Um Dia de Praia
Enquanto finda a tarde, atrás de um monte,
E a mata silencia – o Sol é posto –,
Procuro, inda, na aurora, ao horizonte,
Brilho e beleza, como há no teu rosto.
(Bernardo Trancoso – Poema “Impossível te esquecer”)
Uma brisa quente invadiu o aposento simples, porém aconchegante, fazendo as cortinas de estampa xadrez balançarem pelo quarto. Remo, lentamente, entreabriu os olhos, procurando se acostumar com a claridade antes de abri-los por completo. Quando o fez, tirou o lençol que até então o cobria, calçou o par de chinelos que o aguardava na lateral da velha cama, e levantou-se. Com as cortinas novamente balançando, graças à brisa que mais uma vez passeava marota pelo quarto, Remo acabou voltando-se para a janela do aposento. Pôs-se, por alguns segundos, a contemplar o céu limpo e azulado que pincelava a singela paisagem, e acabou por perceber que o sol brilhava bem no meio dele, indicando que já deveria ser lá para o meio-dia.
Assustado com o tempo que dormira, já que não era de costume, Remo logo trocou de roupa e percorreu as barulhentas escadas da casa, que o levaram direto ao primeiro andar. Avistou, então, quase toda a sua família entretida em vários grupos de conversa; alguns espalhados pela grande mesa que se estendia por uma parte da sala, outros junto ao balcão que fazia ligação com a cozinha.
-- Até que enfim, dorminhoco! -- Remo ouviu alguém exclamar.
Quando ergueu o olhar e procurou o dono da voz, seus olhos amendoados logo encontraram a coloração castanha do olhar divertido e sempre animado de Erik. O garoto, sorrindo, segurava uma garrafa de leite, enquanto o contorno de sua boca era respingado por um líquido branco, deixando-o com uma cara engraçada.
-- O que aconteceu, dormiu mais do que a cama, foi?! -- Erik insistiu, enquanto dava outro gole na garrafa de leite. -- Aqui em South Beach o dia começa cedo, Reminho!
-- Er... -- Remo tentou começar, com um sorriso sem graça, enquanto passava uma das mãos pela nuca. -- É que não dormi muito bem nessa semana que passou. -- ele explicou, omitindo, é claro, o fato de sua transformação desagradável em lobisomem.
-- Então senta logo aí -- disse Erik, indicando um banco vazio junto ao balcão. --, porque já estamos quase indo para a praia.
Remo assentiu e, depois de atravessar o resto da sala e cumprimentar os familiares, sentou-se para tomar o café da manhã. Perdeu-se, momentaneamente, em algumas lembranças, e sentiu falta de tomar o café com seus três melhores amigos, em Hogwarts. Com seu jeito tipicamente aluado, o garoto desligou-se quase por completo do que acontecia à sua volta, e foi apenas comendo um pão quentinho, enquanto relembrava travessuras que havia cometido com os marotos ao longo do ano que passara.
A campainha da casa ressoou, bem ao fundo na mente de Remo, mas Erik logo tratou de correr para a porta.
-- Devem ser eles! -- exclamou o loiro, deixando a garrafa de leite na mesa pelo caminho e passando as costas da mão pela boca, a fim de limpar o leite que havia respingado.
Erik parou diante da porta, mas antes de abri-la, passou rapidamente uma das mãos pelos cabelos dourados, como que os penteando.
-- Bom dia, pessoal! -- disse, deixando que um sorriso animado se estampasse em seu rosto bronzeado.
Um a um, Steven, Jenna, Tyler e Jack foram cumprimentando Erik e adentrando a casa, no que Catherine foi a última entrar. A menina, sempre sorridente, deu um beijo estalado em seu namorado, e foi para a sala juntar-se aos outros. Ela passou os dedos pela sua franja de lado, colocando alguns fios para trás da orelha em um gesto bastante costumeiro, e seus olhos negros e atentos logo avistaram uma figura magra mais ao fundo do aposento, parecendo absorta em seus próprios pensamentos.
-- Hey, Remo! -- exclamou Catherine, andando na direção do rapaz que, por sua vez, apenas mastigava lentamente um pedaço de pão e contemplava distraído o prato à sua frente.
(Proibida Pra Mim, Zeca Baleiro)
O garoto, então, surpreendeu-se com seu nome sendo gritado, e virou ligeiramente a cabeça para o lado, a fim de ver quem o chamara. Contudo, quando ele percebeu que a dona daquela doce e empolgada voz era Catherine, sua expressão sonolenta sumiu em um estalar de dedos. A menina usava um vestido curto de tecido bem fino, estampado com várias flores verdes, e sua saia girava e balançava bastante com o rebolado charmoso de sua dona. O vestido era de alça também bem fina, e acompanhado pela sandália baixinha de madeira que Catherine trazia nos pés, compunha sua roupa de praia.
-- Nossa, você só acordou agora? -- continuou a morena, puxando um banco vazio e sentando em frente a Remo.
-- É, eu não sabia que vocês vinham para cá logo pela manhã. -- ele explicou, já começando a cansar-se por todos ali acordarem extremamente cedo.
-- Vamos logo, gente! -- os dois jovens ouviram uma voz feminina exclamar. Era Jenna, com seu típico jeito impaciente e sua irritação por ter que esperar pelos outros.
Catherine levantou-se em um pulo, caminhando sorridente até onde os outros estavam e entrelaçando sua mão na de Erik.
-- Mãe! Pai! Eu vou com eles para a praia, ‘tá?! -- Miles, o irmão mais novo de Erik, exclamou.
O garoto levantou-se rapidamente do sofá, calçou os chinelos que já havia deixado propositalmente preparados junto à porta, e parou ao lado de Steven.
-- Não mesmo, pirralho. -- sibilou Erik, na tentativa de impedir seu irmão.
-- Vou sim! -- Miles insistiu, postando-se ao lado de Jenna, na esperança de que ela desse uma forcinha, como nas tantas outras vezes.
-- Mãe, quer mandar esse chato parar de querer andar com os meus amigos? -- o loiro pediu, com a expressão bastante irritada.
Sarah, que até então tomava um chá junto aos outros adultos na mesa da sala, revirou os olhos e virou-se para os filhos.
-- Vocês são bem grandinhos para resolverem isso, já disse que não vou me meter nesse assunto. -- a mulher disse, com o tom de voz um tanto severo.
Tyler, Steven e Jack já haviam saído da casa, acostumados àquela discussão de sempre, e esperavam o resto dos amigos no jardim. Erik, por sua vez, passou uma das mãos pelos cabelos em um gesto impaciente, e observou Jenna passar um dos braços pelo ombro de seu irmão.
-- Deixe o menino ir com a gente logo, Erik! -- ela exclamou, sorrindo. -- Ele é só um ano e pouco mais novo!
O rapaz, já cansado daquele atraso para ir à praia, acabou cedendo mais uma vez. Entrelaçou sua mão à de Catherine, e ia colocando a chave de casa no bolso de sua bermuda, preparando-se para fechar a porta, quando sua namorada virou-se para trás.
-- Remo, você não vem? -- perguntou Cath, sorrindo docemente para o garoto.
Ele, que ainda estava terminando de tomar o café da manhã, surpreendeu-se com a atenção da menina. Terminou de engolir o último pedaço de pão, e sorriu de volta para ela, mas ligeiramente embaraçado.
-- Ainda não estou pronto! -- disse, no que Catherine revirou os olhos em um gesto divertido.
-- Nós esperamos você, seu bobo. -- falou a morena, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.
-- Ah, obrigado, mas podem ir indo na frente. -- Remo disse, levantando-se calmamente e começando a atravessar a sala. -- Vou me vestir e encontro vocês lá.
Catherine assentiu, apesar de um pouco contrariada. Não gostava muito quando as pessoas não atendiam ao que ela falava. Erik, por sua vez, puxou sua namorada pela mão e, antes de enfim fechar a porta da casa, alertou o primo.
-- Nós vamos ficar no lugar de sempre, em frente ao Bar de South Beach!
Remo fez um sinal de “ok” com uma das mãos, e começou a subir as escadas da casa, indo em direção ao seu quarto. Quando o rapaz adentrou-o, dirigiu-se calmamente à sua mala, que estava encostada em uma parede ao fundo do quarto. Abrindo-a, percebeu que suas roupas não estavam mais ali, e supôs que sua mãe já havia arrumado tudo para ele, e colocado suas coisas no armário do quarto. E aliás, foi exatamente o que ele constatou quando abriu as portas em um marrom escuro, de madeira pesada e com um ranger alto, de seu armário.
Remo ficou algum tempo parado, apenas observando atentamente suas roupas, algumas dobradas e empilhadas com perfeição, outras penduradas em cabides. Para sua própria surpresa, o garoto viu-se realmente pensando no que vestir, em vez de simplesmente pegar a primeira peça que aparecesse pela frente, como de costume. Depois de experimentar umas três bermudas, Remo decepcionou-se um pouco ao perceber que todas eram bastante simples, se comparadas às cores vibrantes e aos desenhos e rabiscos modernos das bermudas de seus primos e amigos. Mas, como ele realmente tinha que escolher uma, acabou vestindo a bermuda de tonalidade verde-musgo, por cima de uma sunga preta básica, e calçou os chinelos da mesma cor. Em seguida, atirou em um dos ombros uma camisa branca que até então estava jogada em sua cama, e saiu de seu quarto, indo novamente em direção às escadas. Quando retornou ao primeiro andar, despediu-se brevemente dos familiares que estavam na sala, e saiu para a rua.
Caminhando calmamente pela pacata vila em que sua casa encontrava-se, Remo vestiu sua camisa e pôs-se a observar silenciosamente as pessoas e locais por que passava. Chegando ao fim da vila e, conseqüente, entrando na orla, Remo avistou o bar cujo Erik mencionara. Estava ainda mais movimentado do que no dia anterior. Não tinha ainda tantos clientes, já que o sol permanecia brilhante e imponente no céu, convidando todos para a praia, mas muitos garçons corriam de um lado para o outro incessantemente. Apesar da afobação de todos e da visível pressa, uma música agradável ressoava pelo local, e o clima alegre e festeiro permanecia.
Remo, tomando o bar como referencial, pisou pela primeira vez na areia clara e limpa da praia de South Beach. Tirou distraidamente os chinelos, e foi caminhando pela areia em uma linha reta, até avistar seus primos e amigos, exatamente como Erik havia explicado. Entretanto, apesar de Remo ter conseguido encontrá-los, aquele local em particular parecia ser o mais freqüentado da praia, uma espécie de point para os jovens da pequena cidade.
Depois de cumprimentar os rapazes ali presentes, Remo sentou na areia e percebeu seu pensamento tentando descobrir onde estaria Catherine. Ele logo balançou a cabeça, e o pensamento dissipou-se.
-- Vai ficar de roupa? -- Steven perguntou, estranhando o jeito do garoto.
Remo sentiu suas bochechas ruborizarem de um jeito bastante embaraçador, e foi obrigado a voltar seu olhar para a areia, balançando a cabeça. A verdade é que não estava se sentindo muito à vontade para tirar a camisa e a bermuda ali, pois tinha consciência de que seu físico deixava a desejar, se comparado aos dos outros rapazes à sua volta. Mas não tinha saída, pois ele não poderia simplesmente dizer que se achava magro demais. Por fim, acabou levantando-se, tirando a bermuda e, em seguida, começou a tirar a camisa.
-- Olha quem chegou! -- ele ouviu uma voz feminina exclamar, no exato momento em que puxava a camisa pela cabeça. Era Catherine, ele tinha certeza.
Remo sentiu uma enorme vontade de não se mexer mais, para sua roupa poder disfarçar o corado em seu rosto, mas ele infelizmente não pôde fazer aquilo.
-- Olá, meninas. -- cumprimentou ele, ainda mais embaraçado, enquanto embolava suas roupas e colocava-as junto às de seus amigos.
-- Por que demoraram tanto? -- Jack perguntou às meninas, que haviam acabado de voltar, enquanto pegava uma bebida das mãos de Jenna.
-- Tivemos que ir mais longe para comprar as bebidas, essa barraca aqui ao lado está quase sem nada hoje. -- Jenna explicou, assim que terminou de beber sua água.
-- Ei, quem quer ir dar um mergulho? -- perguntou Catherine, com seu par de olhos negros e serenos observando a imensidão do mar que se abria bem diante deles. -- O mar está lindo hoje!
Todos concordaram com a sugestão da morena e, pouco a pouco, foram levantando-se e começando a caminhar.
-- O mar sempre está lindo em South Beach, Cath! -- Jenna comentou, ouvindo a risada espontânea e gostosa da amiga, em seguida.
Elas já estavam no meio do trajeto, quando a morena olhou para os rapazes que as acompanhavam, e verificou que faltava um. Virou-se para trás quase que imediatamente, avistando Remo ainda sentado na areia, os joelhos dobrados, o olhar distraído e desfocado.
-- Hey, Lupin! -- ela exclamou, divertida. -- O que você ainda está fazendo aí?! Vem para a água logo!
Remo, inesperadamente despertado de seus pensamentos, virou-se para encarar quem o chamava, e assim permaneceu por uns instantes. Não tinha levantado porque não estava se sentindo muito à vontade em desfilar apenas de sunga pela praia, e também porque fazia muito tempo que o garoto não entrava no mar, portanto não sabia mais como se sairia. Entretanto, quando seu par de olhos castanho-amendoados pousaram sobre o sorriso doce e ao mesmo tempo atrevido de Catherine, ele não teve mais como se esquivar do convite da menina; não com aquele sorriso brilhando na face macia e morena de Cath.
-- Ah, vocês são muito moles! -- Jenna exclamou, com seu costumeiro jeito impaciente, ao passo que Remo ainda levantava da areia. -- O último a chegar no mar leva caldo!
E, com isso, a loira correu feito uma bala pela areia branca e fofa da praia, sendo logo seguida por Catherine e Remo. Como Jenna havia saído na frente, acabou sendo a primeira do trio a mergulhar. Remo, apesar de ter sido o último a começar a correr, conseguiu ultrapassar Catherine nos últimos metros, fazendo com que ela fosse a última a entrar no mar. Mal a morena molhou seu corpo, Jenna e Remo já estavam a postos, esperando ansiosamente para fazê-la pagar pela prenda da brincadeira.
-- Agora a minha boca está cheia de sal, graças ao caldo de vocês! -- Catherine exclamou após algum tempo, fingindo irritação, enquanto Remo e Jenna finalmente a soltavam, acompanhados de muitas risadas. -- Vou comprar alguma coisa para beber e tirar esse gosto, já volto.
E, após isso, Catherine deu um beijo estalado na bochecha de Erik e foi andando calmamente na direção da areia. Deu um último mergulho já quando a água batia na altura de sua cintura e, ao reerguer-se, teve seus graciosos movimentos minuciosamente contemplados por Remo, que a cada segundo parecia surpreender-se ainda mais em como Catherine era linda. As ondas do mar batiam em seu tornozelo e pareciam curvar-se diante dela, diante de sua beleza estonteante, e suas gotas salgadas de água escorriam pelas curvas desenhadas da menina, como que se aproveitando para deslizar por aquele corpo irresistível. Catherine tinha um jeito atrevido que deixaria Sirius Black louco, um sorriso contagiante que faria os olhos castanho-esverdeados de Tiago Potter brilhar, uma gargalhada gostosa que faria Pedro Pettigrew vacilar. Ela era uma espécie de combinação perfeita de vários tipos de garota, o que só a tornava ainda mais imprevisível. Ela era... maravilhosa.
Remo, então, sacudiu a cabeça e repreendeu-se: Cath era a namorada de seu primo, ele não tinha o direito de pensar aquele tipo de coisa. E, além disso, Catherine provavelmente nunca se interessaria por ele mesmo. O garoto voltou a sua atenção para o grupo de amigos, com medo de que algum deles tivesse percebido o olhar de Remo para Catherine, mas felizmente ninguém parecia ter reparado.
A menina, por sua vez, foi até a barraca mais próxima e comprou um suco de abóbora. Enquanto dava um longo gole naquela bebida extremamente gelada, aproveitando para refrescar-se do calor, sentiu alguém tocar em seu ombro fino e moreno de sol.
-- Hey, Cath! -- ela ouviu uma voz masculina exclamar atrás dela, e logo virou-se para ver quem era.
-- Hey! -- a garota exclamou, abrindo seu típico sorriso contagiante.
Naquele momento, Catherine não era mais observada por Remo, e sim por outro rapaz do grupo: Erik. Seu namorado, assim que a vira conversando com outro garoto, vidrou os olhos nela e ficou assim durante alguns instantes, até que o ciúme foi maior e ele resolveu ir ao seu encontro. Saiu do mar o mais rápido que pôde e atravessou a areia que os separavam em poucos segundos.
O que Erik falou, Remo não foi capaz de ouvir, devido à distância, mas percebeu que o conhecido de Catherine não tardou muito a sair de perto do casal. Após isso, seu primo parecia reclamar sobre alguma coisa com Cath, e depois de algum tempo de discussão, Erik pegou sua bermuda e sua blusa, calçou um par de chinelos e foi embora da praia, sem despedir-se de ninguém. Remo olhou para os lados, e o resto de seus amigos parecia apenas conversar distraidamente no mar, sem perceber o que havia acabado de acontecer. Ele hesitou um pouco, pensou em também ignorar o acontecido, mas quando viu Catherine sentar sozinha em sua canga branca estampada com flores laranjas e amarelas, não resistiu em ir até lá.
Remo foi aproximando-se com bastante cautela de onde a menina estava, e ela não parecia perceber sua presença. Suas pernas estavam dobradas, envoltas em seus braços, e sua cabeça estava apoiada nos joelhos, os olhos parecendo contar os grãos de areia abaixo dela.
-- Posso me sentar aqui? -- perguntou Remo, ainda hesitante, indicando o pedaço vazio da canga.
Catherine, surpreendida pela presença inesperada do rapaz, fez que sim com a cabeça, e ele se sentou ao seu lado.
-- Está tudo bem? -- Remo fez outra pergunta, enquanto passava o dedo pela areia e começava a fazer um desenho abstrato.
-- Não muito. -- Cath respondeu, de um jeito bem sincero, enquanto deixava de apoiar a cabeça nos joelhos.
Remo ergueu o olhar para encará-la, e por alguns segundos deixou-se contar as pequenas sardinhas que pincelavam com graciosidade o rosto de Catherine. Quando percebeu o que fazia, reprimiu-se mais uma vez, e tentou focar novamente no motivo que o havia levado a ir até lá.
-- Se você quiser contar o que houve, eu posso ouvir. -- disse, abrindo um sorriso tímido, mas que aos olhos de Cath pareceram extremamente reconfortantes.
Ela pesou a opção por breves instantes, e então sorriu de volta, mas dessa vez, um sorriso um pouco mais triste que o normal, apesar de doce.
-- Encontrei um conhecido enquanto comprava algo para beber, e o Erik não gostou muito. -- Catherine explicou, apoiando novamente o queixo nos joelhos e passando a direcionar seu olhar ao mar. -- Na verdade, ele não gostou nem um pouco. -- consertou, deixando escapar uma fraca risada irônica. -- Erik é bem ciumento, sabe.
-- Eu não tenho contato com ele há um bom tempo, para ser sincero. -- disse Remo, tentando encontrar as palavras certas. -- Mas... Ah, Catherine, todos nós temos defeitos.
-- Eu sei. -- ela falou, em um suspiro. -- Gosto dele mesmo assim. Ei, Remo! -- exclamou, parecendo lembrar de alguma coisa e voltando subitamente a adquirir seu jeito alegre e o sorriso contagiante. -- Já disse para você me chamar de Cath, lembra?! -- completou, piscando divertida para o rapaz.
Remo assentiu, as frases dificultando-se para formarem-se, o rosto levemente rosado, o sorriso tímido, o olhar doce... Tudo voltava ao normal.
-- Vem, vamos nos juntar aos outros! -- Catherine exclamou, levantando em um salto e puxando o rapaz pela mão.
Ele atendeu ao seu pedido, e os dois foram ao encontro de seus amigos, que conversavam livre de preocupações na beira do mar.
[...]
Os últimos raios de sol pincelavam fracamente o céu alaranjado, e começavam a despedir-se de South Beach, levando o fim do dia consigo. Os sete jovens bruxos que ainda estavam na praia começavam, lentamente, a recolher suas coisas e a caminhar pela areia, em direção ao calçadão. Remo e Catherine, andando um pouco mais atrás que o grupo, conversavam despreocupadamente sobre diversas coisas, pareciam realmente se entender, e o assunto nunca acabava.
-- Hogwarts?! Já ouvi falar bastante dessa Escola, e do diretor dela... Alvo Dumbledore, não é?! -- dizia Cath, com a sandália pendurada nos dedos e os cabelos ligeiramente esvoaçantes, por conta da brisa que passava anunciando o entardecer.
Remo assentiu com a cabeça e tirou alguns fios castanhos que insistiam em cair na frente de seus olhos, devido ao vento.
-- E você, onde estuda? -- ele perguntou, levando seu olhar de encontro ao da menina. -- Hum... Deixe-me adivinhar. Beauxbatons?!
-- Chute certeiro! -- confirmou Catherine, abrindo seu sorriso brilhante. – Como você conseguiu adivinhar, Remo?
-- Ah... Você tem cara de estudar lá. -- Remo respondeu, abrindo outro sorriso de volta, embora ligeiramente mais discreto.
-- Sério?! -- Cath perguntou, no momento em que eles deixavam a areia e pisavam no calçadão.
A morena jogou no chão as sandálias que até então trazia na mão, e calçou-as, enquanto o resto do grupo encaminhava-se para a direita da orla, para deixar Jenna e Catherine em casa.
-- Não. -- entregou o rapaz, em meio a uma risada descontraída. -- Erik me contou ontem à noite!
-- Ah, Remo! -- Catherine exclamou, dando um tapa no ombro do garoto. -- Sou muito boba mesmo, acredito em qualquer coisa. -- acrescentou, risonha. -- Ei, amanhã você vai à praia de novo, não vai?
-- Vou, claro. -- ele disse, enquanto todos atravessavam a rua e passavam pelo bar de South Beach, o qual já começava a lotar, a essa altura do dia.
-- Ok, mas não vai dormir mais do que a cama novamente! -- falou Cath, com seu costumeiro ar divertido. -- Amanhã ficaremos na praia até o pôr-do-sol. Você vai ver, é muito lindo!
Remo assentiu, ao passo que todos os outros jovens que os acompanhavam pararam de andar, inclusive Catherine. Jenna acenou para os amigos e encaminhou-se para a soleira de uma grande casa que se erguia discreta logo após o bar de South Beach.
-- É aqui que eu moro. -- Cath explicou, colocando alguns fios de sua franja para trás da orelha. -- Os pais de Jenna não têm casa aqui, ela viajou comigo. -- continuou, percebendo que o novo amigo ainda não tinha compreendido exatamente tudo.
Ele, por sua vez, assentiu, e a Catherine inclinou-se ligeiramente em sua direção. Remo sentiu o cheiro delicioso de maresia e sol que emanava da morena invadirem suas narinas e, inebriado, até assustou-se quando sentiu os lábios grossos e ao mesmo tempo delicados de Catherine repousarem sobre uma de suas bochechas, e com o beijo estalado que ela lhe deu em seguida. Sentiu seu rosto queimar de uma forma incontrolável, e teve a certeza de que ficou bastante vermelho ao constatar um sorriso travesso no canto da boca de Cath.
-- Até amanhã, Remo. -- a morena disse. Em seguida, despediu-se de seus amigos e entrou em sua casa, acompanhada por Jenna.
N/A: Capítulo sem muitos grandes acontecimentos, mas ainda tenho que introduzir os primeiros sentimentos e tal. Afinal, eu pelo menos detesto ler uma fic onde o amor de repente brota do nada e é de um dia para outro. A atualização demorou bastante, mas essa fic não é muito fácil de escrever, tem bastante narração, e eu realmente gostaria que ela saísse boa, então sou exigente quanto ao resultado final de cada capítulo. Como vocês devem ter percebido, não tem quase nada de magia e do mundo de Harry Potter na fic, só mesmo alguns personagens e referências, e creio que será assim até o final. Espero que, apesar de tudo, vocês tenham gostado do capítulo e, se possível, comentem, pois Remo/P.O. não é um shipper lá muito popular e poucas pessoas o procuram.
Gostaria de agradecer muito também aos comentários do capítulo 1, obrigada mesmo gente, e obrigada pela paciência também.
Espero encontrá-los novamente o mais breve possível, muitos beijos!
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