Sangue...



Cp06
Sangue...

Se esticou na cama como um gato,soltando um longo bocejo, por incrível que parecesse estava com um ótimo humor, adorando a sensação de semiconsciência, de estar imerso em sono, em preguiça... até um monte de coisas caírem em cima dele.
-Que bom que você finalmente acordou...-disse Hermione.- São as compras seu farrista.
-A Molly sabe que você está nesse quarto?-disse sem se mover.
-Sabe... ela tá aqui também...-disse desanimada.
-Estou sim.- falou Molly.
-Você sabe o que seus dois filhos estão fazendo agora?-disse ainda sem se mover.
-Sei, estão tomando café...-ela respondeu seca.
-Quer que eu diga quem tá no colo de quem?-respondeu ainda mais secamente.
Só escutou os passos da Sra Weasley e ela berrar na escada.
-Se comportem aí embaixo!!!
Harry ainda estava deitado... olhos fechados, embaixo de sacolas e sacolas, sentiu com prazer Hermione o chacoalhar.
-Anda Harry acorda!!! As compras!!!
-Legal... uma casa imensa e vocês duas tem que jogar todas elas em cima de mim... eu quero dormir...
-Anda rapaz!-puxou a Sra Weasley.-Vamos Harry são as suas coisas!!!
-Minhas? Não... pra mim.- bocejo.- eram só os livros...
-E ingredientes de seu estoque...
-Ah é...- disse esfregando os olhos, mas sem se mover... agarrou o travesseiro, derrubando algumas sacolas.
-Harry!-disse Hermione.-Poxa... passei um tempão escolhendo as roupas pra você!!!
-Roupas?... que roupas...
-AH!!! SAIA DESSA CAMA!- Hermione o puxou pelo braço.
-AH!!! EU TÔ CANSADO!!! QUEM VOCÊS ACHAM QUE LIMPOU A CASA EM MEIA HORA ONTEM? E FEZ O JANTAR? ME DEIXEM DURMIR!!!- puxou o braço e se enroscou na cama.
-Grosso.- Mione se fingiu magoada.- Eu renovei o seu guarda roupa e você nem quer olhar...
“Se eu disser e daí? Ela vai me matar... se eu disser que não pedi isso, ela vai me matar... se eu não olhar, ela vai me matar... mulheres...”
-Porque fez isso?-disse se sentando na cama, olhos semiabertos.
Molly deu um grunhido que Harry não entendeu.
-Ai Harry!!! Você não quer ficar desfilando por aí com aquelas roupas velhas... por favor...
-O que tem de errado com minhas roupas...- protestou ainda sonolento.
Hermione deu um grunhido de insatisfação que o fez arregalar os olhos.
-Ah... tá bem, tá bem... eu olho... mas posso dormir mais um pouquinho?-disse se jogando de novo na cama...
-Vamos Hermione...deixe o Harry dormir.- disse a Sra Weasley.
-Eu vejo as compras daqui uns vinte minutos... eu juro.- disse enfiando a cara no travesseiro.
-AI... tá bem, tá bem...-disse a garota desanimada lhe dando tapinhas nas costas.- Namorado vagabundo que fui arrumar...
-Obrigado Mione...-disse quando ouvia-a saindo.
-Experimenta as roupas ok?
-Hum hum...

Não demorou vinte minutos e sim mais duas horas, mas acordou feliz, desperto e despreocupado, como se não houvesse mal no mundo, ou nem houvesse mundo fora da casa, era uma sensação engraçada, de paz... algo que ele não conhecia bem... se sentir tão em paz... olhou o quadro de Nigellus que ainda adornava vazio a parede e começou a juntar as sacolas, duas na cama vazia ao lado eram as de livros e ingredientes , então ainda meio embasbacado contou quatorze sacolas de roupas “eu me visto tão mal assim?”
Bom... a vida inteira você recebeu roupas usadas do Duda... pensou passando a mão num moleton especialmente macio, não faz mal querer algo novo pra você... faz? Sabia que tinha sido comprado com seu dinheiro... nenhum deles, nem Hermione, teria dinheiro para aquelas extravagâncias... Meu dinheiro... Minha casa... na verdade não importava... porque tocando naquela roupa Harry teve a súbita compreensão de que não conhecia o sentido de proprieddade... sabia que eram suas, mas isso era apenas uma permissão para usa-las... retirou as roupas cuidadosamente, calças, blusas, camisas, até roupas intímas...Hermione...
Roupas são sempre apertadas?
Desceu usando uma calça jeans preta e ema camisa branca, sabia que a Sra Weasley aprovaria... se sentia estranho... amarrado.
-Ficou bem em você...-disse Hermione pelas suas costas.
-Acha? Não ficou um tanto...justa?
-Ah, Harry!-ela riu.
-Que?- ele sentiu que estava corando.
Hermione o abraçou, “eu nunca senti isso... não mesmo...”
-Você as vezes é tão devagar...
-Incrível como você tem um dom para me elogiar...
-Isso é culpa sua...
-Minha é?- enfiou o rosto no peito dela.
-Safado...
-Sem malicia Mione... eu gosto de ficar assim... não avança...
-Você não gosta?
-Adoro... adoro você... seu cheiro... seu cabelo.
-Ai Harry... meu cabelo?
-Gosto sim... sempre gostei.
Os braços dele passaram pelas costas dela, um apertando-a firme pela cintura, o outro se enosando nos cabelos dela, ela fez a mesma coisa, mas acariciava a nuca dele.
-Eu amo você Harry... muito... tanto que dói.
-Eu sei... desculpe.
-Não é pra se desculpar... seu burrinho... meu burrinho...
-Eu sou...
-Burro?
-Não... seu mesmo.
-Se você não parar de falar assim eu vou te morder...
-Assim como...
-Desse jeito fofo.
-Fofo?
-Ai Harry não tem jeito, você parece criança...
-Você não gosta?
-Adoro... mas dá vontade de morder.
A Sra Weasley gritou algo da cozinha e eles se separaram, só então ele percebeu que ela estava muito vermelha, achou bonito... talvez, fosse a primeira vez que realmente olhava atentamente, passou as mãos pelos rosto dela e sorriu, ela sorriu também, perderam a noção que ficaram ali, de pé apenas se olhando... tão bom... tão em paz...
E ele só queria isso na vida.
Pena que Molly ainda achava que era cedo demais e ainda ficara mais em cima do que antes... bem, ele tinha que admitir que pisara na bola, mas era tão raro se divertirem... assim descomprometidamente.

Infelizmente Harry sempre estava pronto, ou achava que estava para o Mundo desabar de seus pés, não, ele não esquecia totalmente e as vezes os pensamentos sombrios voltavam, por mais que os tentasse afastar... faziam parte dele, entramados em sua alma, afinal ele não era tão inocente quanto Hermione achava... sabia disso, conhecia o mal e convivia com ele, não gostava, não procurava, mas fora marcado por ele... era inevitável e inegável... as vezes os pensamentos tristes e sombrios o engolfavam...
Foi fazendo um mutirão de limpeza ainda maior para acabar com os traços de elfos da casa “para Hermione parar de chorar toda vez que olhava as cabeças nas placas mais de dois minutos...” que eles foram retirando tudo de lá, mas o ninho de Monstro causou uma dor como nunca antes sentira... e não foi a imundície em que ele vivia, que deixou Hermione ainda mais revoltada, nem as lembranças dos Black a quem ele servira fielmente, e Harry deu a Neville o retrato de Belatriz e mandou que ele destruísse, ainda olharam Harry com censura mas depois que Neville o destruiu pareceu ficar de melhor humor...
Molly foi carregando o saco com aqueles objetos quando Harry achou, escondido num canto, pegou e levou consigo, como se fosse um bebê... apertou tanto contra o peito que chegou a doer... sentou-se e ficou olhando pra ele... por muito tempo.
Hermione escapou de Molly e foi procura-lo, talvez sem saber o que a esperava, talvez apenas atrás de privacidade...
-Harry...
-Hum?
Ele estava de novo olhando a tapeçaria dos Black, sentado no sofá apertando algo contra o peito, com certeza ela ficou preocupada, tanto que repetiu o chamado.
-Harry.
-Eu ouvi da primeira vez...
Esse tom vago, isolado, só era usado por ele quando estava sofrendo, se martirizando por algo, era quando os olhos dele perdiam aquele brilho infantil e ficavam fundos como poços vazios... ela se ajoelhou na frente dele, ele tinha feito aquele enterro simbólico das coisas de Monstro só para anima-la, mas saíra por algum motivo ferido...
-O que foi? Hein? O que é isso?
-Isso?-ele olhou o objeto.- Isso é uma coisa triste.
-Harry... me conta.
Ele suspirou fundo, e sorriu triste, aquele sorriso triste quando algo ruim mas inevitável acontecia... como ele sorrira assim depois de cada ano após sair da Ala hospitalar, ela sentiu uma dorzinha no peito, apertou os joelhos dele e sentou no chão.
-O que é isso?
-Uma coisa perdida... que podia ter mudado tudo... acho que Monstro roubou... e por isso...- ele suspirou- por isso tudo aconteceu...
Ela percebeu que ele estava mesmo muito triste, mas não podia precisar porque... tinha medo de ver, mas de leve estendeu a mão e devagar puxou o objeto aninhado entre as mãos dele, não era muito grande, podia ser um retrato... ele não ofereceu resistência deixou que ela se olhasse e por um segundo ela ficou muito intrigada.
-Um espelho?
Ela olhou para Harry confusa, porque um espelho o afetaria tanto?, mas ele olhava o objeto com dor e carinho e então falou baixo.
-Isso era do Sirius... ele me deu o par...
-Como?
-Um espelho de dois sentidos... serviria para nos falarmos... mas eu esqueci e ele não mencionou mais... isso poderia ter salvo a vida dele.
-Ah... Harry...
-Eu fui tão burro em esquecer isso Mione. Como eu posso ser tão burro?
Ele olhava o espelho ainda com aquela expressão de dor.
-Eu procurei tanto isso, ano passado... como não pensei? Como eu sou burro...
-Harry achei que você tinha...
-Não dá pra superar isso Mione... eu não consigo... eu tento... mas não consigo esquecer... não consigo parar de me culpar por causa daquela noite... eu nunca vou descansar sabendo o que aconteceu... não consigo.
-Harry você tem que parar de se torturar por causa de Sirius.- ela o abraçou.
-Não consigo... ele se perdeu por minha culpa... ele está vivo, mas não está aqui... não está com a gente... e eu deixei...
Ela colocou a mão na boca dele.
-Você nunca conseguiria impedir Voldmort sozinho... não! Me ouça, você não pode fazer isso sozinho... não importa quantas profecias façam... Harry, você não pode tomar isso só pra você... não é justo...
Ele apenas puxou devagar a mão dela.
-Você sabe que não dá pra fugir... disso... - ele sorriu de novo brincando com os dedos dela.- Eu tenho medo agora...
-De ficar sozinho?
-Não.
-De que então?
-De morrer e te deixar sozinha... se eu falhar... você me perdoa?
-Ah Harry não pense nisso...
-Você acha que eu não vejo o medo nos seus olhos? Que eu não sei que você sofre?
Ela o olhou e abraçou mais forte.
-Eu disse que queria tirar esse amor de você lembra? Meu deus Mione eu sinto sua dor... eu sinto isso, e você não merece...
-Mas é o que eu quero... porque eu quero ficar com você... porque amo você... Naquele dia eu gritei com você que isso é meu e você não pode tirar de mim...
-Eu quero te fazer muito feliz... muito mesmo, mas nem sei por onde começar...
-Basta ficar comigo. Eu sou feliz com você...
-Então eu vou ficar com você...
-Pra sempre? De verdade?
Ele soluçou.
-Pra sempre e de verdade são palavras malditas... só existe o hoje . Eu só quero saber do hoje...
-Então... hoje você é meu?
-Sou.
Estavam abraçados tão apertados que dava pra sentir o coração um do outro... até parecerem bater juntos... como se fossem um e os lábios se unirem devagar... um.
Molly os chamou furiosa, mas estavam tão próximos que demoraram para se separar, e foi como se tivessem que cortar, metade de um coração para cada um deles, e doía um pouco ficar distante... apesar dos protestos saíram de mãos dadas, e Harry começou a ficar muito chateado em não poder ficar mais tempo partilhando o mesmo sopro de vida... eles ficavam perto bem embaixo das vistas da Sra Weasley, as vezes só olhando um para o outro... foi quando começou a sentir-se irritado também. Molly então redobrou, como se fosse possível, a guarda em cima dos dois.

Faltava dois dias para irem, havia uma excitação no ar, Hogwarts... ele sentia, um misto de alegria e nostalgia... poxa era o último ano... último.... e daí? O último e teria que dar rumo na vida... e isso era estranho...
Dumbledore não dera sinal de vida, nem outros membros da Ordem, não haviam grandes notícias... ele estava preocupado, esquecera de contar o sonho para Hermione, bom cada segundo que tinham depois daquele dia era só para curtirem o fato de ficarem perto de modo que ele sempre esquecia de contar... estava olhando a mãe de Rony costurar as vestes, na verdade descosturar a barra das vestes, eles estavam melhor na questão do dinheiro, mas ainda assim Molly gostava de fazer aquilo, e a mantinha ocupada na tediosa tarefa de pajear os quatro rapazes... ele estava irriquieto, estava a horas cotucando as palavras do moleton verde, mais que Hermione comprara e já tinha se levantado umas três vezes, dando qualquer desculpa e sendo impedido por Molly, que obviamente tinha medo que saísse atrás de Mione... que estava no banho.
"Ela tem medo de quê? Que eu asse a Mione, coma a Mione e palite os dentes com os ossinhos dela?" pensou irritado se levantando novamente.
-Aonde...
-A cozinha beber água... posso?!-disse irritado.
Ela o olhou, mas ele não se importou, ah é verdade, paciência tinha limite, era engraçado nos primeiros dias... o pior não era não ficar com a Hermione, isso ele poderia fazer depois, até tinha se conformado, o pior era a dor de cabeça persistente que andava tendo a dois dias... ele pegou o copo de água e ficou olhando.
-Algum problema querido?- perguntou a Sra Weasley na porta.
-Não... “Suma da minha frente!!!”
-Tem certeza? Harry, sei que você está chateado comigo...
Mas ele levou a mão a cicatriz.
-Não é nada disso Molly...
Ela ficou em silêncio.
Outra pontada dolorosa... o copo...
-Harry?
-Está doendo um pouquinho... vou me deitar...
-Certo querido...
-Vocês me chamam se precisarem...
-Claro querido.

Não é isso Harry, essa irritação não é sua... não é dele... acho que não é dele... Deus que confusão... Ele subia a escada, voltado totalmente a coisa estranha que estava em sua cabeça... isso sou eu mesmo? Claro, eu estou chateado... isso é um tédio e não param de pegar no meu pé... outra agulhada na testa...NÃO! Não sou eu! Eu sei me controlar, podem me pegar no pé que eu sei controlar isso... essa irritação não é minha...
Sentiu o puxão, o copo caiu no chão, mas o tapete fofo amorteceu o barulho... sentiu os braços dela, os lábios dela... ela sorriu, era tudo que podia ver na penumbra da sala escura... e o cheiro... cheiro de pele fresca, de banho...
-Até que enfim... a mãe do Rony não te deixa mais em paz...- riu Hermione.- Vou ficar com ciúmes...
Ele riu leve, a cabeça doída.
-Sua culpa... agora agüenta...
Hermione o olhava séria... ou parecia olhar, estava escuro...
-Não tenho culpa se você tem cara de safado...-sibilou.
-Eu tenho cara de safado?- outra agulhada na cicatriz...
Ela sorriu, passou a mão no rosto dele, ele a abraçara.
-Não tem não... – ela fechou a cara.- O que foi?
-Hã?- ele meio que despertou, “Pôxa... que hora pra começar a doer...”- Nada... mas você me deve um beijo...
Mas Hermione não se moveu.
-Harry...
-O que foi?
-O que está acontecendo?- ela começou a tremer.-O que é isso?
-Isso o quê pombas?! “Não seja grosso com ela seu idiota!!!”
-Harry... seu rosto está estranho...
-Como assim?- seu coração apertou...
Ela acendeu a luz do quarto com a varinha e o olhou com terror.
-Está aberta! Harry! Você está sangrando um monte!!!
-Como?- passou a mão no rosto...- Que DROGA!!!
Seu sangue estava escorrendo pelo rosto... até a garota estava suja de sangue... era uma visão horrível, ela suja de sangue, sussurrou.
-Você se sujou...
-Harry... você não está legal... devia... deitar... quanto sangue...- ela dizia preocupada apertando um lenço contra a cicatriz.
-Não aperta...dói mais!
-Desculpe.
A porta foi aberta com força e Molly ia gritar com ele:
-HARRY TI...
-Ele tá sangrando muito!- disse Hermione nervosa.
A Sra Weasley parou no meio do grito, e olhou para Hermione assustada e para Harry que agora apenas segurava o lenço no rosto, sentindo um estranho zunido nos ouvidos...
“Eu lembro dessa sensação... não gosto... não gosto mesmo...”
-Harry está me ouvindo?- perguntou a Sra Weasley.
-É a cicatriz que está sangrando, não meus ouvidos!- “não seja grosso!!!”
-É melhor deitar.
-NÃO!!!- e não sabia se protestava com elas ou contra a dor lacinante.
-Harry... ela está certa.- disse Hermione.
-Eu não quero deitar tá bem?- não quero mesmo...
-Harry você estava indo deitar quando subiu.- disse a Sra Weasley.
-É verdade... mas acho que não devo...
Mal reparou que estava escorregando, Hermione tentou segura-lo, mas ele acabou sentado no chão...
-Molly... vá chamar alguém...- disse muito zonzo.- Isso não é normal e não é ele... acho que não...
Foi a última coisa que disse antes de desmaiar...

Essa horrível sensação de pressão nos ouvidos e dor intensa... a garganta arranhando tanto que parecia se rasgar... ele conhecia... odiava, lembrava daquela noite negra quando fora torturado por Belatriz e Voldmort... dor e mais dor até tudo virar apenas mais dor e não haver espaço para mais nada, como se estivesse sendo possuído novamente, se debatia horrivelmente... ISSO ESTÁ ERRADO!!! Eu não sei de onde isso está vindo... por favor isso tem que parar!!!
Sentiu lamentos vindos de longe... muito longe, a dor não era sua... mas era de alguém... Harry sabia que não precisava sofrer... não... sabia controlar isso então viu em sua mente Voldmort rindo, rindo alegremente ao matar alguém que sofrera horas, alguém que finalmente lhe dera o que queria, apenas para acabar com aquilo... acabar com a dor...
Era uma espada... e ela acabava de atravessar o corpo da mulher...
NÃO!!! POR TUDO QUE É MAIS SAGRADO!!! NÃO É ISSO!!!
Agora estava claro o horror em sua frente.
A jovem mulher de longos cabelos vermelhos... oh Deus parece com Gina... Voldmort estava arrancando a espada de dentro dela... ele sentia, cada espasmo do corpo sagrado dela, corpo que guardava o artefato... e que era dilacerado para retirá-lo... só porque ela se negava a cedê-lo... tão horrível... ela olhava o céu pedindo perdão por fraquejar, ela o olhava... Ela queria perdão... mas era uma vítima... sem saber se ela podia vê-lo sorriu para ela... sim ela com certeza estava perdoada de qualquer coisa... lutara bravamente até o fim... ela sorriu de volta, algo que Voldmort não pode compreender... a mulher dilacerada a sua frente sorriu e morreu... em paz.
Se não fosse o triunfo, ele teria urrado de raiva ao ver a serenidade que se espalhou pelo rosto de sua vítima... Mas Voldmort ergueu a espada para todas as testemunhas verem... e se virou lentamente.
-Você!!!- ele sibilou.
Se encararam... Harry pode captar a onda de raiva e prazer ao vê-lo ali tão abatido olhando a mulher.
-Você matou.- disse triste.
Voldmort riu.
-Você não pode desfazer isso... seu tolo.- disse olhando o cadáver...
Não se pode trazer os mortos de volta...
-Veja Senhor Potter!- bradou Voldmort rindo com seus comensais...- Eu tenho a Excalibur!
Harry nem percebia isso, apenas olhou o cadáver.
-Seu tolo. ELA MORREU!!! ESTÁ MORTA!!! -berrou

Harry despertou chorando... morta... ela morreu!
-ELA MORREU!!! ESTÁ MORTA!!! -berrou
-Calma Harry você está aqui... de volta... calma.
Respirava de boca aberta, ofegante, uma dor horrível em sua barriga, como se ele mesmo tivesse sido rasgado... ao seu lado estavam Lupin e Moody.
-Calma rapaz...- grunhiu Moody.
Harry estava bem ciente que tremia convulsivamente, e estava com os olhos cheios de lágrimas.
-Ela morreu...- repetiu.
-Calma Harry.- disse Lupin apertando sua testa.
As dores eram tão grandes que Harry tinha vontade de vomitar... mas não podia... a dor em sua barriga era tremenda e gemeu quando Lupin tentou segurá-lo pondo a mão em cima.
-Ele tem agora... Voldmort... ele conseguiu.
-Harry calma!- disse Lupin.- Não faça nada até pararmos a hemorragia... você está muito fraco.
Mas os flashes do que vira o atormentavam, tudo tão real, tão cru e o sangue vermelho, tão... colocou a mão na cabeça com força, sentiu Lupin tentando segurá-lo.
-Harry, precisa parar de se debater... por favor... você tem que ficar quieto... e Dumbledore que não chega... Devíamos removê-lo.
-Isso não é aconselhável Lupin.- grunhiu Moody.- Achamos que só Fawkes vai curar isso...
-Então porque da demora?!- ele falou nervoso.
Harry deixou os braços irem escorregando, exausto, sem forças para falar... apenas angustiado e fraco... se acalmando... respirando cada vez mais leve.
-Harry não desmaie... não durma!!!- Lupin o chacoalhou.
Harry apenas gemeu.
-Ele está entrando em choque!- falou Lupin.
-Isso é mal.- disse Moody.- Onde está Dumbledore?
-Harry por favor não durma!!!

-Eu fiz o que eu pude... eu sorri! Idiota! O que é um sorriso pra quem tá morrendo?! Eu detesto isso! esse cheiro de sangue!!!
-Hum hum... mas um sorriso pode aliviar a alma.- sibilou ela.
-Não!- colocou a mão na cabeça e balançou-a nervoso.- Ele tem agora! Ele a matou!
-Hum hum... ele escolheu o caminho dele.
Sentiu braços muito longos, finos, delicados até, o envolverem, sentiu que estava de joelhos no chão frio.
-Isso é a escolha...
Sentiu os fios finos a sua volta, roçando em seu corpo... e o toque do metal, se arrepiou, consciente de quem estava o abraçando.
-Como você...
-Ah... eu entro pelos frestos... pelas janelas, como um raio de sol.- ela sibilou encostando o rosto em suas costas.
Ele abriu de leve os olhos só para confirmar o fato que de certo modo sua mente fora desviada novamente para o salão negro e havia duas mãos com anéis em forma de garra pousados em seu peito que horrivelmente ostentavam aquelas marcas como os seus braços e uma cascata de cabelos negros toldavam sua visão...
-Ou como uma maldita geada de inverno.- sibilou.
-Espirituoso.- riu.- gosto disso, gosto muito.
-Me solta!- tentou empurrar as mãos
-Não...- ela fincou as garras em sua carne.
-Me larga!- se levantou sentindo os cortes.
-Você não está em condições de lutar contra minha vontade.- a mulher riu o olhando.
Desagradável sensação de ser uma lebre ferida perante um lobo particularmente feroz... deu vários passos para trás, mas ela sumiu de sua vista.
O salão negro estava vazio e cada parte dele estava gelada, vestindo somente aquelas vestes amarradas na cintura, percebeu pela primeira vez que estava descalço... estava arrepiado e seu queixo tremia.
"Eu quero sair... preciso voltar..." pensou encolhendo os braços no peito, trêmulo de frio.
Sentiu antes de ver... porque de repente relaxou... e seu corpo oscilou de leve...se virou devagar, ela estava novamente balançando aquilo a sua frente.
-Pare com isso...- falou baixo.
-Você quer que eu pare?
Era tão... seguro... calmo... quente... o vai e vem daquela jóia, tão fascinante...
-O que quer de mim?
-Você não quer mais que eu pare?
Sentia como se ele mesmo fosse a jóia... balançando de leve... devagar...
não quero que pare... é tão calmo... tão relaxante...
-Venha aqui.- ela convidou com um gesto da mão.
Deu meio passo a frente e parou horrorizado, como se um choque lhe tivesse despertado, era como uma maldição Imperius... ou uma Jinki, então era uma armadilha...
-Mandei vir!- ela sibilou um pouco irritada.
-Você não manda em mim!!!
A jóia parou, ela segurou a jóia impedindo-a de seguir o balanço e foi como se o mundo fosse de gelo, como se houvesse cem dementadores a volta dele, caiu de joelhos.
-Impertinente! Eu lhe dou escolhas simples!
-Isso não foi uma escolha, foi uma ordem!!!- berrou indignado.
Ela riu.
-Foi uma escolha... seu tolo! A sua primeira...
"Preciso sair!!! Se concentre!!! saia!!! saia!!!"
-Você sabe que seus poderes não funcionam aqui meu querido...
Mas ele escutou, longe... então cada vez mais próximo, o som que mais amava no mundo.
-Uma Fênix...- ela sibilou.
-Fawkes!- ele se levantou.- FAWKES!!!

Abriu os olhos para se sentir aquecido, sentia a cabeça da ave encostada na sua testa, as lágrimas peroladas escorrendo até seus olhos, acompanhando as suas lágrimas até seu pescoço e nuca... era Fawkes... Ele soltou um soluço de dor, de tristeza e de certo modo de alívio.
-Fawkes...-sussurrou muito baixo.
A ave soltou mais uma nota, uma mais longa, o suficiente para ele se acalmar.
-Harry?- alguém falou ao seu lado.
-Ele acordou?- alguém perguntou mais longe.
-Não sei...- o primeiro falou.
-Professor Lupin?- falou baixo.
-Harry?- ele perguntou novamente.- Ah... eu acho que ele acordou.
-Graças aos Deuses!!!- Molly falou com a voz embargada da porta.- Ele acordou!-ela passou a notícia adiante.
-Lupin?-perguntou baixinho.
-Calma Harry... o pior já passou, Fawkes fechou a cicatriz de novo... a hemorragia parou... mas você tem que ficar quieto.
-Mas eu...- falou um pouco mais alto.
-Nada de mas! Você está muito fraco!
-Então avisa a Dumbledore que Voldmort tem a espada... a espada...
-Eu estou aqui Harry...- disse Dumbledore do outro lado, cuja visão estava obstruída pela ave.- Podemos esperar, o que quer que seja... você precisa descansar.
-Não preciso! Voldmort tem...
Lupin o segurou com força deitado.
-Harry é uma ordem! FIQUE DEITADO!!!
Ele olhou Lupin, ele parecia muito nervoso, estava pálido e então percebeu com horror que ele tinha a roupa coberta de respingos de sangue... como se vestisse uma pele horrorosamente sardenta, mais sardenta que o Rony. Foi então que sentiu o choque... ele estava coberto de sangue... seu sangue!
Harry se sentou e Fawkes voou, pousando no ombro de Dumbledore, ambos exclamaram em protesto, mas ele olhou em volta. Estava deitado numa cama encharcada de sangue... mas como era possível?
-Harry...-falou Lupin mas Dumbledore fez um gesto e Lupin ficou quieto.
Apalpou sua testa, sentiu a crosta de sangue, no rosto, no pescoço, os ombros de seu moleton novo estavam úmidos, como pudera sangrar tanto pela cicatriz? então ainda olhando a cama meio abobalhado, pousou as mãos trêmulas no próprio colo e sentiu, baixou os olhos e viu, a frente do moletom verde estava negro... empapado de sangue, sentiu um nó em sua garganta, de leve levantou a blusa.
-Harry...não faça isso...-Lupin gemeu.
Ele teve um choque ainda maior ao ver a marca avermelhada que corria em sua barriga... parecia um aranhão profundo mas na verdade sabia o que era... a mulher tinha sido rasgada ali... de certo modo, ele soube ao sentir os pedaços de sangue coagulado que ele também sangrara... muito.
-Não...- queria correr dali... não queria ficar mais machucado....- Não...- tremeu, aquilo só podia significar que ele estivera na ...- NÃO!- ele empurrou com os pés, tentando sair daquela poça de sangue.
Lupin o segurou com força, mas ele não queria ficar mais ali, ele tentou empurrar, mas estava fraco, Lupin o chacoalhou.
-HARRY!!! HARRY!!! Já acabou!!! Se acalme!!!
-Não!!! Não!!!
-Harry... acalme-se.- disse Dumbledore.- Ou Lupin vai ter que te segurar até ficar exausto.
Mas ele estava chocado demais para escutar... aquele maldito cheiro de sangue... odiava aquele cheiro desde que acertara Morgan...
-ACALME-SE HARRY!!!!
Respirava com força, profundamente, tremia dos pés a cabeça, até Fawkes começar a cantar... então ele foi se acalmando, sim estava bem... estava acabado... não havia necessidade de sentir medo... estava seguro...estava fraco mas não sentia dor alguma... tinha que parar de agir como uma criança assustada.
-Isso, se acalme...- sorriu-lhe Dumbledore.
Então Harry sentiu uma profunda vergonha de ter gritado esperneado daquele jeito histérico. Se ainda houvesse algum sangue nele provavelmente ele estaria corando.
-Respire mais devagar Harry.- disse Lupin o soltando.
-Desculpem... eu... me assustei.
-É compreensível Harry, não tenha vergonha.- disse Dumbledore bondosamente.
Olhou devagar em volta, estava deitado na cama que Rony normalmente usava, a que ficava com os dois lados desimpedidos... muitas coisas estavam passando por sua cabeça, eram coisas demais para pensar... se sentiu exausto.
-O que houve comigo?- gemeu.
-Pensávamos que você poderia nos explicar...
Se sentiu enjoado, aquele cheiro.
-Posso sair daqui, por favor?
-Harry você não deve se mover...-começou Lupin.
-Não gosto desse cheiro... por favor... esse cheiro de sangue...
Dumbledore fez um aceno da varinha e de repente tudo estava diferente, ele sentiu a cama mais fria abaixo dele, sentiu um leve cheiro de roupa limpa, até as vestes de Lupin tinham sido trocadas, Remo olhou para Dumbledore.
-Obrigado.- Harry falou calmo- Muito obrigado.
Estava muito cansado, e aquele cheiro bom de coisas limpas o fez querer dormir, mas sabia que Dumbledore precisava ficar informado, Harry estava acostumado a não ser poupado até passar tudo que pudesse ao diretor, e estava grato por ter sido tratado e estar limpo, manteve os olhos abertos...
-Eu sinto muito... muito.- começou.- Mas eu nem percebi...
-Como?-perguntou Lupin.
Dumbledore tinha uma expressão carregada de preocupação.
-Voltamos a estaca zero Harry?- ele perguntou.
Harry estava morrendo de vergonha... Voldmort conseguira penetrar em sua mente com a mesma facilidade de quando estava no quinto ano, e mais alguém fizera a mesma coisa... lá no fundo sabia que isso não devia ser possível, pois treinara duro, treinara no ano anterior tudo que não treinara antes para proteger sua mente e seu dom... mas falhara, falhara miseravelmente... mal tinha coragem de olhar Dumbledore.
-Acho... acho que sim.- disse e desviou o olhar.
-Voldmort de alguma forma está muito mais poderoso.- ponderou Dumbledore.
"seu inimigo vai se fortalecer... você vai pagar caro..."
Foram as minhas escolhas que causaram isso? estou colhendo os frutos de ... nem conseguiu terminar o pensamento e soltou um suspiro tão dolorido que Lupin o olhou apreensivo.
-Eu a vi de novo... quando desmaiei...
-A pessoa do salão?
-Sim...
-Ela e Voldmort estavam juntos?
-Não... não... acho que ela aproveitou a visão causada por Voldmort... eu acho...- colocou as mão na testa.- É tão confuso...
-Preciso saber só algumas coisas, aí eu recomendo que você durma o máximo que puder Harry.- disse Dumbledore.
-Sim...
-Você disse que Volmort conseguiu uma espada... como?
-Ele arrancou...- Harry disse angustiado lembrando, pondo a mão na barriga inconcientemente.- ele arrancou de dentro de uma mulher...
-Como?- perguntou Lupin.
-Isso é possível...-começou Dumbledore.- Acho que sei...
-Voldmort disse que era Excalibur, quando me viu.
-Então Harry, você presenciou o assassinato de uma das mais notáveis feiticeiras do nosso tempo... Nínive, a trígésima nona alta-sacerdotisa de Avalon... guardiã da espada...- ele disse pesaroso.- Isso é ...
Dumbledore desviou o olhar para a Fênix e acariciou a ave devagar, Harry nunca tinha visto Dumbledore ficar sem palavras...
-A jóia... você voltou a vê-la.-ele voltou a olha-lo.
-Sim... e é perigosa... quase me controlou dessa vez... é grande... acho que é... eu não consigo guardar a imagem dela... só vejo um borrão...
-Você esteve de volta ao salão?
-Estive, mas não percebi nada de diferente, não que me lembre.
-Agora Harry acima de tudo, quero que durma, sei que é difícil... estamos sem possibilidade de arranjarmos boas poções...madame Pomfrey está hospitalizada e o prof.Snape desaparecido, de modo que só temos Fawkes para cuidar de casos extremos como o seu...
-O que aconteceu com eles?
-Nada grave espero.-disse Dumbledore.- Não se preocupe com isso, se preocupe em ficar restabelecido, porque você está fraco e vai precisar descansar...
-Certo.
Dumbledore lhe deu um sorriso encorajador e se levantou com a Fênix em seu ombro...Lupin o cobriu com um cobertor macio e seguiu Dumbledore quarto afora, Harry esgotado se deixou adormecer, só para não pensar em nada.

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