Hora de ir



-TAXI!
Gina mantinha sua mão estendida à sua frente, esperando o transporte trouxa parar à sua frente. Em seu atual estado, não acreditava que seria muito saudável aparatar muito menos pegar o Nôitibus. Impaciente, com a outra mão, apertava uma pasta preta carregada de papeis. Usava um camisete bege de mangas três quartos tamanho GG, uma calça preta estilo esporte, daquele tecido que os trouxas chamam de Lycra e uma rasteirinha preta de um tamanho muito maior do que normalmente usaria. Quando o táxi parou, ela entrou aliviada. Ficar em pé naquele calor era muito desgastante para ela. Ela amarrou os cabelos muito vermelhos num rabo-de-cavalo alto. Informou ao taxista o endereço e procurou na bolsa uma bala ou qualquer coisa parecida. Sentando-se novamente numa posição mais confortável, viu que pelo retrovisor o motorista a observava.
-È per oggi? – perguntou ele em italiano. Sorte de Gina que ela havia aprendido um pouco dessas línguas latinas e entendeu o que ele quis dizer.
-Ah? Ah! Não... Não! Não mesmo... Não. Não é não. – disse ela, quase rindo da pressa em responder, além da incerteza na voz. – Não, meu médico disse que vai ainda uma semana. Além do que, meu marido acha que eu fico muito linda com esse barrigão. – Tomara que ache mesmo, senão Harry vai estar frito! pensou divertida.


Enquanto isso, em algum lugar, um garoto de cabelos cor de fogo e olhos verdes intensos jogava cartas numa rodinha de amigos, todos usando uma espécie de uniforme, com direito a gravata e paletós.
-MUITO BEM, PESSOAL! HORA DAS APOSTAS! – disse ele, num tom alto, sorrindo abertamente, enquanto seus amigos pegavam as fichinhas de cores variadas e depositavam no chão. Ele distribuía as cartas quando o som de alguém batendo à porta os fez desviar o olhar.
-Michael? – chamou um homem alto, negro, de terno escuro e cara amigável. O garotinho olhou para ele, intrigado.
-Grande John! Quer entrar no jogo? Ainda dá tempo!
-Hoje não, Michael. – disse ele, numa voz calma e um sorriso. – Poderia vir comigo?
O garoto pareceu assustado.
-Aconteceu alguma coisa?
-Não, longe disso! – disse John, fazendo um gesto de descaso com as mãos.
-Então, o que é?
-Venha comigo que você vai descobrir.
Com uma cara de enterro, o mais lentamente pode, Michael se levantou e seguiu John pela porta aberta, ouvindo uma voz masculina em sua cabeça.


Harry Potter e suas teorias estranhas, pensou Gina, revirando os olhos, enquanto segurava um aparelho telefônico portátil contra a barriga, deixando, supostamente o filho ouvir uma mensagem que o pai lhe deixara. Gina achava pura idiotice carregar uma caixa daquelas pra cima e para baixo, mas, como uma vez lhe disseram, um presente não se recusa, embora ela tivesse se arrependido imensamente ao aceitar o presente de Harry. Ele ligava de dez em dez minutos para saber como ela estava desde quando descobriu que seria pai. Um pai coruja, como ela mesmo dissera. Não sei que gênio disse pra ele que faz bem para o bebê ouvir a voz dele.
Gina desligou o celular e pegou o papel do chiclete, grudou a goma mascada nele e jogou pela janela. Alguns minutos depois, com um leve solavanco, o táxi parou. Ela deu a ele uma nota trouxa e saiu do carro. Ao fechar a porta, a alça da pasta ficou presa, deixando cair os papeis na rua.
-Hei... – disse ela, tentando pegar a trava da porta mais uma vez. Mas o carro começou a andar – Espera! Não... ESPERA AÍ! Ai merda.
Lá se foi o táxi com a pasta sendo arrastada pela rua. Ela se abaixou com um pouco de dificuldade para pegar os papeis que haviam caído da pasta. O dia estava mesmo com cara de que seria péssimo. Levantando-se com os papéis na mão, Gina fechou os olhos pra conter a raiva. Quando os reabriu, viu um senhor passar por ela, sem sequer a reparar. Ela franziu o cenho. Parecia que ela o conhecia de algum lugar, mas não sabia dizer como. O senhor estava a quase dez passos a sua frente e ele virou o rosto para trás e ela pode ver que estivera enganada. Mas ele se parecia tanto com...


Michael bateu três vezes em uma porta de carvalho entalhada com belos detalhes. Ouviu um “entre” e abriu-a.
-Oi Jerry! Beleza? - disse o garoto, no tom habitualmente animado. Retirou de dentro do paletó um baralho novinho, olhando para o homem que estava, até aquele momento, de costas para ele, mexendo um arquivo. – Então, o que vai ser? Pôquer? Vinte-e-um?
O homem de terno se virou para ele, nas mãos carregava uma pasta. Ele se sentou na cadeira em frente a uma mesa e colocou a pasta em cima desta.
-Sente-se, Michael. – disse Jerry, apontando para a cadeira do outro lado da mesa. O garoto se sentou, guardando o baralho de volta no paletó. Com um arrepio, ele se endireitou na cadeira, olhando para o homem a sua frente.
-Bom, Mike, pra começar, quero lhe dar os parabéns. Pelo que este registro nos diz – ele abriu a pasta e tirou algumas folhas lá de dentro e as avaliou – você já sabe bastante sobre a vida no mundo. Tanto do mundo normal quanto no mágico. Então, eu e o Conselho todo decidimos – ele pegou uma outra folha dentro da pasta – que você – colocou a folha mui bem posicionada na mesa, como se para dar-lhe destaque sobre as outras coisas ali – está pronto – ele pegou um carimbo em cima da mesa e posicionou-o no papel – para ir. – ele bateu o carimbo com força suficiente para marcar a folha. Entregou o papel à um Michael apavorado, incrédulo e trêmulo. – Boa sorte no mundo! – Jerry sorriu e se levantou. Michael também o fez, olhando o papel atentamente. Só podem estar brincando! Jerry estendeu a mão e apertou a do garoto e apontou a porta. O garoto saiu da sala, escoltado por John e mais outro homem de terno. Com um grande pesar, ele os seguiu.


Gina estava parada na sala de sua casa, com uma expressão estranha. Os papeis caíram uma segunda vez no chão, enquanto a mulher arregalava os olhos.
-Oi Gina – disse Harry, saindo de alguma porta à direita. Ele sorria. – Chegou cedo! Rony e Hermione estão lá dentro para... – ele olhou para a mulher, com uma cara muito preocupada. – Está tudo bem?
-Ha... Harry... – balbuciou Gina. – A bolsa!
-Bolsa? Mas que... – Harry baixou o olhar e entendeu – Caramba!

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