A garota da biblioteca
CRÔNICAS DE UM PASSADO OLVIDADO
_Você vai sair com a Longbottom?! – James disparou num sussurro afetado – Enlouqueceu?!
Remus retorquiu um tanto irritado:
_E o que tem demais em ele ter convidado a Longbottom?
James coçou a cabeça nervosamente.
_Ela... Ela é estranha, cara!
Sirius nada falou.
_Estranha por que, Potter? Só porque ela não arrasta a asa para você? – Remus continuou – Só porque ela nunca tentou te enfeitiçar com uma poção do amor ou não te mandou uma coruja?
_Nada disso, Moony! É só porque... É uma Longbottom, sabe... Ela é estranha, só isso.
Sirius continuava em silêncio. Nem ele sabia bem porque tinha convidado justamente Lilobell Longbottom para ir a Hogsmead naquele próximo fim-de-semana. Só lembrava o tempo todo que sua ex-namorada Fany Haight não iria ficar muito satisfeita com a novidade. Com a proximidade do Dia dos Namorados, Fany já tinha tentado enfeitiçá-lo com uma poção do amor de fabricação caseira, na esperança de reatarem o romance. Depois de ter quase sido envenenado, Sirius chegou à certeza que nada o faria voltar atrás em sua decisão. O ego de Fany era maior do que ele poderia suportar. Maior até que o ego de James Potter, que parecia achar Sirius muito estúpido por ter dispensado a garota, que em sua opinião era deslumbrante. Como que adivinhando seus pensamentos, James perguntou:
_Ei, Padfoot, afinal, por que você não volta com a Fany Haight? Ela é bem mais interessante, não concorda, Moony?
_Não acho que o Sirius ainda tenha algum interesse pela Haight, James... Ela provou ser bem asquerosa e... Perigosa! Além do mais, acho melhor deixá-lo decidir por si e começarmos a pensar no dever de casa que o Slughorn passou...
_E eu lá tenho tempo para Poções? – James sorriu de esguelha – Se demorar um pouco mais, me atraso pro treino de Quadribol. Vejo vocês mais tarde!
Sirius grunhiu um “até mais” e seguiu com Remus até a sala comunal da Grifinória.
_Você também acha a Lilo estranha, Remus? – Sirius quebrou o silêncio, no meio do caminho.
_Só porque ela vive com a cara enfiada nos livros? – Remus falou a senha e o retrato da Mulher Gorda se abriu para que eles passassem – É, isso eu também faço, e você há de convir que eu sou muito estranho!
Sirius deu uma risada baixa, sem graça. – Não é... Bem, acho que o James não quis dizer exatamente o que pensa... Acho que ele não quis dizer estranha... Talvez ele a ache feia...
_E o que você acha, Sirius Black? Quem convidou a garota foi você, porque quis, o que você acha dela?
Sirius sorriu, por fim.
Acho a Lilo bem legal! Gosto de ouvir a voz dela, mesmo quando ela está me ensinando Aritmancia ou História da Magia. Gosto do jeito que ela sorri, mesmo quando falo bobagens – ele ficou um pouco rouco – E eu a acho bem bonitinha, principalmente quando está de cabelos soltos!
...
A garota aproveitou que o dormitório estava vazio e puxou algumas roupas do malão que ela ainda não desfizera por completo, apesar de as aulas já terem começado há um bom tempo. Também não havia ali dentro nada que ela gostasse mais de usar do que suas vestes negras da Escola.
Todas as suas roupas eram meticulosamente escolhidas e supervisionadas pela sua mãe e por sua tia-avó. Nada de cores alegres como vermelho azul ou amarelo, já que as três deveriam viver em eterno luto pela morte do pai de Lilo, anos antes. Também não podia mostrar mais que os punhos, e, acima dos tornozelos seria um escândalo. Não podia usar jeans ou qualquer roupa ou acessório da moda e seus cabelos deveriam estar arrumados o tempo todo em um caprichoso coque. Na escola, este último adereço já deixara de ser rotina há muito, e, nos dias de verão, seus braços ganhavam um pouco de cor durante as horas livres à beira do lago.
Não havia muito a ser feito, era seus primeiro encontro e ela não tinha nada o que vestir. Nunca tinha se preocupado muito com isso, afinal, só tinha ido visitar Hogsmead uma única vez, quando criança. Sua mãe não dera autorização, mas o diretor da escola lhe dera passe livre por seu bom comportamento e serviços brilhantes como monitora. Até aquele dia, realmente não tinha feito diferença, já que nenhum colega se dispunha a acompanhá-la. Todos a achavam esquisita demais para a aceitarem num círculo de amizades. Até que Sirius Black, a última pessoa que esperava que lhe dirigisse a palavra, sentou-se ao seu lado na biblioteca e disse sinceramente que estava encrencado com uma redação sobre “as conseqüências da Inquisição para os bruxos e trouxas da época”. Ela tinha esquecido como entabular uma conversa e emudeceu por alguns instantes, mas vendo que Sirius falava sério, pediu para que ele anotasse alguns tópicos e dali tirasse suas conclusões pessoais sobre o assunto-tema da redação.
Uma maneira bem estranha de se aproximar de alguém, ela concordaria com qualquer um. Mas o fato é que deu certo e eles já mantinham essa incomum amizade até quase a metade do ano letivo e Sirius não dera sinais de querer afastar-se. É, eles eram amigos. Ainda que só se encontrassem na biblioteca e, durante o resto do tempo, Sirius estivesse envolvido em certos problemas junto com um tal James Potter, arrogante até o último fio de cabelo, na opinião de Lilobell.
Nada tinha mudado, até aquela sexta-feira, quando eles estudavam para uma prova oral de Transfiguração e Sirius após conseguir transformar uma almofada de alfinetes em caixa de fósforos, perguntou, muito casualmente se ela não estaria a fim de ir a Hogsmead.
Sem se dar conta de que o amigo lhe fazia um convite, ela respondeu sem pensar:
_Não costumo ir a Hogsmead, Sirius Black. Se for para ficar sozinha por lá, prefiro meus livros aqui.
_Mas Lilo, eu gostaria que nós fôssemos juntos...
Ela processou o pedido enquanto seu rosto ia corando aos poucos. Sirius a encarava como habitualmente não fazia, aumentando a sensação de lentidão do tempo; as pessoas ao redor deles pareceram parar de cochichar, o folhear incessante dos livros foi aos poucos diminuindo até que tudo ficou praticamente estático. Ela estava suando e suas pernas pareciam ter ganho autonomia; Seu coração deu um salto quando Sirius pegou em sua mão e sorria, ainda sem tirar os olhos dos seus.
_Vai ser legal... E, além disso, podemos conhecer uns lugares legais por lá...
_É... Seria legal... – Ela deixou escapar, um tanto sonhadora.
_Então tá. Te encontro na sala comunal amanhã de manhã – ele apertou levemente sua mão antes de sair da biblioteca, deixando -a com a mesa apinhada de caixas de fósforos.
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