Na Casa dos Granger II
Mais de noite, eu estava na sala de casa quando recebi de volta minha coruja. Minha mãe estava comigo, assistindo televisão, e meu pai dormia lá em cima – os remédios o nocauteavam.
Minha mãe desviou o olhar para mim quando a coruja entrou pela janela aberta da sala. Recebi de volta duas cartas. Abri primeiro a de Dumbledore.
Srta. Granger,
É claro que pode permanecer. Minerva não gostou muito da idéia, mas ela sabe o quanto você é uma boa aluna e que não vai abandonar os estudos de jeito nenhum. Se quiser ficar até mais que uma semana, pode; apenas mande uma carta avisando.
Alvo Dumbledore
Sorri para mim mesma e disse:
- O professor Dumbledore me permitiu permanecer aqui por até mais que uma semana, desde que eu avise a ele que vou permanecer mais.
Minha mãe sorriu e olhou curiosa para a outra carta.
- E quanto a essa...?
Olhei para a outra carta em minhas mãos.
- É claro que eu avisei Severo, mãe... Só quero ver o que ele escreveu aqui.
Respirei fundo e abri a carta lentamente, consciente do olhar dela em mim.
Hermione,
É claro que, como um velho rabugento e possessivo que eu sou, não estou muito feliz em saber que você vai ficar longe de mim mais uma semana, mas é claro que eu entendo que abandonar o pai numa hora dessas seria uma atitude muito ingrata da sua parte.
Mesmo assim, espero que saiba, sua grifinoriazinha insolente, que eu te amo.
SS
Eu sorria mais à medida que lia a carta e a minha mãe devia estar curiosa, porque eu sentia o olhar dela firme em mim.
- É apropriado você me dizer o que ele diz aí?
Eu ri.
- Claro, mãe. O Sevie é sempre tão formal...
Li a carta para ela em voz alta e depois guardei-a.
- Grifinoriazinha insolente? – perguntou ela.
- Ele é diretor da Sonserina – esclareci.
Minha mãe ainda tinha uma olhar de dúvida.
- O jeito de ele escrever é mesmo muito esquisito.
- Mãe, ele é esquisito. Você vai ficar apavorada quando o vir – eu disse. – E você provavelmente nunca vai gostar dele, porque ele é muito fechado. Só o Dumbledore, eu e talvez madame Pomfrey sabemos como ele é de verdade. E ele não faz nenhuma questão de ser amado por todos, pelo contrário. Mas eu tenho uma esperança de que ele queira impressionar vocês só para me agradar. Ele já conseguiu evitar azarar o Harry algumas vezes, e isso é bom.
Minha mãe não disse nada. Acho que ela queria me convencer a desistir dessa loucura em que eu parecia estar me metendo, mas ela não tinha armas o suficiente, porque eu conhecia muito mais o objeto da conversa do que ela.
Ficamos assim por um tempo. Eu fui pegar um livro que tinha posto às pressas em meu malão e comecei a ler e a fazer anotações.
- Que você está fazendo? – perguntou ela.
- Bom... é que eu tinha uma pesquisa há alguns meses e então decidi apresentá-la a Severo. Ainda não estávamos juntos, sabe, mas ele se interessou mesmo. Então expliquei toda a minha teoria para ele e juro que nunca o tinha visto tão atento a algo quanto às minhas anotações. Ele me cedeu um laboratório ao lado do dele e levou a sério as minhas pesquisas. Ele até chegou a testar o caldeirão que eu projetei numa poção. E deu certo. Juro que deu.
- Hum... vocês trabalham juntos também? – perguntou ela. – E vocês conseguem trabalhar quando estão juntos?
- Claro, mãe – respondi. – Você não o conhece mesmo. Ele é muito mais profissional do que você pensa. Sei que falando só à distância que eu transei com ele parece que ele é um velho safado, mas ele não é nem velho nem safado.
Minha mãe se calou. Acho que ela não queria discutir comigo por causa do meu pai e eu senti que ele melhorando milagrosamente ou morrendo, nós voltaríamos a esse assunto.
A semana foi meio tediosa. Fiquei com meu pai no tempo que ele estava acordado, contando a ele sobre a escola e sobre o mundo bruxo. Ele segurava a minha mão e ficava acariciando-a. Eu segurava o meu impulso de chorar. Sei que teve um dia que minha mãe ficou sozinha com ele mais tempo que o normal. Acho que foi no quarto dia que eu estava lá. Eu sabia qual era o assunto e logo depois minha mãe veio me chamar, que meu pai queria falar comigo.
- Que foi, pai? – perguntei com aquele tom de filha amorosa que eu tinha com eles.
- Sua mãe me contou o que você contou para ela – começou ele. – Não estou em condições de discutir com você agora, mas quero que você me fale sobre ele.
- O que a mamãe te disse? – perguntei.
- Que era seu professor, que tinha quase quarenta anos, que foi comensal da morte, mas que tem a confiança do Dumbledore.
- Hum... é a verdade – disse ela. – Qualquer coisa que eu diga vai parecer que eu disse só porque estou apaixonada, mas não é verdade. Seria melhor que você o conhecesse para saber como ele é.
- Eu confio no seu julgamento, meu amor – disse meu pai. – Fale sobre ele.
Suspirei.
- É o homem mais inteligente que eu conheço. É aquele professor que eu, o Harry e o Rony sempre detestamos, mas desde o começo ele só salva todo mundo e todo mundo sempre o julga errado.
- Um herói incompreendido, então? – perguntou meu pai, com um sorrisinho fraco.
- Mais ou menos. Só que ele é muito seco, muito fechado, não tem muito senso de humor...
- Combina com você, então – disse ele, de bom humor. – Sua mãe está preocupada.
- Os jornais só fizeram falar da parte ruim dele, a parte de ter sido seguidor de Voldemort, mas ninguém nunca falou o que ele fez para derrotar aquele cara. E mamãe lê os jornais bruxos, você sabe.
- Eu leio de vez em quando, mas ela tem mania de ler para mim – disse ele. – Fale mais sobre ele.
- Bom... ele sempre foi um bom professor, mas meio impaciente com alunos desinteressados. Mas depois que ele começou a analisar a minha pesquisa, ele me cedeu um laboratório ao lado do dele, porque ficou muito bravo quando soube que eu fazia experimentos no meu quarto. Agora ele está me ajudando a registrar uma poção que eu criei. E ele é muito profissional; ele separa as coisas totalmente.
Meu pai ainda me olhava e eu sabia qual era a parte de Severo que ele queria que eu comentasse, mas eu preferia que ele abordasse o assunto antes.
- Ele não machucou você não, né? – perguntou ele, me olhando atentamente.
- Céus, não! – exclamei horrorizada. – Severo não poderia me machucar. Ele tem medo de fazer isso, na verdade. Ele se afastou de mim tanto quanto podia antes de nós... bem, nos entendermos.
- Ah, a culpa é sua, então – disse meu pai. – Eu sabia. Sabe, eu e a sua mãe fomos assim também; a iniciativa foi dela.
Eu sorri. Ele piscava os olhos lentamente.
- Agora, vou deixar você dormir. Depois nos falamos mais, se você quiser mais detalhes sobre ele.
Meu pai pareceu querer falar mais alguma coisa, mas dormiu antes. Suspirei e deixei o quarto, indo para a sala encontrar minha mãe.
- E o que ele disse? – perguntou minha mãe, parecendo ansiosa.
- Parece que você falou muito mal do Severo – resmunguei, brava.
- Eu não menti.
- Mas você fez parecer que ele é o demônio.
- Ele não é?
Olhei para ela, séria, pensando em uma resposta mais grossa que a outra, mas, por fim, disse:
- Não, mãe. Você está julgando uma pessoa que você não conhece pelo que alguém escreveu num jornalzinho sensacionalista de merda.
Eu me sentei e peguei o meu velho livro, anotando mais coisas, e sentia o olhar dela em mim.
- Olha só como você está falando com e sua mãe por causa dele.
- Não é por causa dele, mãe, é por sua causa – eu disse, sem erguer o olhar do livro. – Eu só estou defendendo alguém que está sem defesa no momento.
Ela pareceu querer dizer mais alguma coisa, mas foi para a cozinha em silêncio. Eu não a culpava. Ela não poderia aprovar uma relação entre eu e um ex-professor de péssima fama. Mas ela poderia pelo menos confiar em mim e no meu julgamento. E na educação que ela me deu, só para variar um pouco.
Os três dias seguintes eu passei no meu quarto, estudando e saindo apenas para comer e para ver meu pai, quando ele acordava. Ele fez mais infinitas perguntas sobre Severo e, em algumas dessas vezes, minha mãe estava presente.
Um cardiologista amigo da família veio ver meu pai. O médico do hospital havia recomendado duas semanas de repouso. Não havia cirurgia que o salvasse, segundo os exames e as análises de vários médicos, portanto não havia o que fazer no hospital. O cárdio que foi em casa foi vê-lo para ver se algum milagre havia acontecido ou se ele ia morrer logo.
- Quantos dias você acha que eu tenho, Alan? – perguntou meu pai.
- Bom, se você quer que eu seja sincero... Uns dois... – disse o médico.
Eu e minha mãe nos abraçamos e choramos baixinho. Meu pai desviou o olhar para o outro lado e murmurou:
- Isso é tão... patético!
Meu pai adormecia novamente. Minha mãe perguntou:
- Você está falando com certeza ou você supõe?
- Eu não tenho certeza de nada. Mas isso é muito raro... E nem vou falar o nome inteiro da doença que não preciso disso para mostrar que eu sei. Só que é uma doença degenerativa. E que não tem mais jeito a menos que você creia em mágica! Isso é horrível, mas eu fiz até onde estava a meu alcance...
Corri para escrever uma carta para o Dumbie e outra para Severo, explicando o que acontecera, que eu ia ficar com meu pai até a hora da morte dele, dentre outras coisas.
Na mesma noite, em que eu aguardava ansiosa a resposta, na sala, em companhia da minha mãe, tentando fazê-la parar de chorar, a coruja veio, mas só trouxe uma resposta de Dumbledore.
Minha cara srta. Granger,
Mas sem dúvidas que você pode ficar. Só quero pedir um favor para você. Escreva para o Severo e implore para ele sair dos aposentos dele, que ele passou lá dentro essa semana inteira, desde que recebeu a sua carta; não comeu nada além de algumas porcarias... Não sei o que se passa...
Alvo Dumbledore
Minha mãe me olhava, curiosa, e eu li a carta em voz alta.
- Mas como ele é criança. Se isso for chantagem para eu voltar para lá eu vou ficar muito irritada com ele – murmurei, lendo a carta outra vez e já preparando pena e pergaminho para xingar Severo de tudo que é nome.
- Nossa, olhe, o Dr. Brown esqueceu a maleta dele... – murmurou a minha mãe.
Ela mal disse isso e a campainha tocou.
- Ah, deve ser ele – disse ela. – Vou lá abrir.
Eu não vi nada; estava escrevendo, irritada, pronta para matar alguém. Eu esperava o mínimo de consideração da parte de Severo.
Minha mãe logo voltou.
- Filha.
- Que é? – perguntei, sem erguer o olhar.
Houve um silêncio; ouvi uma voz barítona:
- Mas que falta de educação, srta. Granger.
Ergui o olhar e sorri para Severo Snape. Ele estava ligeiramente mais magro, mas arrumado. Vestia roupas trouxas, mas das mais formais possíveis. Levantei e me aproximei. Ele recuou um pouco, olhando incerto para minha mãe e depois para mim.
- Eu contei a ela, Sevie – eu disse calmamente, lançando para minha mãe um olhar que dizia “é esse aí que você achou um velho safado”.
Severo olhou para ela com incerteza outra vez e, suspirando, me abraçou com força. Eu sorri por cima do ombro dele para minha mãe, que apenas nos olhava e nem imagino o que ela estava pensando.
Quando ele me soltou, eu disse:
- Acabei de receber uma carta do Dumbledore me pedindo para escrever para você sair do quarto. Já ia te escrever te xingando. O que aconteceu?
- Você escreveu uma carta me dizendo que ia ficar mais uma semana porque seu pai estava muito ruim – ele respondeu, como se fosse óbvio. – E vim porque você me disse que ele vai morrer porque a doença é degenerativa.
- Sim. E aí? – perguntei, impaciente.
- É claro que eu gostaria de conhecer o seu pai – disse ele, quase ofendido.
- Severo, esta não é uma hora muito boa – eu disse, paciente.
- Na verdade, esta é a melhor hora. Vai me levar até ele ou eu mesmo terei eu procurar?
Peguei-o pela mão e saí puxando-o escadas acima; minha mãe, apavorada, vinha atrás. Bati à porta e ouvi um fraco “Entre”.
- Pai – eu disse, entrando antes. – O Severo está aqui.
Meu pai se mexeu na cama, se ajeitando.
- Entra, Sevie – murmurei.
Ele entrou e encarou meu pai com um olhar de Mestre de Poções e eu tive vontade de xingá-lo.
- Então foi você que roubou a minha filha de mim? – perguntou ele para Severo.
Severo me olhou com uma cara de interrogação e eu expliquei:
- Ele acha que amo mais você do que ele.
- Ah... entendo – disse Severo, pouco confortável. – Bom... para amar um pai não é preciso muito força de vontade, mas amar alguém como eu... já é um pouco mais difícil.
- Do que você está falando? – perguntou meu pai.
- Do Profeta Diário – respondeu ele, com a voz uniforme. – No caso de vocês. No caso dela... dos seis anos em que fui professor.
- Sevie... já falei para você parar com isso – eu disse.
- Bom... é claro que eu não teria a mesma Hermione de volta em Hogwarts depois que o pai dela morresse – disse ele, sério.
Minha mãe voltou a chorar, mas baixinho.
Severo olhou para ela e depois para mim.
- Tire ela daqui – disse ele.
Olhei para ele, pronto para brigar com ele pela grosseria dentro da minha casa, mas minha mãe olhou para ele com olhos arregalados.
- Mas é com isso que você... Hermione, meu Deus do Céu, eu não posso acreditar em você! – disse ela, histérica.
Snape tinha o velho ar profissional, a velha armadura. Desconfio que ele só a pôs porque estava muito nervoso.
- Hermione, minha grifinoriazinha insolente... tire a sua mãe daqui antes que eu tenha que enfeitiçá-la – disse ele, num tom que eu conhecia bem.
- Mas é muita ousadia a sua vir aqui na minha casa para me... – começou ela.
- Mãe, acho que ele quer conversar com o papai – murmurei.
- Mas você está louca que eu vou deixar esse homem a sós com o meu marido!
- Sra. Granger, se ele está morrendo não há problema nenhum em deixá-lo a sós comigo mais uns minutos – disse Severo, pacientemente, com um tom letal.
Ela já ia para cima dele, mas Severo tirou a varinha.
- Sevie! – gritei. – O que você vai fazer com a minha mãe?
- Pretendia assustá-la – respondeu ele, sério, seco.
- Mas, Amélia, deixe-o falar comigo, antes que você faça a Hermione brigar com ele!
Snape virou-se para meu pai, e eu e minha mãe junto.
- Oras, se você não confia na sua filha, eu confio – disse ele. – E ele está certo, por mais que tenha falado de um jeito muito direto. Mas a Hermione já tinha dito que ele era assim, então qual é a novidade? Deixe-nos.
Snape guardou a varinha e fez uma pequena reverência em respeito. Eu consegui arrastar minha mãe para fora.
Ficamos as duas na frente da porta – fechada – do quarto, ouvindo apenas alguns murmúrios, mas sem distinguir palavras. Ela andava de um lado para o outro.
- Ele já matou muita gente... por que não mataria seu pai? – perguntou ela.
- Mãe, como você está sendo burra – resmunguei. – O Sevie não viria à minha casa, matar o meu pai a troco de nada.
- Eu gostaria de confiar nele metade do que você confia – retrucou ela.
- Tente conhecê-lo – tornei, brava.
Mais alguns minutos e vimos Severo abrir a porta do quarto.
- E meu pai?
- Ele é muito engraçado – disse Snape, calmamente. – Lembra um pouco você... Mas está dormindo agora.
- Dormindo? – minha mãe correu para dentro e testou a pressão sanguínea do pescoço dele.
Severo analisou a cena com visível pesar.
- Desculpe por isso – sussurrei, abraçando um braço dele.
- Eu acho que agiria igual se um homem estranho falasse comigo do jeito que falei com ela – disse ele, no mesmo tom derrotado. – Mas você sabe o quanto minha paciência é escassa, principalmente com histeria.
- Está vivo – disse ela, desconfiada.
- Claro que está – disse Snape. – Acho que o efeito dos remédios...
- É assim mesmo, ele dorme toda hora – eu disse. – Você ta tão abatido! O Dumbie disse que você não comeu direito. Vem, vamos fazer alguma coisa para você comer...
Severo ficou parado, sério.
- Não imponho a minha presença – disse ele, e lançou um olhar de relance para minha mãe. – Vou para Hogwarts e como alguma coisa por lá. Prometo. Quando você for voltar, escreva... Eu venho buscar você.
- Eu sei aparatar, Sevie – murmurei, com um sorrisinho.
- Não tem problema, eu venho mesmo assim – tornou ele, finalmente permitindo um meio sorrisinho aparecer.
- Ahn... me desculpe – disse minha mãe. – Eu... eu fiquei apavorada... Eu não conhecia você... E você está com a minha filha e...
- Eu estava preparado para este tipo de preconceitos, sra. Granger – disse Severo polidamente.
- Minha filha me mata se você for embora assim – disse ela, desconcertada. – Fique para o jantar ou você vai separar mãe e filha para todo o sempre.
- Mas como você é dramática, mãe! – exclamei. Eu me virei para o Sevie e disse: – Se você não ficar para comer você pode esquecer que me conheceu. Nunca mais olho para você.
Ele arqueou a sobrancelha direita.
- Deixe-me avaliar as possibilidades... – ele disse, mas tinha um meio sorriso.
- Não tem possibilidades – eu disse.
- Bom... levando em conta que você não vai conseguir ficar longe de mim por mais que dois dias... – começou ele.
Dei um tapa forte no braço dele.
- Repete isso, seu sonserino cabeça-dura! – exclamei. – Vai, fala!
- Em respeito à sua mãe eu vou permanecer calado – disse ele.
- Nem começa a me ameaçar – eu disse, me afastando dois passos, rindo.
- Mas eu não estou ameaçando. Eu não faço isso. Eu só ajo.
Desatei a rir; minha mãe fez uma careta e disse:
- Eu vou fazer a janta. Sr. Snape, venha comigo. Ainda temos que conversar.
- Mas eu é que estou há mais de duas semanas longe dele, mãe – resmunguei.
Descemos as escadas de mãos dadas; minha mãe ia à frente, pensativa.
- O que que ela ta pensando? – perguntei para o Sevie aos cochichos.
Ele sorriu.
- Ela está dividida entre o medo que tem de mim e dar um crédito ao que você fala a meu respeito, resumidamente – sussurrou ele de volta. – A cabeça dela é muito bagunçada.
Minha mãe parou de chofre na escada e olhou para nós.
- Como assim?
- Ahn... lembra quando eu te falei sobre legilimência, mãe?
- E?
- E o Sevie é um legilimente quase tão bom quanto o Dumbie.
- Quase? – perguntou ele.
- Ah, sei lá, né. O Dumbie é o Dumbie. Eu tenho certeza que não conheço metade do poder dele.
- É, nem dez por cento, na verdade – disse Snape, calmamente. – Mas é normal; ele parece mesmo um velhinho inofensivo. Isso o torna potencialmente muito mais perigoso que eu. Qualquer pessoa que olhe para mim já espera o pior, não concorda, sra. Granger?
Minha mãe desviou o olhar e voltou a descer as escadas.
- Saudades de dar aula de Poções, é? – perguntei com a voz arrastada. – E esse olhar assassino intimidador aí?
- Aula de Poções? Devo admitir que sinto falta. Mas eu pego essas aulas de volta quando você se formar. Dumbledore não vai manter a srta. Voltaire por lá muito tempo.
- Claro que não – eu concordei. – Ela é muito burra.
- Aliás... – disse ele. – Você ficou à toa o dia inteiro nesses tempos ou aproveitou para fazer alguma coisa?
- Bom... eu fiz umas anotações... sobre alguns ingredientes que achei que podíamos explorar mais.
- Ah... então agora é “nós” – disse ele. – Eu não acredito que estou incluído nos seus projetos.
- Vai debochando – retruquei.
Minha mãe chegou à cozinha e foi pôr o avental. Eu a imitei.
- Hermione cozinha? – perguntou Severo.
- Não tão bem como minha mãe – eu disse.
Mas ela disse ao mesmo tempo:
- Muito bem; até melhor que eu.
- Agora não sei em que acreditar – disse Severo.
- Em mim, claro – eu disse.
Minha mãe começou a cozinhar.
- Ahn... eu sinto muito por ser tão rude, mas a Hermione é minha única filha... é claro que ela é minha jóia mais preciosa – começou ela, cortando batatas.
- Mas claro – disse Severo, polidamente.
- Quando foi que você se interessou pela minha filha? – disparou ela.
Prendi a respiração e olhei para ele. Ele simplesmente me ignorou. Olhava para o chão, pensativo.
- Acho que você vai acabar me matando se eu responder. Mas não sei mesmo. Foi um processo longo. Ela me interessa desde que entrou na escola – minha mãe olhou para ele, escandalizada, e ele prosseguiu: – Poucas vezes eu havia visto uma aluna tão brilhante...
- Pelo que eu me lembre, Hermione sempre vinha muito magoada por causa de algo que você disse a ela.
- Naturalmente. Na época da guerra, eu tinha que favorecer meus alunos sonserinos. Ser injusto. Sempre foi assim. É como eu tinha que parecer. Mas depois... aos poucos... Ela era a única que me respeitava enquanto professor, não por medo, mas por respeito natural mesmo. Muitas vezes cheguei a comentar com o diretor que ele devia explorar mais o brilhantismo dela, mas isso não podia e não devia sair de dentro da diretoria. Mais para frente, no terceiro ano dela... Ela foi a única que entendeu o motivo de eu ter pedido a redação sobre lobisomens... e conseguiu deduzir que Lupin era um a partir do estudo dela... Era um motivo de admiração. E depois de ter lutado bravamente, porque a sua filha faz isso desde que a conheço, ela estava na enfermaria... Ajudei madame Pomfrey a cuidar dos alunos trazendo todo o tipo de poções de que eles precisavam... Percebi que estava mais preocupado com ela do que com os outros. Bom, a princípio achei que isso fosse por causa do meu ego, já que ela era a única aluna de um nível baixo de poções que não era uma cabeça-oca.
Eu ri a isso.
- Silêncio, srta. Granger – disse ele.
- Sim, senhor – respondi.
- Então, no quarto ano... Bem , acho que aí veio a minha primeira noção de que ela... me interessava mais do que uma aluna deve interessar a um professor. Sim, eu sei que ela tinha só 14 anos. Foi no Baile de Inverno. Quando a vi com um ser humano chamado Victor Krum.
Eu sorri.
- Eu simplesmente não me conformei que ela estivesse saindo com aquela criatura estúpida – disse Snape.
- Calma, Sevie – eu disse.
- Ah, mas ele era muito estúpido. Principalmente por ser aluno de Karkaroff. Mas até aí eu ainda era capaz de negar qualquer coisa para mim e de atribuir essas ilusões às muitas maldições Cruciatus que recebi nesses últimos quase 20 anos...
Senti minha mãe apertar um pouco o meu braço, como que aflita.
- No quinto ano não tive mais dúvida nenhuma. Ela na Ordem da Fênix, muito mais inteligente do que qualquer um daqueles dois moleques, o raciocínio dela já tinha me fascinado desde antes. Sim, sra. Granger, não sou um velho depravado que fica tendo fantasias com crianças. Ela é mesmo mais velha do que é.
- Isso eu sou a primeira a concordar... Ela me assusta às vezes – murmurou a minha mãe.
- Depois de tudo, do Ministério, quando ela ficou na ala hospitalar... Eu me vi algumas vezes parado, olhando para ela, esperando-a melhorar. Madame Pomfrey pegou uma ou duas dessas cenas e ficou me aborrecendo com isso. Então veio o sexto ano e toda aquela confusão de mal entendidos envolvendo Dumbledore. Já fui informado, srta. Granger, de que você ajudou a provar a minha inocência antes de Dumbledore voltar...
Arregalei os olhos.
- Como você ficou sabendo? Ahn... quero dizer... quem te disse isso?
- O Dumbledore mesmo... no dia do meu... ahn... afastamento.
- Aquele fofoqueiro. Ele tinha prometido que não ia contar!
- Ele deixou escapar, na verdade. Mas, continuando... Eu queria que você tivesse sabido que era tudo um arranjo meu com o diretor, Hermione, mas eu não tinha ousadia de propor isso a ele. E nem de contar a você. Se eu pedisse que você ficasse mais um tempo na sala você provavelmente acharia que eu ia azarar você.
- Pelo seu comportamento na época, talvez sim.
- E então todo aquele ano infernal de perseguições, lutas, mortes, e outras coisas de que não gosto de me lembrar... – continuou ele. – Sempre que eu ouvia falar de Hermione Granger eu ficava mais atento e muito me machucava ter de chamá-la de “sangue-ruim”... Mas, ainda assim, eu chamava. Agora... quanto a saber que seus pais estavam vivos, eu mesmo só soube quando o diretor me falou do infarte do seu pai... Até para mim eles estavam mortos... e por isso a sua péssima situação financeira.
- É... isso foi arranjado pelo Dumbie... – eu disse. – Para caso algum comensal resolvesse reaparecer... e tentar me atingir. Eu sou a melhor amiga do Harry, umas das melhores alunas de Hogwarts... participei de muitas batalhas e missões pela Ordem... decidimos manter em segredo... Mas agora, acho que nem precisamos mais disso.
- Hum... é verdade. E agora... o grande final, sra. Granger. Acho melhor você pegar a vassoura para me bater, porque se você perguntou é porque quer uma resposta.
- Sevie, olha o que você vai falar – eu disse.
- Depois de pouco mais de um ano sem ver a srta. Granger... – ele disse, em tom de suspense. – E a vi ali, segura, de novo perto de mim... Fiquei... apavorado. Essa palavra descreve bem como me senti. Eu não tinha mais controle sobre mim mesmo. Se eu achava que tanto tempo longe dela teria servido para esquecê-la, eu estava muito enganado. Quando a vi de novo, quis abraçá-la e nada mais que beijá-la, mas eu não fiz isso. Eu disse algo bastante rude.
- Novamente tenho o desprazer de vê-la, srta. Granger – eu murmurei, com algumas lágrimas nos olhos.
- Não chore! – ele disse. – Pare com isso. Já foi insuportável ver você assim o ano inteiro. Eu gostaria de ter sabido antes que era por minha causa.
- Eu odeio mal entendidos – murmurei, enxugando as lágrimas que tinham ameaçado cair.
- Mas chegou uma hora que... Entenda, sra. Granger, Hermione já não era mais só uma garotinha que eu amava e admirava... Agora era... mulher. Ou, quase uma.
Corei até a raiz dos cabelos.
- dessa parte eu não quero saber – disse ela.
- Mas eu não vou falar sobre essa parte – disse ele. – Detesto me expor. Eu só ia dizer que estava insuportável continuar dar aulas... e... enfim, espero que você me entenda.
- É, acho que sim.
- Aliás, foi muito feliz que o diretor tenha me afastado – disse Severo. – Eu estava a ponto de pedir demissão eu mesmo.
- Nossa, e o povo achando que o seu problema era só mal humor – murmurei.
- Para você ver só como são as coisas – disse ele.
Caímos em pesado silêncio. Minha mãe, em silêncio, foi preparar a comida e eu, em vez de ajudá-la, me sentei à mesa e repousei as minhas mãos em cima das dele. Ele imediatamente passou a acariciá-las com os polegares.
- Deve ter sido horrível – sussurrei. – Por que você não me contou nada disso?
- Estou me sentindo um adolescente inconseqüente, daqueles que leva tudo a ferro e fogo – disse ele, com um suspiro abatido.
- Você não teve tempo de ser adolescente inconseqüente – murmurei, sorrindo para ele.
Ele ainda acariciava minhas mãos e nós nos olhávamos nos olhos. Só com os lábios em movimento ele me disse um “eu te amo” que me fez sorrir entre lágrimas.
- Sevie, obrigada por estar aqui – eu disse.
- Eu não imagino outro lugar onde poderia estar – disse ele, beijando cada uma das minhas mãos. – Agora, é melhor você ir ajudar a sua mãe.
Eu sorri e me levantei, sentindo o olhar dele em mim. Tenho a vaga impressão de que minha mãe havia assistido a toda a cena, mas isso não importa. Fizemos o jantar e o servimos logo. Severo, muito educado, logo começou um conversa sobre qualquer coisa trouxa, que ele queria entender, e minha mãe se pôs a falar, nem parecendo a histérica de antes.
Quando terminamos de jantar, eu lavei a louça e minha mãe secou-a e guardou-a, enquanto o Sevie nos observava. Estávamos ainda os três na cozinha, quando ela disse que ia subir para ver meu pai e já voltava. Eu continuei lavando a louça e logo senti Severo aproximando-se e me abraçando por trás. Os lábios dele logo pousaram no meu pescoço e ele sussurrou:
- Espere só até você voltar a Hogwarts.
Fechei os olhos. Estava com saudade do toque dele.
- Mal posso esperar – murmurei, com a respiração entrecortada. – Queria ver onde estava esse lado que você escondeu tão bem.
- Esse e um lado que só você precisa conhecer – sussurrou ele, logo subindo as mãos para os meus seios e massageando-os por cima da blusa.
- Severo... é melhor parar com isso – murmurei.
- Eu sei, mas quem disse que eu consigo? – perguntou ele.
Eu me virei de frente para ele e envolvi os braços no pescoço dele. Ele envolveu a minha cintura e me beijou. Que saudades daquele beijo delicioso! Demoramos a separar nossos lábios e, mesmo assim, só o fizemos porque ouvimos passos da escada.
- Minha mãe tem passos silenciosos – murmurei, sorrindo. – Ela deve estar querendo avisar que está vindo...
- Você quer seguir o que a sua mãe pede ou quer fingir que não ouviu? – perguntou ele, ainda envolvendo a minha cintura e eu ainda envolvia o pescoço dele.
- Tanto faz – eu disse.
- Então é melhor ela ver um lado mais comportado de nós dois – disse ele, aproximando os lábios dos meus outra vez.
Dessa vez o beijo foi mais lento, mas profundo, menos desesperado. Mas que saudades. Pela força com que ele apertava a minha cintura eu bem percebi que ele tinha sentido minha falta. Aliás, verdade seja dita, ele estava excitado. Eu só esperava que desse para esconder isso da minha mãe, se não ela ia ficar apavorada.
- Mas não posso deixar vocês sozinhos! – exclamou ela, e pude sentir um tom de riso na voz dela.
Nós nos desvencilhamos, um pouco assustados – fingidamente.
- É... sem chance de aprovação? – perguntou Severo.
Ela fez uma careta.
- Vou pensar mais sobre isso. Por ora, quero pedir que fique aqui, sr. Snape – disse ela. – Meu marido não parece estar muito bem e... bom... Fique.
Severo assentiu e fomos para a sala. Eu me sentei no sofá e fiz sinal para ele se sentar ao meu lado. Minha mãe sentou-se na poltrona dela e ligou a televisão.
Severo olhou para esta com muita curiosidade e depois para mim.
- Chame-se televisão – eu disse. – Manda ondas eletromagnéticas por satélite para todo o mundo, dependendo de qual emissora for...
- Ondas eletromagnéticas? Como a luz?
- Sim... E tem as ondas sonoras também... manda muitas ondas, na verdade... Mas é difícil explicar... Acontece que você liga e vê o eu estão passando em qualquer lugar. Por exemplo, esse canal aqui é a BBC... Ele passa em vários lugares. Mas tem outros que não passam tanto... Uns só ficam aqui por Londres... Uns cobrem de Sussex a Manchester... Depende de muitas coisas... Mas isso aqui não é mágica. Mágica é que a gente faz, de transformar uma coisa em outra e de desaparecer em um lugar e aparecer em outro. Para a televisão tem muitas explicações...
- Para a magia também! – exclamou ele, quase ofendido.
Eu apenas sorri. Não ia começar discussões que minha mãe não entendesse. Olhei para a TV.
- Putz, o Liverpool perdeu de novo! – exclamei, olhando para a TV.
- Mas o que é isso? – perguntou ele, analisando um jogo de futebol como quem olha para uma coisa fantástica.
- Chama-se futebol. É um esporte, igual quadribol.
- Mas para que serve chutar uma bola e sair correndo atrás dela? – perguntou ele, como se aquilo fosse mesmo uma atividade imbecil para ele.
Minha mãe caiu na gargalhada, mas logo ficou séria.
- Eu queria ver o seu pai ouvindo isso... – murmurou ela.
- Ele é torcedor do Liverpool – eu expliquei, apontando a televisão.
Ficamos em silêncio. O clima foi pesando à medida que eu me lembrava do meu pai, sozinho no andar de cima, dormindo, nocauteado por remédios. E lágrimas me vieram aos olhos enquanto eu pensava que Severo podia ter sido o último a falar com ele.
Senti a mão dele no meu ombro.
- Mas pare de chorar, menina – murmurou ele, e deu um beijo no meu rosto.
- Não... não dá, Sevie – eu disse, começando a chorar de verdade.
Ele me abraçou com força e eu deitei a cabeça no peito dele. Senti que ele acariciava a minha cabeça e me lembro de ter adormecido.
Quando acordei de manhã, estava sozinha, deitada na minha cama. Eu não sabia se aquilo era um sonho, ou se eu estava sonhando até ali. Fui até o banheiro, fiz o que tinha que fazer e depois desci. Queria ter abraçado Severo mais antes de ele ir.
Mas, quando entrei na cozinha, vi minha mãe, à mesa, abatida, e Severo, em pé, com uma das mãos no ombro dela, dizendo para ela ter calma.
- Você ficou aqui? – perguntei para ele. – Ou foi e voltou?
- Eu fiquei – ele disse. – A sua mãe... eu já vi muita gente que perdeu parentes, mas isso nunca me afetou de verdade.
Eu dei um sorrisinho para ele e o beijei. O silêncio pesava na minha casa e vi Severo erguer o olhar e fazer um aceno com a cabeça.
Imediatamente olhei para trás, para a porta que dava para a sala e vi ali, em pé, meu pai, parecendo mais saudável do que alguma vez fora.
- PAI! – gritei, em êxtase. E corri para abraçá-lo com força.
Minha mãe ergueu o olhar e lágrimas descontroladas caíram dos olhos dela. Ela se levantou, e me pareceu que ela achava que aquilo era um sonho. Nós três nos abraçamos e vi Severo, encostado a uma parede do outro lado, de braços cruzados, com um sorrisinho contido nos lábios.
- Mas... mas o que aconteceu? – perguntou minha mãe, dando um monte de beijos no rosto do meu pai, desmentindo a lendária frieza dos ingleses.
- Aquilo tinha um gosto horrível... – começou meu pai, fazendo uma careta. – Mas meu genro me fez beber até o fim...
Nós duas nos viramos para ele, que suspirou.
- Eu tinha dito que não era para você contar a elas – disse Snape, sério.
- Eu me lembro de uma vaga referência a isso – disse meu pai.
- Sevie... você ficou uma semana sem sair dos seus aposentos... – comecei, mal contendo um sorriso.
Ele suspirou.
- Você me mandou uma carta, apavorada. Eu já tinha uma pesquisa que fazia alusão a esses males humanos... Mas estava meio parada. Tive que desenterrar tudo, reler as minhas anotações antigas, iniciar novas, ler sobre medicina trouxa, achar o ingrediente que faria a poção agir sem trouxas... isso não me deixou muito tempo para comer ou dormir... Eu queria ter certeza de que funcionaria, mas logo me chegou a sua carta dizendo que ele ia morrer de qualquer jeito e achei que, se ele ia morrer com certeza, não havia mal em tentar deixá-lo vivo... Só não falei antes porque temi que não desse certo... Achei que poderia não funcionar em um trouxa... E não quis dar esperanças falsas e...
Eu pulei nos braços dele e o beijei sem nenhum constrangimento.
- Meu Deus, Sevie, como eu te amo! – exclamei, abraçando-o com força.
- Mas que coisa mais interessante – comentou ele, com um tom de ironia assassina. – Você me ama porque eu salvei o seu pai e eu salvei o seu pai porque te amo. Quem é mais nobre?
Eu ri e o beijei de novo.
- Vamos parar com isso aqui na minha frente – disse meu pai, ainda com o braço em torno dos ombros da minha mãe.
Minha mãe parecia absolutamente constrangida, apesar da cor ter-lhe voltado à face.
- Meu Deus, sr. Snape... Me desculpe... – murmurou ela, sem conseguir encará-lo.
- Sua filha deve ter informado que sou a pior espécie de pessoa, daqueles impiedosos... e é a verdade – disse Severo, sério. – Mas você é a mãe dela, então eu me obrigo a perdoar qualquer ofensa... Mas você não me ofendeu, saiba: estou mais que acostumado a isso tudo.
Ele olhou para mim.
- Agora, mocinha... Acho melhor voltarmos para Hogwarts... Antes que Minerva tenha um acesso...
- Hoje é domingo – lembrei.
- Ou você pode ficar aqui até mais tarde – disse ele.
Suspirei.
- Bom, acho melhor eu ir... assim vou pegando a matéria que eu perdi...
- A matéria – repetiu meu pai, com um fundo de sarcasmo.
- Pai! – exclamei.
- Eu sou homem, filha... E tenho uma idade parecida com a do...
- Pode me chamar pelo meu nome – disse Snape calmamente. – Mas pode ir parando, que eu tenho 38... E você tem 53, que eu sei.
- Ah, 38! Viu, mãe, eu disse que não chegava a 40! – exclamei, abraçando o tronco de Severo.
- Ta, ele é mais novo que eu – ela murmurou.
- Acho que não teria havido problema se não fosse pela minha idade – comentou ele. – Mas não sou um velho pervertido... Bom, isso também.
Eu gargalhei.
- Olha as coisas que você fala na frente do meu pai – disse ela.
- É que você não ouviu as que eu falei para ele – disse meu pai.
Olhei dele para Severo e depois para minha mãe.
- O eu vocês conversaram? – perguntou ela.
- Ah... ele me explicou sobre a poção e me convenceu a tomá-la – disse meu pai, encolhendo os ombros com cara de inocente.
Severo deu um pequeno meio sorriso e disse:
- É, foi bem isso.
- Sei, sei... Pode deixar, eu faço ele contar, mãe – disse Hermione. – Mas então... Vou só pegar as minhas coisas que eu trouxe e já desço, tudo bem?
- Se você for demorar meia hora para se arrumar... – começou Severo.
- Eu não demoro – eu disse, feliz.
Consegui uns segundos sozinha para pensar. Eu não sabia por que eu estava mais feliz; se era pela cura do meu pai ou se era pelo amor que o Severo me demonstrou. Claro que meu pai ainda ia passar por uma bateria de exames e sua cura seria considerada um milagre pela medicina, mas eu sabia que Severo só tinha feito isso por mim. Comecei a imaginar que tipo de recompensa ele ia querer.
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