Um Bilhete



- Que é que há com você, Hermione? Você tá tão séria hoje.
- Não, não é nada, Gina...
Hermione e Gina estavam jantando. Gina conversava animadamente com os colegas da Grifinória, ela era artilheira do time de quadribol agora. Naquele dia a Grifinória tinha ganhado da Sonserina, de 190 a 160, mesmo que o jogo não tivesse sido lá aquelas coisas. A Grifinória, na verdade, tinha ganhado o jogo por causa dos 19 gols que os artilheiros marcaram, e no final do jogo, com sorte, Malfoy pegou o pomo, mas não foi o suficiente para ultrapassar a Grifinória.
- Claro que você tem alguma coisa, Mione, senão você taria comemorando com a gente. Vai, fala, que é que aconteceu? – perguntou Gina,tentando ser ouvida enquanto os grifinórios comentavam euforicamente a partida.
- Gina, já disse que eu não tenho nada, será que dá pra parar de insistir? – disse Hermione com um pouco de grosseria.
Hermione se sentia péssima. Não conseguia nem comer direito, estava sem fome, na verdade estava sem nada, a única coisa que ela queria era ficar sozinha, e pensar.
- Vocês viram quando eu defendi o 14º gol de Bradley? – gritou Rony, do lado de Hermione, para os alunos do terceiro ano, que pediam toda hora pra Rony narrar suas defesas durante o jogo. Do nada, chegou Luna Lovegood, empurrando Hermione para o lado, para se sentar ao lado de Rony.
- Você foi excelente hoje, Ronald, mesmo! – disse com aquela voz sonhadora de sempre.
Rony ficou meio sem graça, e sorriu sem jeito, seu rosto estava corado.
- Mas eu acho que seu amigo não está bem.
Todos se viraram para ver. Harry entrara no Salão Principal, ainda vestindo o uniforme de quadribol, com a vassoura no ombro, parecendo arrasado.
- Vem cá, Harry, vamos comemorar! – gritou Colin Creevey, empurrando uma cerveja amanteigada nas mãos do garoto.
Os olhos de Harry percorreram a mesa. Por um instante eles encontraram os de Hermione, mas depois disso ele desviou o olhar, voltando a conversar com Colin Creevey, fingindo que não tinha notado que ela estava ali.
- Eu... eu vou dormir. – disse Hermione subitamente, se levantando.
- Mas... Mione! Fica aqui com a gente! – disse Gina.
- Não, Gina, desculpa, mas eu tô cansada agora, tá?
E saiu sem dizer mais nada.
Os corredores estavam vazios, e ela preferia daquele jeito. Não queria a companhia de ninguém.
No Salão Comunal também não tinha ninguém. Provavelmente estavam todos lá em baixo, comemorando. Hermione subiu para seu dormitório, e quando chegou lá, ele estava agradavelmente vazio. Ela pensou em fazer algum dever para passar o tempo, mas não ia agüentar... Se sentou na cama, com os braços em volta dos joelhos.
“Tente não pensar naquilo”, ela dizia pra si mesma, mas ela não conseguia, a lembrança do que acontecera algumas horas atrás ainda retumbava em sua mente, e ela não ia conseguir livrar-se dela tão cedo.

“Boa Sorte...Viu? – disse Hermione, dando um beijo na bochecha de Harry. Ele,por sua vez, se virou e a beijou ali mesmo, no vestiário, na frente de todos os colegas de equipe. O time inteiro aplaudiu e assoviou, e Hermione sentiu o rosto arder loucamente.
- Com um beijo desses...É claro que o Harry vai apanhar o pomo hoje! – disse Rony animado.
- Vamos, gente...A MCGonnagal já tá chamando...
Harry saiu apressado, mas antes ele deu um selinho rápido em Hermione, que foi para as arquibancadas assistir o namorado jogar.
Mas o jogo não foi lá aquelas coisas, Hermione reparou. Talvez pro resto do time sim, pois em menos de cinco minutos a Grifinória já tinha marcado dois gols, e Rony fazia defesas cada vez mais espetaculares, arrancando aplausos da torcida. Mas Harry parecia tenso. A competição entre ele e Malfoy lá em cima aumentava cada vez mais.
- GOL DA GRIFINÓRIA! 190 PONTOS! Vai ser meio difícil a Sonserina passar na frente, agora!
Harry se virou para ver o placar. Mas, naquele momento, naquele exato momento, talvez se ele tivesse voltado a procurar uns três segundos antes, teria visto o pomo e o capturado. Mas Malfoy fez isso antes. Por um momento todos acharam que a Sonserina tinha ganhado, mas depois todos viram que a Grifinória continuava na frente do placar, o time todo e os alunos da Grifinória desceram ao estádio para comemorar e parabenizar os artilheiros e o goleiro. Talvez devesse ter sido por causa disso, porque quando os grifinórios saíram pra fora do estádio, e ir fazer a festa de sempre, ninguém se lembrou de Harry. Normalmente eles todos se amontoavam em cima dele, e sempre ele estava com o pomo se debatendo em sua mão. Hermione achou que porque Harry não tinha pegado o pomo os outros jogadores ganhassem mais prestigio, mas esquecer completamente do apanhador era demais.
Quando todos já tinha saído do estádio, Hermione foi até o vestiário falar com Harry, mas ele não estava lá. Ela saiu para os jardins, e viu ele sentado lá longe, perto do lago, sozinho.
- Harry... – ela disse ofegante, quando se aproximou. Ele apenas amarrou a cara para ela. – Escuta... Eu sei que deve ter sido péssimo...
- Foi péssimo, Hermione. – disse Harry mal-humorado. Havia um tom diferente na sua voz.
Hermione sentou ao lado dele.
- Mas eu queria que você soubesse que mesmo assim eu ainda acho que você jogou muito bem hoje!
- Eu fui uma droga – disse Harry, aumentando o tom de voz. Ele não olhava nos olhos dela.
- Tá, pode até ser que você não tenha jogado tão bem... Mas a Grifinória ganhou, não ganhou? Você não está feliz por isso?
- Não. – disse Harry como quem encerra o assunto.
Hermione se surpreendeu com aquela cortada dele, ele estava triste, ela entendia, mas porque ele estava sendo tão grosso com ela?
- Harry... – ela começou.
- Hermione, olha aqui, eu não quero conversar com você agora, tá bem? Será que você pode me deixar em paz ao menos por um minuto?
- Mas...
- Me deixa sozinho, ok? Eu sei que você tá doida pra ir lá com os outros, você quer comemorar o jogo deles, não quer? Você quer ficar lá com o Rony, não quer? Então vai lá. Vai.
Hermione estava estupefata. Como é que Harry estava falando assim com ela?
- Harry, eu não quero nada disso...
- Hermione, me deixa sozinho. SOZINHO!
Hermione pensou em insistir, mas agora quem estava magoada era ela. Se ela tentasse falar com ele, ia ser respondida com grosseria de novo. Então, sem pensar, ela se levantou, e fez o que ele queria que ela fizesse: deixou ele sozinho.”

Hermione,sentada em sua cama do dormitório, não conseguia pensar em mais nada senão na discussão que teve com Harry... Uma lágrima escorreu pelo seu rosto.

********************
Harry andava sozinho pelos corredores do castelo.Mesmo com tanta animação ao seu redor, ele não conseguia sentir o mesmo que os outros pela vitória da Grifinória. Tá, ele admitia pra si mesmo, ele ficou chateado com os outros por eles não terem chamado ele para a comemoração. Mas aquilo era passageiro, ele já nem se importava com isso mais. O motivo pelo qual ele se sentia péssimo era um só: Hermione.
- Droga, Harry, porque você tratou ela daquele jeito? – disse alto para si mesmo, assustando a Mulher Gorda do Quadro.
Enquanto se dirigia até o seu dormitório, ele não parava de pensar nela. Uma voz em seu cérebro disse: “Você tratou ela mal, mas você tinha o direito porque estava num momento ruim. O que ela fez é que não tem perdão.”
Mas será que era isso mesmo? Harry não conseguia esquecer o que tinha acontecido alguns momentos atrás.

“- Hermione, me deixa sozinho. SOZINHO! – disse Harry, já cheio de tanta insinuação dela. Ele estava arrasado, tinha acabado de perder um jogo para Malfoy, será que ela não entendia isso?
Mas Hermione fez uma coisa que ele não esperava que fizesse. Ao invés de ficar e insistir mais, ela se levantou de repente, e ela já estava na metade do caminho para o castelo quando Harry se arrependeu e decidiu voltar atrás.
- Mione! – chamou ele, correndo na direção dela. – Me... Me desculpa.
E, quando ela se virou, ele se surpreendeu ao ver que lágrimas escorriam pelo rosto dela.
- Ah, agora você pede desculpas, não é? – disse ela com frieza.
- Droga, Mione, eu sei que eu fui grosso com você, e tô arrependido, você não percebe?
- É claro que eu percebo. – disse ela, amarrando a cara, fazendo força pra não chorar mais. – Eu posso te desculpar mil vezes, mas você quer que eu seja compreensiva com você depois do jeito como você me tratou?
Harry ficou aborrecido por ela não ter desculpado ele. Ele reconhecia o erro dele, mas ela não estava se importando com aquilo.
- Hermione... Eu achei que você gostasse de mim!
Ela olhou profundamente nos olhos dele.
- Gosto. Gosto até demais. Eu te amo, Harry. Mas parece que você não sente o mesmo por mim, né?
- É claro que sinto!
Ela não respondeu.
- Tem mais alguma coisa pra falar? – perguntou Hermione sem olhar pra ele. – Porque eu estou querendo ir jantar.
- Não. – disse Harry, e os dois, ao mesmo tempo,viraram as costas e seguiram seus caminhos.”

Harry despiu o uniforme de quadribol. Estava cansado. Queria deitar e dormir...relaxar. Mas não conseguia. A lembrança de Hermione chorando por sua causa não parava de martelar na sua cabeça, e ele se lembrava de tudo nitidamente...
“Você está errado. Você devia pedir desculpas. Foi você que começou com tudo. Você não devia ter sido grosso com ela” , dizia uma voz em sua cabeça.
“Não faça nada. Ela não te perdoou. Você não tem nada com isso. A culpa é dela. Seria melhor se vocês terminassem tudo.Ela não te merece” , a outra voz insistia.
Pare com isso, Harry... ele pensava. Tente dormir. Amanhã vocês dois vão estar bem de novo...
Mas ele sabia que não ia ser assim. Ele fez uma coisa a ela, mas ela também tinha feito a ele. Se ele pedisse desculpas a ela, ela ia ser fria com ele de novo. Mas e se fosse Hermione quem pedisse desculpas a ele? Ele também não ia entregar os pontos tão facilmente. Só se ela insistisse muito e admitisse o erro dela.
“Você está sendo estúpido.”, disse a primeira voz. “Ela é a coisa que você mais quer. Sua vida nesse colégio vai ser uma droga sem ela.”
Harry se levantou de repente. Ia escrever um bilhete de desculpas a ela. Pegou pergaminho, pena e tinteiro e molhou a pena, mas não soube o que ia escrever.

Hermione,
Olha,eu sei que você ficou triste por minha causa. Me desculpa? Eu sei que fui grosso com você, e eu não consigo ficar desse jeito. Não fique triste por minha causa, tá bom? Eu não quero que uma partida idiota de quadribol acabe com tudo o que vivemos até hoje... Me desculpa. Tô péssimo sem você do meu lado.
Harry

Ele leu e releu a carta umas cinco vezes, mas acabou por amassá-la e jogá-la longe.
Ele estava sendo muito bobo. Era como se Hermione o tivesse fazendo de idiota. Harry apostava que, quando ela lesse, ia amassar a carta e jogá-la fora.

Hermione,
Eu queria falar uma coisa. Eu não gostei do jeito com que você me tratou hoje. Eu admiti o meu erro, você devia ter me desculpado. E, se você me tratou assim, é porque você realmente não me quer mais do seu lado, não é? Tá, eu entendo. Eu sei que você já queria acabar com tudo faz tempo. Então, eu acho, está tudo acabado agora. Quem sabe assim você vai ficar mais feliz?

Aquela ficou mais coerente com o que ele estava sentindo. E foram esses pensamentos de rancor que o levaram pela noite afora, tentando escrever o bilhete certo, mas amassando e jogando fora todos eles.

Hermione,
Amanhã a gente conversa melhor, mas o que eu queria te dizer agora é que está tudo acabado entre nós.

Hermione,
Por que você não me disse que queria terminar o namoro? Não precisava ser grossa comigo... mas eu já percebi isso. Você não me agüenta mais. Ah, e eu acho que já tava na hora da gente acabar tudo mesmo. Não ia dar certo, eu sempre soube.

Hermione,
Eu já entendi que você não me quer mais. Se você quer saber, eu também não te quero mais, se for pra você me tratar assim todos os dias. Está tudo acabado entre nós.


Mas amassou esses também, sentindo raiva de si mesmo por não conseguir escrever o que queria.
Até que,finalmente, ele escreveu o bilhete perfeito, no qual disse tudo o que queria falar.
Quando desceu as escadas pro salão, viu Gina sentada na poltrona em frente á lareira.
- Eh... Gina? Será que você pode fazer um favor pra mim?

********************

Hermione não conseguia dormir. Virava de um lado para outro na cama, inquieta. Tinha passado a noite inteira pensando na briga com Harry, e tinha chegado ás próprias conclusões: Harry não queria mais ela. No dia seguinte, ela ia tomar coragem e conversar com ele, e acabar tudo. É, um namoro de um ano acabou de repente. Mas ela ia superar. Mesmo que estivesse mentindo pra si mesma... isso ela podia esquecer facilmente...
Ouviu uma batida na porta do dormitório.
- Mione, eu sei que você tá aí...Eu vou entrar, tá?
Ela não respondeu. Gina entrou. Trazia algo, mas escondia atrás de si.
- Me pediram pra te entregar.
Hermione sentiu um frio na barriga. Só podia ser de Harry. É, devia ser um bilhete...dizendo que ele queria terminar tudo.
Mas quando ela se virou, não era isso que ela trazia.
Gina trazia flores. Flores, as flores mais lindas que ela já tinha visto na vida.
Quando ela viu aquilo, seus olhos se encheram de lágrimas. E, junto com as flores, havia um bilhete.

Te amo muito.
Me perdoa.
Harry

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