Desilusões à parte






Era mais um daqueles dias chatos. A temporada não ajudava muito, ela procurava se livrar dos problemas, mas parece que só os atraía cada vez mais. Levou a mão à testa, tentando pensar em alguma solução para seus problemas... Por quê tudo começara a dar errado desde que ela tinha saído de Hogwarts?
Certo, seria errado esquecer da grande derrota de Lord Voldemort. Seria errado esquecer das Horcruxes que Harry conseguira destruir, seria errado apagar de sua memória que o menino-que-sobreviveu havia derrotado de vez o maior bruxo das trevas.

Harry Potter... o famoso Harry Potter.

Mas para ela, Harry. Só Harry. O Harry desajeitado daquela primeira tarde que passaram juntos em Hogwarts. O garoto com quem construiu um romance perfeito em Hogwarts; o garoto com quem manteve uma relação conturbada depois. Ela havia entendido perfeitamente o motivo de ele romper o namoro no enterro de Dumbledore, mas simplesmente não concordava. Esses sentimentos se afloraram e ela ficou perturbada perante às lembranças com Harry, querendo-o por perto e condenando-o por não deixá-la ajudar em nada. Pela milésima vez a mesma cena se repetia em sua cabeça...

- O quê você faz aqui, Gina?! - ele perguntou, arregalando os olhos por trás dos óculos arredondados.
- Não acredito que esteja surpreso por eu estar aqui! - disse sarcasticamente.
Ele a encarou por alguns longos segundos, depois balbuciou.
- Não deveria estar aqui. - disse, virando-se para a escrivaninha às suas costas e recomeçando a arrumar alguns papéis. Tinha um ar cansado.
- Harry! - ela bufou, estupefata. - Você recebeu minhas corujas? Por todo esse tempo... você recebeu, eu sei... E nem se deu ao trabalho de responder! Por quê, ein?!
Harry se virou para Gina, mordendo os lábios inferiores. Piscou uma, duas vezes.
- Vá embora, Gina. Por favor.
- 8 meses! - ela berrou, indo até o garoto. - 8 meses sem te ver, sem ouvir uma palavra sua... E quando eu venho até você, você simplesmente diz para eu ir embora?!
- Um dia você vai entender que tudo isso é para o seu bem e...
- Não, não é! Isso é estupidez! Pára com essa idiotice, Harry!

[...]


Depois dessa cena, uma outra, de um ano depois, ou mais. Ele havia voltado a namorar Cho Chang. A reencontrara um tempo atrás, ela havia dado-lhe apoio, ajudado-o muito...

Raiva. Revolta. O quê mais Gina poderia sentir? Ela não pôde ficar perto de Harry, mas Cho pôde. Ela não pode ajudá-lo, mas Cho sim. Ela não pode consolá-lo, abraçá-lo...
“Eu não quis assim, Gina, simplesmente aconteceu...” foram as palavras dele.
Os sentimentos de Gina em relação a essa situação foram os piores possíveis, nem ela mesma conseguia mais diferenciar se sentia ódio ou amor por Harry. Seu sangue ferveu por muito tempo e ela sabia que não seria fácil esquecer aquilo, mesmo com os muitos discursos que Harry fazia para explicar a Gina e pedir desculpas.

Por fim, aceitou. Não havia realmente nada que pudesse fazer. Lembrou-se da difícil relação entre Harry e Cho no quinto ano do garoto... Talvez não dessem certo de novo e o namoro acabasse depois de algum tempo. No fundo Gina torcia para isso acontecer... Porque ela não conseguia deixar de amar Harry Potter. Talvez o namoro dele com Cho acabasse logo, ele voltasse para ela, namorassem e um dia se casariam...

Aproveitando-se de toda essa angústia que se aglomerava em sua cabeça, misturada com o profundo silêncio que A Toca mantinha agora em que ela era a única filha na casa, ela se perdeu novamente em devaneios.

Começou a pensar em seus irmãos... os 6 Weasleys. Gui... tinha se casado com Fleur e trabalhava na Ordem, que havia se tornado um tipo de sede para combate aos males das Trevas. Carlinhos trabalhava com dragões, e tinha se casado no ano passado com Wanessa Brigt, uma mulher que conhecera na Romênia (uma cunhada muito melhor que Fleur, aliás). Percy... ah, esse não havia se casado, mas tinha sucesso no emprego. “E dá tanta importância para isso que ninguém nem lembra da vida amorosa dele...” pensou Gina, bufando. Fred se casara com Angelina e Jorge com Alicia. Os dois tinham a loja de logros, Gemialidades Weasley, que fazia um extremo sucesso. Rony, por sua vez, estava casado com Hermione a 3 meses, e era um auror. Gina abriu um sorriso a lembrar do casamento de Rony com Hermione... “Para quem discutiam tanto” - sorriu levemente. Mas aí lembrou dela mesma... Não conseguia um emprego, e procurava desde que tinha saíra de Hogwarts. Já havia cogitado ser uma auror, tinha conseguido boas notas nos N.O.M.’s e N.I.E.M.’s para o cargo... mas não queria. Estava decidida a abandonar tudo que ligasse a combater a Arte das Trevas. E não agüentaria conviver no mesmo ambiente que Harry quando este estava envolvido com Cho.

De repente a porta se abriu e Gina rapidamente levantou-se da cama; tentaria disfarçar seu sofrimento para quem quer que fosse.

- Oi Gina. – Era Rony.
- Rony! Não te ouvi chegar. – disse, sorrindo. – Aconteceu alguma coisa?
- É... Quer dizer... – Ele parecia confuso, não sabendo dar uma resposta exata.
- Rony, fala, aconteceu alguma coisa? – insistiu.
- Eu vou falar, calma.
- Então fala!
- Gina, você promete que não vai se aborrecer?
- Fala primeiro, depois eu vejo se vou aborrecer ou não. – Disse a garota, com sorriso nos lábios.
- Tá... É o Harry... Ele... Bem...
Gina ouve a palavra “Harry” e fica impaciente.
- Fala logo Rony!
- Ele vai casar. Com a Cho.

“Ele vai casar. Com a Cho”.
Se alguém tivesse apontado a varinha para ela e dissesse apenas “Crucio” doeria menos. Mas não. Cinco minutos atrás ela estava pensando no menino-que-sobreviveu, sonhando em se casar com ele. Agora ela sabia que se casaria... Mas não com ela. “Com a Cho” – ela lembrou das palavras da boca de Rony. Ela pareceu ter se esquecido, mas Rony ainda estava ali, parado em sua frente, apenas olhando-a com uma cara penosa... E a garota odiou isso, não queria que sentissem pena, e ao mesmo tempo queria se isolar do mundo. Rony pareceu entendender os pensamentos da ruiva quando esta lhe olhou nos olhos com cara de quem estava prestes a cair no choro. Então o garoto se levantou, deu um sorriso consolador para Gina e saiu.

Gina amaldiçoou tudo o que pode nos minutos seguintes: A cara que Rony fizera quando entrou no quarto, o sorriso amarelo quando saiu, o cabelo de Cho Chang, o vestido que a garota oriental usara no Baile de Inverno no 4º ano, o sorriso da menina, a música que fizera para Harry no seu primeiro ano em Hogwarts... Ela estava desconcertada, e lembrava dos mínimos detalhes de todos que amaldiçoava.
E então, todo esse ódio virou tristeza... Uma tristeza profunda, uma solidão... Se há alguns minutos a única coisa que consolava a caçula dos Weasley era a esperança de se casar com Harry Potter, agora ela já não tinha esperança nenhuma. Não se dera conta, mas seu rosto já estava coberto por lágrimas que escorriam sobre as muitas sardas da garota. Ela olhou para os lados, como se procurasse algo que não sabia o que era. Viu o pequeno rack ao lado da cama e abriu a única gaveta. Tirou os livros de cima e pegou o último – Romeu e Julieta. Ela olhou para o livro e lembrou-se de quando seu pai lhe dera... “É uma história trouxa” – Ele disse. “Mas uma bela história! Magnífica!”. Gina sempre gostou de conhecer mais sobre o mundo trouxa e leu o livro, que a fez chorar. Ela abriu no finalzinho e apalpou um recorte de jornal de dentro do livro. Mas não era um recorte qualquer, nem de notícia nenhuma – era uma foto de Harry, que tinha saído n’O Profeta Diário, em uma das inúmeras vezes que isso aconteceu. A foto se mexia, claro, e Gina quase sorriu como sempre fazia quando via essa foto. Harry tinha uma cara assustada, olhava para os lados procurando algo, e logo depois olhava de volta para a câmera, forçando um sorriso que saiu muito amarelo. As lágrimas começaram a cair com mais intensidade. Pensamentos que em geral só acontecem em nossos maiores momentos de angústia invadiram os pensamentos de Gina.
“Eu não posso fazer nada... Ele quis assim... Ele gosta dela... E eu não posso fazer nada. Eu nunca posso. Se ao menos eu tivesse conseguido arranjar um emprego... Vergonha dos Weasley, é isso que eu sou...”

Fechou os olhos, expulsando todas as lágrimas restantes, tentando não chorar mais... Não queria se imaginar 10 anos mais velha, ainda na Toca, sendo bancada pelos pais, desempregada, sem ninguém... O tempo passava, e Gina ainda não havia feito nada do que tinha planejado fazer, quando era mais nova.

- Chega.
A garota lançou um rápido feitiço na foto de Harry, que queimou o pequeno recorte de jornal.
- Aqui acaba meu amor por você, Harry.

Ela sabia que não seria fácil, e que o amor dela não acabaria assim. Mas ficar chorando não mudaria nada.
“As pessoas acham que tudo ao seu redor tem que acontecer do jeito que querem, do jeito que elas pedem. Mas se esquecem que o principal ingrediente é você mesmo. Você tem que fazer acontecer.”
Depois de muito filosofar, Gina levantou-se da cama, guardou o livro e saiu.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.