Nagini



A Última Horcrux
Escrito por: BastetAzazis
Beta Reader: Ferporcel



Resumo: Dark Snape; se você ainda acredita no Snape, talvez não goste destas linhas...Snape, mau que nem pica-pau, mas ainda assim é capaz de sofrer por um amor grande amor. Não Slash.





Capítulo1 – Nagini


Merda!

Merda! Merda! Merda!

Era só o que conseguia pensar quando aquela maldita Marca Negra começou a arder novamente no meu braço. Depois de tantos anos, ele finalmente voltara. E agora exigia que nós, seus servos, fossemos até ele. O problema era que eu já tinha uma posição confortável em Hogwarts e não estava nem um pouco inclinado a deixá-la. Não me entendam mal, eu não ligo para Dumbledore, ou para o maldito Potter, mas não sabia em que condições o Lorde das Trevas voltara, se conseguiria realmente enfrentar Dumbledore ou aquele pirralho; e se ele fosse derrotado de novo, eu não poderia usar a desculpa da morte de Lílian Evans para me safar dessa vez.

Merda!

A Marca não parava de arder. Ele devia estar furioso comigo. Mas eu tinha que garantir minha posição com Dumbledore. Poderia inventar uma desculpa sobre garantir minha posição de espião depois.

Finalmente, Dumbledore me liberou quando achou que já era seguro para eu procurar o Lorde das Trevas sem levantar as suspeitas dos demais professores em Hogwarts.

Velho estúpido! Será que ele realmente acredita que eu ajo sob as ordens dele?

Olhei em volta. Os Comensais da Morte que ainda permaneciam leais já deveriam ter partido; o cemitério estava vazio, escuro. O único ruído que escutava era o som de alguma coisa se arrastando atrás de mim.

Nagini.

Procurei por ela todos esses anos, mas ela preferiu viver entre as cobras que ao lado de um traidor. Não a culpo, mas parece que não é só ao Lorde que teria que dar explicações essa noite.

Merda!

O som foi ficando cada vez mais forte. Olhei para trás. Ela estava logo ali, na minha frente, pronta para dar o bote. Uma cobra gigantesca, a serpente de Slytherin, estava emparelhada comigo.

– Você não vai conseguir me seduzir dessa forma, Nagini – eu disse desdenhoso. – Eu ainda prefiro as curvas da mulher sob estas escamas.

Um silvo feroz saiu do animal, e no instante seguinte, Nagini surgiu na sua forma original. Uma forma muito apreciável, eu devo acrescentar. Os cabelos escuros e lisos contrastando com a pele pálida e os olhos claros, o corpo perfeito infelizmente coberto com as vestes largas que as bruxas inglesas insistiam em usar. Eu teria arrancado aquelas vestes no mesmo instante, não fosse o tapa dolorido no meu rosto.

– Vejo que andou metida no meio de trouxas nos últimos anos – respondi para os olhos furiosos que me encaravam. – Já está virando uma deles.

Outro tapa. Eu ri. Um sorriso cínico. Ela sentira minha falta.

– Traidor! – A voz dela soou pelo cemitério deserto. – O que você veio fazer aqui? Covardes não são...

Eu ouvia aquela voz gritando comigo, mas não conseguia desviar os olhos daquele rosto, daquela boca. Eu não estava interessado no que ela tinha a me dizer, só queria tomá-la em meus braços e calar aquela boca. Ela tentou resistir no início, mas eu a conhecia bem. Meu beijo a domou, e logo a única coisa que conseguia pensar era em tirá-la dali e procurar um quarto discreto, nem a ardência no meu braço conseguia me incomodar mais.

Quando finalmente a soltei, ainda lamentando ter que deixar aquele corpo, ela voltou sua fúria amansada contra mim.

– Lílian Evans? – ela perguntou com os olhos estreitos. – Você nos traiu por causa daquela sangue-ruim?

Minha gargalhada preencheu o ambiente a nossa volta.

Mulheres – pensei divertido.

– Perdoe-me se preferi parecer um tolo apaixonado para não precisar mofar em Azkaban – respondi. – Dumbledore tem um fraco por historinhas de amor e me acolheu como seu protegido. Foi só parecer arrependido por ter contado ao Lorde sobre a profecia.

– É melhor que você esteja falando a verdade, Snape. Meu pai acredita que você nos deixou para sempre e já disse que vai matá-lo por isso.

– Ele verá que eu tenho mais valor permanecendo em Hogwarts.

Assim que essas palavras morreram na noite, ele apareceu. Podia vê-lo aproximando-se por trás de Nagini, sua aparência era diferente de quando o vira da última vez. Ele estava ainda mais desfigurado, os olhos agora vermelhos, ofídios. Eu podia ainda ter dúvidas se ele estava forte o suficiente para enfrentar Dumbledore mais uma vez, mas uma coisa era certa: ele já se recuperara o suficiente para se vingar das minhas tentativas de impedi-lo nos últimos anos. O que eu poderia fazer? Não sou estúpido como o Quirrel ou como o Pettigrew, jamais arriscaria a proteção daquele velho tolo na tentativa de trazer de volta à vida apenas uma sombra do que foi o antigo Lorde das Trevas. Mas agora, parecia que ele realmente havia conseguido, estava de volta e queria vingança. E eu teria que escolher: voltaria a ser fiel a ele? Ou continuaria sob a...

Arrrrgh! Merda!

Uma dor aguda percorreu minha espinha, não podia sentir minhas pernas, não podia me manter em pé. Caí de joelhos no chão, e a fonte da dor cessou, alguns espasmos ainda percorrendo meu corpo.

Levantei os olhos. Nagini estava lá, ao lado do pai recém-renascido, me encarando com uma expressão imparcial.

Arrrrrgh!

Outra maldição. Parecia que o Lorde não estava interessado em ouvir minhas explicações. Desta vez, ele manteve a maldição por mais tempo, a dor espalhando-se pelo meu corpo, me cegando, tirando meus sentidos. Meu estômago se contraiu até sentir que vomitaria como efeito da dor. Mas então a maldição cessou.

Nagini se abaixou até mim, continuando a me encarar com aqueles olhos inexpressivos. Mas eu a conhecia bem e pude desvendar a formação de um discreto sorriso sádico em seus lábios. Pelo menos eu podia ter a certeza que receberia cuidados pela agressão dessa noite. Seria uma proposta irrecusável, não fosse essa dor insuportável no meu corpo. Nagini segurou meu rosto em suas mãos, e a única coisa que ouvi foi um silvo insistente.

Língua de cobra.

Ela estava intercedendo por mim.

Os silvos continuaram. Era impossível deduzir o que estava acontecendo. Meu corpo ainda estava entorpecido, tentando livrar-se da dor ainda instigada pela Cruciatus. Então, ele também se abaixou e me encarou nos olhos, e eu senti sua mente vasculhando a minha, procurando por informações, por detalhes que pudessem me incriminar.

Lutei para repreender um sorriso. Eu e Dumbledore já havíamos nos preparado para Legilimência, minha mente estava fechada para as coisas que eu não queria que ele soubesse. Pelo menos para alguma coisa aquele velho tolo teve serventia. Eu já tinha minha história preparada, foi fácil convencer o Lorde das Trevas de que permanecer em Hogwarts todos estes anos foi a minha maior prova de lealdade, que agora eu poderia lhe fornecer um relatório completo sobre Dumbledore e, ainda, que eu tinha conquistado a confiança do Diretor de Hogwarts. Tudo o que ele precisava para um espião.

Aparentemente, minhas desculpas foram aceitas. Entretanto, minha falta de empenho com a volta do Lorde das Trevas não deixaria de ser punida. As torturas que sofri naquela noite fizeram parte de muitos pesadelos durante meses depois. E Nagini assistiu a tudo impassível; podia sentir os olhos dela cravados em mim, o sorriso contido no rosto. Ela devia estar apreciando meu sofrimento, eu podia sentir o desejo dela cada vez que encontrava seus olhos.

Quando achei que já havia recebido mais Cruciatus que o suficiente para levar qualquer um à insanidade, o Lorde das Trevas finalmente pareceu satisfeito. Levantei os olhos, mas não conseguia focar em nada. Outra enxurrada de silvos e ele se fora, deixando-me aos cuidados de Nagini.

Ela se aproximou de mim, se abaixou e me abraçou. Eu encolhi meu corpo com a dor que sentia ao toque dela, ainda reflexo das últimas maldições.

– Shhh. Só mais um pouquinho, vai passar. – Eu ouvia a voz dela, naquele tom maternal, mas a dor ainda era insistente e só piorava com o toque dela. – Eu vou levá-lo para um lugar tranqüilo e cuidar de você.

Deixei que ela me abraçasse, segurando um grito abafado de dor, e ela me aparatou até minha antiga casa, na Rua da Fiação. O ambiente era abafado e cheirava a mofo, uma vez que estava fechado há quase um ano, desde que as aulas começaram em Hogwarts. Ela murmurou um feitiço e o quarto pareceu mais arejado, meu corpo agora confortavelmente deitado na cama.

Ela pressionou uma poção em minha boca. Eu a bebi, sem condições de contestar, e logo depois senti a dor deixar o meu corpo.

– Obrigado – eu murmurei, fechando os olhos, semi-consciente.

– Não pense que essa noite acabou, Snape. – Eu ouvia a voz dela como se estivesse a quilômetros de distância, mesmo sabendo que ela estava do meu lado. – Você ainda não foi punido o suficiente.

Eu deveria responder, argumentar que, embora a poção tivesse cessado a dor, eu não estava em condições para aquilo, mas seria inútil. Sentia as mãos dela percorrendo meu corpo, me despindo, acariciando. Hoje ela me teria como seu escravo, eu não estava em condições de impedi-la, e depois de alguns minutos, eu já nem pensava mais em impedi-la. Ela sabia como levar um homem a loucura; nem as bruxas profissionais da Travessa do Tranco eram tão habilidosas. Quando minha punição acabou, eu estava exausto, fechei os olhos e caí inconsciente para acordar apenas no dia seguinte.

Quando abri os olhos, ela ainda estava lá, sentada na beirada da cama, me observando. Vestida, infelizmente.

– Certamente seu pai não aprovaria ver a própria filha com um simples Comensal – eu a provoquei enquanto me sentava na cama. Ver aquele corpo coberto era realmente um desperdício.

– É só por isso que eu estou aqui – ela respondeu com um sorriso falso.

Vadia!

Como se eu não soubesse exatamente o porquê dela estar comigo.

– Eu sou a sua forma de puni-lo pelo que ele fez a você? – perguntei. – Por isso você intercedeu por mim?

Ela alargou o sorriso.

– Eu sei que você nunca foi fiel a ele, Snape. Será divertido ter você por perto de novo.

– Então é isso que eu sou para você? Uma forma de vingança contra seu pai?

Ela levantou uma sobrancelha. Um sorriso malicioso nos lábios.

– Eu não acho – respondi.

Aproximei-me dela, para agarrá-la e mostrar-lhe que eu não era seu brinquedinho e que era a minha vez de puni-la por me tratar como se fosse sua presa. Ela não resistiu, e em poucos minutos, eu já não me arrependia mais de ter escolhido o caminho que escolhi. Nagini era como eu, não tinha um mestre, vivia sua vida por conta própria, aliando-se a quem lhe oferecesse as melhores recompensas. Talvez por isso nós nos completássemos. Ela era a única coisa que eu sentia falta dos meus tempos como Comensal da Morte. Agora que esses tempos voltaram, ela era minha novamente.

De repente, vê-la ao meu lado, deitada em minha cama, me fez entender o que ela sentia. De certa forma, ela estava condenada. Se Dumbledore descobrisse sobre as Horcruxes e as destruísse, ela seria o último recurso de Voldemort. Ela carregava um pedaço da alma dele, e jamais perdoara o pai por ter feito isso a ela. Na verdade, para quem conhecia o Lorde das Trevas, não era difícil supor que este fora o único objetivo dele quando procurou uma mulher com a intenção de gerar um filho. Eu queria ajudá-la, livrar-lhe desta maldição, mas a única coisa que podia fazer eram promessas infundadas.

– Não se preocupe – eu disse dando-lhe um beijo na testa. – Há uma vantagem em estar perto de Dumbledore. Eu vou tentar descobrir um jeito de destruir a Horcrux sem afetá-la. Eu prometo.

– É inútil – ela respondeu com um suspiro. – O melhor que tenho a fazer é garantir que ele nunca precise recorrer ao seu último pedaço de alma. Vê a ironia? Eu o odeio, e tenho que ajudá-lo para não ser destruída.

Eu a abracei, era a única coisa que podia fazer para confortá-la. Nós ficamos abraçados por um longo tempo, aproveitando a paz que sabíamos que não teríamos mais quando o Lorde das Trevas começasse seu novo reinado de terror.

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