial.É o primeiro dia que vou usar magia fora da escola sem ser punido por isso.Então,não queira ser a minha vítima!
-O que quer dizer com isso,seu moleque?!-falou o tio com um pouco de assombro na voz.
Harry não respondeu.Simplesmente pegou sua varinha e ,sorrindo,transportou o resto de ovos com bacon que havia na frigideira que tia Petúnia segurava para o prato à sua frente com um aceno.
Válter começou a ficar roxo de fúria;Duda guinchou;mas foi Petúnia quem falou:
-Não se atreva a repetir isso na minha casa,Potter!
Harry,com ar de vitória ao ver a cara do tio mudar de esperançoso para decepcionado ao perceber que nenhuma coruja iria aterrissar na sua frente com o anúncio da prisão perpétua do sobrinho por violar as leis da magia,baixou os olhos para sua refeição e começou a comer.
Ao terminar,Harry olhou para os tios e falou em tom sério:
-Olhe,tio Válter,é verdade que irei embora hoje,mas...mas eu gostaria de agradecê-los por tudo o que fizeram por mim durante todos esses anos.
Para seu espanto,Harry sentiu uma lágrima escorrer pelo seu rosto.Sua tia sorria.
-Não pudemos negá-lo quando Dumbledore nos explicou sua situação naquela carta,mas confesso que foi um tanto difícil nossa convivência.Dumbledore vem buscá-lo hoje?
-Ãh...Dumbledore morreu.-disse Harry,mas apressou-se a acrescentar:-O pai do meu amigo Rony é que vem.
Ninguém falou nada.
-Ãh,vou fazer minha mala,então.-finalizou Harry.
O garoto subiu as escadas até seu quarto e começou a jogar seus pertences no malão,quando lembrou que podia fazer feitiços fora da escola,agora que alcançara a maioridade bruxa.Apontou a varinha para suas roupas,seus livros e material,para sua Capa da Invisibilidade e o Mapa do Maroto, e ordenou “Fazer malas!”
Quando tudo estava arrumado,Harry pegou a gaiola de Edwiges,há essa hora vazia,já que Errol partira de madrugada,colocou sobre o malão e deitou em sua cama.
Começara a imaginar como seria sua vida daqui para frente.Sem seus pais,sem Sirius,sem Dumbledore...E com o peso da profecia e das Horcruxes em seus ombros.
Harry desceu algumas horas depois e esperou o tempo passar.Viu quando seu tio chegou do trabalho e quando Duda saiu com os amigos.
-Eles vêm a qualquer momento.-disse Harry.
-Tudo bem.
Mas os tios não se importaram em vestir suas melhores roupas e aparentarem perfeitos;não quando sabiam que as pessoas que visitariam sua casa seriam aquelas que destruíram seu fogão elétrico há três anos.
Finalmente a campainha tocou e tio Válter foi atender a porta.
O Sr.Weasley entrou acompanhado por Rony,Hermione,Fred,Jorge,e para a surpresa de Harry,Gina;o bruxo cumprimentou os Dursley e por fim chegou a Harry,que já estava de seu tamanho.
-Como vai,Sr.Weasley?
-Feliz aniversário,Harry!-ele disse apertando a mão do garoto.
Harry sorriu.Hermione correu em sua direção e lhe abraçou,desejando um “feliz aniversário” ;tio Válter e tia Petúnia observavam tudo calados.
-Parabéns,cara.-disse Rony apertando a mão do amigo,no que foi imitado por Fred e Jorge.
Gina ficou por último.Harry se perdeu em seu abraço quente e sentiu um ótimo aroma floral enquanto ela lhe dava os parabéns.Harry sentiu uma enorme vontade de beijá-la ,ali,na frente de todos,mas se conteve.
-Vocês Aparataram?-perguntou Harry a Rony e Gina,sem saber o que dizer.
-Todos nós Aparatamos sozinhos,mas Gina Aparatou acompanhada pelo papai.-explicou Rony.
-Pensei que não tinha permissão para Aparatar,Rony.
-Ah,mas o Ministério realmente não está se preocupando com isso quando o caos,em si,já dá muito trabalho.-falou Rony- Fudge até morreu...também sob a Marca Negra.
-Cornélio Fudge morreu?-Harry quis confirmar.
Hermione afirmou com a cabeça.
-Sim,Harry.-confirmou o Sr. Weasley,muito sério-Infelizmente ele não é o primeiro e nem será o último.Não enquanto Você-Sabe-Quem estiver...
-Com licença,-falou o tio Válter pela primeira vez-mas quem é Cornélio Fudge?Quem é Você-Sabe-Quem?O que é Marca Negra?O que é Aparatar?
Harry encarou o Sr. Weasley,que parecia bem confuso por ver alguém que não sabe quem é Você-Sabe-Quem,e disse ligeiramente:
-Ah,tenho que ir buscar meu malão.
-Vamos com você,Harry.-disse Hermione.
Harry,Rony,Hermione e Gina foram para o quarto de Harry ainda ouvindo o Sr. Weasley tentando explicar o que era Aparatar.
-Então é aqui que você dorme?-perguntou Gina.
-Era.-responde Harry.
Harry murmurou “Locomotor Malão” enquanto Hermione ordenava “Limpar” para a gaiola de Edwiges e Rony pegava a Firebolt.
Os quatro desceram e viram os Dursley um tanto confusos e Fred e Jorge sentados a um canto,no sofá.Harry imaginou que os dois haviam ido para pregar uma peça em Duda,mas como ele não se encontrava,os gêmeos estavam entediados.O Sr. Weasley estava de pé,com as mãos coladas e parecendo mais confusos que os Dursley.Ao ver os garotos,o bruxo acenou com a varinha e os pertences de Harry sumiram.Tio Válter pigarreou;tia Petúnia verificou as janelas para ter certeza que nenhum vizinho vira o que aconteceu.
-Vamos?-falou Fred se levantando.
-Bem...obrigado por tudo.-disse Harry por fim.
-Tchau.-disseram os tios.
-Tchau.
-Harry,-chamou tia Petúnia-manda notícias de vez em quando,tá bom?
Harry sorriu.
-Prontos?-perguntou o Sr. Weasley.
Os garotos acenaram com a cabeça e ele estendeu o braço para Gina.Jorge estendeu o braço para Harry,mas este disse com simplicidade:
-Já Desaparatei sozinho,obrigado.
Harry mentalizou a Toca,teve sua última visão da casa dos tios e Desaparatou.Teve a conhecida sensação de estar sendo comprimido num desentupidor de pia,e segundos depois apareceu no jardim da Toca.
Quando todos se reuniram,eles caminharam até a porta da cozinha e o Sr.Weasley bateu na porta com os nós dos dedos.
-São vocês?-perguntou a voz nervosa da Sra. Weasley.
-Sim,Molly.
Ela escancarou a porta e puxou Harry para um forte abraço,lhe desejando “feliz aniversário”.Só então Harry notou a presença de Gui,que parecia um pouco selvagem,Fleur,sorrindo radiante,Carlinhos,Tonks e Moody sentados ao redor da mesa,onde havia um grande bolo e algumas guloseimas os esperando.
-Feliz aniversário,Harry!-eles disseram.
E Harry entrou para festejar o seu melhor aniversário.

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