O fim de um mistério e uma dec
A casa era simples. No meio do nada. Harry conversara com McGonagal pela lareira do ministério e da sala dela, que já tinha sido concertada no castelo. Ela disse que suspeitava de tudo desde o primeiro dia que Deivid entrara na escola. Ele tinha os olhos dos Weasley. E a coincidência do nome de sua tia era muito grande. Mas Minerva achou melhor não contar, pois podiam dizer que ela estava louca, e isso não era bom para a reputação da diretora de uma das melhores escolas de bruxaria do mundo.
Harry se encontrava agora no meio do nada, tinha ido até o endereço que estava na ficha de Deivid. A casa era de madeira. Com um pátio limpo e grande. Mas notava-se de longe e de perto, que ela era pequena. Restava saber quem estava lá dentro.
Bateu uma vez. Bateu duas. Rony estava esperando no seu carro voador novo, que ganhara por seu bom trabalho de auror. Harry lhe disse que voltaria com Gabrielle, se ela realmente estivesse lá. Não contara o detalhe do menino Deivid viver naquela casa. Bateu pela terceira vez.
A porta foi destrancada.
Um rosto lindo e atraente saiu timidamente, os olhares se encontraram. Os dela e os de Harry. O susto dela foi grande, tentou fechar a porta. Harry empurrou.
-Não antes de falar comigo Gabrielle! – exclamou Harry a repreendendo.
A mulher, já feita, assim pensou Harry, não mais uma menina, saiu detrás da porta. Vestia um vestido comprido azul claro, de mangas compridas, que entrava em contraste com sua pele branca e seus lindos cabelos loiros até a cintura.
-Você não se deu nem ao trabalho de tomar sua poção Polissuco hoje? – perguntou Harry em tom sarcástico, entrando na casa, que era humilde por dentro. Um jogo de sofá na entrada. Cheiros de temperos que vinham da cozinha, que era próxima da sala. Num pequeno hall, havia duas portas fechadas. Devia ser os outros dois cômodos restantes da casa, além do banheiro que era ao lado da cozinha. Dois quartos. O dela e o de Deivid. – Não vai me responder?
-Eu... Eu nem sei o que te dizer Harry.
-Então eu começo com as perguntas.
Harry sentou-se tranqüilamente no sofá. Por algum motivo lembrou de Dumbledore. Com toda sua calma começou a interrogá-la.
-Primeiro me diz uma coisa. Você seqüestrou Deivid?
-NÃO!
-Não? Não é o que parece. Apesar das condições humildes, você parece estar vivendo bem, está aqui unicamente porque quer. Nas férias Deivid vem aqui, e você conta um monte de mentiras dos pais dele. Que morreram. Que só restaram vocês dois. Não estou certo?
Gabrielle parecia atordoada.
-Eu tive motivos para mentir para o garoto.
-Sim claro – disse Harry cinicamente. – Você acha que sou otário? Fez todo mundo pensar que você estava morta, para levar o menino embora. Com que finalidade você fez isso?
-Para protegê-lo da morte. Ele e minha irmã. – respondeu ela com pavor na voz. – Eu não tive escolha!
Harry sentiu um aperto. Ela estava realmente falando a verdade. Lágrimas surgiam de seus olhos.
-Quem os prendeu então?
-Não posso dizer.
-Por quê?
-Ele mata o Deivid.
-Ele quem? Você está segura agora... Me diga quem é.
-Tenho medo.
-Vou te levar até o Deivid e você verá que está tudo bem. Logo poderá ver sua irmã. Mas para isso, preciso que me diga quem é. Preciso dessa informação. Como vou provar que você é inocente, se você não me dizer quem é?
-Está bem.
-Quem é o cara?
Com a voz já fraca, Gabrielle respondeu a pergunta de Harry.
-Lucio Malfoy.
Ele estava inconformado. Seus planos todos tinham ido por água abaixo. Mas também quem mandara permitir que o garoto estudasse em Hogwarts? Só que ele precisava do garoto lá, para que seus planos tivessem fundamento. Se bem que agora tudo estava perdido. Custara muito para ele sair de Azkaban. Custara sua alma. Em troca também tivera todo o exército de dementadores ao seu favor. Aquela batalha de anos atrás fora perdida, mas uma pior estava para acontecer. Ele, Lucio Malfoy, iria acabar com a raça dos Weasley. E para deixar o espetáculo melhor ainda, também acabaria com os Potter.
-Ninguém mandou você, Harry, se misturar com aquela gente. Agora vou me vingar pela morte de Draco - a última palavra foi dita com armagura, com um nó na garganta. Se Voldemort havia matado seu filho Draco, Harry Potter era o único culpado na história. Para Lúcio seu fillho ainda estaria vivo, se Harry estivesse morrido nas mãos de seu mestre.
Voltando a pensar em Deivid, Lúcio até hoje se admirava com o que havia feito aos Weasley. Arrancara um pedaço da alma de Rony Weasley e daquela sangue ruim de meia tigela. E era fascinante ver que o garoto tinha crescido confuso, mas forte e decidido. Que apesar de entrar para a casa da Grifinória, trazia uma marca que o poderia destruir: a ambição. E ele era muito ambicioso. Aquilo agradava bastante Lúcio. Ele poderia oferecer o mundo ao Deivid, que ele trocaria a imbecil da namorada, descendente dos nojentos Potter e Weasley, por uma simples vaga no melhor time de quadribol da comunidade bruxa.
Lúcio tinha certeza disso. Deivid crescera numa pobreza proposital, onde Gabrielle agora estava com o idiota do Harry Potter. Ele iria esperar os dois saírem da casa, para depois colocar fogo nela. Não haveriam muitas provas depois disso. Agora bastava aguardar.
Ela abriu os olhos. Conhecia bem aquele lugar. Quantas vezes se machucara tentando ser uma heroína, ou quem sabe apenas ajudar um amigo? Em conseqüência vinham às dores no corpo, ossos, e pele, depois. A aventura que mais lhe causara medo começara naquele lugar: na ala hospitalar. A boa e velha história do Vira-Tempo. Sentira tanto medo na época, pois sabia que algo muito ruim podia acontecer a Harry e a ela, caso os dois fossem vistos por eles mesmos. Mas o que ela fazia ali deitada? Começou a lembrar vagamente de estar falando com a sobrinha, e de depois ver seu pai... Não... Era o namorado de Sabrina... Não... Era... Tinha os olhos de Rony... Era... Parecia muito seu pai... Era... Seu filho.
Hermione se levantou de sobressalto. Ignorou a enfermeira, que pediu que ela voltasse a deitar. Sabia que seu filho estava vivo. Era ele! A certeza era absoluta. Agora as peças se encaixavam perfeitamente bem. Não importava como ele tinha parado ali, naquela escola. Só importava uma coisa realmente. Ele estava ali, do outro lado da porta, respirando, vivendo... Ela parou de súbito. Vivendo...
-Oh meu Deus! Por Merlim... Não!
-O que foi Senhora Hermione?
-Nada.
Na verdade a resposta era TUDO. Vivendo... Hermione voltou para a cama, e se sentou. A enfermeira disse que ia buscar um copo com açúcar para ela. Vivendo... Uma imagem agora estava fixa em sua mente como uma fotografia. Seu filho de mãos dadas com a namorada, com quem ele convivia nos últimos meses... Por quem ele estava apaixonado, por quem ele jogava todo seu amor... Por Sabrina.
-O que eu vou fazer? Ele vai ter que saber. Mas o que vai ser de Sabrina?
Foi como se ela escutasse um chamado. Sabrina entrou devagar, com os olhos vermelhos, fechando a porta, um sinal de que Deivid não a acompanhara. Hermione queria tanto abraçá-lo, beijá-lo, dizer que ele era seu filho perdido, dado como morto, e que era um alívio vê-lo vivo. Mas foi a imagem dos ombros caídos de sua sobrinha que partiu seu coração.
-Oh minha querida! – Disse Hermione abraçando Sabrina.
-Não precisa me dizer nada tia. Eu ... – a voz dela era embargada pelo choro contido. – Eu... escutei muito bem o que você disse antes de desmaiar, embora Deivid não tenha entendido nada, eu consegui entender. Fico feliz pela senhora. É ele mesmo. Andril me confirmou. Ele ficou sabendo hoje.
-Mas como é que ele soube?
Ela, que era sua mãe, nunca lhe dissera nada sobre Deivid.
-Ele puxou a senhora, Tia Mione. Andril é esperto. Quando soube que tinha um irmão desaparecido, foi atrás de informações valiosas. Pesquisou muito, e o tempo todo ele estava bem do nosso lado. Eu perguntei o nome da tia que Deivid disse que o criara. E não é nenhuma surpresa que seu nome é Gabrielle.
Hermione sentiu a garganta queimar. Por que Gabrielle fizera aquilo? Achou que a resposta logo viria. Agora ela precisava tocar num assunto muito mais delicado.
-Sabrina... – ela procurava as palavras certas para falar, enquanto Sabrina sentava-se na cama ao lado. As duas ficaram frente a frente. Tia e sobrinha. – Eu sinto muito... Mas tenho que dizer que ele é meu filho. Preciso ser sua mãe... Eu sei que seu sacrifício vai ser enorme.
-Quando tive certeza de quem ele era, eu pensei que meu mundo tinha acabado – começou a falar Sabrina. – Sei que sou nova, que posso me apaixonar de novo por outros caras. Mas na hora eu pensei que, se não pudesse amá-lo, eu ia definhar. Comecei a chorar. Então ele me pegou no colo e me trouxe até aqui, enquanto a enfermeira lhe colocava na cama, ele me colocava em outra. Olhei para você tia, e pensei que sua espera era longa demais, e que eu ainda tinha muito mais para aprender, que com certeza eu poderia me apaixonar de novo. Então olhei para Deivid e vi que ele merece muito mais que o meu amor de... – a voz de Sabrina ficou rouca, e seus olhos encheram d’água – De... prima. Ele merece todo o amor que lhe puderem dar. Vai lá tia... Anda... Ele está ai fora, confuso. Andril já o abraçou chorando, e ele ficou sem entender. Vai lá tia – Sabrina abriu um sorriso largo e sincero. – Conte que o ama, e diga o porquê. Peça para Andril entrar aqui, para vocês ficarem sozinhos lá fora.
Hermione achou o gesto da sobrinha muito carinhoso, foi até ela, a abraçou e beijou seu rosto. Ela era uma menina de ouro. Estava deixando seu amor de lado, deixando seu coração de lado, e agindo com a razão.
-Obrigado querida...
Hermione saiu da sala, ela não queria chorar de emoção, não ainda. Precisava saber como falar a Deivid que ele era seu filho. Ao vê-lo novamente, forte e saudável, teve que admitir que pelo menos Gabrielle cuidara muito bem dele. Aproximando-se pediu com o olhar que seu filho mais novo saísse, ele assim logo o fez os deixando sozinhos. Deivid estava sentado em um banco, olhando para baixo, com os cotovelos apoiados nos joelhos. Ela deixou sua mão cair sobre um de seus ombros o assustando.
Deivid teve um sobressalto. Não conhecia aquela mulher, embora tivesse a ajudado recentemente. Nunca tinha falado com ela antes. O jeito como ela chegara o assustara, ele estava pensando no estado frio com que Sabrina o tratou. Queria entender sua namorada. Ela era a única coisa realmente valiosa naquela escola, até mesmo o quadribol começava a se tornar uma segunda opção. A existência de Sabrina era seu mais novo pilar. Com ela os problemas eram todos esquecidos.
-Posso me sentar ao seu lado?
Era a tia de Sabrina.
-A senhora já está melhor?
-Sim – a mulher abriu um sorriso encantador, sentando-se ao seu lado. Deivid teve que admirar que para uma mãe, ela parecia bem jovem.
-Eu posso ajudá-la em alguma coisa?
-Eu preciso lhe dizer algo... e que você seja forte para o que eu vou te contar agora...
Deivid sentiu uma fisgada no coração.
-É alguma coisa com a Sabrina? O que ela tem? – perguntou preocupado.
-Ela está bem. Não há nada com ela, e que bom que você se preocupe com Sabrina. Mas o que eu tenho para lhe dizer é muito importante, para mim e para você.
Ele não estava entendendo muito bem aonde aquela mulher queria chegar.
-Vai parecer um absurdo agora, mas você vai entender depois.
-Pode dizer.
-Bem... Eu... Eu sou sua mãe.
-Como?
Deivid achou que aquilo era uma piada.
-Meus pais morreram num acidente. Eu vivo com minha tia.
-Eu sei... E seu nome é Gabrielle...
Deivid deu um pulo. Hermione continuou sentada.
-Como à senhora sabe? E o que isso tem haver? Eu sei que a senhora perdeu um filho... é lembrei disso, mas esse filho não sou eu!
-Você por acaso conhece toda a história? Você sabe que há uma parente nossa desaparecida?
Deivid parou e lembrou da conversa na biblioteca.
-Sei – disse contrariado, cruzando os braços.
-O nome dela é Gabrielle. Ela é descendente de Veelas. Você deve saber o que isso significa, não? – perguntou a mulher tranqüilamente.
O choque foi grande, ele deixou os braços caírem ao lado do corpo, enquanto passavam mil imagens na sua cabeça de uma tia boa e linda demais, uma beleza mais que a normal... Uma beleza de Veela.
-Isso não é possível! NÃO! - A sua voz ficou fraca, e o choro subiu a tona. – Você é minha mãe? Por que minha tia mentiu pra mim todo esse tempo? ISSO NÃO É POSSÍVEL!
Hermione tentou abraçá-lo, mas ele se recusou, tapou os olhos com as mãos, enquanto soluçava. Chutou as paredes do castelo. Entrou em desespero.
-Calma por favor!
-Como você quer que eu tenha calma? – perguntou furiosamente, deixando os olhos vermelhos à mostra – Sabrina... então ela é minha... Oh Merlim! NÃO! NÃOOO!
Ele socou a parede. A mulher na sua frente mantinha-se calma apesar de tudo. Ela era sua mãe... Ele não queria acreditar. Sempre pedira pelos pais quando criança. Achava que sua vida seria melhor com eles. Mas agora percebia que ia perder algo muito valioso em troca. Sabrina... Oh... Ele não podia suportar... O coração parecia em pedaços. Agora ele entendia a frieza dela. O que ele ia fazer? Ainda com a palma da mão na parede, caiu no chão devagar, sentando-se e chorando alto. Nessa hora Hermione, sua mãe, abaixou-se, e chorando lhe sussurrou nos ouvidos.
-Eu te amo meu filho...
Ele deixou a mulher agora nem tão estranha se aproximar, e o abraçar. Sentiu-se como uma criança no colo da mãe, depois de tentar dormir sozinho no escuro e não conseguir.
Gabrielle acompanhou Harry até o carro do Ministério. Rony não acreditava no que seus olhos viam. A irmã de Fleur estava viva. Com sua beleza de Veela intocável. O estômago dele deu um pulo, mas não tinha nada haver com os cabelos dourados, ou os olhos claros da mulher que caminhava tranqüila. Era nas mãos dela que sua atenção foi voltada. Ela carregava um saco plástico transparente com uma roupa de bebê que Rony reconhecia perfeitamente bem. Seu sangue subiu a cabeça, e sem nem pensar, ele pulou no pescoço dela.
-Oh! Meu... – Gabrielle perdeu a voz. A luta dela foi rápida. Ela agarrou as mãos de Rony, enquanto Harry agarrava o amigo pelos pulsos o puxando pra longe.
-Eu te mato va...
-Rony para! – gritou Harry empurrando o amigo pra longe de Gabrielle que tentava juntar o saco plástico que havia caído.
-Eu vou matá-la! Essas roupas são de Deivid. O que ela fez com ele? – sua voz era desgastada, devido ao intenso movimento, seu coração batia em descompasso.
-Calma meu amigo! Eu tenho uma boa noticia pra você.
Rony se soltou das mãos de Harry,e o olhou com surpresa.
-O que é? – perguntou quase rouco.
-Seu filho... Seu filho Rony... – Harry parecia emocionado. – Ele está vivo cara!
Foi como se uma dor muito antiga sumisse. Uma sensação de leveza e uma alegria começaram a preenchê-lo de satisfação. Rony não acreditava.
-Onde ele está?
-Em Hogwarts. Você lembra do rapaz da ala hospitalar? O garoto considerado o melhor artilheiro da escola?
Os olhos de Rony se encheram d’água. Ele tinha simpatizado com aquele menino e saíra de lá com a sensação que esquecia algo... Esquecia seu filho mais velho. Deivid estava vivo! Hermione tinha que saber.
-Tenho que ver Hermione, falar pra ela... Quero ver meu filho!
-Calma! – Harry o segurou no mesmo lugar – Gabrielle precisa depor, se não vai acabar sendo responsabilizada por algo que não fez.
-E quem fez então? – perguntou, fuzilando Gabrielle com o olhar de desprezo.
-Lúcio.
-O Malfoy? – perguntou confuso. – Mas ele não estava preso?
-Fugiu faz muito tempo, muito mesmo, desde o desaparecimento de Gabrielle. Você sabe mais do que eu, que o Ministério é dono de encobrir coisas como essas. Ele está soltinho da silva, em algum lugar desse país. É só o que Gabrielle sabe.
Rony puxou Harry pelo braço para longe de Gabrielle.
-Já te passou pela cabeça que ela pode ter inventado tudo isso? – perguntou com convicção.
-Sim Rony. Por isso temos que levá-la, e deixá-la no meu gabinete. De lá ela não poderá sair. A deixarei sobre vigia e irei com você para vermos Deivid. Andril e Hermione já devem estar na escola.
-Hermione já sabe?
-Eu pedi para Andril não lhe contar, mas eu não sei se ele fez o que eu pedi.
-Andril? Como meu filho sabe sobre a história de Deivid?
-Ele achou algo nas coisas de sua mulher, e desde então começou a pesquisar. Descobriu que tinha um irmão desaparecido, resolveu procurá-lo, e o encontrou.
-E... O QUE?
-Isso que ouviu. Achei Gabrielle e Deivid graças a ele.
Rony sentiu uma profunda alegria. Queria agradecer seu filho mais novo, e queria recuperar o tempo perdido com Deivid, o mais velho.
-Vamos levar ela então – disse Rony contrariado. – Não quero mais perder tempo.
Assim os três entraram no carro voador de Rony, e partiram rumo ao ministério.
Assim que o carro decolou, Lúcio Malfoy entrou na casa que ele mesmo escolhera para Gabrielle viver. Notou que ela levara algumas fotos da sala, além das roupas de bebê de Deivid que ele viu de longe ela carregar. Remexendo seus armários notou a ausência de muitas das roupas dela. Claro que ia ser assim, afinal de contas ela sabia que ele lhe daria o troco. Levara até um álbum de fotos, que por sinal o irritava muito. Era porque havia um Deivid muito sorridente, em diversas fases da vida, sempre com uma vassoura de quadribol na mão, lhe lembrava demais os Weasley nojentos e preponderantes. Lúcio teria gostado de queimar o álbum junto com a casa.
-Incendio! – o fogo que saiu de sua varinha pegou em uma única foto que ficara esquecida num canto do quarto de Deivid. Na foto Deivid tinha oito anos, sorria e fazia careta, enquanto Gabrielle arrumava seus cabelos.
A foto queimou aos poucos.
-Incendio!
A outra chama pegou na colcha azul de Deivid e em pouco tempo a madeira da cama dele crepitava no fogo. Lucio foi para a rua, e assistiu ao espetáculo com um sorriso desdenhado na boca. Gabrielle lhe pagaria com a vida por lhe dedurar, depois de anos lhe dando tudo, proteção, uma boa comida, e até um carinho de pai. Ela era ingrata. O beijo que ele lhe dera uma vez, de contra gosto, não fora nada excitante. Ele a achou sem sal. A beleza dela não lhe servia pra nada. Olhou para a casa totalmente em chamas, se vangloriando de seu feito, e aparatou.
A espera era longa. Durante todos aqueles anos ele repetia a si mesmo que seu filho não estava vivo. Agora caminhava da vila de Hogsmeade até o portão do castelo rumo ao reencontro com Deivid. Assim que deixaram Gabrielle sobre vigilância no gabinete de Harry, os dois aparataram até a vila. Estava escuro e frio. A neve era densa aos seus pés tensos de ansiedade em chegar. Os enfeites de Natal ainda estavam por toda à parte lembrando a ele que agora precisaria comprar um presente para seu menino mais velho.
Talvez uma vassoura de quadribol nova, a melhor que tivesse no mercado de vassouras até então. Se seu filho era o melhor, teria o melhor. Depois de anos vivendo naquela casa, aos cuidados de uma mulher um tanto desequilibrada, seu filho ainda assim conseguiu um título muito admirável. O melhor artilheiro juvenil, um futuro campeão da copa mundial de quadribol. Ele sorriu. Sabia que agora sua família estava completa.
Hagrid os atendeu sorridente. Harry contou-lhe que Deivid era filho de Rony e Hermione.
-Eu sempre soube! Ele me lembrava muito alguém. Em alguns gestos. Agora lembrando de sua época aqui Rony, eu posso entender muita coisa que ele fez por aqui.
Rony riu. Era bom saber que seu filho, apesar de pouca semelhança física, era parecido em seu jeito de ser.
-Que bom Hagrid. Que bom.
Rony e Harry se dirigiram até a porta do castelo. Quando entraram, partiram rumo as escadas. Mas uma voz os chamou.
-Harry! Rony!
Era Hermione, que estava radiante. O brilho em seus olhos era intenso. Rony soube naquele momento que ela já sabia de tudo. Aproximando-se dela, acariciou as pontas de seus cabelos. E sorriu para a mulher.
-Ele está Ivo Rony! – falou com embargo na voz.
-É eu sei.
Hermione o pegou pela mão e o puxou.
-Vem! Ele está sentado na frente da ala hospitalar. Eu já lhe contei que sou sua mãe, falei quem somos. Ele está abatido – ela falou preocupada. – Acho que é tudo muito forte pra ele.
-É – concordou Rony, que criava expectativas na imagem de seu filho. E lá estava Deivid.
Era uma rapaz forte e alto como ele. Estava em pé em frente à ala hospitalar. Seus olhos estavam bastante vermelhos e ele passava a mão pela cabeça desoladamente. A imagem causou um repuxão na barriga de Rony. Por quê seu filho estaria naquele estado, se tanto para ele quanto para Hermione aquilo era uma felicidade muito grande? Talvez fosse o choque. Mas ele tinha certeza que logo Deivid se acostumaria com a família.
-Oi – disse calmamente se aproximando do filho, que tinha a mesma altura que a sua. O garoto o olhou como se nunca tivesse o visto antes. Rony olhou para a esposa tristemente, e aquilo pareceu abrir os olhos de Deivid.
-Você é meu pai?
-Sou sim.
Pai e filho se encararam. Depois do que pareceu uma eternidade para Rony, Deivid sorriu, deixando algumas lágrimas rolarem por seu rosto. Rony fez igual, e abriu os braços. O garoto deu alguns passou em sua direção, e o abraçou. Mais uma vez a sensação de eternidade quis reinar para Rony naquele abraço de pai e filho. Mas ele tinha muito que conversar com o filho mais velho. Saber como era sua vida, e recuperar todo o tempo perdido.
Harry acompanhou o momento emocionante dos seus dois melhores amigos de infância. Rony que já abraçava seu filho Deivid, e Hermione que se juntava ao abraço. Os três choravam. A cena durou alguns minutos. Rony que engolira o choro, deu algumas palmadinhas no ombro do filho mais velho e limpou as lágrimas da mulher. Os três sentaram no banco. Onde estaria Andril?
Foi como telepatia, o sobrinho Andril saiu da ala hospitalar, sorrindo para os pais, e o irmão. Harry correu até ele.
-Andril você por acaso sabe onde está minha filha? Eu preciso contar tudo a ela.
-Tio, ela já sabe – disse Andril temeroso.
Um aperto se sucedeu no coração de Harry. Como estaria sua filha?
-Onde ela está?
-Está ai dentro.
-Mas o que houve com ela para estar na ala hospitalar?
-Nada. Ela está ai dentro, pensativa, não quis falar comigo.
-Obrigado. Vai ficar com sua família.
Harry esperou ver Andril se aproximar do irmão e abraçá-lo, se juntando a família. Os quatro então começaram a conversar. O rosto de Deivid estava triste, mas ele sorria, enquanto muitas perguntas estavam sendo lhe feitas. Harry tocou na maçaneta da porta e a abriu.
Lá dentro, estava sua filha no parapeito da janela mais distante da porta, olhando as estrelas. Harry decidiu se aproximar devagar da filha, e quando chegava perto notou lágrimas rolarem silenciosamente por sua face. O que ela estaria pensando? Será que lhe diria alguma coisa? Ele tocou em seu ombro de leve, ela não se moeu de imediato, mas ao ver quem era, limpou as lágrimas e fingiu um sorriso de surpresa.
-Ah... Oi pai! Que saudades! Como foi o Natal? Recebeu meu presente?
-Adorei seu cachecol.
-Foi a vó Molly que me ensinou a fazer.
-Não precisa fingir que não aconteceu nada Sabrina – falou ele com calma, e a voz doce.
-Eu sei – Sabrina abaixou a cabeça. – Estou tentando me recuperar.
-Do que?
A cara de espanto dela ao levantar o rosto foi preocupante.
-Como assim? – perguntou confusa. – Eu estava namorando meu primo.
-E qual é o problema?
Novamente a expressão de horror no rosto de sua filha o deixou preocupado.
-Como qual é? Ele tem o mesmo sangue que o meu pai! – lhe respondeu Sabrina, como se a pergunta fosse o absurdo dos absurdos.
Harry sentou-se na ponta de uma das camas, ajeitou seus óculos no rosto, e sorriu para a filha.
-Pois eu não vejo nenhum problema. Vocês podem continuar a namorar, depois casarem, e até terem filhos. Vocês não são irmãos.
Sabrina cruzou os braços, fazendo cara de horrorizada.
-Filha eu vou sair e deixar você pensando. Está bem? Depois você me conta o que achou melhor.
Quando Harry já lhe dava as costas, sua filha falou.
-Pai! Espera! É que eu acho que não vou conseguir ver ele da mesma forma que antes. Entende? Eu não sei se vou sentir o que eu sentia antes. Tenho medo que o sentimento que eu nutria por ele tenha sido apenas meu sexto sentido dizendo que ele era meu primo.
-E desde quando você acredita em sexto sentido? Nem sua mãe acredita. Pense melhor Sabrina. E quando você encarar isso de frente, você saberá o que realmente sente.
Harry deixou sua filha ali, pensando. Saiu da sala. No corredor despediu-se de Rony, Hermione, Andril e pediu para dar uma palavra com Deivid.
Quando os dois se afastaram dos demais, Harry falou.
-E ai meu novo sobrinho, tudo bem com você?
-Acho que sim. É tudo muito novo, ainda to assimilando.
-Bem, então deixa eu te dizer uma coisa. Você precisa conversar muito com seus pais, mas acho que se você não falar com Sabrina agora, você vai perder minha filha rapaz.
Deivid arregalou os olhos. Aquilo era um bom sinal, pensou Harry.
-Você gosta mesmo dela?
-Muito. Muito mesmo Sr. Potter.
-Que bom! Mas não me chama de Sr. Se antes você já podia me chamar de Harry, agora que sabe que sou seu tio tem liberdade pra me chamar de Harry, tio, como quiser.
-Está bem... Harry.
-Assim está melhor. Mas corre até a ala hospitalar. Anda! Você não quer perder Sabrina, quer?
-Não. Obrigado pelo toque, Harry. Tchau!
Assim ele viu seu sobrinho correr até a porta da ala hospitalar. Seus amigos o olharam com ar de curiosos.
-O filho de vocês precisa ter um papo a sós com minha filha – se explicou. Dizendo isso, saiu dali rapidamente. Precisava voltar rápido ao seu gabinete, e pegar o depoimento de Gabrielle. No outro dia de manhã pegaria o depoimento de Deivid.
Seu coração bateu forte, parecia querer soltar para fora do peito, em ritmo acelerado. Era a simples imagem dela que lhe causava aquele desnorteio todo. Sabrina estava encostada no parapeito olhando as estrelas. Ele uma vez tinha dito a ela que se olhasse com freqüência o céu durante a noite, conseguiria ver uma estrela cadente e poderia fazer um pedido. Contara a ela que um dos pedidos dele era poder saber mais sobre os pais. Agora ele sabia.
Se Harry, sabendo que os dois eram primos, incentivara, ele, o sobrinho, a não perdê-la, então não haveria problema algum em eles continuarem o namoro. Deivid jamais suportaria viver perto de Sabrina e não poder beijá-la, tocá-la, e abraçá-la com toda força só para irritá-la.
Deu alguns passos em direção dela, que ao escutar, se assustou, e virou-se em sua direção. Ele se aproximou o suficientemente para que pudesse tocar nos seu cabelo, comprido, vermelho escuro. Ela recuou um passo.
-O que houve Sabrina? – perguntou aflito.
-Nós precisamos conversar – disse séria, sem transparecer sentimento algum.
-É, eu sei. Somos primos, e daí? Eu continuo te amando do mesmo jeito. – falou irritado e magoado.
-Mas eu acho que, eu não.
O coração dele parou de bater por um segundo. Tudo parou. Ela não podia fazer aquilo com ele.
-Sabrina...
-Não diga nada. A culpa é só minha. Você não tem nada haver com isso.
Ela fez menção de quem ia se retirar, mas ele não podia deixar, a puxou por um braço, a aproximando de seu rosto, segurando seus ombros.
-Diga olhando no meu olho que não sente nada por mim – falou com mágoa na voz.
Ela o encarou, e de repente sua expressão fria e vazia deslanchou. Seus olhos encheram d’água.
-Eu não sinto...
-É mentira! Eu sei que é!
-Então tá! Eu sinto, sinto sim... Mas não como você acha que é. O meu amor por você é amor de prima. Satisfeito agora?
-Eu vou viajar, com meus pais. É provável que eu vá para a escola Durmstrang. Lá minha carreira de quadribol estará mais garantida. Se depender de mim, você nunca mais me verá, e se eu tiver que vê-la, durante um longo tempo vou querer ficar longe de você!
Ele a soltou. As lágrimas começaram a rolar em seu rosto.
-Por quê você quer ficar longe de mim?
-Você não entendeu ainda? Eu te amo. E viver aqui, perto de você, e sem você, vai me deixar louco.
-Eu não quero ficar longe de você... Eu to confusa. Eu olho pra você e penso que é meu primo, que tem meu sangue.
-Sabrina?
Ela levantou a cabeça. Ele tocou no rosto macio dela.
-Você sente isso que eu sinto? Você se arrepia ao meu toque?
Ela fechou os olhos enquanto ele acariciava sua face.
-Sim – respondeu.
-Quer prova maior de que estamos apaixonados? Que o sangue nessa hora não conta?
-Eu não sei...
-Você precisa se decidir.
Ele levantou as sobrancelhas, esperando uma resposta dela. Após alguns minutos, o que era uma eternidade para Deivid, que escutava seu coração cheio de esperanças, Sabrina resolveu falar.
-Eu tomei minha decisão.
-Diga então – pediu Deivid nervoso.
-Eu não quero.
-Você vai me...
Ela o interrompeu, colocando seu dedo indicador de leve sobre sua boca.
-Psiu! Você não me deixou terminar... Eu não quero... Não quero ficar sem você.
Uma explosão de vivas se sucedeu no estômago de Deivid. Ele pegou Sabrina pela cintura a abraçando, e a levantando, os dois sorriram juntos. Rodopiou com ela, e após os dois voltarem do giro, ele a tocou de leve no rosto e a beijou com vontade. Era a primeira vez que se sentia feliz por completo. Tinha seus pais, ganhara um irmão, e sua namorada estava de volta ao seu lado. Agora a única coisa que ele precisava era conversar com sua tia Gabrielle e entender o motivo que levara ela a fazer o que tinha feito.
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