PÉS TRAIDORES!



E mais uma vez o meu refugio é o meu diário! Os meus dias andam começando e acabando com a imagem de Tiago Potter na minha frente, e como se não fosse aterrorizante o bastante vê-lo com os olhos bem abertos, agora eu o ando vendo de olhos fechados. E não em sonhos! Eu diria que estou sonhando acordada, ou melhor, tendo pesadelos, acordada.


Ontem quando ele sorriu quando viu que eu não conseguia parar de olha-lo, foi como se alguma parte do meu cérebro achasse muito interessante ficar repetindo aquele sorriso de novo, e de novo. Assim como quando você está na fase dúvida, que você não consegue terminar uma frase, o meu cérebro, sem o meu consentimento, parecia estar repleto de incertezas, pois sempre começava, mas nunca terminava as cenas que eu, involuntariamente, criava na minha cabeça com Tiago Potter.


Eu realmente não deveria ligar para aquele grande arrogante, patético Sr. Potter. Lily, pense com a razão, pense com qualquer coisa, mas pense. Um sorriso não pode ser tão perturbador.


Eu sinceramente estou conformada com o meu absolutamente inútil jeito de agir. Eu deveria treinar mais frases de impacto, elas pelo menos seriam alguma coisa a ser dita em momentos em que a minha mente não colabora. Parece, verdadeiramente, que não trabalhamos juntas.


Eu percebi, também, que a Agatha pode ser muito pouco boa conselheira quando está disposta a 'tentar fazer alguém enxergar', segundo as próprias palavras dela. Mas eu realmente não me importo, porque não pretendo levar todo aquele discurso em consideração. Deve ser essa fase 'a vida é linda!' pela qual ela está passando. Sinceramente ela parece ver romance em tudo.


A única coisa que sei, é que no dia seguinte à essa grande tragédia eu realmente devia estar parecendo um trapo. Agatha, que estava sorrindo em seu sonho - eu reparei -, simplesmente fez uma cara de desgosto quando acordou e me viu.


"O que aconteceu com você?". Ela perguntou muito sem sensibilidade, levando em consideração todo o terror pelo qual eu havia passado. No entanto, ela nem tinha conhecimento do que, afinal, tinha acontecido.


"O que aconteceu comigo não! O que aconteceu com o Potter!". Eu disse pensando, não é culpa minha que ele não consegue se controlar.


"Como?". Agatha realmente não tinha entendido o sentido daquela frase.


"Agatha você sabe que eu tinha que levar Black e Potter para cumprirem detenção na terça?". Ela confirmou sorrindo.


"Bem...". Eu continuei. "Você não sabe, mas aconteceu um pequeno problema lá."


"Então é por isso que Potter está tão irritado".


"O que?". Eu fiquei chocada. Como ela poderia saber se eu não tinha nem contado ainda.


"Bem, eu não sei o que aconteceu, mas Remo me disse que Tiago tinha feito uma grande besteira e agora vivia irritado". Eu concordei totalmente! Sim, grande besteira!


"Eu lhe digo o que aconteceu!". Eu fiz uma pausa. "Ele me beijou.". Os olhos de Agatha se arregalaram, mas dois segundos depois ela se jogou novamente na cama e começou a dar risada. Se ela não fosse minha amiga de longa data, eu teria ficado muito irritada. Mas Agatha era assim.


"E o que você fez?". Ela finalmente disse alguma coisa. "Empurrou ele?"


"Pior"


"Azarou ele?"


"Pior."


"Por deuses Lily, o que você fez com o coitado do garoto?".


"Coitado?!"


"O que você fez, Lily?". Ela perguntou, e agora parecia preocupada.


"Antes de qualquer coisa eu tenho que esclarecer que não foi uma ação voluntária. O meu cérebro me traiu!"


"Lily, o que você fez?"


"Se você rir eu juro que vou ficar brava."


"Porque eu riria?"


"Eu...correspondi ao beijo."


"Você o que?". E contrariando o meu aviso de que ficaria brava, ela riu. Eu cruzei os braços, e a lancei um dos meus piores olhares.


"Eu falei para você não rir".


"Eu sei Lily, eu sei.". Ela disse isso como quem pede desculpas. "Mas é inevitável.".


"Eu não sei o que eu estava pensando. Eu não me reconheci.".


"Olha, eu vou fazer uma pergunta, mas eu não quero que você saia berrando.". Ela disse muito cautelosa.


"Tudo bem.". Eu respondi com sinceridade.


"Para você, como foi o beijo?".


"O que?". Eu estava incrédula. Se ela estava perguntando aquilo que eu achava que ela estava, eu realmente não tinha como não gritar.


"Você gostou do beijo?". Por todos os santos. Ela estava perguntando aquilo que eu estava pensando.


"Agatha Cliverland! O que você está pensando?". Ela fez aquela cara de 'Ai meu Deus! Ela está berrando!'.


"Lily, você disse que não iria berrar.".


"É inevitável!".


"Eu vou dizer o que passou pela minha cabeça, mas dessa vez eu falo sério sobre você não berrar!". Eu voltei a cruzar os meus braços, muito contrariada, e murmurei um "Pode falar."


"Você já considerou a possibilidade de você estar começando a gostar do Potter?"


Mesmo que eu tivesse vontade de berrar, e eu certamente tinha, a minha voz traidora não funcionou. De qualquer forma eu não sabia nem como responder a uma insanidade dessa. Só porque eu tenho um cérebro traidor e uma voz traidora, isso não significava que eu gosto do Potter. Eu pelo menos ainda tenho pés muito fiéis, que prontamente me levaram ao salão comunal no dia em que o Potter fez a grande besteira.


Agatha pareceu preocupada com o meu silêncio, mas logo em seguida voltou a falar, como se a cara de terror que eu tinha feito referente a pergunta dela não significasse nada.


"Eu só estava tentando fazer alguém enxergar". Logo depois ela saiu do dormitório dizendo que iria se encontrar com Remo. Alguém! Eu sei muito bem o que ela quer dizer com alguém. Sinceramente, eu não sei o que o Remo anda fazendo com a Agatha, mas coisa boa não pode ser!


Depois daquela discussão, sai desabalada do dormitório e do salão comunal. Pensei até em ir tomar café, mas quando cheguei, o salão principal estava quase vazio. Não gosto de tomar café sozinha. Segui então sem rumo para qualquer lugar do castelo que eu não precisasse ver, nem pensar, em Tiago Potter. Apesar do o meu cérebro ser um traidor, ele precisava de um descanso da imagem daquele garoto. Caso contrário, eu enlouqueceria.


Eu confiava em meus pés, eles tinham me guiado sã e salva ao salão comunal naquele dia, e não havia motivo para eles me traírem agora. Mas quando me dei conta de onde eles tinham me levado, eu olhei pra baixo, como se eles pudessem retribuir o meu olhar, e murmurei um "Até você?! Traidor!". De repente eu me dei conta do que estava fazendo. Eu estava conversando com os meus pés. E contrariando o meu desejo, eu pensei que se eu havia chegado a esse extremo, a culpa disso tudo era total e inteiramente de Tiago Potter.


Eu sinceramente estava me sentindo derrotada. Como se tudo que eu fizesse ou pensasse não fosse o suficiente para fazer com que as coisas voltassem ao normal. Eu era uma monitora chefe que não havia conseguido cumprir um dever inteiramente de acordo com as regras, uma amiga insensível, e agora estava ficando louca, e culpando as partes do meu corpo por comportamentos estranhíssimos que eu vinha praticando. Eu mal posso identificar quando, e como, tudo isso começou. Num dia eu estava berrando com Tiago Potter, me sentido extremamente satisfeita pelas coisas estarem seguindo o seu curso normal, e no segundo seguinte eu estava planejando um encontro da minha melhor amiga com um maroto. Dias depois eu era uma pessoa com um cérebro, voz, pés traidores. Eu devia estar satisfeita por não ser o coração.


De qualquer forma, depois que eu tirei os olhos dos meus pés, eu olhei para cima e me deparei com o grande campo de quadribol. Era final de tarde, o sol se punha e um vento insuportável batia no meu cabelo, as vezes me impedindo de ver o treino. Treino da Grifinória. Tiago voava muito exibidamente, e Sirius realmente parecia ter milhares de braços para conseguir rebater os dois balaços, que pareciam se multiplicar.


Eu dei alguns passos para trás, como se subitamente tivesse sido notada. Eu tudo o que eu menos queria era ser notada. Se fui ou não notada naquela hora, eu nunca fiquei sabendo. Mas quando já estava a uns dez passos de distância do campo eu vi que o treino havia acabado, e decidi que era hora de correr. Eu não queria me ver, novamente, em frente ao Potter e ouvir ele dizendo bestamente 'Lily, que bom te ver.'.


Infelizmente eu me esqueci que tinha pés traidores. Pés que se recusaram a correr, e pior, pareciam querer se encontrar com Tiago Potter, pois desaceleraram mais ainda o meu paço. O meu cérebro também participou da jogada, pois começou a mandar mais e mais pensamentos felizes. A única que pareceu concordar comigo foi a minha voz, que não falhou. Pelo contrário, falou em alto em bom som.


"Lily". Eu ouvi aquela voz me chamar. Fechei os olhos como querendo que aquilo tudo não se tratasse apenas de um sonho, e finalmente me virei para encarar um Tiago Potter com os seus cabelos mais bagunçados do que o normal - se isso é possível - e sorrindo, como sempre. "Saudades?". Ele logo perguntou.


Eu ri nervosamente. Só mesmo o presunçoso do Potter para pensar uma coisa dessas. Ele tomou essa resposta como um não, para o meu agrado.


"Então...". Ele começou vagarosamente. "O que você está fazendo aqui?"


"Eu não queria estar aqui!". Eu respondi, e pela cara de dúvida dele, ele não desconfiou que eu sofria de pés traidores.


"Percebo.". Ele respondeu marotamente, e eu para variar fiquei irritada. Sinceramente, eu não deveria deixar o Potter alterar o meu humor. Eu revirei os olhos e rapidamente comecei a caminhar para a sala comunal, não sem antes ouvir um Sirius dizendo "Pontas, meu amigo, você precisa dar um jeito nesse seu relacionamento". RELACIONAMENTO?


Em estado de histeria número 3, eu entrei no salão comunal. Agatha e Remo estavam sentados no sofá próximo a lareira. Sem me importar com o que poderia estar interrompendo, eu caminhei até eles e sentei na poltrona em frente. Sentei é modo de dizer, porque eu realmente me larguei.


"O que foi?". Agatha logo perguntou.


"Você tem uma chance para adivinhar."


"Potter!"


"10 pontos para a senhoria Agatha Cliverland!". Ela riu.


"Até quando você vão continuar brigando?"


"Até que a morte nos separe?". Eu devia realmente ficar muito engraçada irritada, porque dessa vez Remo também não conseguiu segurar a risada.


Depois um silêncio incomodo se instaurou, e quando eu vi quem passava pelo quadro da mulher gorda, eu disse a Agatha que já estava mais do que na hora de eu dormir. O que era uma grande mentira, levando em conta que eram sete e meia da noite.


Eu subi para o dormitório me carregando, e assim como havia me jogado na poltrona, eu me joguei em minha cama. Pelo menos o aconchego dela ainda era um consolo. Minutos depois Agatha também entrou. Ela ficou parada na minha frente, esperando que eu a notasse.


"O que foi agora?". Eu perguntei.


"Faça o que fizer, mas perdoe o Potter até a visita a Hogsmead."


"Hogsmead? Eu não vou mais à Hogsmead!"


"Vai sim senhora!". E vendo a minha cara de desgosto ela mudou o tom. "Vamos Lily, o Tiago nem fez algo tão grave assim.".


"Eu não estou ouvindo isso.". Eu peguei o meu travesseiro e joguei em cima dela.


"Além do mais, o Remo só vai ter essa oportunidade para ir, porque na próxima visita, ele me disse que vai ter que viajar.".


"Viajar?"


"Bem, foi isso que ele me disse. Alguma coisa como uma tia estar doente.".


"Nossa! Se é assim eu vou pensar...". Eu espero que o meu cérebro traidor não interfira!


"Obrigada.". Ela disse feliz e voltou a sair do dormitório.


Eu peguei o meu travesseiro, que estava jogado no chão, e depois de ficar alguns minutos apenas olhando para o teto, resolvi escrever no meu diário. 

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.