Overdose
A pele estava salgada. A pele dos dois. Os cheiros tinham se misturado. Ela tinha cheiro de homem. Ele tinha cheiro de mulher. Ela parecia flor. Ele parecia céu. Era o auge da paixão. Como tinha começado? Não era importante. Estavam ali sem sobrenome, só com desejo. Draco Malfoy e Hermione Granger.
Mais uma recaída. Sim, ela tinha terminado com ele. Ele fazia mal. Ele não se apaixonava. Ela merecia mais. Ela merecia também ter paixão. Era bonita, não era? Era inteligente, claro. Ele estava ali do lado. Misto de desejo, impaciência e ressaca. Não devia. Não devia. Os pensamentos dela foram interrompidos por beijos dele em sua barriga. Ele na cama dela de novo.
Não podia! Estava errado. Ele não ia embora. Passava da Hora. O que ele queria, afinal? Rir da cara dela? Ter o que já tinha? Ela queria acreditar que não era só sexo. Queria acreditar em cada palavra bonita que vinha da boca dele. Queria que o cabelo continuasse daquele jeito e que ele a puxasse mais uma vez. NÃO QUERIA NADA. Lembrava de uma vez que os dois saíram. Devia ser só uma conversa à toa, num lugar público. Mas ao sentarem numa mesa a mão dele subiu pela coxa dela. Misto de excitação e vergonha e raiva e vontade. Ele a conhecia. Ela não devia ter deixado isso acontecer. Arregalou os olhos e mandou que ele tirasse a mão querendo que ele fizesse mais. Ele tirou. Ele sabia provocar. Mil xingamentos na cabeça dela.
Por que ele tinha que ser tão Draco Malfoy? Não podia ser menos sarcástico e mais romântico? Se fosse ele não gostaria tanto dele. Ela sabia que ele a completava e que por mais que ela tentasse, não acabava. Nunca acabava. Eles ainda não tinham tomado banho juntos. Ele ainda não tinha a beijado de surpresa, depois de vendá-la. Ele ainda não sabia que ela tinha dito “eu te amo” numa das cartas. Ela tinha um código dela que ele deveria descobrir. Trecho dum poema. Era só “eu te amo”. Ele sabia.
Ela tinha sido grosseira no dia anterior. Ele disse ter sentido saudades, ela não acreditou acreditando. Ela tinha tido saudades. Ela não disse. Ela fingia que era tudo automático quando não era. Ela não tinha o chamado pra sair. Tinha chamado o amigo e ele apareceu junto. Ela não queria vê-lo queria sumir no mundo pra não ter que voltar a ver que o amava. Não queria voltar a sentir a paixão incontrolável lhe tomando a pele. Não tinha jeito. Ele disse “eu te amo” pela primeira vez, ela fingiu não ouvir. Ele a puxou para um beijo pelo cabelo e ela fugiu, grudando no amigo que lhe servia de proteção. Ela queria aquele beijo, mas era Hermione Granger demais para admitir. Não deviam ter começado. Ele era do mal... Os amigos dela reprovavam. Ele não tinha quem fosse por ele. Família toda morta. Sobrevivente da guerra. Ele era só. Isso despertava nela instinto de mãe. Ela queria ser mãe dele. Queria e era doentio. Ele a levou em casa. Ela o tratou mal. Ele a abraçou. Ela não se conteve e devolveu o abraço.
Ele tinha que estragar tudo, fazendo-a perceber que o tinha abraçado. Ela se soltou, orgulhosa. Não podia admitir sentimento algum. O problema é que mesmo sem querer se escancarava. Brigava com ele só por preocupar-se. O xingava por que queria que ele crescesse. Se soubesse de alguma doença dele, queria curar. Ela ficou séria. Falou que ia, não querendo ir. Ele fez o que não devia. Beijou a ponta dos próprios dedos e depois os passou nos lábios dela. Ela se virou e saiu pisando duro. Não devia ter custado tanto a entrar em casa. Estava apaixonada. Não acreditava numa palavra do que ele dizia. Mas acreditava em tudo.
Queria-o. O que podia fazer? Viu-se chorando no banheiro do salão de festa. Ela tinha se programado pra conhecer alguém legal e esquecer Draco, mas estava chorando ao lembrar dele. Sentiu-se idiota. Por sorte não borrou a maquiagem. Vinha a saudade dele na cabeça dela. Olhava-se no espelho e se lembrava da promessa de só voltar com flor. Ele não tinha quem fosse por ele. Ela queria ser. Limpou as lágrimas, de leve, com um guardanapo, e voltou para a festa.
Voltando ao dia que a história começou. Hermione saiu com a prima. Foram ao shopping. A certo ponto, depois de as duas comerem uma barra inteira de chocolate e falarem sem entusiasmo de tudo que tinha a ser falado, as duas não tinham mais o que fazer. Resolveram ir a um bar. Pouco dinheiro, pouca coisa a ser feita. Elas sentaram-se numa mesa perto da porta. Nem olharam à volta. Era dia de fossa, não de caça. Ambas sentiam-se gordas e fúteis e carentes. Uma cerveja, duas cervejas, três cervejas. A prima levantou-se e foi dançar. Hermione ficou mexendo o copo. Distraia-se com as gotas de água que surgiam fora dele. Lembrava que devia ser condensação. A cerveja não vazava. Lembrava de Draco. Sentiu um perfume parecido. Ela tinha mania de cheiro sentia o cheiro dele em todo lugar. Sabia exatamente qual era o shampoo. Tinha vontade de comprar aquele shampoo para ela.
Sentiu, na bochecha, o roçar de outra face. A cintura era envolvida por mãos que lhe tateavam a barriga. Levantou-se, meio tonta. Virou o rosto pra ver quem era e já não tinha jeito. Emendou com ele num beijo mudo. Ela era, sem pestanejar, de Draco Malfoy. Nem lembrava de nada. Dançaram juntos e o cheiro dele a entorpecia mais que a cerveja. Era ele que drogava. Era vício. A língua era a melhor do mundo. O jeito de morder. Ela ria. Ele estava ali. Ele parecia dela. Eles dançavam em nuvens. Ela nem gostava de dançar.
Quando caiu em si, tinham aparatado num jardim que ela só conhecia de sonhos. Todas as flores que ela jamais tinha ganhado estavam ali. Rosas de todas as cores. Ela gostava das amarelas. Ele gostava do pescoço dela. Os dentes e os lábios teimavam ali. As mãos dela lhe arranhavam as costas. Vinha o som de uma música que ela não conhecia. Era tango. Depois era bolero. Eram os dois quase um. Aparataram no bar. A prima dela tinha cara de cu na mesa. Os dois, sem se desgrudarem, levaram-na em casa.
Aparataram na casa de Hermione. Ela tirou as roupas da cama. Jogou tudo no chão. Os dois deitaram-se. Ele por cima dela. Ela era dele sem nunca ter sido. Não podiam ter freios mais. Tinha passado da hora. A mão dele passeou de leve pelo copo dela e ela derreteu. Estavam juntos. Estavam loucos. Estavam selvagens. Estavam deles. Estavam nus. Era mais que beijo e mão. Era tudo ao mesmo tempo. Ela nunca tinha feito nada daquilo. Ela era o que ele quisesse. Ele era o que ela pedisse. Explodiram juntos, sem expectativa de parar. Continuavam.
A pele estava salgada. A pele dos dois. Os cheiros tinham se misturado. Ela tinha cheiro de homem. Ele tinha cheiro de mulher. Ela parecia flor. Ele parecia céu. Era o auge da paixão. Como tinha começado? Não era importante. Estavam ali sem sobrenome, só com desejo. Draco Malfoy e Hermione Granger.
Ela dormiu nos braços dele. Abriu os olhos e tudo que eu narrei veio na cabeça dela. Ele ainda dormia, quando lhe beijou a barriga. Ela não sabia o que tinha sido ou o que ia ser. Todas as imagens de tudo passavam feito filme. Não era culpa da cerveja. Ela tinha se embebedado dele. As mãos foram involuntariamente à face. Queria se limpar ou acordar. Percebeu que não tinha por que se limpar. Estava pura. A noite tinha sido catarse. Ele não merecia, mas mereceu pelo jardim. Mereceu por uma noite. Mereceu mesmo sem que ela acreditasse no amor dele. Mereceu pela paixão instantânea. Ela o tinha embaixo da pele.
O tempo de platonismos tinha passado. Foi nua à cozinha. Um morango bem vermelho na geladeira. Era bom sentir gosto de azedo. O espelho não dizia nada de diferente. A maquiagem estava meio borrada, normal em manhã de domingo. O corpo era o mesmo. Devia ter sangue em algum lugar. Ela não se arreganharia pra saber. Ele continuava dormindo. Ela se sentou na cama e acariciou os cabelos platinados dele. Estava tudo errado, sim. Mas nunca algo tão errado tinha dado tão certo.
N.A.: Essa vai pra você, que eu sei que não lê fics. Essa vai pra você. Que de personagem comum de prosas diversas e pré-programadas, virou poesia pra mim. Pra você que é domínio público. Pra você, que eu transformei em personagem pra ter. Eu sei que você não vai fazer nada do que eu quero. Sonhar não custa. Verbalizei o sonho acordado. Eu e você somos domínio público agora. Eu, você e o que a gente não vai fazer, mas que eu queria. Eu e meus devaneios. O seu sal e o seu cheiro e o seu shampoo. Te purifiquei. Você é palavra agora. Eu sou viciada em palavra. Não queria ter-me viciado em você. Escrevi a recaída que a gente não teve, nem vai ter. Eu vou fazer o que eu sempre faço. Vou sumir sem saber quando volto. Não deixei a Nath com cara de cu no bar. Eu nunca deixaria. Não por você. (e eu só disse essa última frase por gostar de fingir que é tudo automático, quando não é). Vou reler isso quando voltar de Taubaté. Mais uma carta que eu não vou te entregar. Oops... De Taubaté não venho pra casa! Vou pra Iúna! É uma pena... Você nem vai ficar sabendo. Vai ter saudade? Vai fingir só pra que eu te dê atenção? Vai repetir a história? Não. Eu sei que não. Já me basta ter minha própria “Apaixonada pela serpente” com você. Basta que a gente tenha tido espontaneamente o diálogo final de “Veneza”. Basta que você levante a sobrancelha à “Cruel Intentions”. Basta que você me chame de gorda e que eu me encaixe perfeitamente nos seus braços à “O diário de Hermione... acorrentado”. Basta de você. Basta de Draco que eu me apaixonei por mais que ele. Você nunca basta. Sem história agora. Essa nossa foi pra você.
Anne Haze Granger
Comentários (1)
Lindo lindo lindo lindo :') Tanto a história quanto a NA
2011-09-26