Beije-me



Capítulo 3.: Beije-me
(Com vontade)



A neve se precipitava gentilmente do lado de fora de sua janela, mas o aquecedor mágico do local proporcionava uma temperatura agradável e bastante confortável.

Ele não fazia idéia de quanto tempo estivera ali, largado na cama, o diário aberto a sua frente à cabeça gentilmente apoiada no braço esquerdo e as pernas dependuradas para fora da cama e já completamente dormentes.

Devorava páginas e páginas aflito, nervoso e completamente curioso para conhecer mais daquela história, daquela vida.

Estudou a nova página que se abria na frente de seus olhos calmamente, como se não quisesse perder nenhum detalhe de nada; como um homem desolado que encontra naquilo pequenas doses de prazer misturado com pequenas doses de veneno...

Era estranho interessar-se tanto assim; oras era apenas um diário! Às vezes parecia que ele simplesmente não conseguia largá-lo, como se estivesse hipnotizado, enfeitiçado; a história daquela menina era envolvente, comovente, apaixonante...

- Hey, garoto. Venha aqui. Eu tenho um trabalhinho para você... - a voz masculina grossa acordou-o de seus devaneios; respirou fundo e se levantou de um só pulo da cama.

É ele não tinha escolha: aparentemente aquele interessante diário teria de ficar pra depois, pensou, enquanto o jogava em cima da cama, tendo o cuidado de escondê-lo debaixo dos lençóis.

Na época em que estavam, tudo com o qual ele poderia sonhar agora era voltar a ler aquele diário, talvez mais tarde, embrenhado nas cobertas e com um gostoso chocolate quente nas mãos, mas que ele retornaria tão logo possível, ele retornaria.

Ainda havia muitas coisas para serem esclarecidas...



Hogwarts, 27 de fevereiro de 1977.

Droga. Droga de vida, droga de tudo. Droga, droga, droga, droga, droga, droga, mil, novecentas e noventa e nove vezes droga.

Droga foi a palavra que melhor descreveu essa semana para mim, Lily Evans. Sinceramente, eu mereço um prêmio de sobrevivência. Duvido até mesmo que o Rambo teria conseguido...

Tudo começou na droga da segunda feira.

Claro que transfiguração não é uma matéria suficientemente ruim sozinha, claro que não! Tem que ter uns verdinhos básicos pra acompanhar a mistura!
E chega aquele loiro aguado metido pacas, chamado Malfoy e se larga na minha carteira favorita. A última carteira vaga.

Resultado?

Helizzie teve de sentar com o Malfoy e eu tive de sentar com o Potter.

A vida é cruel com todos, Lily Evans, pensei, enquanto ouvia as explicações da professora Minerva sobre como deveríamos transformar as lesmas marrons na nossa frente em perfeitas xícaras de chá de porcelana branca, mas com você ela é particularmente sádica.

- Ecaaaaa!- murmurei, ao encarar o pequeno bichinho gosmento na minha frente; Potter, entretanto, parecia nem ligar. Estava brincando calmamente com sua lesma, cutucando-a com a ponta da varinha levemente, apenas para vê-la se mecher. Ele estava particularmente lindo-e-entediado naquela manhã... Cale a boca, Lily Evans!
O problema todo começou com o fato de que eu tenho um pequeno asco por lesmas.

Pequeno?

Ah, ‘tá bom, eu conto pra vocês, mas vai ser nosso pequeno segredinho, ‘tá? Eu tenho medo de lesmas. Medo não, pavor. Fobia. Seja lá como quiser chamar o fato que eu, simplesmente, entro em pânico toda vez que eu vejo uma lesma.

E no caso, eram precisamente, lindas VINTE E DUAS lesmas nojentas e asquerosas na sala inteira.

Ai, Merlin...
Comecei a tentar me controlar, pensando o quanto Potter estava fofo e charmoso naquela manhã... ops. Esses não são bons pensamentos... Apaga, apaga, deleta tuuuudo Lils. Isso, muito bem.

Virei-me para Potter que, ao término da explicação da professora ( a qual eu não entendi bulhufas) ele já tinha transfigurado a lesma em xícara e de novo em lesma umas cinco vezes, cheguei a conclusão de que, talvez, o exercício não fosse tão difícil assim. Ótimo.

Duas giradas pra cá, uma pra lá e... ECA!

Na minha frente estava uma mistura de xícara com lesma, a xícaresma se arrastava na... minha direção! AHHHH

Eu não sei o que deu em mim, só sei que dei um pulo e comecei a gritar. Entrei em pânico, olha que mico!

Helizzie fuzilou Malfoy quando disse algo - que eu nem me atrevi a perguntar o que era - e me tirou da sala. Até hoje sou zoada pelo incidente infeliz - inclusive pela droga do Potter, que não moveu um dedinho pra me ajudar. FALSO!

Respira fundo, Lils, você precisa continuar a estória... Um, dois, três... Ai, ai.

Muito bem.

Terça feira.

Superado o meu trauma com a lesma, (eu fui parar lá na Madame Pomfrey, sabia?) eu pensei que terça seria um dia melhor.

Ledo engano... Não existem dias melhores quando se trata da Lily Evans, aquela que inspirou a criação das Leis de Murph.

Alice me acordou em cima da hora, e Helizzie já tinha ido embora (se encontrar com Sirius, é claro. Se bem que eu duvido muito que ele estivesse acordado naquele horário...) e nós íamos nos atrasar.

Saí correndo, tomei banho, me vesti e joguei todas as coisas que estavam em cima da minha mesinha de cabeceira dentro da minha mochila (pergaminhos, pena, tinteiros, etc.).

Passei tão rápido pelos corredores que mal percebia as pessoas me cumprimentando, rindo, ou tentando falar qualquer coisa; Alice corria feito uma louca desvairada a alguns centímetros do meu calcanhar, e nós mal conseguíamos respirar.

- Hey, Lils, pare um pouco! Eu preciso respirar... – Alice pediu, pondo a mão direita no peito, e a esquerda em cima do joelho, na tentativa de pegar algum ar.

- Lice, nós já estamos chegando... Se corrermos...

Mas era tarde demais: perdemos o café da manhã.

- Oh, merda. - eu e Lice falamos em coro, mas aquele seria apenas o começo, no final naquele dia eu já teria me arrependido seriamente de ter nascido.

Então após recuperarmos o fôlego, nós nos pusemos a correr novamente, agora em direção a Defesa contra as artes das trevas...

Sabe, eu já sei no que vou trabalhar... Se vocês repararem bem, poucos alunos em Hogwarts estão acima do peso... E vocês sabem por quê?

Porque ser aluno aqui não é mole não... Se você perder a hora, feito a dorminhoca retardada aqui, você tem que correr feito uma maluca por metros ( que dependendo das sua sorte aumentam ou diminuem, tudo depende do bom humor das escadas...) e, muitas vezes, mais de uma vez por dia... Pode comer menos sem nenhuma dificuldade, eu, por exemplo, quase não tomo mais café da manhã.

Então agora eu posso lançar o novo produto de emagrecimento:

“Hogwarts”

Estude lá por uma semana e você vai perder no mínimo um quilo ou seus galeões serão devolvidos!

Yeah! Ficarei rica.

Eu e Alice paramos na frente da porta e quase nos ajoelhamos no chão para implorar que o professor ainda não tivesse chegado porque, se ele tivesse, era detenção na certa. Fitei minha amiga, respirei fundo e girei a maçaneta lentamente, fazendo aquele ruído estranho que as maçanetas fazem quando estão enferrujadas - ou quando você não quer que ninguém perceba que você está entrando naquele local - e eu percebi que estava lotado, mas sem professor. A Grifinória em peso fazia DCAT, com exceção apenas de Peter Pettigrew, e da Lufa-Lufa eu conhecia uns três caras legais, mais a Juddy Clewe, a monitora da casa. Sem contar com eles, tinha mais umas quatro patricinhas que eu não conhecia, mas a loira era amiga da Helizzie; além de três lindos garotos que eu não conhecia, mas iria tomar algumas providências para mudar tal situação.

- Melhor a gente se sentar. - Alice comentou, sorrindo e se aproximando do namorado.

Ah... Como o amor é lindo! Como ele funciona, pros outros...

Caminhei entre as cadeiras procurando por Helizzie, mas ela não parecia estar em lugar nenhum, o que só me deixava uma escolha...

Potter.

Vocês aí de cima tão zoando com a minha cara né? Só é possível!

Larguei-me ao lado de Potter e separei meu material em cima da mesa calmamente... Ué, cadê a minha pena?

O professor chegou e começou a pôr o exercício no quadro e eu ainda estava procurando a minha pena, quando eu achei um rasgo no fundo da minha mochila predileta.

Droga.

- Olá Potter. Pode me emprestar uma pena?- pedi, tentando manter a minha calma e não praguejar contra o mundo. Calma, calma...

Potter começou a procurar a pena na mochila, e eu respirei fundo.

Olhe pelo lado positivo, Lily. Não pode piorar.”

E foi quando Potter pegou um pergaminho velho de dentro da mochila, rabiscou algo, e lançou na cabeça do Black que eu comecei a me perguntar seriamente se eu tinha tacado lenha na fogueira de Merlin.

- Potter? Potter?!- continuei sussurrando, tentando chamar a atenção dele.

O professor de DCAT era conhecido por todos nós como um professor muito bonito, mas muito rígido. Por isso, quando Professor Christian chegou à minha carteira, eu gelei.

- Fazendo a redação, senhorita Evans?- eu respirei fundo, e concordei lentamente. – Posso ver o seu desempenho?

Eu ia morrer. Estava certo, confirmado, hora marcada e tudo mais. Eu ia morrer.

Ai, Merlin...

- Ou a senhorita prefere me entregar no final da aula?

- No fim... da... aula- respondi, vagamente, tentando respirar.

- Evans?- disse Potter, como se só então percebesse a minha humilde presença naquele local - Está tudo bem? - ahh, que fofo! Ele estava preocupado comigo! O moreno pôs a mão esquerda na minha testa e retirou-a minutos depois- Você está fria... Vai me dizer que encontrou outra lesma por aí?

Grrrr...

Eu juro que a minha vontade naquele momento foi levantar da cadeira e bater tanto, mas tanto, no Potter que ele não ia conseguir nem mais pronunciar seu próprio nome! Não, ele não iria conseguir nem abrir a boca pra comer! Grr... Potter, você não sabe com quem tá se metendo...

- Me-empresta-uma-pena.- murmurei, os dentes cerrados de raiva. Cretino.

Potter deu um sorriso maroto, e puxou uma pena de seu estoque.

- Pode ficar com ela, Evans. Considere um presente.

Poxa, esse Potter até pode ser um cara legal, eu pensei, enquanto coçava o queixo com a pena e relia o título... mmm Lobisomens?

Sorri quando pensei em algum assunto e molhei a pena no tinteiro lentamente.

De repente, eu ouço o som de uma explosão, que vinha...

Da minha pena.

- Senhorita Evans, sinto dizer, mas a senhorita está em detenção.

Ao meu lado, um Potter chamuscado de fumaça começa a rir descontroladamente.

- Desculpe Evans, mas eu não resisti. É que você estava tão fria que eu resolvi... te esquentar um pouquinho...- ele voltou a cair na gargalhada.

- Eu–te–odeio-Potter. Obrigada por tornar minha semana insuportável um pouco mais insuportável ainda!- falei, sentindo as lágrimas vindo aos meus olhos. Que droga, minha primeira detenção...

Potter me encarou preocupado.

- Evans, eu... Que droga, você está chorando? Escuta, eu falo com o professor, a culpa foi minha... Eu assumo a detenção...

- ESQUECE POTTER!- eu baixei os orbes marejados. – eu mereço essa detenção. Mereço, por ter pensado, mesmo que por três segundos, que você era um cara legal!

Saí correndo da sala, e fechei a porta dela atrás de mim, sentindo as lágrimas virem com força... ahn, droga...

- Muito bem, James. – eu ouvi a voz da Alice – Agora é que você nunca mais sai com ela... E quer saber? Depois dessa, eu não te ajudo mais!

- Alice eu...

- Acabou! E acho que, assim que Helizzie souber, ela vai concordar comigo. Se depender da gente, a Lils te esquece! Você não a merece!

Alice abriu a porta com força, acabando por me derrubar no chão. Ahm, que ótimo. Faltava isso mesmo pro meu dia ser perfeito!

- Foi mal, Lils... - ela sorriu sem graça. – pelas duas coisas.


Alice foi andando comigo até o dormitório, me consolando com delicadeza.

Quando chegamos ao dormitório, eu me larguei na cama e Lice puxou uma almofada grande e sentou-se na minha frente.

- O que aconteceu entre você e Potter, Lils? Porque que ele está com raiva, é meio óbvio. – ela sorriu, calmamente.

Eu inconscientemente levei a mão aos lábios, ficando vermelha.

- Ele me... beijou. Quero dizer, nós nos beijamos. E eu acabei dizendo que não queria nada com ele.

- Então você o beijou e gostou disso?- Alice indagou curiosa.

- NÃO!- eu exclamei.

- Então qual é o problema?- ela disse, sem entender.

Eu não respondi: não encontrei forças para tanto. Apenas fitei minha amiga, esperando sinceramente que ela me entendesse e não fizesse mais perguntas tão difíceis na minha atual situação.

Alice me encarou compreensiva, e suspirou observando o dormitório vazio pela primeira vez.

- Você tem de se decidir, Lils. James realmente gosta de você, embora seja um idiota, estúpido, arrogante e tudo o mais.

- Concordo plenamente.

- O quê?- Alice parecia meio espantada, e eu ergui a sobrancelha.

- Por que o espanto?- indaguei, tentando compreendê-la. – Ahhh! Sim... Entendi. Eu quis dizer Lice, que concordo com a parte dele ser idiota, estúpido e tudo o mais.

Alice sorriu fracamente, e pegou minha mão, parecendo de repente muito mais velha (que ela não leia isso!) do que realmente era.

- Você ainda tem muito que aprender, Lils. Talvez você esteja perdendo a sua chance de ser feliz, sabia?

Eu respirei fundo, sentindo de repente uma vontade imensa de chorar.

- Você diz isso porque vive em um Conto de Fadas, Alice. Frank é o namorado perfeito, qualquer um pode olhar pra vocês dois e enxergar um lindo futuro cor de rosa, filhos e tudo o mais. Mas e eu?- senti as lágrimas escorrendo livremente o meu rosto agora. - Eu sou só a ruiva sem graça, a nascida trouxa ou até coisa pior, e atualmente a ‘obsessão’ do Potter... Quero dizer, isso se até ele já não tiver desistido de mim...

- Meu Merlin, você gosta dele... – Alice disse com os olhos perdidos no nada, antes de me abraçar com força dando aquele consolo mudo que as amigas dão e que nos põem pra cima.

Ai, Merlin.

Lily Evans a medrosa e a chorona. Ótimo início de semana...

Quarta feira.

Dessa vez eu tinha acordado bem mais cedo que de costume, e encontrei Helizzie olhando pensativa a janela do Salão Comunal.

- Helizzie? Aconteceu algo?- perguntei solícita, aproximando-me de Lizzie e sentando-me rapidamente no chão.

- Nada não, Lils. – ela fez um gesto de descaso. – Não se preocupe comigo, preocupe-se um pouco mais com você. – sua expressão imediatamente se tornou mais gentil - Alice me contou da aula de DCAT ontem, como está se sentindo?

Respirei fundo e lancei um sorriso a Helizzie.

- Está tudo bem... – falei conformadamente – Murph já deve ter acabado de testar os novos tipos de azar da humanidade comigo, então eu devo ficar bem até ele arrumar novos estoques. – respondi bem humorada, ao que Helizzie riu, meneando a cabeça como quem diz ‘ caso perdido’.

- Só você mesma, Lils... Só você pra me fazer rir numa hora dessas... - ela me abraçou forte, como se me agradecesse por algo que eu não lembro de ter feito, e sorriu e se dirigiu para a saída sem me deixar dizer nem mais uma palavra, apenas com o silêncio por companhia.

Permaneci sozinha por algum tempo, apenas pensando no que poderia estar acontecendo com minha amiga, Helizzie sempre fora tão fechada...

- Bom dia Lils! – levei um susto ao me virar e me deparar com Remus Lupin, que apesar de cansado e ligeiramente tristonho parecia ter acordado em uma bela manhã, e Potter; que vinha ao lado dele com a nítida expressão das pessoas que levam a cama nas costas.

- ‘dia, Moony. E aí, qual é o plano para dominar o mundo de hoje?- Remus sorriu e veio em minha direção para conversar um pouco, enquanto Potter me olhava de um jeito esquisito.

- Muitas opções, mas meus companheiros da dominação mundial me abandonaram... - Remus comentou, fingindo decepção. – Peter, só sabe comer e correr atrás dos professores; Sirius só sabe correr atrás da Lizzie; James só sabe rimar ‘amor’ com ‘dor’, ‘contento’ com ‘lamento’, ‘ Ai de mins’ e coisas assim.

Eu ri. Não tinha muito que fazer, na verdade.

- Eu acho que você vai ter de escolher outros companheiros de batalha, SirLupin. - eu disse sorridente. – Porque senão...

Algo interrompeu meus pensamentos. Algo com asas enormes, muita pena, e alguma banha.

- Hey Chocolate! Muitas cartas pra mim?- sorri para a coruja que trazia as minhas cartas.

Ei! Por que vocês estão me olhando assim? A minha coruja se chama Chocolate mesmo, e daí? Algum problema? Sim, eu sei, a minha falta de criatividade é surpreendente, eu também acho... Algo mais? Não? Ótimo, voltemos à história.

- Bom, é isso. - eu disse, me levantando e jogando minhas cartas na mochila. – Rem, espero que você não se incomode, mas agora eu vou atrás da Lizzie. Ela parecia tão preocupada quando saiu daqui...

Remus sorriu compreensivo, e fez um sinal para que eu me fosse.

- A gente se vê. – eu me despedi, e fiz menção de ir embora e ignorar solenemente o Potter quando eu ouvi o meu lindo nominho.

- Evans!- Potter tinha se levantado do sofá e me chamou, ao que eu continuei a ignorá-lo. – Evans! Ahh, ruiva, volta aqui agora!- eu caminhei e ouvi o retrato começar a se fechar. – Viu Moony? Não adianta... Ela nunca mais vai falar comigo. Eu nem existo pra ela. Tanto tempo pra começar a conquistá-la... Cara, eu me odeio. – e foi nessa hora que o retrato se fechou com um ‘clack’ e eu não ouvi mais nada.

Perguntei a alguns retratos amigos se eles tinham visto Lizzie, mas todos eles alegaram não tê-la visto há algum tempo já, parecia que eu tinha sido a última pessoa a vê-la. Mas que coisa estranha!

Foi eu resolver ir tomar café para logo encontrar Alice e Frank juntinhos, juntinhos. Ai, gente, o amor não é lindo?

- ‘Dia Alice, Frank. – cumprimentei.

- Bom dia Lily. – Frank sorriu simpático e deu um beijo rápido em Alice. – Vou te deixar aqui, amor... A gente se vê no almoço.

- Claro... – Alice sorriu apaixonada enquanto assistia Frank se dirigir ao seu lugar. – Ele não é lindo, Lils? – ela perguntou, ainda no estado de torpor que eu nomeio de ‘ Frankcite’.

- Ihhh, pergunta difícil. Essa eu passo. Se eu respondê-la, é morte certa pra mim. – Se eu digo que não, Alice sai correndo atrás de mim com uma machadinha. Se eu digo que sim, ela vai me bater e me mandar tirar os olhos, porque é dela. Qual é a minha saída? Talvez?

Alice riu da minha ‘não-resposta’, e me encarou com aquela cara de espiã 007.

- E aí, Lils, quando é que você vai perdoar o James? – eu arqueei a sobrancelha. Lils, perdoar, e James, na mesma frase sem um ‘nunca’ no meio? Isso soava um tanto quanto estranho para mim.

- E quem disse que eu vou perdoá-lo? – comentei descrente.

- Pelo amor de Merlin Lily! Está na cara... – ela falou, rindo. – Além disso, eu morri de pena do coitadinho quando eu desci para o salão comunal, e o Remus gentilmente me informou que você tinha ido procurar a Helizzie. Ele quase se jogou aos meus pés para que eu voltasse a ajudá-lo, sabe, a ter algo com você.

Encarei Alice de soslaio.

- Você não está pensando nisso, está, sua traíra?

Lice gargalhou. Eu tinha impressão de que ela estava achando aquele drama todo muito divertido. Ahhh, Alice se eu te pego... Sua cretina!

- Claro que não, Lils. Eu fiquei muito revoltada com o que ele fez com você, claro que fiquei! Não ia ajudá-lo de novo, não se você não tivesse me confessado secretamente que já o tinha perdoado. E como você ainda não fez isso...

Eu me levantei da mesa, determinada.

- E nem vou fazer, dona Alice, pode ir perdendo as esperanças! – comentei, me afastando a passos rápidos.

Lice se levantou e começou a me seguir de perto.

- Claro que não, não estou te pedindo para fazê-lo. Não agora, pelo menos. Estou pedindo pra você pensar, Lils, só um pouquinho em tudo o que você me disse e tudo o que eu descobri pra você ontem. Pelo amor de Merlin, até você já admitiu que gosta dele, pode ser tão difícil assim pra você perdoá-lo, Lils?

Estávamos descendo as escadas rumo a poções, quando eu tropeço em algo, e minha mochila voa e vai parar em algum lugar bem distante dali.

- Merda! – Exclamei.

- Você está bem, Lils? Quer ajuda? – eu ouvi a voz sempre solícita de Alice, enquanto sentia meu pé latejar.

- Não precisa, Alice, está tudo... – eu me virei para fitar Alice e lançar-lhe um sorriso tranqüilizador, quando de repente sinto algo gelado descendo pelo meu rosto lentamente. Algo gelado e gosmento. Merda dupla.

- Tudo bem, Evans?- o tom de voz maduro ligeiramente arrastado de Potter se fez ouvir às minhas costas, e eu juro que a minha vontade foi levantar e bater nele. Bom, dessa vez, pelo menos, eu não fiquei só na vontade: eu realmente me levantei e comecei a dar socos nele, só que não adiantou lá muita coisa não.

Primeiro: Porque meu pé estava doendo muito, muito mesmo.
Segundo: Porque, além disso, o chão estava escorregadio.
Terceiro: Porque a única área do corpo dele que eu conseguia alcançar, era o peito. Grande Evans, quem mandou ter 1,61m enquanto ele tem 1,80m? Ninguém, pois é.

Resultado? Eu escorreguei e novamente tombei em meio a gosma verde que continuava a cair do meu cabelo e pingava no meu rosto.
- Eu te odeio Potter. – retorqui, a guisa da resposta que ele realmente queria. Potter apenas se ajoelhou na minha frente, me entregou algo que depois eu defini como sendo minha mochila, e sussurrou perto do meu ouvido:

- Me odeie. Mas não me ignore, não finja que eu não existo. Você mesma sabe que não conseguiria fazê-lo por muito tempo. – ele passou o indicador pelo meu rosto e estalou um beijo no lugar onde ele tinha limpado. – Eu te amo, Lils. Cuide-se.

Fiquei em choque por alguns minutos, enquanto Potter se levantava.

Que tipo de cara fala que te ama logo depois de ter armado uma dessas pra você?

- Isso vai ter volta Potter!- gritei, irritada, tentando distingui-lo no meio de toda aquela gosma nojenta.

- Eu mal posso esperar Evans... - ele sorriu maroto, se afastando lentamente, as gargalhadas dele e dos outros marotos ecoando no meu ouvido.

Malditos. Todos eles. Humpft, como se eu já num tivesse problemas o suficiente...

Pingando gosma verde-fosforecente – ai, Merlin, como eu amoa minha vida... – eu fui andando para o dormitório feminino com Alice aos meus calcanhares.

- Olha pelo lado positivo, isso é uma prova de amor original. – ela opinou, quando eu contei o que Potter tinha sussurrado para mim. - Você não pode acusá-lo de ser cafona, ele é, hum, bem criativo quando se trata de... provas de amor.

- Não sei porque, mas eu tenho a ligeira impressão de que gostaria muito mais dos presentes convencionais. Você sabe, rosas e alguns chocolates. – comentei, enquanto lavava meu cabelo pela milésima vez. Ahhh, mas o Potter ia me pagar. Ah, se não ia... - Cafonice pode ser legal algumas vezes. Criativo ruim, cafonice bom. Eu acho que vou gravar uma fita com isso e pôr para o Potter dormir, vai auxiliar muito as futuras gerações.

- O... quê? – Alice indagou, sem entender nada. Oh, drogas, será que ninguém aqui nunca assistiu ‘ O laboratório de Dexter’? Ihhh! É verdade! Tadinha da Alice, ela é sangue-puro... Automaticamente não viu esse desenho, porque ele é trouxa... Tadinha da minha amiga, num teve infância...

- Esquece Lice, é coisa de trouxa... - eu respondi, fazendo um meneio como quem diz ‘não é importante’.

Alice deu de ombros e sorriu simpática.

- Como vai o seu cabelo?

- Não sei. – falei, preocupada, mostrando-o a ela. – Está menos verde?

Alice me encarou usando o mesmo olhar que minha mãe usa quando eu estou doente.

- Um pouquinho. – sorriu maternalmente. – Talvez se você esfregasse com essa poção aqui, o verde terminasse de sumir.

Sabe, Alice é meio como uma mãe de todo mundo aqui. Quando você vive num internato e quase não vê a sua família, você acaba adotando pessoas novas para fazerem parte de sua nova família, que é Hogwarts.

Não que com isso você sinta menos saudade de casa, claro que não. Mas Alice é meio como uma mãe pra mim, e Helizzie é como uma irmã mais velha; elas cuidam de mim, me protegem, sabe, como aqueles animais fazem com suas crias, e eu acho que faço o mesmo por elas (quando a criancice permite...).

Enfim, menos papo e mais ação.

Quando eu e Alice conseguimos retirar o verde do último fio vermelho do meu lindo cabelinho, já era quase hora do almoço – eu mato o Potter, cara. Mato mesmo. – e eu não tinha fome nenhuma.

Alice desceu, falando algo sobre ‘ ter de encontrar Frank se não ele ia ficar muito preocupado e blá blá blá’. Ai, o amor é lindo. E nojento.

Larguei-me na minha linda caminha pensando no que eu faria quando eu visse o Potter.

Esquartejar, queimar, fuzilar... tudo isso já tinha passado pela minha mente, mas nada me parecia bom o bastante naquele momento... Não, tinha de ser realmente cruel.

Lembrei que eu tinha recebido cartas de casa, e imediatamente peguei a minha mochila – magicamente concertada – e comecei a revirá-la atrás das cartas.

Logo encontrei um envelope pardo e o abri lentamente:

Querida Lily,

Como vai a escola? Tudo bem?

Aqui em casa estamos todos bem, graças a Deus. Só temos estado muito preocupados com você.

Filha, tome cuidado. Tem alguém que está nos enviando cartas e, meu Deus, como isso tem nos preocupado! Estou anexando uma para você, para que você saiba do que está acontecendo, mas não conte a ninguém, por favor. E mande logo uma carta para nós, precisamos saber que está tudo bem com nosso anjinho.

Amor,

Mamãe.

PS: Cuide-se.


Olhei a carta com curiosidade, e logo remexi na minha mochila para ver se encontrava mais alguma coisa. Achei dois bilhetes dobrados quatro vezes.

Abri a cortina e dei de cara com um dormitório vazio; não tinha ninguém lá. Eu peguei um dos bilhetes e li:

Trouxas,

Sabemos quem vocês são e onde moram.

Estou perto, muito perto. Um passo em falso e todos vocês pagarão por atrapalhar milorde.

Lembranças a sangue-ruim, quando ela ler isso.

Saudações
L. M.


Senti um arrepio gelado percorrer minha espinha: eles sabiam que eu ia ler! Meu Merlin...

Tentando livrar meu coração da estranha opressão que ele estava no momento, abri o segundo bilhete, ansiosa para descobrir mais o que raios estava acontecendo e que até então, eu não fazia idéia.

Desculpe-me... por tudo.

Segunda, por ter rido de você. Eu sei que você não é tão boa em transfiguração, mas não sabia que você tinha fobia de lesmas... é que isso soa meio engraçado, foi mal, Lils. Mas sabe, isso é parte de você, e eu te amo, então não me incomodo nem um pouco com isso.

Sobre terça, foi uma péssima brincadeira sem graça, eu reconheço. Se você não está na sua melhor semana, eu também não estou na minha, você não sabe como eu fiquei depois de te ver chorar...

Falei com Dumbledore (Christian se recusou a me ouvir) e ele retirou a sua detenção. Foi uma brincadeira de péssimo gosto, ruiva, e eu sinto muito por isso.

E por hoje... bem, me desculpe. Mas foi o único modo de te fazer me ouvir...

Volta a falar comigo? Por favor!

Pode até gritar, xingar, espernear... Sei lá. Só fala comigo... É muito estranho ver você assim, tão quieta...

Eu sempre acreditei que o oposto do amor não é o ódio; mas a indiferença. Lily, eu não vou suportar se você for indiferente a mim...

Amor,

James.


Enfiei a carta junto com todo o resto na mochila, e me levantei furiosa. Quem ele pensava que era? O amor da minha vida? (N.A.: créditos a DarkAngelSly! XD) Pois eu ia mostrar pr’aquele cara que ele estava muito, mas muiiito errado sobre isso.

Bem, mas eu posso esperar até amanhã, não posso?

Quinta-feira.

Eu sempre amei a aula do Professor Slughorn, mas naquele dia eu estava particularmente feliz que ele tinha encerrado a aula mais cedo.

Estava caminhando saltitante na direção da saída quando...

- Senhorita Evans? – respirei profundamente. – Venha até aqui.

Dirigi-me lentamente até a mesa do professor Slug, esbarrando em alguns estudantes afoitos pelo meio do caminho. Droga.

- Então, a senhorita já tem par? – ele me estudou atentamente, com aqueles bigodes cumpridos e ruivos.

- Par? – perguntei curiosa.

- Sim, pra festa do Clube do Slug de sábado à noite! – ele falou alegremente.

- Festa? – e de repente fez-se a luz na minha mente: droga, eu tinha esquecido completamente dessa festa. Tão completamente, que nem tinha me preocupado em encontrar um par. Merda.

- Sim, é claro. – ele sorriu, mais afetuoso agora. – E então, Lily, já tem par?

Eu apenas mexi lentamente com a minha cabeça, ainda meio em choque, como quem diz ‘não’.

- Então, eu gostaria muito se você fosse com o menino Severus. Ele é muito inteligente, extremamente talentoso em poções, e é um menino em quem eu confio muito. Adoraria que vocês fossem juntos.

Meu primeiro gesto foi um dar de ombros, mas algo me fez parar. A cena do quinto ano vinha na minha cabeça irritantemente.

O caso é que, até dois anos atrás, Severus Snape era apenas mais um menino de Hogwarts que era zoado por Potter e companhia. Agora, Severus Snape era um sonserino nojento que me chamou de sangue-ruim.

- Lily? – diante desse olhar pidonho do Professor Slughorn, tudo o que eu pude fazer foi concordar timidamente, mesmo que depois emendasse dizendo algo sobre ‘ ter alguém que eu queria muito que me convidasse’ e Professor Slug concordar que, se eu arrumasse outro par, eu poderia não ir com Snape.

Droga.

Muito bem, vamos lá: Lily Evans a medrosa, a chorona, a ameaçada e, por fim, o par de Severus Snape.

Quer saber? Eu me demito.

Eu simplesmente me recuso a continuar sendo Lily Evans.

Sexta feiSexta feira.

Eu já disse que fofocas correm rápidas em Hogwarts?

Pois se não disse, aí vai: fofocas voam em Hogwarts. Voam mesmo, sabe?

Como corujas. Ou vacas. Você sabia que vacas voam?

Lá estava ela, a bam bam bam, a fan de quadribol mais rosa que existe, Pattricie Rills! Oh, droga...

Pattricie estava voando com o novo namorado (Christian Jones. Que pena, ele era tão bonitinho...) e, ao invés de ficar lá no céu azul resolveu descer para ficar com a alien cientificamente modificada aqui.

- Olá, Evans.

- Oi Rills. – cumprimentei educadamente, desistindo subitamente da minha vontade de dar um passeio e resolvendo voltar para o castelo. Infelizmente, Rills não entendeu a deixa e veio atrás de mim, alegando que Jones ia treinar com a equipe da Corvinal.

- Escuta, Evans... eu sei que nós nunca fomos exatamente amigas... Mas se estiver querendo desabafar, pode contar comigo, tá? – arqueei a sobrancelha lentamente.

Será que eu a estive julgando mal todos esses anos? Será que, na verdade, Rills sempre só foi uma garota carente de atenção porque seus pais a abandonaram quando era apenas um bebê?

Não...

- Tá. – concordei, encarando-a de soslaio, e me surpreendendo um bocado quando ela me abraçou forte. É, bem... talvez ela tenha mudado.

- Então, agora que já estamos mais próximas... – ela começou timidamente. – é verdade que você vai à festa do Slug com o Snape?

Tem gente que não muda nunca...

Arregalei os meus olhos e juro que quase caí pra trás.

Como ela descobriu?

- Ah... Bem... Na verdade, eu... – respirei fundo, e cheguei a abrir a boca, mas ela não me deixou falar mais nada.

- Nossa, Lily querida – Ei, quem te deu essa intimidade? – Foi um prazer falar contigo. Eu tenho que ir... – e me dando dois beijinhos na bochecha se afastou com pressa.

Ihhh, a fofoca ‘tá feita.

Estava subindo a escadaria, pensando em como eu tenho sorte, quando de repente sou puxada de encontro a uma parede.

- Você não vai sair com o Seboso. – Ergui os olhos para dar de cara com James Potter.

- Ahn, você de novo? – perguntei num tom meio desanimado, até que caiu a ficha do que ele estava me dizendo. – Ei, se eu quiser sair com o Snape, eu saio com ele sim, e não vai ser você que vai me impedir. - falei tentando me soltar.

- Ahn, não vou? – Ele sorriu, meio irônico. – Vamos ver se eu não vou. – e então ele me beijou, mas eu resisti e o empurrei rapidamente.

- Potter, pare com isso! Pelo amor de Merlin, ponha na tua cabeça que eu não-vou-sair-contigo!

- Você é uma estúpida mesmo, hein, Evans?

Eu revirei os olhos.

- Isso, eu sou uma estúpida, você é um incompreendido, e blá blá blá. Podemos ir direto pro final da discussão e pra parte que eu subo pro dormitório em fúria e você vai fazer sabe-se-lá-o-quê? – pedi candidamente.

James sorriu.

- Na na ni na não, senhorita Evans. Nós temos muito o que conversar, ruivinha, e vai ser agora.

Estou perdida.

Aonde Miss Huyu diz ‘ Sinto muito’:

Olá a tooodos!

Sim, eu terminei o capítulo nessa parte. Eu sou do mal... risada maquiavélica

Um pedacinho do próximo capítulo? Não sei... será que vocês merecem?

Ahn, ta bom, vai!

“– Eu te amo, Lils...

Beijinhos e COMENTEM!

Miss Huyu

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