Trazida Pela Chuva



“Hoje está sendo um dia legal. Tipo, é o meu aniversário e eu havia esquecido. Harry, Gina e a Mione foram lá pro quarto logo de manhã, e nós ficamos brincando e conversando até a hora do almoço.
Fazia muito tempo que nós não fazíamos aquilo. Não brincar de guerra de travesseiros, porque isso nós fazemos sempre durante as férias, no meu quarto lá na Toca, mas digo conversar, como Harry, Mione e eu costumávamos fazer.
Começaram, finalmente, as chuvas (de água mesmo). Isso foi um ótimo presente de aniversário porque, simplesmente, eu me sinto bem mais leve agora. Parece que toda essa água caindo nos jardins de Hogwarts é capaz de limpar toda a sujeira que existe, e faz desaparecer todos os meus problemas.
Ou quase todos. ‘Through The Rain’ é um ótimo problema para ser solucionado enquanto ainda tem chuva.
De qualquer jeito, eu vou tentar solucioná-lo. Eu ainda não entendi muito bem tudo isso, quero dizer, porque três simples palavras são capazes de revirar a cabeça de um simples adolescente? Adolescente maior de idade, acrescente-se de passagem...
Eu digo que tenho uma vida pela frente, um futuro maravilhoso com uma mulher legal e que eu ame, uma vaga de goleiro titular no Chuddley Cannons, enfim, uma vida feliz, mas três palavras me impedem de prosseguir normalmente, e me fazem perder noites e noites de sono e me fazem escrever um diário!
Certo, isso NÃO é um diário! Eu prefiro pensar que isso NÃO seja um diário!”


Rony fechou o livro, marcando com uma pena a última página escrita, e depois colocou-o de lado, no banco em que estava.
Puxou a capa para mais perto, sentindo uma brisa fria despentear seus cabelos e algumas gotas de chuva molharem seu rosto. Ele estava com a leve impressão de que o céu ia desmoronar, tamanha quantidade de água que caía.
Ele estendeu as mãos, deixando que a água gelada as molhasse com força. O som da chuva se misturava ao zumbido do vento e o balançar das árvores que, devido ao movimento de suas folhas, pareciam querer voar.
O sol se escondia por detrás do lago, dando-lhe um brilho avermelhado que se refletia nas águas turbulentas e até entre os pingos grossos de chuva, transformando-se num belo arco-íris que atravessava toda Hogwarts.
Rony riu, perante o pensamento de um pote de ouro no fim do arco-íris. Na verdade, meninas gostavam de pensar que havia um beijo no final do arco-íris, mais precioso que um pote de ouro. E ele sempre achava graça nessa história. Mas agora, vendo todo aquele esplendor da natureza, um pote de ouro apenas estragaria tudo, ao contrário de um beijo, que completaria toda aquela cena maravilhosa.
Sem nem pensar muito, apenas movido pela sensação do momento, Rony correu pela chuva, seguindo até o lago, onde o sol ainda fazia o seu lento trajeto de desaparecimento.
Parou, já todo molhado, à beira do lago. Tirou o gorro e o casaco, jogando-os na grama. Sua blusa, toda molhada, já grudava pelo seu corpo e seus cabelos grudavam pelo seu rosto. Mas isso de pouco importava. Aquela sensação de banho de chuva era boa demais para ser atrapalhada pela sua blusa e seu cabelo.
Então ele gritou. Não soube bem porque, ou até mesmo o que gritara, e nem mesmo se importou se alguém ouvira. Apenas gritou a primeira coisa que lhe veio à cabeça: Hermione. Mas ele sequer percebera que a chamara.
Rony parou por um instante, percebendo que outro som se misturava à chuva e ao zumbido do vento: passos rápidos entre as poças de água no jardim.
-Quem está aí?- ele gritou, de uma forma meio engraçada, como se pouco importasse se tivesse ou não alguém ali. Não houve resposta.
Ele estreitou os olhos, tentando enxergar alguma coisa através da chuva. O vulto se aproximava e não demorou para que Rony reconhecesse a pessoa.
Foi então que tudo parou na cabeça dele. Não havia mais barulho de chuva, ou de vento. Nem a pouca luminosidade, devido ao sol que já se punha, importava mais. O arco-íris perdera-se na escuridão que já se formava no céu. Mas nem mesmo isso ele percebeu.
-Through the rain...- as três palavras ecoavam na sua cabeça- a chuva traz pureza e leva os problemas embora...- sua própria mente lhe informava- através da chuva encontrará as respostas que procura...
Rony sorriu, vendo a mão estendida de Hermione, entregando-lhe o diário. Ele achou-a mais linda do que nunca, toda molhada e olhando para ele com tanto carinho.
-Obrigado...- ele murmurou, pegando o diário- mas eu não vou mais precisar dele.- Hermione franziu o cenho, ainda exibindo um singelo sorriso para Rony- já não tenho mais problemas.- ele jogou o diário para longe, sorrindo da expressão confusa de Hermione.
-Você me chamou.- ela falou, e foi a vez de Rony franzir o cenho- e eu achei que estava ficando maluca, ouvindo você me chamar no meio da chuva.
-E você veio.- ele sorriu, aproximando-se da garota e segurando as mãos dela nas suas- Há algum tempo- ele começou, fitando os olhos cor de mel de Hermione- uma senhora me disse que eu encontraria a resposta para os meus problemas através da chuva. Ela disse-me ‘Through the rain’. Isso vem me tirado o sono há meses. Eu não entendi nada no começo, e mesmo agora minha cabeça pouco entende sobre tudo isso. Mas eu prefiro assim, não entender nada, ou entender pouco.- Hermione sorriu, divertida- Porque do amor pouco se sabe e entende e muito se sente. Você, Mione, é a resposta para os meus problemas, sempre foi e só eu não percebi isso...
Rony acariciou o rosto molhado de Hermione, sem perceber as lágrimas dela misturadas à água da chuva. A outra mão pousou carinhosamente na cintura da garota, trazendo-a mais para perto, de modo que apenas a mínima distância entre seus lábios era a máxima que podia-se notar entre eles.
Ela fechou os olhos e ele olhou-a por um segundo apenas, mas vendo mais coisas nela do que jamais vira em todos os anos que se conheciam. Roçou os seus lábios nos dela e murmurou:
-Eu te amo.
Ele não deixou que ela respondesse. Mesmo porque ela própria, querendo gritar para a chuva o quanto amava Rony, estava emocionada demais para proferir qualquer coisa.
Rony selou seus lábios nos de Hermione, sentindo o gosto dela se misturar ao da chuva que ainda molhava os corpos dos dois. No princípio um beijo infantil, como o que deram no salão comunal dias antes. E depois romântico: devagar, apenas sentindo o gosto do primeiro beijo de ambos, doce e calmamente. E, logo depois, tornou-se um beijo mais exigente, que pedia mais contato entre sus bocas, entre suas línguas, enfim, entre seus corpos.
Hermione levou uma mão à nuca de Rony, enquanto a outra tentava, de alguma forma, trazê-lo para mais perto de seu corpo, sem saber que a proximidade entre eles já era pequena demais para diminuir mais ainda.
Respirar já não era necessário. Eles precisavam de ar, ambos tinham plena consciência disso, mas diante do que sentiam, o beijo que eles trocavam agora tornava-se o fôlego que faltavam.
O tempo parou e eles não tinham noção se passaram-se segundos, minutos ou horas, mas sabiam que fora pouco tempo para todo aquele que queriam, apenas para ficarem juntos, se beijando, tentando demonstrar o amor por tanto tempo reprimido.
Quando soltaram-se, ainda sentindo a chuva forte sobre eles, perceberam que ainda era necessário respirar. Rony olhou para Hermione e ambos sorriram, gargalharam debaixo daquele céu desabando.
-Feliz aniversário, Rony!- ele gritou e Hermione sorriu ainda mais
-Feliz aniversário, meu amor!- ela foi até ele e disse-lhe ao pé do ouvido- Eu te amo, Rony.
E ele a ergueu no ar, girando-a, fazendo-a sorrir do mesmo modo que ele sorria, fazendo-a sentir o mesmo que ele sentia.
-Namora comigo?- ele gritou, mas o barulho do trovão não a deixou ouvir.
-O quê?- ela gritou em retorno, e ele percebeu que não era preciso palavra alguma para que ela soubesse que, a partir daquele momento, ela era só dele e de mais ninguém.
-Eu te amo, Mione!- ele gritou novamente e depois a beijou. Andaram de volta ao castelo, em meio a risadas e beijos, e pararam próximo ao banco em que Rony estivera anteriormente.
O garoto olhou para trás, vendo a luz da lua ser ofuscada pela chuva forte. Depois virou-se para Hermione, pegando o rosto dela com as mãos e dando-lhe um carinhoso beijo na testa.
-Eu volto já.- ele sussurrou, com os lábios bem próximos dos dela, fitando seus olhos- Me espera aqui?- ela sorriu graciosamente.
Rony correu de volta ao lago, observando o lugar por uns segundos. As águas ainda estavam turbulentas e agora a lula-gigante parecia incomodar-se com toda aquela chuva, porque não parava de debater seus tentáculos, agitando ainda mais o lago.
-Accio diário!- ele retirou a varinha do bolso e invocou o diário, que voou para suas mãos- OK, admito, isso é um diário.- ele falou sorrindo. Apanhou o casaco e o gorro jogados no chão e voltou para junto de Hermione.
-Onde você foi?- ela perguntou, recebendo o casaco dele, recém secado, para que a protegesse do vento forte e frio que passava pelo castelo.
-Pegar um amigo...- ela não entendeu e nem perguntou nada. Rony ofereceu a mão e os dois voltaram para a Torre da Grifinória, recebendo um ‘Até que enfim!’ divertido de Harry e Gina.
“Certo. Faz dias que eu não escrevo. E faz dias que eu durmo como um anjinho. E faz dias que chove sem parar. Mas nada disso é um problema. E mesmo se fosse, Hermione estaria comigo para ajudar a resolvê-lo.
É engraçado porque a Mione sempre esteve na minha frente e eu sequer reparava que ela era a mulher da minha vida, minha garota, minha namorada... só minha...
OK! Vamos admitir: são quatro horas da manhã. O Harry nem chegou ainda, e duvido que ele chegue antes do amanhecer. Parece que a Gina tá com uns problemas, de modo que até gritou com o pobre do Harry hoje. E, bem, eu estou acordado até agora, sem conseguir pregar os olhos... e estou preocupado também... eu não sei muito bem o que é isso, mas eu sempre tive uma ligação muito forte com a minha irmã, não sei explicar... agora estou com medo de que ela não esteja bem... acho que é besteira minha...
E outra coisa: eu retiro tudo o que eu disse quanto ao casal ‘EU TE AMO MUITO MAIS É PATÉTICO’. E sabe por quê? Porque ultimamente eu tenho me sentido muito tentado a escrever cartas para a Mione. OK! Não são propriamente cartas, são bilhetinhos que chegam a ela como se fossem cartas. Tipo, eu escrevo ‘Mi, sabia que eu te amo?’ e ela me retorna ‘Sabia, mas adorarei saber sempre. E você? Sabia que eu te amo mais?’ e eu respondo ‘Não, Mi, eu te amo muito mais. Meu amor é de um tantão assim...’ e enfeitiço o pergaminho para mostrar o infinito.
É engraçado porque ontem a Mione e eu chegamos a quinze cartas... e isso porque nós estudamos na mesma sala... e nada disso parece mais tão patético...
E sabe o que foi que eu percebi? Que a partir de agora eu não precisarei ver nada através da chuva. E muito menos da neve ou do sol ou do fogo ou de qualquer outra coisa. Eu sempre enxergarei através de tudo desde que eu esteja com a Mione ao meu lado. Com ela tudo parece estar tão certo, e parece tudo tão mais fácil... e é nesse momento que eu percebo o quanto eu fui idiota por não ter ficado com ela antes. Ela é simplesmente PERFEITA, com todas as oito letras em maiúsculo!
E é para ela, minha querida Hermione, que eu dedico este diário. Porque, mesmo sem saber, foi por ela que eu o escrevi. Foi por ela que eu fiquei noites sem dormir, inclusive esta noite, e é por ela que eu vivo.”

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