O Ciclo do Tempo

O Ciclo do Tempo



Capítulo 8
O Ciclo do Tempo


“...
lembra quando rasgamos o peito e o tempo escoou?
eram moedas e flores
e um hálito de pedras ...”
(Weydson Barros Leal)

“O Tempo é um bumerangue.
Há que se cuidar de suas idas e principalmente de suas voltas.”


Ela acordou com um canto irritante soando na cabeça. Na verdade, se estivesse desperta, acharia o canto muito bonito, mas naquele estado só queria explodir o culpado. Ou culpados, passarinhos na janela. Droga... estava tão bom... Procurando se cobrir até a cabeça, Ginny se enroscou num dos travesseiros, e o travesseiro, por sua vez, se enroscou nela de volta.

Abrindo os olhos de súbito, se deu conta de que não, ela não estava em seu quarto de princesa, e de que aquele ali, abraçado a sua cintura, absolutamente não era um travesseiro fofo ou qualquer outro objeto inanimado e inofensivo.

“Como...?” A noite anterior voltou num flash. Sorte que o sono dele fosse tão pesado, já que ela se esquivou tão rapidamente que quase caiu da cama. Tateou as roupas num gesto reflexo. Tudo no lugar. “Ah...”, ela se flagrou, mas o que é que estava pensando?

Harry fez um movimento preguiçoso sobre a cama, deslizando os braços sobre os lençóis e parecendo procurar por alguma coisa ou mais provavelmente por alguém. Visto isso, Ginny se apressou em escapar antes que ele acordasse. Seria embaraçoso demais. Mas com um gemido de frustração, ela descobriu que, novamente, em menos de vinte e quatro horas, estava trancada num lugar que não queria. Nem sinal da chave na fechadura ou sobre o chão.

- Bom dia – confirmando seus piores temores, a voz sonolenta de Harry soou macia, vinda do colchão.

- Bom dia – ela balbuciou, se voltando até fitar o rapaz recostado no travesseiro. - Eu... não encontrei a chave.

- ?

- Você trancou a porta. Não achei a chave.

Ele olhou ao redor, bocejando e ainda confuso, vendo um brilho prateado em sua mesinha de cabeceira.

- Está aqui. Achei que se sentiria mais segura.

Ela balançou a cabeça, incerta:

- Certo. Então... é melhor eu ir.

- Você sempre faz isso? – um sorrisinho brincou nos cantos da boca dele enquanto se apoderava da chave e a girava entre os dedos.

- Como diz?

- Você sempre sai da cama de um cara sem se despedir?

A ruiva ruborizou imediatamente.

- Desculpa – Harry disse com uma breve careta. – Foi uma brincadeira infeliz.

- Não sou como está pensando.

- Foi só uma brincadeira... – ele se aprumou sobre o colchão, preocupado e passando a mão inutilmente sobre os cabelos espetados.

- Não falo disso – ela fez que não, olhando esperançosa para a chave que se recusava a simplesmente flutuar para suas mãos. – Ontem... eu não... nunca. Não sou aquela pessoa.

Harry respirou um pouco mais aliviado. Ele e sua grande boca.

- Que pessoa, Ginny? Uma que se desespera, ou uma que precisa de ajuda de vez em quando? Ambas são só humanas.

Mas ela tinha esta necessidade de se explicar:

- Não sou covarde. Não grito quando vejo um inseto asqueroso, não tenho medo do escuro, não choro como uma garotinha em cima... nos...

- Nos braços de qualquer um? – ele terminou a sentença por ela, lhe lançando um olhar sagaz e totalmente desperto.

- Eu não ia dizer isso – falou baixinho, e logo se tornou ansiosa. - É só que, por favor, não conte isso a ninguém. Você pode rir de mim, brincar com o que quiser, mas, por favor, não deixe ninguém saber. Minha mãe... se algo assim chegar até ela...

- O que você pensa que eu sou? – um brilho de irritação passou pelos olhos verdes. - Certo, eu tenho sido um perfeito cretino com você na maior parte do tempo, mas eu sei que o que aconteceu ontem à noite foi bem mais sério do que medo de escuro. O estado em que ficou... Eu não brincaria com nada assim, Ginny.

Ela assentiu lentamente, procurando pela verdade nas palavras dele.

- Tenho que ir.

- Você está bem?

- Arrã. Obrigada Harry. O que fez por mim...

- Não precisa agradecer. Eu gostei – ele balançou a cabeça, logo refazendo o comentário. - Quer dizer, não gostei de te ver daquele jeito, gostei de ter ajudado.

- Eu sei – e sabia mesmo. - Quer dizer, obrigada de novo.

Entendendo perfeitamente o que ela esperava – engraçado, tinha momentos em que a mente de Ginny Morgan era transparente –, Harry lançou a chave para a garota, que a pegou num suspiro de ânsia. Ânsia em se ver livre do quarto dele. Bem, isso pedia uma traquinagem:

- Espero que tenha tido uma boa noite de sono – o rosto dele era a face de um anjo inocente. - A cama esteve satisfatória?

Ela cerrou os olhos de leve, percebendo a manobra, mas não tendo como escapar:

- É, esteve ok – tentou soar vaga, mas a língua afiada não quis cooperar. – Achei que você ia dormir no sofá.

- Ah, mas eu ia – as feições dele eram tão convincentes que ela quase podia acreditar. Quase. – Não sei o que aconteceu... – ele juntou as sobrancelhas como se pensasse. – Eu devo ter me levantado durante o sono, ou coisa assim.

- É, certo – ela falou com a voz meio endurecida de descrença, se preparando para dar as costas. Era melhor não saber dos detalhes.

Foi quando Harry a chamou:

- Gin... Se precisar de algo... – ele se recostou novamente, braços cruzados atrás da cabeça, muito confortável e senhor de si mesmo - Meus braços, minha cama. Me chame. Banco seu travesseiro a hora que quiser.

Ela corou enlouquecidamente, não sabendo onde enfiar a cara. Detalhes demais.

- Desculpa de novo – Harry sorriu mais largo e nem um pouco arrependido. - Velhos hábitos.


XXX


Hermione e Elizabeth já estavam entretidas há um bom tempo, desde que Ginny fora tomar seu banho noturno e as deixara instaladas confortavelmente sobre sua cama, com uma caixa de bombons meio vazia e muita fofoca em ação.

- Ela está estranha – Mione sentenciou, inclinando a cabeça para a porta do banheiro.

- Está sim – Lizzie respondeu com a boca cheia de chocolate. – E acho que não é só pela bisa Eugênia. Ainda mais agora, com ela se recuperando tão depressa. Daqui a pouco e a bisa já vai estar saracoteando por aqui de novo.

Era uma sexta-feira, exatamente sete dias após a malfadada festa de Halloween e ao acontecido com Eugênia.

- E o que mais poderia ser, Lizzie? Ela teria nos dito se fosse qualquer outra coisa.

- Teria mesmo?

- Como assim? – Mione percebeu que a amiga tinha aquela expressão típica de Lizzie tendo idéias.

- Não sei, não... Tem uma coisa sobre esta garota. Por mais amadurecida que seja, por mais que tenha escapado à neurose da mãe, ela ainda é filha dessa Molly estranha, ainda freqüentou escolas católicas e ouviu sobre o pecado por toda a vida.

- Qual o seu ponto, Lizzie? Por que eu juro que não estou acompanhando.

- Meu ponto? – Liz remexeu a caixa, escolhendo a dedo outro chocolate. – Sinto cheiro de romance no ar.

Mione ergueu as sobrancelhas, bastante interessada:

- E este cheiro seria parecido com o de algum moreno de olhos verdes que nós conhecemos? Porque eu bem andava desconfiada.

- Talvez... – ela confidenciou maliciosa. – Mas temos um problema aí. Vamos dizer que, mesmo com toda a “rebeldia” – aspou com os dedos – que ela tem mostrado nos últimos tempos, acho que na cabeça da garota, ter um relacionamento amoroso com um parente seria incorreto, um pecado se preferir colocar assim. E temos outros agravantes... A galinhagem dele.

- Também acho. E a Gi não precisa passar por esse tipo de situação, e acho que ela sabe disso. O Harry também é muito complicado. Tenho certeza de que está louco por ela, mas tem horas em que faz de tudo pra magoá-la, para que ela se afaste dele.

- Na-nãh – Lizzie sacudiu o dedo. – Desde a festa de Halloween que tem algo diferente. Você mesma me disse que viu os dois dançando, não foi? Que eles conversaram alguma coisa, e que pelas caras que faziam, não era nada ruim.

- Mas ela tem sido tão fria com ele... De um jeito até hostil. – Foi a vez de Mione enfiar o bombom na boca de um modo exasperado, como se estivesse se perguntando: quando é que a gente vai conseguir entender aquela ruiva?

- Mi... – Lizzie apertou os olhos espertamente. - Acho que está acontecendo alguma coisa entre os dois. Quer dizer, algo de concreto.

Hermione se empinou sobre a cama:

- Está falando de contato físico?

- Ah, sim. Tem um diabinho me assoprando que alguma coisa já rolou.

- Mas isso não é um bom sinal – a amiga retrucou. - Neste caso os dois deviam estar se entendendo ao invés de se tratarem quase como estranhos. Olha, até olhares ressentidos eu ando pegando, e do Harry.

Lizzie sorriu torto para os próprios pés:

- Mione, você pode ser a mais inteligente e também a mais velha aqui, mas me perdoe, nestes negócios eu sou melhor. Você acabou de descrever uma autêntica relação de amor e ódio, com uma pitadinha de indiferença pra temperar. Esnobadas, muitas discussões sem sentido, e tudo pra enganar um evidente tesão. E no caso deles, muito tesão. O fato de ser proibido só esquenta mais ainda as coisas. Deus, quando aquilo tudo explodir...

Hermione pareceu raciocinar, não achando que era somente aquilo, mas enfim... Como disse Lizzie, ela não era nenhuma expert no assunto.

Então, Ginny abriu a porta enfumaçada de vapor e as meninas mudaram de assunto num piscar de olhos.

- E quanto a você e o Draco? – Hermione falou o primeiro assunto em que pensou, no que Lizzie rangeu os dentes. Draco Malfoy andava sendo assunto proibido ultimamente.

- Não existe “aquilo” e eu.

- “Aquilo”? – a ruiva sorriu, se aboletando na cama com sua escova de cabelos. - Agora você rebatizou o garoto?

- Podem chamá-lo de Drácula, também. Qualquer dos nomes cai como uma luva.

- Ele te magoou muito, né amiguinha? – Hermione tocou as pontas do cabelo da garota.

Lizzie, que se preparava para um novo assalto aos chocolates, perdeu o apetite de súbito, devolvendo o bombom para a caixa com muxoxo entristecido.

- Me diz de novo, Mione. Aquilo sobre os homens.

- Ok – Hermione repetiu pela décima vez naquela semana. - Todo homem é um bastardo idiota.

E então Elizabeth deu um sorrisinho triste, tão descombinado com seu usual humor eletrizante, que fez as garotas se apiedarem imensamente. Ver a pequena assim era como ir ao parque em dia de chuva. Mas como de costume, Lizzie evitou mais perguntas incômodas, apelando para seu humor de emergência.

- Bem, caras... Já que as duas vão dormir por aqui e meu pai me vetou, acho melhor eu me mandar. Ele, o meu pai, anda danado da vida comigo. A coisa mais estranha. Não pode me ver nem na janela.

- E como ele te deixou vir aqui? E ainda por cima à noite? – Hermione perguntou já desconfiada.

- Bom, ele não deixou exatamente.

- Ai, Liz – a amiga revirou os olhos. – E agora?

- O Samuel já foi para casa – Ginny levou a mão até o telefone de cabeceira. - Vamos ter que chamar um táxi. Antes que seu pai perceba o seu sumiço.

- Nada disso – Liz tirou o telefone de alcance e se levantou rapidamente. – Um táxi seria visível demais. Vou à pé.

- Há – Hermione pôs uma mão na cintura. - Você não está querendo me dizer que vai pra casa sozinha neste escuro?

- Aaah, todo mundo nessa cidade sabe quem eu sou – ela fez um gesto de enfado. - Esse bairro é praticamente o meu jardim. Não tem perigo e, além disso, são só cinco quadras.

- É uma cidade turística, Liz – Ginny se preocupou com a segurança daquelas ruas, que com os últimos acontecimentos, já não achava ser tão perfeita -, nem todo mundo sabe quem você é. Já ouviu falar que todo jardim tem seu bem e o seu mal?

Mas sem se incomodar minimamente com as recriminações das amigas, ela já trepava no gradil de flores, junto à sacada da prima.

- Não esquentem, eu faço isso a vida toda. Prometo que vou diretinho pra casa! – e com um lampejo de sorriso maroto, ela fugiu ligeira pelo portão de ferro fundido.

- Coitado do senhor Dixon – Mione repetiu, sacudindo a cabeça.

- Coitado do Malfoy – Ginny completou, e as duas caíram imediatamente na risada.


XXX


Há pouco mais de duas quadras, Lizzie estava cumprindo o prometido, caminhando com os pezinhos ligeiros, direto para casa. Ou ao menos eram estas suas primeiras intenções. Quando um carro negro, bem seu conhecido, se emparelhou à calçada, do seu lado, ela sentiu seu coração quase parar no peito. “Não... ele não teria o atrevimento.”

- Oi, Lizzie – o atrevido Draco baixou o vidro filmado, dirigindo com um só braço, enquanto se apoiava com o outro no banco do passageiro.

“Não fala nada, Elizabeth. A raiva é negativa, a raiva envenena. Mantenha sua boca fechada que ele vai embora.”

- Quer uma carona pra casa?

“Ignore, mantenha a língua quieta, trave os dentes...”

- Lizzie? – ele insistiu com a voz macia. – Eu te levo...

- Prefiro ir carregada por uma cobra! – o seu temperamento explodiu, e já vinha tarde. Se pudesse estaria socando a cara daquele... aquele... “Aquilo”!

- Pode ser – um vislumbre de dentes muito brancos na semi escuridão do veículo -, mas não é um pouco perigoso ficar andando sozinha a esta hora da noite?

Se Lizzie tivesse reparado, veria que ele estava muito estranho, esboçando um sorriso triste, frustrado, ou algo parecido. Mas a verdade é que ela só tinha se virado na direção do rapaz para lhe lançar um olhar furibundo e poucas palavrinhas amistosas:

- Vai pro inferno! – aumentou a velocidade dos passos, agora quase correndo.

- Preciso falar com você, Lizzie – o carro acompanhou.

- E eu preciso que você morra! – ela gesticulou com os braços para frente. – Viu como não dá pra ter tudo o que se quer?

- Entra, Lizzie. Não vou te deixar ir sozinha.

- E quem você pensa que é pra me mandar? Meu pai? Ou o gângster do bairro?

A última frase o fez perder a pouca sanidade que andava tendo, se forçando dia-a-dia a ignorar os problemas com o pai e a se manter afastado dela. Com um puxão rápido no volante, Draco jogou o carro por sobre o passeio, abrindo a porta da direita num rompante.

- Entra – falou imperativo.

- Tenta – devolveu furiosa.

Draco não esperou por um segundo. Saindo do carro como um tufão, arrastou o corpo pequeno com espantosa facilidade, e antes que Lizzie se desse conta do que estava acontecendo, já estava trancada exatamente como da outra vez.

Quando ele entrou no carro, ela começou a se debater e gritar:

- Me solta agora!

- Não – ele nem olhava para ela enquanto ligava o motor.

- O nome disso é seqüestro, Malfoy! Seqüestro, seu marginal miserável!

Ele fez uma careta dolorosa com o último “elogio”:

- Não, o nome disso é desespero, Dixon – e engatando o veículo, partiu queimando os pneus no asfalto. - Chegou a hora de a gente conversar.

- Chegou a hora de você abrir essa droga de porta e me esquecer!

- Não.

- Não?! Não?! Está querendo mesmo conversar? Por que eu já vou avisando, você não vai me encostar um dedo, nem que eu precise arrancar os seus olhos com as unhas.

- Guarde suas unhas, Lizzie. Mas se não está bem lembrada, da última vez não fui eu quem avançou o sinal.

- Mas também não me impediu, não é, Drácula? – por mais que forçasse a porta, não conseguia abri-la, e mesmo se conseguisse, como sair? - Agora, pare este carro e abra essa maldita porta! Já!

Como resposta, ele aumentou a velocidade, tomando um rumo improvisado e fazendo a garota agarrar o apoio da porta.

Lizzie bufava, soltando fogo pelo nariz e imprecando em altos brados. Tinha vontade de avançar, tomando a direção das mãos do rapaz. Tinha vontade de estapeá-lo, de pular pela janela. Tudo para se afastar o quanto podia.

- E agora? Vai beber meu sangue? Ou vai seqüestrar sua namoradinha também? Quem sabe, fazer uma festinha a três?

- Eu não tenho namorada. E se eu pudesse, Lizzie - a encarou brevemente, mas com uma intensidade quase furiosa -, faria bem mais que uma festinha. Mas sozinho com você.

Ela engoliu em seco:

- Quem disse que eu ia querer?

- Se não me engano, da última vez você quis.

- Pra você ver os efeitos de bebida misturada com estupidez. Acha que foi o único?

- Acho.

- Mas não foi. Foi só o único covarde o suficiente para não continuar.

- Mentirosa – ele falou entre a dúvida e o receio.

- Covarde.

- Lizzie, cala essa boca, está bem?

- Mas você não queria conversar? Então vamos conversar – implicou. - Covardeee... – ela começou a cantarolar, aumentando mais e mais o timbre da voz. – Covarde, covarde, covardeee...

Malfoy freou o carro numa das ruas escuras do caminho improvisado e então a calou. Do jeito que ele sabia tão bem. Lizzie não soube bem o que acontecia até sentir a língua dele sobre a sua. E enquanto era apertada num beijo de tirar o fôlego, ela sentia as próprias mãos pequenas o estapeando pelos ombros, braços, pelas costas, para pouco à pouco irem escorregando derrotadas, agora acariciando os mesmos locais atingidos. Ele era como a droga de um vício.

Draco soltou um lamento, gemendo o nome dela baixo, não conseguindo nem mesmo se amaldiçoar pela falta de disciplina. Ela estava novamente no seu colo, e ele nem sabia qual dos dois tinha tomado a iniciativa para aquilo. Talvez ambos. Os beijos dele eram famintos, mas os dela pareciam selvagens, como se sentisse raiva. Mais um pouco e estariam arrancando as roupas com os dentes.

Foi quando ela se arqueou para trás e o estapeou com força no rosto:

- Pronto – estava ofegante e com ira no olhar. – Agora você e eu já temos o que queríamos. Já posso ir pra casa.

- Não, não – mas ele não tinha raiva, apenas a respiração rasa e uma sede contínua de pele. A dela. – Ainda não. Só...

Ela tentou se esquivar, lembrando-se bem de Gabrielle. Dele com Gabrielle. Mãos dadas como namorados. Tinha que ir embora. Tinha que sair dali. Mas ele tinha os olhos tão desesperados... tão dentro dos dela...

- Me deixar ir...

- Shhh, Lizzie... – ele pediu com o rosto contraído, como se sentisse dor. - Não... Só por agora... Só... venha, venha aqui.

E ele a puxou, cintura e rosto, desta vez com tanto carinho, tanta necessidade, que ela veio hipnotizada, como uma vítima que daria o seu sangue de bom grado. Eles se beijaram novamente, com mais doçura, mais perigo também. E a força daquilo assustou a ambos.

- O que mais você quer de mim, Malfoy? – ela se esquivou, abismada com as emoções, virando a cabeça para o lado e fugindo dos lábios dele. – O que mais quer? Meu sangue?

- Sim – ele beijou o pescoço branco. - Seu sangue e mais você toda. O problema é que eu não posso.

- Não pode – o encarou como se nunca tivesse escutado coisa mais ridícula. – Não pode? Por que motivo?

Mas ele se calou e Lizzie não conseguiu pensar em nenhuma razão fora a mais óbvia:

- Eu sei que somos primos, e sei que isso foi uma das coisas que sempre nos conteve. Você sabe do que eu falo. Mas se o parentesco ainda é um problema, então porque fez isso? – ela entendeu o dilema de um jeito maravilhosamente errado. - Porque fez? Porque sempre faz isso? Devia ter me deixado ir. Devia fazer de conta que não me viu. Não falar comigo. Não me beijar desse jeito, me pegar...

E se calou quando Draco acariciou sua boca, com os olhos meio vidrados:

- Você virou minha cabeça, mini Morgan. Me pôs algum feitiço. Não consigo dormir, comer... – Draco a afastou repentinamente para o lado, para longe dele. A tentação era grande demais. – Tudo o que eu penso é em você. Chego ao ponto de ficar te seguindo... – e parou frustrado. - Mas isso não pode mais acontecer. Não vai.

- Ah, é mesmo? – Lizzie escondeu a euforia por saber que mexia com Draco daquela forma, a fúria se tornando algo infinitamente mais doce. Estava com o coração pulando, mas agora precisava ser firme. – E está me fazendo essa confissão pra quê? Para eu me convencer de que não significo nada pra você? Se está achando que vou simplesmente esquecer o que acabei ouvir e continuar sendo apenas sua priminha...

- Lizzie, entenda uma coisa – ele cerrou os dentes e tentou achar palavras dubiamente adequadas. – Eu não sou o tipo certo para você. Em nenhum sentido. Quer prova maior do que o que eu acabei de fazer? Praticamente te seqüestrando deste jeito? Te agarrando no meu carro e quase... quase...

- Você está certo – subitamente ela pareceu muito tranqüila, com uma voz quase meiga, cheia de certeza. - Temos que parar de fazer isso dentro de carros.

Ele a observou mais atentamente, levemente alarmado:

- Temos que parar de fazer isso. Ponto.

Foi o mesmo que não dizer nada. Lizzie apenas sorrindo de leve:

- Da próxima vez você pode me levar para algum outro lugar mais discreto, ou me convidar para um encontro – ela inclinou a cabeça, percebendo o quanto suas palavras o estavam chocando, mas gostando mais ainda de dizê-las. – Jantar, música, cinema, essas coisas que os casais fazem. E no final, a gente pode... – ela se aproximou novamente, quase tocando o nariz do rapaz com o seu. – Você sabe...

Se Draco não estivesse escutando, juraria que era mentira. Juraria que estava sofrendo uma alucinação por causa do perfume dela que o invadia, pelo efeito do gosto dela na sua língua. Lizzie estava agindo como se estivessem decidindo seu futuro relacionamento. Dizendo aquelas coisas... tão perto... Céus... ele estava no inferno. Estava sim. E por sua única culpa.

- Não vai acontecer, Lizzie – foi a vez dele recuar, se continuasse encostado nela... – Não tem a menor possibilidade.

- Sério? – ela mordeu o lábio inferior e o fitou da maneira mais inocente-provocante que podia. - Acha que vai conseguir? Por que eu acho que não. Nem se você parar de me seqüestrar sempre que te der na telha – quando ele abriu a boca, ela colocou os dedos sobre seus lábios. - E pense muito bem antes de dizer que foi um erro, porque nós dois sabemos muito bem que se eu quiser, vamos continuar errando. E como eu quero, vamos errar demais.

- Lizzie... – ele quis começar.

- Foi você quem começou – ela lhe deu um beijo suave sobre os lábios, sentindo Draco estremecer. - E agora eu vou terminar. E acho bom você se preparar. Vou me tornar seu paraíso ou o seu pior inferno.

Ele sentiu seu sangue gelar, mas confusamente, a sensação era de ardor. E então, quando achava que ela se jogaria sobre seu corpo novamente – e ele não teria a nenhuma força para resistir -, Lizzie lhe deu um novo tapa no rosto, no mesmo lado atingido, um tapinha dolorido, quase que uma carícia mais grosseira.

- Isso foi por ter ficado com aquela vaca – ela se desgrudou do corpo dele e pulou agilmente para a rua. - Te vejo na escola, Drácula.

Aquilo soou inconfundivelmente como uma ameaça. E ele soube que não precisaria mais se amaldiçoar. Lizzie cuidaria disso.


XXX


Harry e Ginny não se esbarraram nos próximos dias. Na verdade, durante muitos dias. Estiveram também muito ocupados com a escola e indo e vindo do hospital. Por algumas vezes, Ginny havia dormido na casa de Lizzie. Em outras, na casa de Hermione. As garotas também pareciam fazer revezamento, dormindo simultaneamente na Casa Morgan, o que deixava a ruiva virtualmente acompanhada por todo o tempo. Tudo ainda meio fora da normalidade, e tia Candie, por demais ocupada com outras questões, parecia achar o comportamento da sobrinha essencialmente normal ao de qualquer adolescente. Embora as garotas achassem a ruiva um tanto perturbada, deduziram, com algumas ressalvas, que o fato principal se devia à saúde de Eugênia. Um ataque cardíaco naquela idade não era nenhuma brincadeira.

Somente Harry sabia o que tinha acontecido, e mesmo ele, sabia tão pouco... Andava tendo alterações de humor estranhíssimas, como se... Ora, como se estivesse sentindo-se ridiculamente traído! Como um namorado esquecido, criando teias de aranha num canto. Todos os dias procurando por um momento perto dela, na escola, durante as refeições, tentando entender o que houvera e não tendo nenhum sucesso em suas aproximações. Todas as noites, invariavelmente pendurado à janela, montando guarda e observando a silhueta do quarto dela, escuro e calado.

Então ela preferia confiar o que quer que fosse à Lizzie e Mione, não é? Estava se lixando pra ela! Ele dava de ombros, mas não mais com a antiga desenvoltura. Uma vez tendo deixado uma fresta aberta em sua couraça, ele descobriu, frustrado, que voltar a se trancar quando as coisas ameaçam te ferir, é quase tão difícil quanto se barrar a água de um dique rachado.

Não tinha feito nada pensando em recompensas. Absolutamente não. Tinha ajudado a prima como ajudaria qualquer outra pessoa em necessidade. Bem, tirando a parte em que ela estivera enroscada no seu colo, é claro. Tirando também a parte em que estiveram embolados sobre a sua grande e, agora vazia, cama. Ah... ele andava tendo pensamentos bem pouco morais. Como o cheiro que ficara em seus lençóis e certa comichão por ter se portado quase que como um santo. “Certo. Foco, Harry. Foco.”, ele sacudiu a cabeça repleta de imagens dele e da ruiva fazendo bem mais do que dormir. O problema todo é que depois de tanta intimidade, sentia estar sendo como que punido por algum erro. A indiferença... Não, a desconfiança dela quanto a ele, estava sendo um remédio amargo de se engolir.

Era uma sexta-feira, o clima estava meio frio - outro inverno suave do Sul - e a bisa, contrariando todas as expectativas e conselhos médicos, estava de volta a Casa Morgan, deixando claro que, ao contrário de estar morta, era ainda muito dona do seu nariz afilado. Ele nunca tinha visto a casa mais cheia de flores e parentes. Todos no andar social e, incomumente, pouco ruidosos, sendo recebidos por uma atarefada, mas incrivelmente sorridente, Candice. A bisa, por sua vez, descansando meio na marra em sua cama. Ainda que emagrecida e frágil, sua aura de poder não diminuíra, e ela se queixava, sem convencer a ninguém, de que não agüentava mais os excessos de mimos de Candie, Sarah Mae e sua bisneta.

Harry notou que, embora não fosse para ele, Ginny voltara a sorrir. E foi neste estado quase sorridente que ela “caiu em sua teia”, indo espairecer sob o carvalho e topando diretamente com o primo. “Excelente.” Se ele fosse uma aranha, estaria esfregando suas oito perninhas, pela presa suculenta.

- Oh-oh. Tarde demais – sentado no balanço azul, ele fez questão de falar numa voz de falsete, intuindo, pelo semblante da garota, que ela preferia ter dado de cara com um exército de tarântulas do que com ele.

Por absolutamente não saber o que dizer, e ter, ao mesmo tempo, a terrível sensação de que iria gaguejar, Virgínia permaneceu emudecida.

- Bom – Harry ergueu as duas céticas sobrancelhas -, eu acredito que só tenham te restado duas opções: sair correndo ou ter coragem de falar comigo. Pode chamar de intuição, mas estou apostando na segunda opção.

Bingo! Ele sorriu presunçoso, sabendo como tocar em todas as teclas certas. Bastou um desafio para ela erguer aquele queixinho adorável, aceitando a provocação.

- Não estou fugindo de você, Harry.

- É - ele olhou para o relógio de pulso, dando um sorriso fino -, hoje ainda não.

Ela suspirou pesadamente, a pose desmoronando um pouco:

- Certo. Estou parecendo uma mal agradecida. - Ao ver que ele não contestava, seu desconforto piorou.

Harry deixou o corpo relaxar no banco do balanço, resolvendo ser um pouquinho indulgente. Só um pouquinho.

- Tudo bem. Você com certeza está acostumada a fingir que as coisas estranhas que te acontecem... Bom, que elas não acontecem – ele sorriu novamente, desta vez como se sentisse pena dela. Coisa que sabia bem, a ruiva não suportaria.

Pronto. As mãos de Ginny já estavam encravadas na cintura antes que a própria se desse conta do fato:

- Eu não faço nada disso!

Como resposta, ela teve apenas um silencioso arquear de sobrancelhas. Harry parecia estar lendo a mentira dentro dela. O que aquele demônio de olhos verdes possuía que parecia ter a capacidade de falar sem precisar de palavras?

- ‘Tá. Eu até faço – ela bufou, encurralada. – Mas não agora. Estava só precisando de um tempo. Pôr as idéias no lugar.

- Você está é com medo.

E porque estava escrito em sua testa e seria ridículo negar, ela abaixou as longas pestanas, num gesto misto de raiva e rendição. Harry teve até vontade de tomá-la nos braços, nervosinha e confusa como parecia, mas ainda estava muito “p” da vida com a distância que ela lhe impusera por todos aqueles dias.

- Você sabe... – Ginny falou numa voz relutante. – Quando você não fala sobre uma coisa, quando a ignora, é como se não existisse de verdade. E com o tempo você acredita nisso. É mais ou menos assim: você não viu todas aquelas pessoas esbranquiçadas no cemitério, Ginny. Não você não viu. Estava um dia muito nublado e provavelmente você anda precisando de óculos. Você também não escutou aquelas vozes te dizendo o que vai acontecer ou teve premonições. Nãão. Estava só imaginando coisas – a voz foi sumindo tanto que era quase um murmúrio. - E você não viu uma assombração te perseguindo pela casa, era só o cansaço.

Harry sentiu um arrepio de reconhecimento. Finalmente ela estava lhe dando alguma informação:

- O que te perseguiu, Ginny?

- Uma mulher – ele praticamente precisou ler seus lábios.

- Mais uma aparição esbranquiçada? – era apenas um fio condutor para a conversa. Ele sabia ser algo bem pior do que aquilo.

- Era mais que isso. Nunca... – ela enfatizou, negando com a cabeça. - Nunca foi tão real.

- Eu estou pronto para ouvir, se finalmente quiser me dizer – ele mal precisou pedir. Na verdade, parecia que ela estivera precisando desabafar aquilo tudo, como se estivesse sendo corroída por dentro. Foi quando ele percebeu que a prima não havia se abrido com ninguém, e seu ressentimento diminuiu consideravelmente.

Assim Ginny contou tudo, desde sua chegada a casa Morgan, naquele 31 de outubro, até a queda que culminara com o rapaz a socorrendo. E enquanto falava, Harry não perdia uma vírgula sequer.

- E então, acha que estou ficando louca?

Limpando a garganta e tentando fazer a voz soar firme, ele respondeu:

- Não. A boa notícia é que está mentalmente sã. Agora a má... Digamos que você não foi a única que a viu.

- Você... – ela avançou para ele, lábios entreabertos, uma necessidade urgente de compartilhar mais daquilo, de não estar sozinha naquela situação.

Harry ergueu as mãos, como uma barreira contra a ansiedade dela. Na verdade nunca acontecera nada tão forte assim.

- Eu vi e mais pessoas também, mas nunca com esta intensidade. Mas pela descrição, só pode ser – ele lhe lançou um olhar quase temeroso. – Ela, por acaso, usava que tipo de roupas?

- Que diferença isso faz?

- É só uma constatação.

Sentindo-se compreendida por alguém que não só acreditava nela, como também passara por uma experiência semelhante, Ginny sentiu-se segura para procurar pela imagem da velha na memória, coisa que andava evitando alucinadamente até então.

- Acho... Era uma camisola comprida, branca. Dessas que se usa no inverno - e abrindo a mente, ela viu ainda mais. – E ela tentava segurar uma coisa, digo, além de mim. Era como se quisesse apertar uma coisa no próprio pescoço. Do jeito que a gente fecha as mãos junto ao peito quando está angustiado, ou...

- Ou do mesmo jeito que segura um colar - ele fez que sim, tendo certeza. – No caso, um colar que não existe – e então suspirou preocupado. - Vamos precisar de ajuda, Ginny. Ajuda das boas.

- O que quer dizer com ajuda? Não está pensando em importunar a bisa com isso, está?

- Normalmente é o que eu faria, mas neste caso, enquanto ela não se restabelece, podemos procurar por outra pessoa.

- Alguém da família? – perguntou desconfiada.

- Não exatamente – ele foi propositalmente evasivo, sabendo o quanto ela temia ficar exposta. – Por enquanto eu só vou dizer que é alguém de confiança. Não de confiança no sentido de amizade, veja bem, mas no sentido de respeitar este tipo de coisa.

- Mas... você... – então, por um minuto, o desejo de saber foi mais forte que o receio e ela se distraiu de tudo o mais. – Eu achei que você poderia... Talvez me ajudar. Você já a viu...

- Ah, Ginny... – ele pareceu um pouco frustrado. - Eu adoraria dizer que posso, mas não tenho conhecimento pra afastá-la ou algo assim. Eu não tenho o seu tipo de força. Não a vi como você. Nem de longe. Sempre foi mais como um vislumbre e a sensação. Até onde eu sei, foi assim pra todos da família que já a viram.

- É como um fantasma de família? – ela tentou entender, sentindo-se mortificada pela história precisar vazar. – Um monstrinho particular?

- De certa forma – ele sorriu acidamente. – Os mais velhos costumavam falar a respeito. Aquele tipo de coisa: esperavam os moleques irem dormir e começava a sessão terror.

- E como você sabe disso? – falou mais como indireta do que pergunta.

O sorriso dele tornou-se mais luminoso, mais maroto, fazendo com que a garota sentisse um estranho bater de asas na boca do estômago.

- Lizzie não é a única que já escutou por detrás das portas. Digamos que seja uma longa tradição familiar.

Ela sentiu uma maravilhosa vontade de rir e ficou quase grata pela capacidade que ele tinha de tirá-la dos seus pensamentos sombrios e fazê-la se enraivecer, ruborizar e sorrir.

- Não quer me falar sobre isso? – consideravelmente mais relaxada, ela sentou-se ao pé do carvalho, assim como fizera no ano anterior, quando aquela história com eles começara.

Claro que Harry não deixou de notar a mesma coisa.

- Bom, reza a lenda... – ele levantou o indicador. – O que eu sei são apenas especulações e fofocas de gente muito velha, certo?

- Certo – e notando o olhar reticente, se encrespou. – Certo! Pode contar. Não vou ficar aterrorizada, Harry. Saco.

Ele voltou a arquear os cantos da boca com a explosão de gênio dela. Era inevitável se apaixonar pelo modo como ela se enraivecia ou se envergonhava, corando exatamente como um pôr-do-sol:

- Se você diz... Esta velha foi nossa parente, uma antepassada Morgan. E como você já deve ter adivinhado, não era flor que se cheire. O fato é que diziam que ela havia feito algo bem ruim quando ainda era muito jovem – não faço idéia do quê - e daí que a sua alma nunca pôde descansar quando morreu. Falam que fica procurando um colar perdido, um camafeu. E é claro que sendo desta família, também falaram que era uma forte bruxa, mas para o lado ruim da coisa. Fazia magia pesada, arrombava túmulos miseráveis, esfolava gatos, coisa do tipo.

Ginny estremeceu violentamente numa careta de repulsa, com imagens de sacrifícios de animais e outros horrores passando sem licença por sua mente.

- Diziam que ela tinha fascinação pela Casa Morgan e por Oak’s Heaven, onde nasceu e foi criada, na meninice. Só que, naturalmente, a herança ficou toda para o ramo da bisa, o que deixou a megera louca da vida. Os mais velhos diziam que assim que ela morreu as aparições eram terríveis, até que alguém deu um jeito.

- Bisa Eugênia?

- De certa forma. Acontece que nossa tataravó Annabelle já tinha feito este feitiço quando era jovem, obviamente não para esta aparição, que na época era bem viva, mas como proteção geral. Então, quando começaram essas manifestações, a bisa só precisou reforçar a magia. Um tipo de bruxaria para afastar o mal e proteger a família, já sabe. Falam que foi magia feita nas casas que essa mulher assombrava.

- Casas? Então não é só aqui?

- Ah, não – ele pesou a informação. – Ela aparentemente é bem mais forte no lugar onde foi criada – e atentando para o olhar cobiçoso dela, ele soltou: - A antiga fazenda onde O Clã se reúne: Oak’s Heaven.

O rosto dela pareceu se congelar de choque sob aquelas palavras. Ele estava falando sobre O Clã? Sobre aquelas coisas que ela lera no diário do pai?

- O que foi que você disse? – ela falou num tom urgente. – Sobre um clã? O Clã? Você faz parte? Você está nele? – Havia um quê de assombro e mesmo de susto nos olhos arregalados dela.

Harry fez uma leve careta em retorno. Tarde demais para ter tato:

- Bom – ele suspirou -, de qualquer maneira você ia ficar sabendo mesmo. Veja bem, não é que seja um segredo, mas não temos o hábito de ficar alardeando nosso grupo por ai.

- Espera – ela fez um gesto com as mãos. – Você está falando... Realmente existe esse Clã? Existe hoje em dia?

Harry juntou as sobrancelhas pelo inusitado da pergunta, coisa que o fez imediatamente suspeitar de que a prima tinha algum conhecimento sobre O Clã, ou ao menos imaginava algo. Mas de onde ela teria tirado qualquer informação? Alguma das meninas havia falado? A mente dele estivera assim tão aberta? Mas eram todos tão cuidadosos... Não importava a era moderna em que viviam, lidar com magia ainda era tabu em muitos lugares, principalmente entre os que não a conheciam. Cautela nunca era demais.

- Acho que soltei a notícia muito de súbito - ele a inspecionou o melhor que pôde, tentando julgar suas emoções. Ânsia, confusão, uma profunda curiosidade e... reconhecimento. Era inegável que a ruiva sabia bem mais do que ele esperava. - Mas você parece já saber de alguma coisa, não é? Eu só me pergunto o quê e como. As meninas te falaram alguma coisa?

- Meninas? Você quer dizer Lizzie e Hermione? Elas sabem? – o rapaz confirmou com a cabeça. - Harry... – ela cerrou os olhos confusa, entendendo muito e entendendo nada. - Dá pra você começar do início? Sobre esta sociedade...

- Pelo visto não foram elas, então... – ele descartou a possibilidade, ficando ainda mais curioso. - Eu começaria, Ginny, mas acho melhor você primeiro – falou desconfiado. - O que você realmente sabe e como sabe?

Apesar de, ao ler o diário do pai, ter ficado extremamente receosa com seu conteúdo, Ginny não poderia deixar uma oportunidade como esta simplesmente escapar por entre os dedos. E não deixaria:

- Eu li sobre O Clã num lugar – tentou ser vaga, numa estranha sensação de lealdade para com Arthur.

Aquilo foi de tal surpresa para Harry, que a Velha foi esquecida por completo:

- Você leu sobre O Clã? O nosso clã? Aonde?

- Obviamente eu não acredito que seja sobre o mesmo clã. Mas...

- Ginny, prometo te dizer tudo o que eu puder – ele adivinhou a apreensão da garota -, mas me dê alguma coisa pra começar.

Ela esfregou as palmas suadas na calça jeans. Não havia outro modo a não ser contar:

- Ok... Li sobre O Clã no diário do meu pai. - Os olhos de Harry ficaram estranhamente ausentes, como ficavam quando havia qualquer menção ao pai dela. - Tinha coisas parecidas com feitiços, “O Pequeno Manual dos Feiticeiros”, foi assim que estava escrito e, pela caligrafia, ele ainda era bem garoto. E também falava sobre este... Este clube?

- Não é um clube – Harry estava totalmente perplexo, falando automaticamente. - É mais como um... grupo.

- Então existe mesmo? Não era só uma brincadeira?

Ele fez que não:

- Foi fundado por nossos pais e mais uns primos – ele ia dizendo com cuidado, e a ruiva parecia beber cada palavra. – Um grupo de estudo.

- Um grupo de estudo de feitiçaria familiar? – ela realmente detestava quando as pessoas tentavam lhe proteger.

E quando Harry apertou seus espertos olhos verdes, Ginny soube que acertara em cheio. O Clã existia. Sobrevivera aos seus pais e continuava a praticar... – se arrepiou - o que quer que fosse.

- Harry... – então ela se deu conta de algo pela primeira vez, e o arrepio se tornou gelado. – No diário meu pai também falava sobre uma velha, A Velha, mandando tomar cuidado. É a mesma mulher, não é?

- Ora, ora... – conforme ia assimilando o que a garota dissera, o que acontecia naquele exato momento na mente dela, a expressão de Harry foi ficando muito sombria. - Acho que o seu papai andou mesmo exercitando a escrita. Uma pena que não tenha sido mais cuidadoso. Um diário? Francamente... Mas o forte dele nunca foi discrição, não é? Em todo caso, é a mesma mulher sim. Mas não fique impressionada, qualquer um que tenha crescido nesta família sabe sobre A Velha. Acreditando nela ou não.

Ignorando o sarcasmo do primo, o que sempre acontecia quando o pai dela era citado, Ginny procurou por mais informações, temendo que com a descoberta, Harry se fechasse como uma ostra.

- Então... Foi um grupo em que nossos pais estiveram metidos e, se entendi direito, um grupo que continua até os dias de hoje e que provavelmente estudou sobre esta aparição.

Ele não fez que sim, nem que não, mas a forma como se levantou do balanço, tão rápido que Ginny chegou a se encolher, confirmou sua argumentação. Ele começou a andar de um lado para o outro, não a olhando mais. Estranho, mas parecia que, naquele momento, perdido em seus pensamentos, ela não existia mais para Harry. E aquilo foi pior do que pôde suportar.

- E este é o nome da sociedade de vocês, O Clã – ela precisava da atenção dele, mesmo que tivesse que enfrentar o rosto fechado e a postura quase ameaçadora do rapaz. – Uma sociedade que estuda magia e que, pelo nome, faz acreditar que seja algo estritamente familiar.

Harry pesou o assunto por alguns instantes. Não era justo deixá-la no escuro só porque o pai dela era um cretino. Também não era justo com ele, que tivesse dons e sede de conhecimento e participasse justamente do mesmo grupo onde Arthur já estivera. Não era justo e nunca seria. Mas James Potter fora um dos fundadores. Harry devia esta continuação ao pai, devia a si mesmo. Arthur que se ferrasse! E a sua filhinha ruiva... O rapaz relanceou os olhos para ela. Parecia que Ginny tinha a respiração suspensa, esperando por seu veredito. E ele... Bem, ele já não podia se forçar a fingir uma raiva que há muito já deixara de existir. Que há muito já se tornara...

- Você está certa – ele disse de supetão. Falar era melhor que continuar pensando. – O Clã é um grupo familiar. Mas não de sangue. Somos como uma comunidade com interesses em comum.

- Interesses como... – ela puxou, precisando ouvir da boca dele.

- Magia.

Ela assentiu ressabiada, esperando por mais do que aquela resposta, precisando confirmar ou não os seus receios.

- Magia negra – completou em desafio.

- É claro que não! – Harry a chicoteou com o olhar, parecendo ofendido. - Isso é absolutamente proibido.

- Ah, é? Então como é que me explica o feitiço que está escrito bem na capa do diário do meu pai?

- Capa... – ele ficou um pouco confuso. – Com um feitiço? Mas feitiços tradicionalmente são passados de boca a boca, e mesmo que escritos, não são como num livro de receitas. Espera aí... O que você leu?

“Tintos por sangue
Trancas nas portas
Penas de aves vivas
E cobras mortas”

Ela repetiu exatamente as palavras preocupantes que ficaram gravadas na memória. Mas o resultado não poderia ter sido mais desconcertante. Ao invés de se mostrar impressionado pelo seu conhecimento, Harry arregalou os olhos, e logo seu ar irritado foi sendo transfigurado contra a vontade. Ela estava sonhando ou o primo estava ameaçando rir? Daquele tipo de risada que você tenta segurar, mas que, por isso mesmo, vai se tornando cada vez mais explosiva.

Ginny ergueu o queixo enquanto o corpo do primo se contraia, fazendo força para se manter sério.

- Não estou vendo graça – disse mal humorada. - Vocês falam que não fazem magia negra, mas escrevem com sangue, torturam aves e matam serpentes. E ainda acham isso engraçado? Que outras barbaridades fazem? Costuram a boca de sapos, é?

Agora ele já não se segurou, gargalhou de forma tão descontrolada que estava quase se dobrando ao meio. Que se dane a raiva, a pose ofendida. Aquilo era hilário demais. E só depois de longos minutos, com o rosto avermelhado lembrando o de um garoto travesso, Harry juntou forças para se defender:

- Ginny, isso... não é um feitiço de magia negra – ele abraçou o estômago dolorido, as risadas tendo liberado a maior parte da tensão. - É a nossa senha. Que tipo de bruxa é você?

Ah, ótimo. Mais uma vez, ela não sabia onde enfiar a cara.

- Não sou bruxa nenhuma – se defendeu, embaraçada com a gafe.

Percebendo a aflição da ruiva e decidindo esquecer suas dores mal resolvidas, Harry procurou se acalmar, vindo em seu socorro:

- Olha, não vou te dizer que já não foi feito por gente da família, mas magia negra não é realizada por nenhum membro do Clã, posso te assegurar. É um compromisso muito sério. Essas palavras... as que você leu, não falavam nada sobre uma chave?

- Como você sabe? – falou de olhos arregalados, como uma garotinha.

Harry sorriu para a ruiva, desta vez aberto, sem nenhum traço de chacota. Ela era assim, toda inocência e força.

- “Só entra quem tiver a chave” – ele citou. – E a chave pode ser resumida em coisas como boas intenções, interesse e dom. Mesmo que seja um dom bem pequenininho – deu de ombros, como que falando de si mesmo.

- Mas... que tipo de senha é essa? – ela quis se defender, amuada. - Quer dizer, qualquer um que lesse ia achar que é magia negra, coisa de vodu.

As feições de Harry finalmente ficaram sérias:

- Vodu não é tão doce, Ginny. Não importa como pareça para um leigo. Vodu não é feito de poeminhas e rimas engraçadinhas. É uma coisa forte, que pode ser usada tanto para o bem quanto para o mal, do jeito que são todas as religiões. E esta senha a que você se refere, foram nossos pais e o Sirius que a inventaram, quando eram um bando de pivetes. De certo, eles acharam excitante e assustador. Coisa de garotos, mas não vodu. Não fique usando essa palavra por aí sem saber do que se trata.

- Bem... Não era a minha intenção – ela tirou os olhos dele, sem graça – Mas é assustador... Essa senha que eles inventaram.

- E excitante, se pensar bem – ele afastou a seriedade e deu uma risadinha de lado. - Pelo menos para crianças.

A óbvia alusão ao seu comportamento exagerado fez com que a ruiva lançasse uma careta desdenhosa para o primo.

- Então não tem nada pra se preocupar... Com esse negócio de vodu – ela se garantiu.

- Quanto a eles ou nós, não – Harry disse de forma enigmática.

- E quanto às outras pessoas da família? – ela perguntou, adivinhando a alusão.

- É claro que tem. Porque você acha que a bisa sabe tanto sobre isso?

- A bisa sabe sobre vodu? – sua expressão foi de curiosa a descrente.

- Há quanto tempo está morando aqui em Nova Orleans?

- Quase quatro meses – a voz saiu baixinha, achando que ele iria tripudiar do quão pouco ela tinha convivido com a família.

- Pois quatro meses é um tempo significativo. Mais do que o suficiente pra ter descoberto isso por si mesma. Sua bisavó é uma bruxa branca, uma das maiores, e você não se interessou em saber nada sobre?

- Eu não... – agora estava toda corada, tinha certeza. - Não fico fazendo perguntas para perturbá-la. E ela já me falou algo a respeito uma vez. Só não pensei... – ela se aquietou confusa - Ela faz mesmo... você sabe... magia?

- O que acha? – ele sorriu com o canto da boca, enquanto franzia a testa em sinal de surpresa. Tinha momentos em que não entendia essa barreira que ela levantava entre si mesma e suas habilidades naturais. Como se quisesse negar quem era.

- Bom... E essa magia... funciona? Quer dizer...

- Novamente: o que acha? – a testa estava ainda mais franzida - Você mais do que ninguém não devia duvidar.

Sabendo sobre o que ele se referia, a garota deu de ombros.

- Isso, essas coisas, não significam muito.

- Ah, não? Na sua festa de boas vindas, no ano passado, você estava planejando me cortar com a taça e não deu certo? E depois entrou na minha mente por acaso? Ou no outro dia, estava brincando de ver assombrações e se esqueceu de que era mentira? O que foi, Ginny? Você parece pálida com coisas que não significam muito.

Ela apertou os olhos numa ameaça muda para ele se calar. Não ia discutir logo com ele sobre aquilo.

- Tem algo em você e eu não vou me calar quanto a isso – Harry mais entendeu sua expressão, do que adivinhou os seus pensamentos. – Você tem algo que seria muito interessante de se estudar.

- Não sou um rato de laboratório! – ela disparou, se levantando indignada pela última frase. - Muito menos... uma aberração.

- Eu sei, não quis dizer isso – Harry se apressou em explicar, recordando-se muito bem da antiga ofensa. - O que eu queria ter dito é que tem muita coisa em você pra se aprender, se conhecer. Você é... Tem horas que é a coisa mais doce, mas também é um livro trancado.

Ginny o fitou estupefata. “Doce? A coisa mais doce?”. Ele a fazia se sentir dos jeitos mais malucos com a forma de lhe tratar. De boboca ingênua à princesa, num piscar de olhos. Ah... Ela devia estar da cor do sol se pondo e ele com certeza achava aquilo ridículo.

- Você é um livro trancado - ela devolveu. - Eu sou só... um livro fechado, por assim dizer. Mas um livro que pode ser lido.

- Fico feliz em saber – ele a fitou de um jeito que era mais que especulativo. - Gostaria de ver o que tem aí.

- Você tem que brincar com tudo? – ela desentendeu, meio que de propósito. Era mais fácil levar para o lado da brincadeira.

- Não. Na verdade estava falando sério.

Ginny abriu a boca e a fechou novamente, sem ter o que dizer. E dando um giro, como se estivesse observando algumas flores por ali, voltou-se para o assunto de origem:

- Tudo bem, então esse clube, digo, essa sociedade, inventou esta senha. Ou seja, nossos pais inventaram. Mas e quanto ao Sirius? Quer dizer, se ele fazia parte de tudo, então ainda participa com vocês?

- Não, para o Sirius sempre foi só farra – Harry sorriu de leve – Farra e um jeito de ficar perto da bruxa por quem ele se apaixonou.

Ela se virou para ele, sabendo que tinha usado a palavra bruxa de propósito. Mas a curiosidade, como sempre, foi mais forte:

- Tia Candie? Ela participava?

- Arrã. Mas antes que você pergunte, ela deixou isso pra trás há muito tempo. Ficou uma sensação ruim em todo mundo quando “eles” morreram. Muita coisa mudou, perdeu o significado.

- Certo. E agora são outros que formam o grupo.

Harry fez que sim.

- Quem... – a pergunta morreu antes de se formar. Ginny não sabia se sua curiosidade sobre os membros do grupo seleto seria bem vinda e, ao mesmo tempo, tentava controlar um interesse de sua parte que agora julgava exagerado. Principalmente depois de esclarecido que seu pai só se metia com magia branca – E vocês outros realmente estudam magia ou é só farra também?

Harry suspirou, se perguntando quando de fato ela iria se render.

- Sim, nós estudamos e vez ou outra fazemos também – e sorrindo veladamente da expressão descrente da ruiva, logo acrescentou – É, Ginny, fazemos magia também. Coisinhas simples para uma bruxa do seu quilate, mas você não deve estar interessada.

Ela engoliu a curiosidade com dificuldade, uma bola comichando na garganta.

- Que tipo de magia? – perguntou num rompante. A curiosidade não era tão fácil de ser engolida, afinal. – E quem são vocês?

- Bom, todo o tipo de magia, acho. Menos as negras, posso garantir. E você já deve fazer idéia de quem somos.

- Ron, Draco, Mione, Lizzie...

- ... Keisha, Zabini... – ele fez uma pausa proposital. – E quem mais entrar.

- E você é o presidente.

Harry riu baixinho:

- Nós não temos nada disso. Eu me interesso e ajudo a organizar. Pouca coisa a mais que isso. Mione também não faz exatamente parte. Ela estuda, mas ainda não crê de verdade. A mente dela, às vezes, é analítica demais.

- Talvez ela esteja certa. Talvez vocês só vejam o que querem ver. Não digo que não existam coisas inexplicáveis, eu seria muito obtusa se achasse isso. Mas também existe exagero, crendice.

- Você está absolutamente certa – ele a surpreendeu com a concordância, mas ainda era cedo demais. – Do mesmo jeito que ceticismo demais também é uma forma de crendice. Você já pensou a respeito, Ginny?

Não, ela não tinha pensado. E cada vez que conversava com Harry, mais se surpreendia com sua astúcia e dualidade. Como que percebendo que ganhava terreno, ele voltou à carga:

- Vou te dar um exemplo de magia. Sabe por que é tão agradável ficar debaixo deste carvalho? – e vendo a carinha racional que ela fazia, Harry se precaveu. – Não estou falando da beleza e quietude, mas sim dessa energia boa que qualquer um mais antenado percebe.

Não foi preciso pensar muito no assunto. Ela fez que sim, concordando. Também sentia aquela aura poderosa que circulava o lugar, como uma marca luminosa, um cheiro de bondade ou um colo aconchegante.

Harry ficou extremamente satisfeito por ela não ter retrucado, tentando não entender. O que seria bem fácil de acontecer, já que neste caso, a magia era quase que subjetiva, não tendo o mesmo efeito de uma aparição fantasmagórica ou de um o copo se quebrando por força mental. Certo, era hora de mais uma informaçãozinha:

- Pois bem, este lugar é especial desta forma por que foi aqui que a mãe da bisa, Annabelle, fez o primeiro ritual de magia branca para garantir a proteção da família. Nossa proteção. Os carvalhos sempre tiveram muita importância para os nossos. Você vai ver o que digo quando conhecer Oak’s Heaven. E isso é tudo Ginny. Magia. Você até pode negá-la e se recusar a ser beneficiado por ela, mas certamente os seus inimigos não precisam fazer o mesmo. Eu posso te garantir que se não fosse a força das nossas bruxas, estes inimigos estariam em bem maior vantagem.

Ele não falava apenas da Velha, Ginny soube no mesmo minuto. Uma figura humana estava muito nítida na mente do rapaz. Uma figura detestada. E ela nem pôde se martirizar, como de costume, por este seu poder de estar enxergando na alma de alguém, na alma de Harry. A sede de saber era mais forte do que os escrúpulos.

- Você fala sobre inimigos, feitiços de proteção – ela sondou. - Isso me faz lembrar... Aquele homem, Riddle, tem algum meio de nos fazer mal?

Harry deu um sorriso amargo:

- É um bom exemplo de inimigo – e lhe deu um rápido olharzinho, como se soubesse que ela havia pescado aquilo de sua cabeça. – Acontece que o poder de Tom Riddle é outro. Bem mais sutil e tão funesto quanto. Enquanto ele é completamente medíocre em magia, sua língua já mostrou o mal que pode fazer.

- Foi dele então – ela falou com tristeza, mais com seus botões.

- O que disse?

- Todo o boato. Foi ele, não é? Foi ele quem te envenenou contra sua mãe e meu pai.

Um ricto de profunda contrariedade marcou as feições do rapaz:

- Como sabe disso?

- Somei dois e dois, palavras soltas. Uma coisa assim não se esconde por muito tempo. E você não fez nenhuma questão. Quando me conheceu, seu ressentimento chegava a ser palpável. Como se estivesse envenenado.

- Tom Riddle não me envenenou – ele esfregou a mão nos cabelos, os ouriçando ainda mais. - Ele apenas espalhou as coisas, os segredinhos sujos de família que deveriam ter sido enterrados com eles.

- Eu não acredito nisso. Em nada dessa estória mentirosa.

- Bom pra você.

- Harry, eu li as cartas que meu pai escreveu pra minha mãe. Li os bilhetes d’O Clã. Ele amava minha mãe e Lily Morgan era sua confidente. Confidente do quanto o casamento dos meus pais estava sendo abalado por conversas maldosas e infundadas sobre magia negra e traições. Eles eram amigos, Harry. Só isso.

Harry viu a luz da certeza nos olhos da ruiva. Seria maravilhoso ter aquela confiança. Mas ele tinha convivido por tantos anos com histórias de traição, com as suspeitas sobre a morte de seus pais, que não comprava um alívio fácil. Revolver aquilo era sofrer. Já estava tudo mais do que assentado em sua cabeça.

- Detesto ter que destruir sua imagem de pai perfeito, mas não acredito em nada do que disse. Você ficou sabendo sobre o modo como eles morreram? Numa estrada tranqüila, sem perigo. Só os três no mesmo carro.

- O que está querendo dizer? – Ginny sentiu o agouro soprar em sua pele arrepiada.

- Meu pai era um excelente motorista. Todo mundo diz isto.

- Está sugerindo... que foi proposital? – ela se horrorizou.

- Não estou sugerindo nada. Estou só dizendo que um “acidente” assim, sem motivo, faz pensar em muita coisa.

- Harry... isso é paranóico. Seu pai não ia se matar e...

- Matar junto as duas pessoas de quem mais gostava? – as feições dele foram ficando mais duras. - As que traíram sua confiança?

- Pelo amor de Deus, não me diga que acredita nisso! Crescer acreditando nisso seria...

- Outra forma de suicídio? – o olhar dele foi tão vazio que ela chegou a recuar.

Virgínia negou com a cabeça, petrificada perante o abismo que adivinhava no coração do rapaz.

- Ninguém merece confiança, Ginny. Aprenda isso antes que seja tarde. Ninguém presta.

Ela se aproximou mais dele, ansiosa para fazê-lo mudar de idéia, enxergar:

- Não é verdade. Você só precisa ter mais fé, existem pessoas que merecem o melhor que se pode oferecer. A bisa, tia Candie, Lizzie, seu padrinho... você – ela quase se intimidou diante do olhar penetrante que ele lhe colocou, mas não se impediu de continuar. – Eu sei que ainda está morando aqui por nossa causa. Para nos ajudar e... proteger – seu olhar foi de profunda gratidão. - Você vale muito Harry.

As palavras dela foram como um soco macio no seu peito. Como é que ela sempre conseguia dizer essas coisas imprevisíveis, que nem ele sabia que precisava escutar, até que as ouvia? Só ela conseguia atingi-lo desse jeito dolorosamente suave, dolorosamente Ginny. Só ela conseguia transformar sua amargura em algo mais morno, o deixando sem palavras, o deixando livre de sua censura. Sempre era levado a agir por impulso quando estava junto a ela. Junto à sua mente instigante, à sua pele clara e seus olhos cheios de calor.

Ele tinha dado um passo involuntário em direção à ruiva e ela nem se movera. Aquela ali não sabia o que era melhor para si mesma. E, infelizmente, ele nem podia se dar ao luxo de preveni-la. Harry tinha um meio sorriso estúpido, triste, lutando para ser contido em seu rosto, dizendo que, ao contrário de censurá-la, estava a ponto de implorar por sua imobilidade. Ao menos nos próximos segundos.

Ele disse alguma coisa, mas Ginny estava tão aérea que não tinha entendido direito. Era isso ou... Não. Definitivamente não tinha entendido. Então pediu para ele repetir.

- Posso te beijar agora ou ainda tem alguma coisa pra perguntar?

Ela arfou. Agora sim, tinha ouvido bem, mas ainda não fazia o menor sentido.

- Eu sempre tenho mais coisas a perguntar – disse atropeladamente.

Ele não mais conteve o sorriso:

- É, você sempre tem. Mas agora só está me ocorrendo uma resposta pra tantas perguntas – os olhos dele pesaram. – Nós estamos nos devendo isso, Ginny. Você sabe que sim. Posso te...?

Ela abanou as mãos, fazendo ele se calar:

- Você está falando sobre dever, sobre beijos? Olha... Harry... Sem ofensas, mas eu acho que você nem sabe o que quer.

- Ah, eu sei sim.

Mas ela parecia não escutar. Não querer escutar.

- Fica aí com esse jeito todo seguro, falando sobre magia, clãs, me pedindo... – Ginny falava depressa, nervosa, sem dar tempo para réplicas – Você ia me pedir beijos. Beijos! Você, por acaso, nunca ouviu falar que beijos a gente não pede?

Pronto. As palavras traidoras já estavam soltas no ar, e o que seria uma turbulenta esquiva, se tornou uma abertura traiçoeira e convidativa.

- Hum... – forçando o rosto a assumir um ar reflexivo, Harry pareceu pesar o argumento. - E o que a gente deve fazer, então? Se não se pode pedir, de que forma se supõe que a outra pessoa quer ser beijada?

- Harry... Eu... – suas palavras eram sua sentença de morte, e mesmo assim, ela não podia deixar de pronunciá-las. - Essas coisas a gente tem que sentir... Acho.

- Então, acho que vou confiar nas minhas sensações e nos meus instintos – ele andou outro passo. – Se um cara se aproxima e a garota não se move, isso quer dizer que ela quer? Ou quer dizer que está tão assustada que congelou no lugar?

- Talvez as duas coisas – ela sussurrou, os olhos pregados no chão.

Sua súbita explosão de energia tinha sumido e Ginny olhava propositalmente para baixo, procurando qualquer subterfúgio, qualquer coisa que tirasse a atenção dele de sobre si, que fizesse seu coração voltar ao normal ou a conversa voltar-se para coisinhas simples, como magia negra e vodu.

- Tenho dever de casa – ela se virou, mal articulando o argumento débil, e quase dando as costas para o rapaz. – História. Uma redação sobre... sobre... alguma coisa antiga.

Ele assentiu sério, compreensivo demais:

- Deveres... Sei como é isso. Eu também tenho um.

- Ah – ela se voltou para ele, menos alarmada, meio confusa também. Tinham encontrado um assunto pacificador? – Dever de quê?

No rosto de Harry um sorriso lento se formou:

- De como te beijar corretamente. Não tenho sido um bom aluno ultimamente. Não quer me ajudar, Ginny? Prometo me esforçar e... Quem sabe desta vez eu não tiro um “A”?

Harry chegou até a ruiva e, devagar, foi levantando o rostinho abaixado, até que visse os olhos castanhos muito confusos, meio pedindo, meio fugindo. Como alguém poderia resistir a ela? Ele por certo não tentaria.

- Vou voltar pra dentro – ela soprou.

- Vai – ele fez que sim. – Mas não agora.

- Isso... isso não vai dar certo - Ginny murmurou por pura força de vontade. – Já tentamos isso antes e sempre... Nunca dá certo.

- Pode ser, mas isso você me diz no final – e concluindo, ele a beijou.

E quando os lábios se tocaram, as coisas seguiram seu ritmo mágico e, ao mesmo tempo, natural. Corpos se enlaçando, quentura, línguas se unindo. Ritmos antigos, que as pessoas pareciam nascer sabendo, só que no caso dos dois, aquele ritmo se tornava a mistura perfeita entre seu primeiro cálido beijo e aquela última sessão de toques devoradores. Nada era igual ou parecido com o que houvera antes, e ainda assim, tudo era familiar, como se soubessem exatamente como agir, como se conhecer pelo toque.

Quando ele a trouxe mais para dentro do abraço, mais para dentro do beijo, erguendo Ginny do chão, ela conteve os suspiros que vinham sucessivamente de sua garganta, enquanto ele, sem que soubesse, fazia a mesma coisa. Não estavam escutando as batidas dos corações, não estavam surdos, tremendo, nem nada parecido. Eles apenas estavam aproveitando e vivendo aquele beijo intensamente, de um modo totalmente presente, completo, numa comunhão entre corpo e alma. A visceral sensação de estar cansado do jogo, da jornada e finalmente, ah... finalmente, chegar em casa.

Ao afastar o rosto por segundos, Harry indagou com alma e coração:

- Deu certo pra você? - e teve como resposta, maravilhosa resposta, um resmungo de Ginny e seus braços macios o puxando sofregamente, trazendo os lábios dele de volta para si.

Tinha tirado um “A”. Tinham tirado um “A”.

Se ele soubesse tudo sobre si mesmo, não estaria tão completo. Se ela estivesse em cima do carvalho, não estaria mais perto do céu.

Beijos lentos que se tornavam intensos, beijos loucos que se tornavam doces, e novos beijos que descobriam mil novas formas de beijar. Haviam sido horas? Horas de paraíso debaixo do carvalho? Certamente que não. A sensação era de minutos, um tempo curto demais para os que se encontram nalguma encruzilhada da vida e descobrem que são perfeitos quando unidos.

Vento na pele, o suave rangido do balanço de madeira, mãos apertando cintura, pescoço, cabelos. Fragrâncias de pele, derradeiras flores se decompondo num perfume forte, folhas sussurrando e todos aqueles sons de mato, jardim velho e respirações conjuntas. Corpo colado em Harry, costas sendo coladas no carvalho. Boca mordida por Ginny, cabelos acariciados. Escondidos de todos, de tudo. Beijos e beijos e gostos sem fim. A noite caindo, as sombras crescendo, os chamados longínquos de Sarah Mae para o jantar, se perguntando onde estariam os netos de dona Eugênia. Não seria simples, nem para eles, saber onde estavam, exceto que estavam juntos, formando uma coisa bem maior que duas pessoas.

Finalmente fora a voz de tia Candie que interrompera a canção. Aparentemente os Morgan tinham um convidado para o jantar. Sirius Black, logo atrás de Candice, mantinha os olhos diretamente voltados para aquela direção. Do ângulo em que os jovens estavam, corpos ocultos pelo tronco do carvalho, não teria sido possível ver nada, apenas conjeturar. E pelas faces desconcertadas de tia Candie e olhos apertados de Sirius, as conjecturas foram muitas e todas corretas. Tontos demais para fazer qualquer outra coisa que não se afastar um do outro e sair delatoramente de seu “esconderijo”, eles caminharam para casa, trôpegos, cabisbaixos, e participaram daquele jantar praticamente mudos, sem maturidade ou coragem para se olharem uma vez sequer.

Tia Candie usando toda sua experiência de anfitriã, tentava tornar o ambiente mais leve, o que não se mostrava muito simples já que os garotos não colaboravam, mas, principalmente, não era simples porque suas próprias lembranças a colocavam naquele mesmo cenário do flagra, beijos e abraços escondidos pelo carvalho.

Sirius auxiliava Candice no que podia, desenvolvendo os assuntos que ela puxava, enquanto parecia se focar mais na boca da mulher do que nas palavras que ela dizia, mas mesmo assim, ainda encontrava habilidade para lançar “aquele olhar” para o afilhado. O olhar que sugeria uma conversa séria num futuro bem próximo.

- Então... há quanto tempo vem acontecendo isso? – ele perguntou ao final do jantar, quando sua anfitriã o conduzia até o portão.

- Não sabia de nada, até hoje – ainda atordoada, Candice tentava não pesar as possibilidades.

- Você acha que eles...

- Ah, Deus, nem faça esta sugestão.

- Que sugestão? – ele não conseguiu deixar de rir.

- Essa que está dentro dessa sua cabeça...

- Dessa minha cabeça lógica? – ele completou, maroto. – Não é preciso ser vidente pra perceber, Candie. Se os dois ainda não tiveram nada mais sério, é porque ainda vão ter. Vou falar com ele.

- Faça isso. Vou falar com ela também- e então suspirou pesadamente. - Ah, isso não pode estar acontecendo de novo.

- De novo?

Ela corou como uma colegial. Estivera pensando nela mesma e Sirius, passando por todas aquelas doces e perigosas fases de descobrirem a si mesmos e ao amor.

- Não faça caso de mim. Estou atordoada demais.

- Certo. Eles são primos e tudo isso. Mas você não vai querer agir como uma matrona de outro século, vai?

- Não é nada disso, Sirius! Faz idéia do que aconteceria se a Molly soubesse? Se sequer desconfiasse?

Ele mordeu os cantos dos lábios:

- Grande problema.

- Você nem imagina – Candie tentou afastar a visão de Molly Rosings gritando descontrolada enquanto arrastava sua sobrinha de volta para a Inglaterra. Sacudindo a cabeça de leve, ela procurou se focar no possível problema mais primário. - Agora, acho bom o Harry se comportar com essa menina.

- Ah, Candie... – Sirius se esforçou em não rir mais forte, mais maroto. - Ele pode até tentar, mas pelo que vimos, acho muito difícil conseguir.

- Ai, meus Deus... Eu não estou falando sobre isto. Harry é um menino de ouro, mas numa idade bastante volúvel. Não quero ver minha menina chorando pelos cantos.

- Bom, sobre isso...

- O quê?

- Você reparou o jeito que ele estava? Durante o jantar?

- Totalmente embaraçado? É, eu reparei sim.

- Pois então. Quando o Harry tinha quatorze anos, teve a infelicidade de ser pego por mim se amassando com a Cho no sofá da sala. Sabe o que ele fez?

Candie fez que não.

- Disse apenas: da próxima vez, faça barulho antes de entrar, Sirius. Dá pra imaginar? No meu apartamento – teve o cuidado de não se referir a ex-esposa -, meu sofá, e usando essa arrogância e cara-de-pau? O que eu quero dizer é que se ele não se incomodou quando tinha essa idade, porque se incomodaria agora? Mesmo porque, naquela época, eu o peguei fazendo coisa bem menos inocente do que beijar.

- Certo. Poupe-me. Então... Está querendo dizer que ele se importa com a Ginny?

- O suficiente para corar toda vez que abriu a boca durante o jantar.

- Talvez ele tenha ficado com vergonha de mim.

- Talvez.

Candie o perscrutou, sabendo muito bem que aqueles olhos azuis matutavam sobre algo.

- Você não acredita nisso.

Ele suspirou:

- Não. Acho que seus problemas e os meus só estão começando.

- Problemas por quê? Molly?

- Nah. Problemas porque, ou muito me engano, ou temos dois adolescentes apaixonados sob nossa responsabilidade.

- Apaixonados – ela repetiu, sentindo a cabeça vibrar.

- Apaixonados – ele confirmou, fitando-a com intensidade. – Do mesmo jeito que nós já estivemos. Literalmente. Atracados debaixo daquela mesma árvore.

- Você nunca vai me deixar esquecer isto? – ela apertou os olhos, irritada.

- Claro que não – e ele sorriu antes de lhe roubar um beijo na bochecha e se retirar.

E enquanto se continha para não tocar a face no lugar beijado, Candice tinha o mesmo pensamento que atormentaria Sirius e seus sobrinhos. “Não era estranho como o tempo era cíclico? Como o mundo tinha o hábito de girar até voltar ao mesmo lugar?”



XXXXXXXXXX



N/B Sally: Eu... eu... eu ainda estou sem ar. Esperei um dia inteiro para poder voltar a respirar e escrever essa nota, mas ainda estou sem ar. Prendi a respiração no amanhecer e quando o fim da tarde chegou o ar não entrou nem puxando pela boca. Ritmo, narração, revelações e os "momentos" dos personagens escritos em cadência, em sonoridade. Verdade mana, tudo o que me vem à cabeça é música. Algo doce e apaixonado. Não tenho como dizer melhor, então vou repetir a última frase do meu mail: Você me deu um maravilhoso fim de sábado e meu corpo cansado, minha voz desaparecida e minha mente exausta agradeceram cada minuto, cada palavra lida e cada longo beijo sob o carvalho. Parabéns, mana! Está extraordinário!

P.S.: Lizzie é a vingança das baixinhas. Sabe que tem garoto que tem preconceito com menina baixinha? Pois é. A Lizzie é a minha heroína. Não vou levantar bandeira não, vou fazer bottons!! Rsrsrs


N/A: Bom depois deste chamego no ego... *Geo ainda tentando voltar pro chão. Não tenho muito a dizer sobre o capítulo, exceto que não fluiu muito fácil em certa parte, mas, por felicidade, posso dizer sem exagero nenhum que minha mana Owens pensou e escreveu comigo e, juntas, fechamos a partezinha complicada. E com o perdão da esnobice, ficou supimpa!
E só ressaltando, meu tempo está muito escasso e deve continuar assim, portanto não posso att com a rapidez que vocês e eu gostaríamos. Conto com a paciência e o apoio de todos. Sempre. ^^ E meu carinho não diminuiu, só o tamanho das respostas aos reviews. T.T Mas vcs entendem, era isto ou demorar ainda mais.

À propósito: Parabéns, Paty Maria!!! Felicidades pra minha irmãzinha, que fará níver dia 07/10. \o/


Agradecimentos Especiais (curtinhos, mas de coração):

Weena: Ah, continua lendo sim, querida... ^^ Adoro muito ler. É o meu vício. E não conheço as cidades, só de tanto sonhar e pesquisar. Mas um dia... XD Beijos enormes.

Aline: *_* Puxa! Obrigada mesmo, linda. Eles não foram pegos dormindo juntos, mas até que os últimos beijos compensaram, né? Bjux.

Lilly: Não me canso de vc nunca, querida. Mesmo! Obrigada pela paciência e por ter entrado junto comigo na história. Um mooonte de beijos.

Dany: Aêee! Uma fã de Cedric! Mas te entendo muito bem, ele é o príncipe encantado que toda garota sonha. *suspira. E muito obrigada por tanto apoio, querida. Bjão.

Ivan: Seja bem vindo, querido. Este recanto cheio de garotas o recebe de braços abertos. Hihihi. Estou feliz demais por ter descoberto a fic. \o/ Bjo.

Priscila Louredo: Maninha, este foi um capítulo mais leve, mas outros pequenos sustos virão. Bjos imensos.

Miaka: Ficou meio Romeu e Julieta mesmo, né? Rsrsrs. Mas esta Lizzie-Julieta é bem mais decidida. XD. Bjinhos

Livinha: Seu elogio vale mais que chuva em dia quente. E a gente sabe o quanto uma boa chuva tem valido ultimamente. Hihi. Mas sério, foi MUITO importante pra mim. Amei muito, maninha. Bjs.

Kelly: Morrendo de rir. Ahuahuahua! Se o teu patrão te pega... XD. Mas vc podia dizer que está meu dodói, que caiu da escada e foi preciso um moreno lindo pra te cuidar. Nada mau... Hihi. Estou encantada pela sua sugestão à respeito da comunidade, mesmo não me achando isso tudo. Te mandei um e-mail? Recebeu? Em todo caso, fico mais contente ainda por ter feito uma nova amiga real no mundo fiction. :-) Beijos imensos, querida.

Ninguém: Prazer é o meu em te ter por aqui, querido. Muito obrigada pelas palavras gentis... e até pelas não muito. Rsrsrs Beijão.

Remaria: Seu carinho é uma bênção, irmã. De verdade. Valeu por todo o chamego e por sempre estar ao meu lado, mesmo com tantos quilômetros nos separando. Beijo sempre.

Sophia.DiLua: Rsrsrs. A intenção foi assustar mesmo, mas não matar. E devagarinho os pensamentos pecaminosos vão tomando corpo. ^^ bjão

Nani Potter: Ah, maninha, pode deixar. Devagarzinho este fogo todo vai sendo ateado. Palavra de bruxa! Rsrsrsrs. Bjussssss

Ara Potter: Seu comentário foi demais. *_* Brigada, brigada, brigada! Espero que tenha gostado deste capítulo também. Beijo cheio da saudade, mana. :-*

Beatriz: Obrigada, querida! Fico muito contente que esteja gostando. XD Bjo.

Julyblack: É a lei da compensação. Primeiro um grande susto, depois a recompensa. Rsrsrsrsrsrs. Eu tbém gostaria da segunda parte. :-***

Nimue25: \o/ Sim! Viva o Harry, herói e complicado. ^^ Valeu, querida. Bjos.

Cah Weasley: Meu Deus... Seu primeiro beijo deve ter sido o sonho de consumo nacional. ^^ Obrigada por tudo, linda. Beijo pra você.

Sally Owens: Amada, se existe sucesso, pode saber que ele também se deve a você. Obrigada por tudo, querida. Beijo imenso.

Bia Mostand: Obrigada, Bia! Vocês estão me deixando insuportável. Rsrsrsrsrsrs. Beijão.

Lis.Strange: Querida, acho que vou precisar de seus conhecimentos “voduísticos”. Ahuhauhauhuhaua! Ainda não li O Iluminado, só vi o filme, mas foi um baita elogio que vc me deu. Bjo, bjo, bjo.

Ceci Potter: Vocês estão me deixando insuportável (2). Rsrasrsrsrsrs Ah, querida, muito obrigada, sim? De verdade. Significa muito saber o quanto estão gostando. Bjos carinhosos.

Diana P. Black: “Ministério da saúde adverte: Harry na calada da noite faz um bem a saúde danado.” Ahuahuahuahuahua! E vc entendeu a coisa mesmo. Como funciona a família e sobre o andamento da relação entre nosso casal. E o filme, eu já vi umas partes, e embora não seja baseado nele, este negócio de vodu tem coisas muito parecidas. Beijinhos.

Letícia Gothic: Espero que continue gostando, querida. Beijo imenso pra ti.

Ari Duarte: Querida, eu também morreria de medo se fosse comigo, mas se fosse pra ter o Harry cuidando de mim, até que eu pensava no caso. XD Obrigada e beijos mil.

MárciaM: Sim, mistérios demais. Só espero desenvolvê-los a gosto. XD Beijos, querida. Saudades das nossas risadas.

Sônia Sag: É, querida, o Ridlle. A pedra no sapato está de volta. O.o’ e eu te deixei com medo? Hihihi. Foi essa a intenção. "Vem cá que eu te cuido, e te dou colo encostada na minha camisa negra e cheirosa". Ahuahuahuahuahua! Eu tbém querooo! Beijão, amiga.

Pandora Potter: Valeu pelo carinho, querida. Mais medo está por vir, mas mais paixão também. Hehe. Bjux.

Tonks Butterfly: O Harry é tudo mesmo. E não se preocupe que o seu lobinho entende. Espero. Rsrsrsrsrsrsrs. Mega beijo, linda.

Isa Kolyniak: Muito, muito, muito obrigada mesmo pelo carinho e paciência. É muito gostoso saber que vc esteve esperando pela postagem, entendendo o quanto as coisas andam corridas, e que tem gostado tanto da fic. Me fez muito bem o teu recado. Beijos enormes, querida.

Anne Baudelaire: querida, vc nem imagina o quanto é complicada esta tal coordenação. Hihi. Minha beta amada, que o diga. E fico contente demais por estar dando certo. Valeu pelo apoio. :-***

Camy Tonks Potter: Acho que quase todos nós já tivemos alguma experiência fora do comum. Azar de quem torce o nariz. ^^ E aí, como está na janela do Harry? Vendo o casalzinho dormir? Hihihi. Beijocas, querida.

Juliete Weasley Potter: Ai, que bom! Eu sei que demoro, mas fico pulando de alegria por valer a pena. E amei este Harry protetor. Ynhami! Rsrsrsrs. Beijos, linda.

Amanda Regina Magatti: Ahuhauahuahua! Vou montar um negócio para o Harry: protetor de donzelas (não tão) indefesas. Rsrsrsrsrsrsrs. Vc está na lista. \o/ E já deu pra ver que a Lizzie vai infernizar o Draquinho. Tadinho... XD Bjão.

Alessandra Silva: Aqui estou, querida. E pode aguardar, a família Morgan ainda tem mais mistérios a desvendar. Bjinhos.

Lola Potter: É, a Velha não é nenhum anjinho. Merece todo cuidado, mesmo. Rsrsrsrs. Bjux.

Gina W. Potter: Querida, sua comparação não poderia ser mais lisonjeira. Capítulo Sally é Owens equivale à selo de qualidade. ^^ E como vê, a ficha do nosso casalzinho está caindo, caindo, caindo... XD Beijoooo.

Ana Carolina Guimarães: Vc sonhou mesmo com a Velha? Ai, credo!!! Ahauhuahauahua! Já pensou se ela resolve perseguir os leitores? Bom, aí só vale se o Harry aparecer também. XD E pode esperar que vou explicar mais sobre o Riddle, sim. Beijão, querida.

Luana Gomes Evans: Te agradeço muito, querida. Valeu pelo chamego. Bjo, bjo.

Charlotte Ravenclaw: Hihi. A Velha deve estar orgulhosíssima de seus feitos. Adorando o impacto que causou. Aparecida... E a Gi tomar banho de sal grosso? Rsrsrsrsrs Verdade. Vamos ver se o Harry vai poder ajudá-la. Beijos sempre, querida.

Morgana Black: A bisa tem problemas no coração mesmo, mas bem que a Velha se aproveitou da ausência de todos para atazanar nossa ruiva, né? Ò.Ó E a cena final... É... eu bem queria estar na pele dela e nanar com o fofuxo. Mas queria mais ainda estar debaixo daquele carvalho. Hehe. Beijos estalados, querida.

Paty Black: Maninha, vou te promover à promoter oficial da fic. Rsrsrsrsrsrsrs. Eu só posso te agradecer a generosidade e o carinho. Vc sabe como escrever dá trabalho, mas também apaixona. E saber que tem agradado tanto... Céus, é melhor que qualquer outro presente. Te amo, florzinha. Beijos mil. OS: E quando o maridão estiver em casa e vc com medinho, se aproveita dele. KkKkKkKkKk. Feliz aniversário adiantado. :-*

Monalisa Mayfair: *_* Vc me deixou mais ou menos assim, Mona. De olhos brilhantes e sorrisão. Obrigada mesmo, linda. Escrever é realmente abrir um pedaço da alma para os outros. E não tenho palavras para dizer o quanto vcs são gentis com esta alma. Beijos gigantes, querida.

Pamela Black: Pam, vc entendeu totalmente o espírito da coisa. Ahuahuahuahua! Velha + Ginny = Harry carinhoso atracado na ruiva. Hihihi. Adorei seu coment, ri demais. E mesmo atrasada, feliz níver, querida!!! Parabéns! Um beijo bem especial.

Marcelle: Quer saber, querida? Eu também sou ultra-romântica! E que se danem os durões. Rsrsrsrsrsrs E vc me matou de rir dizendo pra não fazer outra coisa da vida senão escrever. É... bem que eu gostaria. Beijocas.

Gê GehrKe: Sim, a bisa está bem viva, e terá boas revelações a fazer. É só aguardar. Quanto ao clichê, infelizmente não dá pra variar muito a coisa. É proteção, mesmo. Quando vem o pânico e a gente gruda no pescoço do namorado, querendo chamego, querendo colo. Já passei por algo assim (não com fantasmas, mas com problemas do cotidiano). Mas fico feliz que tenha gostado. ^^ Bjão.

Aluada: Rsrsrsrs. Olha lá, heim? Cuidado pra mamy não te proibir de ler a fic. Brigada pelo apoio, querida. :-*

Lana Weasley: Ah, eu peguei rabeira com a tia Anne e me dei bem. Rsrsrsrsrsrs Valeu, querida! Espero que continue gostando. Bjo, bjo.

Jeh: Ah... vc me deixou toda contente. Obrigada, viu? É bom demais ter o apoio de vcs. Bjãozão.

Natália: Querida, a intenção é fazer vcs viajarem comigo na história. E se está dando certo... \o/ Só posso comemorar demais (junto com vcs, meus maiores incentivadores). Beijos.

Carla Luíza: Muito obrigada, querida.Feliz por vc estar gostando. Bjux.

Lica Martins: Adorei seu recado, querida. Eu tbém nunca gostei de ler fic incompleta. Mas a eu mais gosto hoje em dia, são. Rsrsrsrsrsrs. Geo pagando os pecados. Tem momentos em que é difícil colocar os personagens da Joanne (suas personalidades), mas estou tentando. Grata demais pelo apoio. Bjos.



Meu abraço carinhoso a todos que lêem e apreciam a fic, deixando seus recadinhos ou não.
Da amiga de sempre,
Geo.






















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