Sentimento Oculto

Hermione abriu os olhos mansamente. Seu corpo todo estava dolorido como se tivesse apanhado uma surra. Mas o que mais lhe doía era o peito. Cada vez que respirava, Hermione sentia uma dor profunda como se o seu pulmão fosse se rachar...
Quando Hermione se virou na cama, percebeu que Harry estava ali, com a cabeça e os braços sobre a cama. Uma das mãos segurava a de Hermione firmemente, mas ele dormia.
O coração de Hermione se enterneceu e ela passou os dedos pelos cabelos negros e sedosos dele.
- Harry... – começou a balbuciar... – Eu estou bem, agora... você precisa descansar em seu quarto, em sua cama...
Harry levantou a cabeça, ainda tonto pelo sono. Sorriu ao ver Hermione um pouco melhor. Pensou mesmo em ir dormir em sua cama, mas fez outra coisa. Fez uma coisa que não pode controlar. Sentou-se na cama, ao lado de Hermione. Acariciou o rosto da amiga e abaixando-se, beijou-a numa das faces.
- Eu fiquei tão preocupado! – disse Harry, enquanto brincava com o cabelo da amiga, tão próximo dos lábios dela.
- Harry... – disse Hermione, sentindo uma dor no peito enquanto tentava arrumar forças para falar o que queria... – Harry... eu...
- O que foi Hermione? – perguntou ele, preocupado, percebendo que a amiga queria falar alguma coisa.
Hermione hesitou. Tinha o rosto de Harry tão perto do dela que ela simplesmente não conseguia ter forças para falar.
- Fale, Hermione... o que é? – perguntou ele, tirando os óculos para encará-la com aqueles olhos verdes brilhantes que somente Harry Potter poderia ter.
- Eu... eu... – disse ela, sentindo a dor no peito agravar-se. – Eu estou apaixonada por você!
Harry levantou-se no mesmo instante em que ela acabou de falar. Notou então o quão próximo estava dela.
Hermione percebeu o movimento brusco do amigo, como se ela fosse alguma leprosa e se sentiu muito mal por ter revelado seus sentimentos. O problema é que ela manteve aquele segredo cativo em seu coração há tanto tempo que já nem se lembrava quanto. Num determinado dia de sua vida... ao perceber a missão que Harry tinha pela frente, Hermione decidiu nunca contar-lhe esse segredo. Ela ficaria ao lado dele e a ajudaria como uma amiga. E conseguiu manter sua promessa até aquela noite. Percebeu que Rony fazia um esforço enorme para ficar com ela e percebera ainda que Harry o estava ajudando, mas mesmo assim, apesar de saber que Harry era apaixonado por Gina, mesmo assim Hermione jamais mudou seus sentimentos.
E nunca diria nada a ele se não tivesse estado tão perto da morte como na noite passada. Quando percebeu que iria morrer, a única coisa em que Hermione conseguiu pensar foi Harry...
Estava morrendo quando viu o seu rosto preocupado, tirando-a da água fria e fazendo-a surgir para vida. E apesar da seriedade da situação, apesar de pensar que não sobreviveria, foi o simples toque dos lábios de Harry em seus lábios enquanto ele lutava para fazê-la viver com respiração boca-boca que a fez voltar para os braços dele.
- O que você disse? – Harry perguntou, congelado a sua frente.
- Eu sei que você ama Gina. Sei que não posso me meter entre vocês dois que se amam tanto. Sei que isso pode abalar um pouco a nossa amizade e não quero que isso aconteça porque você precisa de mim, Harry, mas não poderia deixar de expressar esses sentimentos que tenho guardado dentro de mim há tanto tempo. Eu amo você! Eu o amei desde que você e Rony me salvaram do Ogro em nosso primeiro ano. Você lembrou-se de mim, Harry, não Rony. Você ficou no meu lado nos momentos que mais precisei. Você conseguiu manter o controle no departamento de mistérios quando eu fui atingida, você conseguiu me salvar dos centauros e de Groupe... você sempre esteve lá, Harry... sempre... e a noite passada... se não fosse por você.... eu estaria morta... Apesar de estar semi-morta, Harry... eu vi quando Rony se afastou de mim. Ele viu onde eu estava, mas estava apavorado demais para fazer alguma coisa. Você, não... você controlou o medo e me resgatou da morte quando tudo parecia estar desaparecendo... Eu não poderia amar ninguém mais do que aquele que me faz viver...
- Hermione... eu... – disse Harry, sem saber bem o que dizer... – eu amo você... como a uma irmã... a irmã que nunca tive...
Hermione virou o rosto para o outro lado, segurando as lágrimas.
- Eu sei, Harry.Desculpe por ter falado essas coisas...desculpe por deixar você encabulado, mas compreenda, eu precisava abrir meu coração.
Harry não sabia o que fazer. Antes ele sempre teve tanta intimidade com Hermione, abraçando-a e sendo abraçado naturalmente. Ele nunca a tinha visto de outra forma e julgou que Hermione gostasse de Rony e não dele. Aquilo era mais uma revelação do que um desabafo.
O pior era que queria abraçá-la, queria ficar ao lado dela e a ajudar naquele momento difícil, mas não sabia como. Se agisse como antes, poderia machucar Hermione emocionalmente... e isso ele não poderia fazer... NUNCA.
Mas também não poderia sair dali. Entedia Hermione mais do que qualquer pessoa no mundo inteiro e sabia que ela precisava de sua companhia naquele momento. Então puxou uma cadeira e se sentou do lado da cama, vigiando Hermione atentamente.
- Vá embora, Harry... – disse ela, que continha a tristeza.
- Não... eu vou ficar aqui... do seu lado... não importa o que você faça...
Hermione começou a chorar silenciosamente. Os soluços dela começaram a eclodir ecoando pelo aposento, mas nem mesmo assim, Harry partiu. Ela se sentia humilhada por estar chorando daquela forma na frente dele. Ele, então, tocado pela dor da amiga, segurou sua mão e assim ficaram até o sol irromper pela janela na manhã seguinte...

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