Um Pouco de Você
Ele abriu a porta e entrou no apartamento. Entraria em uma encrenca se alguém soubesse que ele havia saído da sede da Ordem. Mas isso não o impediria de visitar aquele lugar.
Ele fechou a porta atrás de si e sentiu o cheiro do lugar. Ainda estava lá. O mesmo perfume inebriante, o mesmo cheiro dela. Acendeu a luz e pôde ver que tudo continuava do mesmo jeito que ele deixara.
Ainda há um pouco de você amarrado a minha dúvida
Ainda é um pouco difícil de dizer o que está acontecendo
Fora ali que, antes de ir para Azkaban, ele morara. Havia montado o apartamento assim que tivera idade e morou ali até o instante em que foi preso. Havia morado ali sozinho, na maior parte do tempo. Muitas mulheres passaram pelo apartamento, mas nenhuma permaneceu.
Não depois dela. Depois dela ele fechara o coração para qualquer outra mulher. Fechou o coração e nunca mais abriu. Só abriria para ela. Mas sabia que ela nunca voltaria para abri-lo.
Sirius suspirou e começou a caminhar pelo apartamento. Deu uma boa olhada na sala. No sofá vermelho escuro, quase preto. No tapete da mesma cor, na lareira, no abajur que proporcionava uma fraca luz.
Tantas coisas ali vividas. Tantos momentos para serem recordados. Poucos desses momentos eram completamente felizes.
Era feliz com ela, mas não do jeito que sabia ser possível. Sempre haveria uma sombra entre eles. A sombra daquela família, a sombra de um passado tão sombrio quanto o futuro que os esperavam.
Ele não podia saber. Nunca ousara pensar que um dia ela o deixaria. Fora ali mesmo que tudo acontecera. Tão doce, tão amargo.
Ainda há um pouco de seu rosto que eu não beijei
Você se aproxima um pouco a cada dia
Que eu não consigo ver o que está acontecendo
A mulher ergueu a cabeça e a apoiou no peito nu do homem. Os dois estavam deitados no chão da sala, o fogo crepitando na lareira, os corpos suados cobertos por uma manta.
- O que houve? – perguntou Sirius ao perceber o olhar dela.
Reconheceu aquele olhar. Tão triste como no dia em que ele fugira de casa. Tão doce como no dia em que aparecera ali pedindo desculpas.
Bellatrix sorriu doce e falsamente para ele e passou a mão pela face dele, como se quisesse gravar na sua memória cada canto da pele dele.
- Nada, Sirius. Nada. – disse enquanto voltava a deitar a cabeça no ombro dele.
Ele acariciou os cabelos negros dela e admirou o contraste entre os cabelos dela e a sua pele alva. Suspirou e tentou afastar os pensamentos ruins que passavam pela sua cabeça. Bellatrix sorriu tristemente sem que ele visse e colou ainda mais os seus corpos, abraçando o corpo nu dele. Ele passou o braço pela cintura dela e a segurou com força, a abraçando de forma protetora.
- Eu estou aqui. – sussurrou ele no ouvido dela. – Sempre.
Aquela foi a ultima noite deles. Depois daquele dia nunca mais a viu, nunca mais teve noticias que não fossem relacionadas aos Comensais da Morte.
Se despediram ao modo dela. Daquela forma ela evitou todas as brigas que existiriam se ela o comunicasse que estava partindo.
Ela foi embora sem deixar nada alem de recordações. Nada alem do seu cheiro impregnado em cada canto da casa.
O amor me ensinou a mentir
A vida me ensinou a morrer
Assim, não é difícil cair
Quando você flutua como uma bala de canhão
Ele parou por um momento, olhando ao redor e cada vez as suas recordações voltavam. Recordações que ele nunca esqueceria e algumas que ele nem sabia ainda possuir.
Alguém bateu na porta e ele levantou do sofá, resmungando por ter sido interrompido enquanto via seu programa de TV preferido.
Não que aquilo fosse grande coisa, já que sua vida estava resumida em grandes noitadas com James, e chegar em casa e ficar sozinho.
Bateram mais uma vez no momento em que ele chegava até a porta. Ele a abriu e piscou ao ver quem estava ali.
A mulher inteiramente de preto estava parada no hall de entrada com um olhar inseguro e temeroso quanto a reação dele. Bellatrix, no auge dos seus 19 anos tinha a pele mais pálida que nunca e seus olhos pareciam ter perdido boa parte do seu antigo brilho. O cabelo sem corte e a aparência de quem não dormia há um bom tempo eram alguns indícios da falta que ele estava fazendo na sua vida. Indícios estes que ela tentava ignorar e que ele fingia não existirem.
Ainda há um pouco de suas palavras que eu desejo ouvir
Você se aproxima um pouco a cada dia
Tão próximo, que eu não consigo ver o que está acontecendo
Ela respirou fundo e pareceu tomar coragem. E quando falou estava com uma voz bem mais firme do que achou que estaria.
- Posso entrar?
Ele a encarou totalmente serio e concordou com a cabeça, dando um passo para o lado, deixando um espaço livre para ela passar. Ela deu alguns passos e parou quando estava ao lado do homem. Ele esperou ela passar para fechar a porta, mas ela parecia não querer continuar a caminhar, ele respirou profundamente uma vez, sem encarar ela e ela acabou de entrar dentro da casa.
Ela andou um pouco e parou a alguns passos de distancia dele. Ele fechou a porta e demorou um pouco para virar-se e encarar Bellatrix.
- Eu devo perguntar o que você está fazendo aqui? – perguntou ele finalmente se virando e a encarando.
- Eu devo responder que você sabe o porquê? – respondeu ela ironicamente.
Sirius sentiu-se de uma forma que há muito tempo não sentia e não pôde deixar de sentir um certo alivio. Estavam mais uma vez naquele jogo de ironias. Aquele jogo que ele sentira tanta falta. Aquele jogo que era o essencial para a sua vida.
Ela se aproximou dele e pegou na sua mão. Sirius tentou continuar impassível, mas Bellatrix conhecia todas as suas defesas e sabia como baixá-las. Pegou a mão dele e colocou na sua própria cintura, se aproximando ainda mais dele.
- Desculpa. – foi a única coisa que ela falou antes de seus corpos colarem-se.
Agora não tinha mais volta. Estavam mais uma vez juntos. Ele levou a mão até o rosto dela e passou a ponta dos dedos por toda a face dela. Ela sentia o seu toque como se não precisasse de mais nada a não ser aquilo.
Se encararam por alguns instantes antes de seus lábios se tocarem. Doce, sedutor e eternamente intenso. Intenso de uma forma que não seria com mais ninguém. Intenso de uma forma que apenas eles seriam.
Intenso de uma forma que Bellatrix costumava chamar de amor.
Nunca conseguiria esquecer. Foi ali que soube que seriam felizes.
E foram.
Por pouco tempo, é verdade. Mas foram. O pouco tempo em que puderam viver aquele amor foi o suficiente. Não importava se desde o inicio eles soubessem que aquilo não seria para sempre. Não importava se todos os Black tivessem ameaçado ambos quando souberam que Bellatrix o procurara. Não importava também que eles estivessem em lados totalmente opostos.
Importava apenas que eles se amavam. Sirius teria feito qualquer coisa para tê-la de volta. Mas não fez nada. A deixou ir para nunca mais voltar.
Agora, quase 20 anos depois, ele se perguntava o porquê e finalmente percebia. Havia feito o que ela, mesmo sem perceber, pedira. Respeitara a sua decisão de ir embora. Sabia que se a procurasse só se machucariam ainda mais.
Mas isso nunca impediria de continuar amando aquela mulher tão marcante. A única mulher que passou realmente pela sua vida. As outras não foram nada se comparadas a ela. Foram apenas noites de consolo enquanto ele não podia tê-la.
Já ela foi tudo. Tudo o que ele podia querer. Muito mais do que ele havia pedido. Ela foi a luz numa época em que ele só vira trevas. Ela foi o amor que ele nunca havia pedido mas que ele recebeu da melhor forma. Foi a mulher que povoava seus sonhos e seus pesadelos. Ela foi simplesmente tudo.
O amor me ensinou a chorar
Então venha, coragem
Ensine-me a ser tímido
Porque não é difícil se apaixonar
E eu não quero assustá-la
Não é difícil se apaixonar
E eu não quero perder
Não é difícil crescer
Quando você sabe que simplesmente não sabe
E ela continuava ali, naquelas paredes. No sofá, no tapete, na sua cama. Ela estaria sempre ali. Estaria sempre ali para quando ele precisasse daquelas lembranças para poder continuar. Estaria sempre ali para lembrá-lo de que por mais que ele fugisse, que por mais que o tempo passasse, que por mais que ele quisesse que ela sumisse de sua vida, ela estaria eternamente em seu coração.
Por mais que os anos passassem, por mais que as estações corressem, por mais que a chuva caísse. Ela estaria sempre ali.
(N/A):
Bem, sem muito a dizer sobre a song. Completamente fofa, eu sei.
Mas eu gostei, apesar de ser meiga ao extremo e de ser minuscula.
Enfim, mais uma B² para a minha coleção. Mas uma B² da Lisi Black
;)
Sem N/A’s gigantes nessa fic. Peço apenas que comentem
Beijos
Lisi Black
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