Chuva de Granizo
N.A.: Então, como eu prometi, aqui está o primeiro capítulo de Secrets and Memories. Até o terceiro, vocês podem ficar tranqüilos que não haverá muita demora, mas o quarto, que eu ainda nem comecei, vai demorar mais. Bem, leiam e depois digam o que acharam!
Morgana Black: Você não sabe como me deixa feliz você ter gostado! Sério, em matéria de Remus/Tonks, você é uma das minhas sensei. Eu também achei que o trailer ficou bom, mas é mesmo para mostrar o tipo de fic que vai ser. Tomara que você goste do primeiro! Beijos!
— Bem, acho que terminamos, Adrian.
— Tem certeza, doutor? Eu acho que não contei sobre aquele meu sonho com duendes, e…
— Nosso tempo acabou — disse o doutor, gentilmente —, mas não se preocupe, semana que vem você poderá vir e contar tudo o que quiser sobre duendes.
Era uma cena clássica no consultório do Dr. Remus Lupin — acabava o horário e o paciente, geralmente um histérico qualquer, tentava continuar falando, enquanto Remus sutilmente o levava até a porta.
— Mas, os duendes, e…
— Até semana que vem, no mesmo horário, Adrian — disse Remus com firmeza. — Bom final de semana, e vá com Deus.
E fechou a porta na cara de Adrian, para em seguida suspirar e se largar, exausto, no próprio divã.
Aquele consultório era a prova viva de que os ambientes podem refletir seus ocupantes. Uma escrivaninha de mogno, muito bem polida e reluzente, com alguns porta-retratos e poucos pertences de cunho pessoal. Os porta-retratos exibiam fotos de uma mulher de longos cabelos negros e sorriso doce. A estante de livros sobre psicologia, ordenados em ordem alfabética, também estava doentiamente limpa. O divã era de um estofado negro confortável, e as poucas cadeiras eram de madeira escura e do mesmo estofado negro e sóbrio.
Remus apanhou a agenda, abriu no dia 20 de abril e suspirou aliviado. Sem mais consultas. Permitindo-se relaxar um pouco, deitou a cabeça suavemente no próprio divã.
Foi quando a materialização da descontração, o Dr. James Potter, entrou no consultório.
— Remus! — riu James, dando um tapão na cabeça do amigo. — Dormindo, é?!
James e Remus eram amigos desde os tempos de colégio. Haviam optado pela mesma carreira, para logo se tornarem psicólogos de renome. Remus atendia os pacientes maiores de díade, e seu jeito sutil e bondoso de fazer a pessoa se libertar das amarras era admirado por todos no meio. Já James atendia crianças e adolescentes, tinha desenvolvido várias teorias e métodos de tratamento e também era conhecido pela sua espontaneidade, que geralmente incentivava o paciente a falar o que lhe afligia.
— Olá, James — disse Remus bocejando. — Você é sempre tão sutil.
— E você, tão sarcástico — sorriu James. — Sem pacientes mais?
— Não… O Sr. Adrian Johnnes acabou de sair daqui.
— Johnnes? O cara que acha que é atacado por duendes?
— Esse mesmo. Desconfio que ele tenha tido um sério trauma com seres imaginários na infância. Você tem alguma maneira para descobrir o que aconteceu?
James suspirou.
— Pode fazê-lo desenhar… Aliás, eu tenho um livro que é bem pra isso. — E, lançando um olhar rápido à escrivaninha: — Embora eu ache que quem precisa de um psicólogo é você.
— Eu?
— É, você. Jenny continua aqui.
Um suspiro rompeu o peito de Remus; trêmulo e triste ao mesmo tempo. Sabia que novamente iria se iniciar o velho assunto sobre o qual ele não estava nem um pouco disposto a discutir.
— Você sabe que ela continua em mim — suspirou, pois essa não era a primeira nem a segunda vez que falavam sobre aquilo.
— Você tem que esquecê-la, Remie! — exclamou James. — Caramba, já fazem três anos!
— Eu nunca vou esquecê-la, James… Ela foi a mulher da minha vida, e sempre será assim. Eu não sei amar mais.
— Eu sei que é difícil — disse James. — Eu sei porque eu estive ao seu lado quando ela…
— Não termine!
— Quando ela morreu. Mor-reu. Não adianta tapar o sol com a peneira, agir como se ela estivesse tirando férias! Não adianta evitar a verdade, e você sabe disso melhor do que ninguém!
— Você não sabe como é! — guinchou Remus com a voz estrangulada. — Lily ainda está com você, vocês dois ainda vivem esse sonho ilusório de lua de mel, não sabem que a vida não é bem assim! Num minuto ela estava ali, e ria, e estávamos felizes, e no outro, ela… aquela doença, aquele hospital! Aquele túmulo! Oh, céus, James!
Remus prorrompeu em soluços angustiados e doloridos, e James novamente sentiu seu coração apertar de culpa, por revolver as mesmas feridas que causavam tanta dor ao seu amigo, e enlaçou seus ombros num gesto de apoio.
— Desculpe — murmurou. — Só queria fazer você reagir.
— Esse não é o jeito certo — fungou Remus. — Você tem que ser sutil. Você sabe como fazer com crianças e adolescentes, mas andou faltando às aulas de como agir com adultos.
— Ainda bem que o meu filho só tem onze.
— Um dia ele vai ter trinta e dois.
— Daí você me ajuda.
Remus não pôde evitar um sorriso, e James riu gostosamente. Aos poucos, a risada também tomou conta do semblante calmo do rapaz.
— Só você mesmo pra me fazer rir, James.
— Te conheço há mais de vinte anos, Remie. Tem programa pra hoje à noite? Lily vai chegar mais cedo e fazer lasanha.
— Pior que não vai dar — lamentou Remus. — Vai ter uma palestra sobre hipnose e quero estar lá.
— Ah, Remie, você trabalha demais…
— Se você não tivesse a Lil e o Harry, também trabalharia demais.
— Eu nunca fui obsessivo como você.
— Percebe-se — sorriu Remus. — Agora, vamos indo, que a universidade é longe e não quero chegar tarde por nada nesse mundo.
— Como se já não soubesse tudo sobre hipnose.
— Não custa aprimorar a técnica.
A noite tinha sido perfeita, refletiu Remus mais tarde, dirigindo para casa. A palestra sobre hipnose havia sido fantástica. Nada que ele já não soubesse, mas uma sucinta apresentação dos fatos e de exemplos de tentativas bem sucedidas. Ele andava pensando cada vez mais seriamente em usar a hipnose com Adrian.
Pensava nisso quando o carro à sua frente parou sem aviso; ele foi forçado a brecar o carro bruscamente e já ia xingar quando percebeu que uma fila de carros parados se estendia à sua frente. A garoa fina que o vinha perseguindo começava a engrossar quando ele gritou ao homem do carro ao lado:
— O que houve?!
— Acidente! — gritou o homem de volta. — Tem um caminhão tombado, bloqueando a estrada toda!
— E quando a gente vai poder passar? Está chovendo!
— Só depois que desbloquearem a rua! E só vão fazer isso quando parar de chover!
— Obrigado pela informação! — agradeceu Remus, para em seguida praguejar para si mesmo: — Droga, droga, droga. Como se eu já não estivesse cansado o suficiente… — E, com um suspiro: — Mas o que são mais algumas horas na rua pra quem não tem porque voltar pra casa…
O que era apenas uma garoa fina começou a tomar proporções alarmantes. Pouco depois do doutor comprar um lanche e um refrigerante para enganar o estômago, uma verdadeira tempestade desabou sobre a rua, sacudindo árvores, casas e forçando o homem a fechar o vidro.
Só duas vezes antes Remus vira tempestades de tamanha magnitude. Na primeira, um enorme pinheiro esmagara o carro de seu vizinho; na segunda, foi forçado a fechar a janela para impedir seus livros de voarem. Além de tudo, junto com o vento e os raios, caiu uma chuva de granizo, e ele gemia ao pensar no estado da lataria de seu carro que ele suara tanto para comprar.
— Parece que só tem desgraça pra mim… — murmurou baixinho.
Bem protegido atrás de suas vidraças, observando a terrível beleza de nuvens negras despejando sua fúria sobre as cabeças dos pobres mortais, começou a pensar no que tinha sido sua vida até ali.
Remus vinha de uma família de Bethnal Green; filho único de um casal cheio de amor para dar. Parecia perfeito, mas a situação começou a complicar quando ele contava dezessete anos (ou dezessete invernos, como insistia em dizer sua mãe). Seu pai morreu; além do abalo produzido pelo evento em si, houve a surpresa de que tinham sido pegos desprevenidos. Ele não deixara nenhum sustento.
Conciliando trabalho e estudo, Remus conseguiu juntar dinheiro suficiente para ajudar sua mãe com as despesas e ainda ingressar na universidade de Cambridge.
Morando no campus, trabalhando como um doido varrido e estudando durante noites em claro, Remus conseguia pagar o curso e ainda enviar algum dinheiro a sua mãe em Bethnal Green. Até o dia em que ela faleceu de um ataque cardíaco fulminante. Remus tinha vinte e um anos.
Mesmo após terminar a faculdade e as despesas relaxarem, Remus continuou trabalhando muito, no consultório que ele e James tinham montado em Londres. Viu seu amigo conhecer a graciosa Lily num cinema — e nunca mais se largariam depois disso —, mas nunca pensou em se enamorar e juntar os trapos — pelo menos não com a esganação de James e Lily, que mal tinham vinte anos quando se casaram —, se apaixonar de verdade.
Até que ela apareceu.
Foi ao mesmo tempo estranho e surreal; há tempos que James e Lily — eles podiam se comportar como dois respeitáveis cidadãos casados e pais de um garoto, não podiam? — queriam levá-lo à famosa “balada”. Ele nunca se deixava convencer — pelo menos não até aquela noite. Julgara estar sendo seqüestrado até reconhecer o carro de James.
No bar, sentara-se no balcão e pediu uma dose dupla de uísque, na iludida esperança de relaxar. Então, ela viera e se sentara ao seu lado.
— Nervoso ou deprimido? — perguntara ela, apontando o uísque.
— Nervoso — ele admitiu, coçando os cabelos aloirados.
— Um uísque duplo — ela pedira também.
— E você, nervosa ou deprimida? — ele perguntara sorrindo.
— Nervosa — ela admitira.
E se olharam longamente.
No final da noite, já estavam no apartamento de Remus, se beijando como se o mundo fosse acabar no dia seguinte.
Jenny era fantástica. Alegre, divertida, mas frágil e delicada ao mesmo tempo. Completavam-se. Casaram-se. Juntos, viveram um pouco de tudo, estavam noivos e planejavam se casar em breve.
Foi quando aconteceu.
Ele estava entretido em pensar em sua querida e amável Jenny quando ouviu um barulho, como se alguém tivesse tentando forçar a porta do carro.
Temendo estar sendo assaltado, virou-se, e teve uma visão de relance: grandes olhos castanhos apavorados e duas mãos no vidro. No instante seguinte, ele abria a porta e uma garota desabava no banco do carro.
A primeira coisa que ele registrou, em choque, foram os cabelos cor-de-rosa da garota. Curtos, berrantes e espetados. Depois, percebeu que ela estava encharcada e tremia convulsivamente. Sangue corria da sua testa e ela tinha uma palidez assustadora; alguma pedra deveria tê-la acertado.
— Céus! Você está ensopada! — exclamou Remus, colocando o próprio casaco nos ombros magros da garota. — Qual é o seu nome?
Ela nada disse; apenas ficou fitando-o com os seus olhos amendoados, a água escorrendo dos cabelos cor-de-rosa, e um ar aterrorizado e selvagem.
N.A.: OK, foi um capítulo bem curtinho, quase que só como introdução. Capítulo 2 em breve!
Próximo capítulo: Nymphadora Tonks
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