A CASA DOS GRANGER
QUANDO FINALMENTE O EXPRESSO HOGWARTS chegou à estação King’s Cross, Harry que jazia sentado ao lado de Hermione e Gina, ainda mantinha os olhos presos à paisagem que ia parando gradativamente, não tinha muita coisa em mente agora, pois de fato, desde o enterro de Dumbledore há dois dias, sua mente não parara de remoer os acontecimentos nem por um segundo. Não sabia como se sentir, tinha raiva, de tudo, de não ter percebido antes a índole maléfica de Snape, de não ter tido condições de salvar o diretor, de ter sido fraco a ponto de deixar que as coisas chegassem a um nível tão catastrófico como esse.
Rony não estava entre eles agora, havia saído há poucos minutos atrás para fazer sua ronda sozinho já que Hermione recusara-se a ir junto. Segundo ela, ele era perfeitamente capaz de fazê-la sem o seu auxilio, e quando ele fez menção em relatar o ocorrido aos monitores chefes, ela o fuzilou com o olhar de uma maneira tão notável que até Harry em seus mais distraídos pensamentos, percebera. O clima estava um tanto pesado para um final de ano, e se tornava ainda mais visível quando se atinava para o fato de que a cabine continha apenas amigos próximos, a maioria dos outros alunos estaria no mínimo contando piadas ou brincando, mas não este ano.
Quando foi liberado o desembarque dos estudantes, mal era possível reconhecer o expresso, já que este não trazia nem trinta por cento do normal de passageiros, isso se devia ao fato de os alunos terem deixado a escola antes do esperado. O destino de Hogwarts agora era incerto, sem Dumbledore, a escola parecia ter perdido sua alma. Mcgonagall estivera fazendo o máximo para manter a escola nos padrões pré-estabelecidos pelo falecido diretor durante todos esses anos em que ele fora o gestor.
O mundo bruxo já não era o mesmo de outras eras, todos estavam em pânico, atônitos com tudo o que acontecera, quem poderia deter Voldemort, quando o único que ele já temera estava morto? Pessoas estavam fugindo para áreas isoladas da Europa, outros apelavam para todo tipo de encantamentos e feitiços para proteger suas moradias e suas famílias, o Ministério ainda não se pronunciara, mas já era esperada uma movimentação militar para as próximas semanas. O Profeta Diário não parava de noticiar informações sobre supostos assassinatos que estavam ocorrendo em diversos pontos da Grã-Bretanha, outros tablóides sensacionalistas prediziam o fim da raça humana e em todos os cantos as pessoas começavam a clamar pelo ‘escolhido’.
Os componentes da Ordem da Fênix em conjunto com o Ministério da Magia montaram uma força tarefa para fazer a escolta de Harry até Surrey, onde este ficaria em segurança na casa de seus tios. Harry, no entanto, não estava certo se queria realmente voltar àquela casa. Se Dumbledore ainda estivesse com ele, ainda faria a sua vontade, mas agora, realmente valia a pena ter de aturar os Dursley por mais tempo? Sua mente estava uma confusão total. Era muita responsabilidade para um adolescente.
No momento em que seus pés tocaram o chão da estação, ele percebeu o quão solitário estaria nos dias que se seguiriam, Gina por quem tivera tanto apreço durante este ano seguiria com Rony para ‘A Toca’ e Hermione retornaria à casa de seus pais, em outros tempos não daria tanta atenção a esse fato, porém, esses tempos difíceis, ele sentia necessidade de estar junto deles, sentia como se tivesse de se separar dos amigos, os perderia para sempre.
Rony, que estivera a serviço da monitoria minutos atrás, aparecia atrás dos outros na rampa da plataforma 9 ³/4, tinha uma aparência um tanto cansada, bem como os demais¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬, seus cabelos ruivos estavam costumeiramente desgrenhados, e sua palidez passava do normal.
— Puxa ainda bem que encontrei vocês. — Disse ele quando chegou junto a eles,
— Da maneira como você fala parece até que temos rios de alunos, Rony. — Disse Hermione secamente.
— Realmente. — Riu-se Gina, que estava abraçada ao braço de Harry.
— Eu só estava brincando! — Exclamou Rony, como se alguém estivesse brigando com ele.
— Relaxa Rony. — Disse Hermione revirando os olhos enquanto o ruivo se aproximava dela para abraçá-la pela cintura.
— O que você tem Harry? — Fez Hermione ao notar a testa franzida de Harry.
— Hum? — Saltou ele. — Nada. Estava pensando.
— Podemos saber em quê? — Perguntou Gina curiosa, sendo apoiada por Rony.
— Nada que eu possa resolver nesse momento. — Respondeu Harry evasivamente. Nesse momento a guarnição Ordem/Ministério se aproximava deles. — Aí estão eles.
— Eles quem? — Perguntou Rony.
Harry apenas apontou-os atrás de si próprio com um aceno de cabeça. Quando os mesmos chegaram, Harry se voltou para eles para cumprimentá-los, a guarnição era composta por Remo Lupin, Nimphadora Tonks, Kingsley Shackelebot, quatro membros que Harry não conhecia, com certeza eram a fatia do Ministério de sua escolta.
— Olá, Lupin! — Exclamou Harry ao ficar frente a frente com o lobisomem. — Tonks...
— Oi, Harry! — Respondeu Tonks.
— Olá, Harry, crianças... — Fez o lobo.
Se Harry achava que Lupin parecia doente e cansado há alguns dias atrás, quando estiveram juntos a conversar sobre os planos de Voldemort ou Fenrir *Greyard, agora ele o podia considerar quase morto por sua aparência extremamente exausta e triste, Nimphadora não estava diferente de seu namorado, jazia esgotada, parecia que não dormia havia noites. Os únicos que pareciam mais saudáveis eram os “soldados” do Ministério da Magia.
— Acho que devemos ir, nesses dias não é bom ficar às vistas de ninguém. — declarou Lupin e em seguida todos o seguiram em direção à saída do lugar.
Lupin ia à frente, seguido por Tonks, Harry, Hermione, Gina, Rony, Kingsley e os aurores. Todos mantiam-se apreensivos e alertas, agora podiam esperar qualquer coisa de Voldemort e não podiam se dar ao luxo de serem atacados em plena luz do dia até pelo sigilo dos bruxos, já que estavam no mundo trouxa.
Por esse motivo Lupin e Tonks fizeram questão que todos os alunos que estavam no grupo permanecessem com suas varinhas em algum lugar que fosse de fácil acesso, para o caso de precisarem usá-las. Harry pôs a sua dentro do casaco que vestia e andava com a mão enfiada no mesmo. Não deixaria que nenhum comensal da morte levasse vantagem sobre ele. Não de novo.
Quando chegaram ao portão de saída da estação, puderam rapidamente reconhecer o velho carro preto do Ministério, ainda tinha a mesma aparência de carro de funerária que sempre tivera. Nesse momento Harry percebeu algo estranho, olhou para Hermione e deparou-se com um olhar singular da amiga. Ela mantinha a testa franzida e um ar de preocupação.
— Algum problema?
— Você está bem? — Rebateu a pergunta.
— Sim, por quê? — Fez Harry.
— Não sei... Algo me diz que você mente.
— Não confia em mim?
— Ora, mas que pergunta Harry! — Respondeu ela um tanto ríspida, porém em tom baixo. — É claro que eu confio.
— Então não há com o que se preocupar! — Respondeu ele seguramente.
— Hum...
— Você vai para a casa dos seus pais, não? — Perguntou ele fitando o chão.
— Óbvio, não?
— É! — e forçou um sorriso que pareceu bem murcho segundo a moça.
— Você não está bem! — Hermione o fitava enquanto andavam, Gina e Rony estavam prestes a entrar no carro neste momento.
— Olhe... Não sei se quero ficar com os Dursley esse verão. — Disse ele para as costas dela, assim que Lupin fez um sinal para que ela entrasse.
— Por quê? — Perguntou Hermione.
— Não sei se vale mais a pena! — Respondeu ele simplesmente quando se sentou entre Gina e Hermione fitando a morena.
— O que não vale mais a pena? — Perguntou Gina, chamando a atenção dos outros no veículo.
— Não sei se ainda vale à pena ficar com os Dursley esse verão, como Dumbledore queria! — Repetiu ele para que todos pudessem ouvi-lo, mantia uma expressão um tanto serena ao dizer isso.
— Como assim, Harry? — Retorquiu Lupin. — É claro que vale à pena!
— Você não pode se arriscar! — Disse Tonks apoiando Lupin.
— Olhem! Eu deveria ficar com os Dursley enquanto eu pudesse chamar aquilo de lar, entretanto, mal posso olhar nos rostos daqueles tratantes. — Disse Harry calmamente. — Eu não acho que a proteção do pacto da minha mãe vá durar muito dessa forma.
— Hum... Mas Harry... Você não acha que vai estar mais seguro com os trouxas? — disparou Rony que até então estivera calado.
— Com certeza, não! — Exclamou Harry. — Eu já estou atolado nessa estória até o pescoço desde que nasci... Antes eu possuía a proteção do pacto, do sigilo e de Dumbledore, agora, não tenho mais proteção alguma...
— Mas Harry... — começou Gina, mas foi interrompida por Harry.
— É só que... Bem, estou cansado de ficar fugindo.
— Harry, o fato é que você não tem poderes o suficiente para derrotar Voldemort, pelo menos não agora. Nem treinado você foi... Assim, você não pode dar sopa para o azar, não pode se arriscar.
Essa opinião de Lupin foi unânime entre todos os demais que jaziam dentro do velho carro preto.
— Escutem! Eu poderia ficar na Toca! — sugeriu Harry.
— É ele poderia! — intrometeu-se Rony.
— Não, Harry! — fez Lupin. — Os Weasley já se arriscaram demais. E, além disso, seria muito óbvio.
— E com os Dursley, não? Tenho certeza de que Voldemort já sabe há tempos onde eu moro, só não invadiu aquele lugar por que ele teme o poder que minha mãe impregnou lá. — afirmou Harry. — Agora é oficial: Eu sou um sem teto!
Todos riram com isso. Realmente ele não tinha para onde ir, a sede da Ordem não existia mais, Hogwarts, bem, eles já o haviam mandado embora junto com os alunos, estavam pensando em fechar a escola, Remo e Tonks, bem, o lugar onde moravam não tinha muito espaço, Harry nem ao menos sabia onde ficava, além de não querer atrapalhar a vida conjugal dos dois.
Harry baixou a cabeça e fitou o soalho do em movimento. Decididamente não sabia o que fazer, só não queria voltar para a casa de seus tios, sob pena de ele cometer uma burrada com as provocações deles ou Voldemort, de alguma forma, conseguir invadir o lugar.
— Bem, ele poderia ficar na minha casa! — Exclamou Hermione em sugestão.
— Não, Hermione, a intenção é boa, mas isso poria seus pais e você mais em perigo do que já estão! — Negou Lupin decidido.
— E os encantamentos e feitiços? — insistiu Hermione. — Podemos realizá-los sem que ninguém perceba nada!
— Hermione... — repetiu Lupin cansado.
— Olhe... Lupin... Lá eu estaria no lugar mais óbvio do mundo, não? — Incitou Harry esperançoso.
— Absolutamente! — Respondeu o lobo cansado.
— Perfeito! — Harry exclamou.
— Perfeito? Como assim? — Tonks e Lupin perguntaram sem entender nada.
— Ele nem vai pensar em me procurar lá! E podemos executar os feitiços de Dumbledore, a casa terá tanta segurança quanto Hogwarts com Dumbledore. — Finalizou Harry vitorioso.
E então, depois de uma longa discussão, que levou quase todo o trajeto até a casa dos Weasley, Lupin finalmente desistiu.
— Tomara que eu não me arrependa disso! — declarou Lupin vencido.
— Não se preocupe! — Harry e Hermione juntos.
***
Quando finalmente chegaram à Toca, Rony foi o primeiro a saltar do veículo, seguido de Hermione, Gina e Harry. A Toca não parecia diferente de quando a vira pela primeira vez, ainda parecia que havia uma série de cômodos construídos desordenadamente uns sobre os outros, mas que era muito aconchegante. No momento em que adentraram a sala dos Weasley, notaram a diferença, ela estava mais bonita e elegante por dentro, não chegava a ser luxuosa, porém, agora parecia mais com a casa dos Dursley, toda limpinha e com o bom e velho cheiro de família (pena que ele não possuía isso com os Dursley), nesse momento Harry abriu um largo sorriso. Finalmente parecia que o Ministério estava recompensando o Sr. Weasley por seus esforços e méritos próprios.
— Crianças! — Exclamou a Sra. Weasley no momento em que cruzou a porta da cozinha para o Jardim atrás da casa. — Que bom que vocês chegaram! Já estava ficando preocupada...
Nesse momento ela deu um abraço bem forte em Rony, para falar a verdade, Harry só a vira agir assim com ele quando ele recebeu a monitoria da Grifinória junto com Hermione, na certa isso acontecia por que o ruivo aprontava demais, tinha puxado excessivamente aos seus irmãos mais velhos, Fred e Jorge. Ela, a Sra. Weasley, parecia bem, mas também mantia aquela persistente ruga de preocupação que todos os adultos mantinham nos últimos dias desse seu sexto ano.
— Não se preocupe Molly, eu disse que os traria de volta sãos e salvos... — Sorriu Remo Lupin para ela que retribuiu antes de dar um beijo e um abraço também apertado em Gina.
— Francamente, eu não sei que idéia foi essa da Minerva de não nos deixar trazê-los conosco após o enterro de Dumbledore. — Confessou ela aos demais, exceto os aurores do Ministério que ficaram à porta montando guarda.
— Ela deve ter seus motivos, além do quê... Foi melhor assim, não? — Respondeu Tonks calmamente deixando escapar um tímido sorriso ao apontar, Harry que estava abraçado a Gina, Rony estava jogado em um sofá, e Hermione estava fitando o chão com uma expressão facial um tanto peculiar, mas a Sra. Weasley achou que isso era irrelevante para o momento. —Serviu para deixá-los um pouco mais à vontade e se despedir da escola e da memória de Alvo...
— É isso mesmo! — Fechou Lupin.
Harry que estava abraçado com Gina percebeu a expressão de Hermione e sentiu um frio lhe perpassar a barriga, sem nem ao menos saber por quê.
— Gina... Você me traria um copo de água? — Pediu Harry à namorada.
— Claro querido! — E saiu rumo à cozinha.
— Hermione... — Chamou Harry baixinho.
— Hum? — Ouviu em resposta por parte da morena.
— O q-... — Mas foi interrompido pela voz da Sra. Weasley que parava de conversar com Lupin e Tonks e finalmente percebera a sua presença ali.
— HARRY, QUERIDO! — Gritou ela fazendo o moreno saltar de susto.
— Oi Sra. Weasley!
— Desculpe querido, não havia lhe cumprimentado! – E lhe deu um abraço tão forte que Harry suspeitou que suas costelas jamais voltariam a ser as mesmas outra vez. — Fiquei tão abobada com a chegada de vocês... Puxa! Como você está mais magro! Você não estava nesse estado há dois dias atrás!
— Eu?
— É! — Reafirmou a mãe de Rony.
— Efeito Gina! — Comentou Rony não muito alto, mais o suficiente para que todos ali presentes o ouvissem.
— Como é? — Soltou a Sra. Weasley ríspida antes de avançar em Rony como uma verdadeira leoa. Fazendo assim com que todos caíssem na gargalhada!
— Nada! — Rony trocou de cor nesse minuto.
— Relaxa Molly, foi apenas uma brincadeira. — Amenizou Lupin.
— Muito sem graça por sinal. — Falou Gina que voltava da cozinha com um copo de água para Harry, quando passou por seu irmão ela mostrou a língua para o mesmo.
Rony, que ficou com as orelhas vermelhas retribuiu o favor, sob um olhar de forte desaprovação de Hermione. Harry desconfiara que aquilo se devesse ao fato de ela não ter gostado da brincadeira de Rony para com sua irmã. No mínimo de tê-la achado excessivamente imatura, mesmo para ele. E sem nem perceber, um sorriso se desenhou em seu rosto.
— O que foi amor? — Perguntou a ruiva a fita-lo, nesse momento ele voltou a si e bebeu a água em um gole só, se arrependeu, pois achava que fosse se engasgar, coisa que faltou pouco para acontecer.
— Nada! Lupin! Vamos? — Perguntou Harry voltando-se para Lupin.
— Por quê? Ainda está cedo! — Disparou Gina.
— Não, Harry, você tem razão, não devemos nos demorar muito, os tempos estão difíceis! — Respondeu Lupin. — Vamos, Harry, Hermione!
— Como assim? Harry e Hermione não ficarão? — Perguntou a Sra. Weasley espantada.
— Não, Molly, Harry ficará com Hermione na casa dos pais dela, já preparamos um pessoal que deve estar lá neste momento preparando os feitiços e encantamentos. Acho que ao chegarmos lá, eles nem estarão mais, trabalham bem rápido. — Respondeu Lupin.
— Bom, se é assim, é melhor irem... Vamos, boas férias para vocês dois! — Disse acompanhando-os até a porta, seguidos por Rony e Gina.
— Obrigado, Sra. Weasley. — Responderam os dois em coro.
— Adeus, amor! — Disse Gina dando lhe um beijo de supetão, foi algo tão repentino que Harry nem correspondeu. E em seguida foi se despedir de Hermione.
— Até outro dia, cara! — Despediu-se Rony do Escolhido.
***
Assim que chegaram à casa de Hermione, foram recebidos pelos pais da moça, o Sr. e a Sra. Granger, ambos trouxas, como já era do conhecimento de Harry. Os dois, muito hospitaleiros e gentis, ao que Harry se recordava deles, eram dentistas, realmente pessoas muito agradáveis. Alguns momentos depois Lupin, Tonks e os outros deixaram o lugar deixando somente a família Granger e Harry.
— E então, Harry... As coisas não estão fáceis para você, não? — Perguntou o Sr. Granger, enquanto os dois carregavam as bagagens de Harry escada acima, Hermione estava na sala de estar junto de sua mãe, matando as saudades.
— Hum... Não, não estão nada fáceis! — respondeu Harry deixando a entender que não gostaria de falar sobre nada disso agora.
E como se tivesse percebido isso o Sr. Granger virou-se para o corredor e caminhou apressadamente em direção ao último quarto que ficava próximo a uma janela na parede do corredor. Abriu a porta com a chave e Harry seguiu para junto dele e entrou no quarto ligando a luz. O Sr. Granger separou a chave do quarto do molho de chaves que carregava consigo e entregou a Harry.
— Seja bem vindo Harry! — Disse ele sorrindo jovialmente.
— Ah.. Muito obrigado, senhor Granger. — Respondeu Harry educadamente procurando causar boa impressão.
— Não precisa me chamar de Sr. Granger, pode me chamar só de *Carl. — Declarou ele.
— O.k. então! — Fez Harry.
— Bem, então eu vou lá em baixo matar a saudade da minha filha! — Disse ele finalizando e quando chegou ao meio do corredor adicionou. — Ah... Tome uma ducha e troque de roupa, o jantar estará servido daqui a meia hora.
— Tudo bem, obrigado! — Foi o que Harry disse antes de virar-se para o quarto que seria seu nas próximas semanas, era um cômodo amplo e bem arrumado, tinha uma cama de solteiro no canto da parede, um criado mudo com abajur, uma escrivaninha próxima à janela e um guarda-roupa e papel de parede branco com um bege bem discreto, Harry achou que já estava bom demais para ele, então decidiu seguir logo para seu banho e depois se ocuparia em arrumar suas coisas nos devidos lugares.
Após seu banho, Harry saiu em busca de algumas roupas, abriu seu malão e viu suas roupas, que estavam realmente desorganizadas por assim dizer. Pegou sua roupa de baixo, um jeans azul marinho e uma blusa branca de manga comprida. Adiantou-se para frente do espelho interno do guarda-roupa quando terminou de se vestir, sua aparência até que não estava das piores, apenas seu cabelo, extremamente revoltado estava causando desordem, porém, como ainda estava molhado não causou muitos problemas a seu dono.
Olhou no relógio de pulso e notou que ainda faltavam alguns minutos para que o jantar fosse servido no andar debaixo, então decidiu o melhor a fazer seria arrumar suas roupas e suas coisas em seus devidos lugares, dessa forma, arrumou suas roupas nas devidas gavetas, seus livros organizados sobre a escrivaninha, bem como os objetos mágicos que adquirira ao longos dos anos.
Quando percebeu em suas mãos o espelho que Sirius lhe dera em seu quinto ano em Hogwarts, uma emoção muito forte tomou conta de seu peito. Sirius não merecia aquilo... Não... Quantos mais teriam que morrer até que a sede de sangue de Voldemort fosse saciada? Quantas vidas ainda seriam perdidas? Quantos dos seus entes queridos e amigos ele ainda teria que ver sem vida ou morrendo bem diante dos seus olhos? Estava cansado dessa vida. Casado de ser Harry Potter, o Escolhido, cansado de ter de fugir, não fazia parte dele isso, não aceitava que tivesse de ficar fugindo a cada alarme da presença de Voldemort. Não, para ele já bastava, mesmo que ele não sobrevivesse acabar com ele de uma vez por todas, dar fim a seu reinado de medo.
Queria voltar a ter outros dias dourados de pais para desfrutar ao lado daqueles a quem amava. Queria crescer e trabalhar, constituir família, ver seus filhos e netos crescerem sem temer que um maldito invadisse sua casa no meio da madrugada e os tentasse matar, como ocorrera com seus falecidos pais. Sabia que ainda chegaria o dia em que ele veria o céu nascer feliz e as futuras gerações não mais teriam de temer nada.
Sem nem perceber, ele apertara com tanta força o espelho que o mesmo se quebrara e um dos fragmentos abrira um corte profundo em sua mão, fato que o fez acordar de seus pensamentos ao mesmo tempo tristes e esperançosos chamando um palavrão e lançando o que restara do mesmo na parede oposta.
— Harry? — Hermione abriu a porta em sobressalto. — O que houve?
— Nada! — Respondeu ele irritado apertando a mão com a blusa.
— Por Merlin, o que houve com a sua mão? — Disse ela assim que adentrou o quarto, tomando as mãos dele nas suas.
— É só um cortezinho de nada! Não precisa se preocupar... — Acalmou ele.
— Não é só um cortezinho de nada! Isso aqui pode infeccionar, sabia? — Disse ela segurando o pulso dele com uma mão e estendeu a mão para o nada na outra. — Apareça!
No momento seguinte a varinha de sua amiga aparecera na palma de sua mão que estivera estendida momentos atrás. Harry arregalou os olhos, como ela teria feito aquilo? Nunca vira tal encantamento antes.
— Como você fez isso? — Perguntou ele de olhos arregalados.
— Achei esse feitiço em um dos livros do professor Flitwick na área restrita da biblioteca. Agora me deixa cuidar disso.
E com um abano de varinha um quite de primeiros socorros apareceu em sua frente. Harry não entendera por que ela simplesmente não fizera um encantamento medicinal ou algo parecido, mas decidiu deixar quieto, pois uma coisa que ele aprendera a duras penas era não bater de frente com ela, ela sabia muito bem como atingi-lo.
Assim, quando a pequena caixa foi aberta por Hermione, Harry pode notar uma série de utensílios médicos, a caixa com certeza fora expandida magicamente em seu interior, porque realmente cabia muita coisa ali. Ela pegou um pacote de gaze, um rolo de esparadrapo e um anti-séptico.
— Pode doer um pouquinho!
— Ora, Hermione, me respeite, ponha logo isso aí! — Respondeu Harry cheio de si, parecia que sua raiva havia desaparecido completamente no momento em que ela o tocou. — Não pode ser pior do que um Crucio, não?
— Não brinque com coisa séria, Harry...
— Eu não estou... AHHH! — Nesse momento Hermione pusera um pouco de anti-séptico sobre o ferimento na mão de Harry. Este urrou de dor. — Isso dói!
Isso fez Hermione gargalhar, se desequilibrando e caindo sentada. Ela morria de rir da cara dele. Não podia acreditar que ele, que tanto já tinha sofrido na vida, sem contar as várias contusões que tivera por causa do quadribol, estivesse se rendendo à leve ardência de um simples anti-séptico.
— Do que você está rindo? — questionou ele abanando a mão.
— De nada!
— Isso dói...
— Ora, deixe de ser mole.
— Mole? — Harry então começou a cutucar Hermione na cintura, pois sabia que ela sentia cócegas.
— Não, Harry, Pára! — Pedia ela deitada no chão rindo sem parar Harry estava sobre ela, fazendo um ataque de cócegas. — PÁRA!
— O.k. — Disse ele saindo de cima dela com um sorriso maroto nos lábios. — Você vai continuar com o curativo?
— Claro, seu mongol.
Nisso ele estendeu a mão para ela enquanto sentava-se na beirada da cama e ela ajoelhou-se à sua frente, tomando novamente a mão de Harry nas suas. Harry, que agora estava quieto, fitava Hermione atentamente, ela jazia concentrada e tão serena, era incrível como ela conseguira ser tão cuidadosa com ele durante todos esses anos em que conviveram em Hogwarts. Tinha certeza de que se fosse outra pessoa, não seria a mesma coisa, fora ela que em tempos difíceis acreditou nele até mesmo quando Rony, seu melhor amigo o deixara e juntara-se aos outros que o julgavam e não o creditavam.
Hermione com certeza sempre fora melhor amiga do que Rony, já que era com ela que ele melhor se entendia quando precisava de alguém com quem discutir estratégias e problemas provenientes da guerra, quando Rony, só o incentivava a atacar imprudentemente Voldemort e seus seguidores, o ruivo como ele outrora também fora, era muito impulsivo.
Ela, entretanto, o ajudava com as lições, com as garotas, e com todo o resto, com certeza era a melhor amiga que ele jamais poderia desejar dos céus. Nela encontrava, paz, companheirismo, entendimento mútuo, sinceridade, conhecimento, abrigo. Jamais se perdoaria se algo acontecesse a ela. Jamais.
— Algum problema, Harry? — Perguntou a morena.
— Hum! Não, nada! — Respondeu ele voltando a si.
— É por que você estava com uma cara tão estranha. — Disse ela. — Por que estava me olhando.
— Não é nada... Hermione?
— Diga!
— Promete que nunca vai me deixar...
— Claro, Harry, por que está dizendo isso?
— É só que... Eu... Eu já estou farto disso tudo Hermione. — Revelou Harry à amiga.
Hermione permaneceu calada. Já havia algum tempo que ela esperava ouvir isso dele, mas ele vinha relutando, ela esperara até que ele se sentisse mais à vontade. Enfim, esse momento chegou.
— Eu não quero mais ficar fugindo. Não quero mais perder as pessoas que amo, principalmente você! — Desabafou Harry, como se tivesse tirando um fardo de suas costas.
— Eu?
— Isso, Hermione, vamos por as cartas na mesa, o.k.? Rony sempre fora o meu melhor amigo por ser homem e tudo, mas você, bem você, ao logo desses anos provou ser mais companheira que ele! — continuou Harry sinceramente. — No quinto ano... No departamento de Mistérios, tive medo de perdê-la, pela primeira vez, senti isso por alguém.
— Entendo. — Disse a moça a moça tocada pela sinceridade do amigo. Sempre soubera que ele não era tão durão quanto demonstrava ser.
— Sabe esse ano quando eu cheguei ao castelo e vi a batalha, temi por você mais uma vez. Eu sei que você não é fraca e que poderia dar bastante trabalho àqueles miseráveis, mas... — Falou Harry.
— Oh, Harry. — Ela, tinha lágrimas nos olhos, respirou fundo e o abraçou.
— Nunca me deixe, Hermione, você é minha melhor amiga e eu não suportaria tamanha dor! — finalizou ele abraçando-a fortemente, como se não a quisesse deixar escapar.
— Hum-Hum! Não quero atrapalhar nada, mas o jantar já está servido. — O Sr. Granger estava à porta nesse momento vendo a cena. — Hermione, sua mãe a está esperando. Não nos tardaremos a descer.
— Mas pai...
— Hermione! Por favor... Desça, nós já vamos! — Repreendeu-a o Sr. Granger.
A moça cruzou o quarto e passou pelo pai que adentrava, assim que passou pela porta, sumiu pelo corredor. Harry sentiu o chão sumir.
— Sr. Granger, eu...
— Não precisa me explicar nada, Harry... — Disse o pai da moça seriamente. — Eu assisti à cena toda...
— Bem... — Mas parou quando ele ergueu a mão para que se calasse.
— Harry, você sabe muito bem que Hermione é minha única filha, não?
Harry assentiu com a cabeça.
— Pois bem, eu nunca fui muito a favor de Hermione ir sozinha para aquela escola a qual vocês freqüentam, mas ela parecia feliz com tudo, e é tudo o que eu mais quero: vê-la feliz. — disse o Sr. Granger.
— Compreendo! — Disse ele.
— Eu sei de toda a sua estória, Harry, sobre sua fama, pos desde o primeiro ano da Mione, ela nos conta tudo. Sei até dos perigos que ela enfrentou ao seu lado. — Nesse momento ele ficou tão sério que Harry começou a temer. — E não pense que eu aprovo, mas ao que eu percebi, ela não se incomoda de se arriscar por você, e então eu tenho esperado por uma oportunidade de conhecê-lo pessoalmente!
Harry engoliu em seco essas palavras, começava a suar frio.
— Agora, depois de ver tudo o que vi! — Harry passou a ponderar o que, necessariamente, ele havia visto. — Eu percebi que estava errado quanto a você e sua influência sobre minha filha, sabe, Harry, eu fico realmente mais tranqüilo ao saber que você a considera tanto e que você olha tanto por ela. Fico feliz de ela estar ao seu lado, tenho certeza de que ela está segura. Você é um bom rapaz.
Harry considerou essas palavras por alguns momentos, e em seguida voltou sua atenção ao pai de Hermione que se aproximava da porta.
— Vamos, Harry, elas nos esperam lá embaixo. — Disse-lhe. — a comida deve estar maravilhosa.
— Obrigado, Sr. Granger! — Disse Harry juntando-se a ele.
— Não se preocupe, ela não ficará sabendo do que conversamos aqui, até porque ela ficaria furiosa. — E dizendo isso seguiu em direção às escadas e sumiu de suas vistas, descendo as mesmas.
Harry permaneceu parado ali dentro analisando cada palavra que fora dita ali, tentava entender as razões pelas quais aquilo havia ocorrido. O que se passava na mente do Sr. Granger, afinal? Não sabia, mas pelo menos, sentia-se muito melhor depois de tudo. Quando voltou a si, decidiu finalmente descer as escadas para o jantar com a família de Hermione.
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