O REINADO DE TERROR



O dia acabava aparentemente calmo em Little Hangleton, sem muito movimento nas ruas - as pessoas já se abrigavam em casa se protegendo do frio sobrenatural. O famoso pub da cidade, O Enforcado, já se encontrava fechado, os habitantes andavam um pouco receosos de andar na rua depois do pôr-do-sol. A névoa comandava sozinha todas as vielas da cidade.
A própria felicidade das pessoas parecia estar extinta. Não se ouvia tantas risadas ou conversas prolongadas entre os cidadãos. Mas ninguém reparara a coincidência dos fatos: tudo começara desde que aquela imponente casa no alto da colina voltara a ser habitada.
Ninguém conhecia o novo dono, mas já dava para perceber que ele não se importava muito com a aparência da sua moradia. Manteve a casa como ela sempre fora nesses últimos anos, praticamente uma ruína. As crianças não se aproximavam mais de seus gramados - tinham medo.O último aventureiro a invadir os gramados voltara com estranhos calafrios e um olhar aterrorizado.O garoto nunca teve coragem de comentar o que sua mente fora obrigada a sofrer. O tipo de gente que freqüentava periodicamente a casa não era lá muito discreto, usavam longas vestes com capuzes pontudos. Algumas pessoas achavam que eles faziam parte de uma seita, outros de um conjunto bizarro de rock, mal sabiam do perigo que estavam correndo estando próximas desses elementos.
O novo dono parecia não gostar muito de jardineiros também. Franco Bryce nunca mais fora visto mancando pelo jardim em suas tarefas rotineiras. Corriam boatos de que ele fora finalmente demitido e havia mudado para a cidade vizinha Great Hangleton. As pessoas não estavam muito interessadas no paradeiro de Bryce para falar a verdade, levando em conta o fato de que elas ainda acreditavam que ele fosse o responsável pelo assassinato dos antigos donos da casa – mal sabiam também do triste e solitário fim de Franco.
Quando a noite chegou e as névoas se intensificaram, dois vultos encapuzados se materializaram do nada no cemitério, com um sonoro barulho de estalo. Começaram a andar cautelosamente desviando das tumbas. O maior deles retirou uma varinha de madeira do bolso e murmurou:
- Lumus
Na hora o escuro cemitério foi iluminado por uma fraca luz azul.
- Draco, preciso que me escute – sussurrou o vulto maior, retirando o capuz e revelando um rosto macilento e pálido, no momento preocupado – você precisará fechar sua mente, o Lord das Trevas vai perceber a confusão em sua mente.
- Eu não estou confuso! – vociferou Draco – Estou com medo que ele faça alguma coisa a meus pais, por punição pela minha fraqueza.
- Tentarei de alguma forma ajudar, mas não tenho o poder para parar Lord Voldemort – sussurrou a figura mais alta – mas talvez ele se contente em saber que Dumbledore está morto.
Draco parou abruptamente, olhando com profundo desgosto para seu acompanhante.
- Você queria toda a glória para si próprio, não queria? Quer ser o comensal mais fiel, mais próximo. Você é patético! Como o meu pai pode confiar em você, Snape? – gritou Draco, expressando profundo rancor em suas palavras.
- Acontece Draco – disse Snape em uma voz baixa, mas letal – que existem mais motivos para eu ter feito aquilo do que você imagina. Seu pai teria feito o mesmo.
- NÃO FALE O QUE O MEU PAI DEIXARIA OU NÃO DE FAZER! POR SUA CULPA ELE ESTÁ PRESO AGORA! – gritou Draco assustando algumas aves que descansavam em uma árvore próxima.
- Não é minha culpa que seu pai está preso agora Draco, eu não poderia largar meu posto na escola – vociferou Snape com as veias saltadas.
- Ah sim, é claro, ordens do Lord das Trevas. Minha tia tem razão sobre você! – desdenhou Draco.
- Sua tia fracassou, Draco, assim como o seu pai. Agora eles estão pagando o preço. Mas não quero mais me delongar, nosso amo não gosta de esperar, vamos! – sussurrou Snape.
A contragosto Draco acompanhou Snape para a saída do cemitério, mas seu rosto brilhava com tímidas lágrimas à luz do luar. Os dois deixaram o cemitério e começaram a subir a colina em direção a senhorial casa no topo.
Depois de alguns minutos de caminhada os dois alcançaram o topo e um portão antigo de ferro que já ameaçava cair - parecia ser sustentado por mágica. Foram subitamente recebidos com uma onda de frio intenso, envolvente. Um trouxa não seria capaz de ver o que eles estavam vendo, mas sentir sim.
Severus Snape se dirigiu para um dos dois dementadores que guardava a entrada da casa, e com repugnância pelas criaturas levantou a manga esquerda das vestes, revelando uma tatuagem de um crânio com uma serpente saindo pela boca, a tatuagem parecia estar mais negra do que nunca.
O dementador observou a tatuagem de dentro de seu capuz, ergueu a mão úmida e podre e apenas com um movimento dos dedos a pesada porta de ferro abriu soltando um rangido como se suplicasse por óleo.
Os recém-chegados entraram sem hesitação no jardim – queriam se afastar das criaturas medonhas. Dirigiram-se às grandes portas de madeira, que provavelmente estavam infestadas de cupins.
- Alohomora – ordenou Snape.
Assim que a porta abriu com um rangido alto e grave, um cheiro de podridão e poeira acumulada durante anos recebeu os visitantes. O hall de entrada estava bem iluminado, tendo muitas tochas espalhadas nas paredes.
- Ah, Snape. A que devemos o prazer?- disse um homem parado no pé de uma grande escada de madeira.
O homem se adiantou e Draco, que não o conhecia, olhou com repugnância para
o anfitrião. Ele parecia um rato gigante, e cheirava como um também.
- Expelliarmus! - gritou Snape com raiva. O homem voou uns 5 metros para
trás e bateu com força na parede podre de madeira – Não tenho tempo para suas gracinhas hoje, Pettigrew, onde está o Lord das Trevas? – sussurrou se aproximando bastante do rosto de Rabicho.
- Estou aqui, Severus. Não tem a necessidade de tratar Rabicho assim. – disse uma voz fria e arrepiante. Draco pareceu travar. Snape girou com agilidade no mesmo lugar e olhou para o topo das escadas, lá estava Lord Voldemort, com seus olhos rubros e malignos em Draco.

Snape fez uma pequena reverência – Milorde, está feito. Ele está morto. – sussurrou
Snape com devoção.
- Venham comigo. – disse Voldemort com um sorriso demoníaco nos lábios. E se voltou para trás para um extenso corredor escuro.
Draco olhou assustado para Snape, mas este não retribuiu o olhar. Fez apenas um
sinal com a cabeça para que Malfoy prosseguisse. Subiram a escada e seguiram Voldemort para uma sala iluminada por uma luz bruxuleante. Entraram e observaram seu mestre sentar em uma grande poltrona, muito confortável. Os dois se encurvaram em respeito.
- Creio que pela sua presença aqui, foi você que realizou o feito, não? – indagou Voldemort.
- Sim milorde, mas Draco o desarmou. – murmurou baixinho Snape.
- Não pense que estou feliz com você, mas acredito que desarmar um bruxo como Dumbledore já é um grande feito. Mas por sua culpa, perdi um útil espião. Você merecia ser punido, concorda comigo Draco? – sibilou Voldemort virando seu rosto bestial para Draco.
- Sim, meu amo. Concordo – disse Draco ainda encurvado.
- Mas talvez Hogwarts não permanecesse aberta, o que dificultaria também o trabalho de Severus.Sou um amo misericordioso, irei poupar você desta vez Draco, mas terá mais uma tarefa a desempenhar.
- Muito obrigado milorde. – agradeceu Draco, respirando aliviado.
Voldemort levantou-se bruscamente da cadeira e foi até um armário próximo, o
abriu e retirou uma manta de tom prateado, uma capa de invisibilidade. Voltou e entregou esta para Draco.
- Quero que reúna todos os seus colegas interessados a se juntar a nossa causa, traga-os aqui para serem integrados. Quero que eles o auxiliem na nova tarefa, espionar Harry Potter. Creio que Dumbledore não teria morrido sem deixar Potter preparado para mim. Precisamos vigiá-lo. E desejo que me reportem duas vezes por dia todos os seus movimentos. – disse Voldemort com um brilho maníaco no olhar.
Quando Draco ouviu o nome de seu adversário, levantou a cabeça e suas entranhas
ferveram de ódio e rancor. Ele faria qualquer coisa para acabar com o magnífico Potter.
- Mas ele não está protegido pelo ministério e pela Ordem de Fênix? – indagou Snape
- Minhas fontes me informam que aquele tolo do Scrimgeour não está muito feliz com Potter, o ministro talvez não esteja mais tão interessado em proteger o garoto. Já a Ordem de Fênix vai ter tanto trabalho de agora em diante que a proteção estará enfraquecida - afirmou Voldemort - Sabe encontrar Potter, Draco?
- Sim, ele deverá passar as férias na casa daqueles traidores de sangue imundos, os Weasley – disse Draco empolgado com a nova tarefa.
- Então parta agora. Não tolero mais erros, Draco.Pense que não é só a sua vida que está em jogo aqui. – disse o bruxo perigosamente - Severus, fique aqui. – ordenou Voldemort
Draco se adiantou e beijou a barra das vestes de seu amo, levantou-se e prosseguiu
para o corredor. Voldemort esperou a sombra de Draco desaparecer para começar a falar.
- Precisamos livrar os comensais presos em Azkaban, creio que pode cuidar disso por mim, Severus? – indagou Voldemort
- Sim milorde. – murmurou Snape
- Muito bem, pode sair. – ordenou novamente Voldemort.
Com mais uma reverência Snape se retirou da sala. Voldemort girou sua poltrona e
ficou de frente para a janela, que mostrava uma noite escura e nebulosa. Logo, o seu reinado de terror será completo, sem mais imitações de herói para atrapalhá-lo.

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