Uma Bruxa Americana de Apenas



CAPÍTULO II - UMA BRUXA AMERICANA DE APENAS ONZE ANOS DE IDADE - 1971

'Droga!

Droga, droga, droga, droga e droga!'

Era isso que Amélia Lair vinha pensando e resmungando durante todo o caminho pela estação de trem King Cross.

Amélia era uma bruxa americana de apenas onze anos de idade. Estava para começar a estudar magia em Hogwarts, uma das escolas mais respeitadas do mundo... Só tinha um pequeno problema: A escola ficava na Grã-Bretanha, e tudo que Amélia não queria na vida era ter que deixar os Estados Unidos.

A verdade é que ela estava muito bem e muito feliz no seu país de origem. Ela era um exemplo de patriotismo: nascida no estado de Illinois, ela amava fastfood, Hollywood, Jeannie É Um Gênio... Amava música – e tinha uma coleção invejável de LPs... Amava o presidente Richard Nixon... Ah é claro, e amava muito o poderoso ministro da magia americano Albert Lair – que, por ventura, vinha a ser o pai dela.

Ela também era apaixonada pela vida pública que levava (por causa do pai); não podia sair na rua que a "pequena celebridade" , como era conhecida entre os jornalistas, fosse altamente fotografada.

Mas agora ela se via tendo que jogar todo esse estilo de vidapela janela! E pela janela de um maldito trem que ia levá-la para uma maldita escola onde ela não pode sequer escutar os LPs do Jimi Hendrix!

- Mãe, é sério! Será que não dá pra voltar atrás e me deixar estudar no Instituto Washington? – Amélia implorou para a mãe, Emiliana Lair, que ignorou as súplicas da única filha.

- Mia, querida... Nós já te matriculamos! E já estamos aqui, não é mesmo?

- Além disso. – o pai dela continuou – Você costuma ter seus ataques de estrelismo quando é reconhecida por todos! Eu quero que você aprenda a se virar sem ter o ministro para te proteger.

- Mas... Mas... – Amélia choramingou – Ora, vamos! Vocês não vão querer ficar longe da sua filha mais querida, não é?

Albert Lair entregou os malões que ele estava carregando à Amélia assim que eles chegaram em frente à parede que dividia das plataformas nove e dez. O homem deu um sincero sorriso à sua filha e disse:

- Sempre teremos os feriados.

- Sentiremos sua falta, querida. – A mulher deu um beijo estalado no rosto da filha.

- Tá certo! Acredito! – Amélia disse com sarcasmo antes de atravessar a parede para a plataforma 9 ½.

O outro lado da parede estava abarrotado de crianças e jovem excitados com o início de mais um ano letivo. Ou seja – era uma bagunça geral. Tinham corujas piando por todos lados, garotas dando gritinhos agudos histéricos ao encontrar amigos, alunos correndo, pais chorosos dando mil e uma recomendações para os seus "bebês"...

Amélia respirou fundo. Teria que agüentar esse cenário não só por um, mas por sete longos anos da vida dela. Ela sentiu uma pontinha de desespero. Um homem chegou perto dela e pediu as malas. Ela entregou, ficando apenas com uma mochila onde a mãe tinha colocado um bom livro para que a filha "não ficasse muito entediada enquanto os futuros amigos não chegavam..." Se Amélia ao menos estivesse com humor para fazer amigos...

Ela subiu no trem finalmente. Não estava tão cheio ainda. Não foi difícil encontrar uma cabine vazia... Ela realmente não estava com humor para ouvir o sempre irritante sotaque inglês! Ela espiou, com um pouco de inveja, pela janela os pais chorosos darem adeus aos filhos... Embora não admitisse, adoraria que os seus pais fossem chorosos e atenciosos. Com uma pontinha de raiva, ela fechou a cortina.

Quando ela pensava em desfrutar de um raro momento de paz, a porta da cabina se abriu. Um garoto entrou. Ele era muito branco. Tinha horrorosos cabelos oleosos e negros. Os olhos também eram negros. E o nariz... Bom, digamos que ele tinha muito nariz! Mas não era exatamente feio... Ele era... Diferente.

- Licença.

E foi tudo que o garoto disse. Sem sequer esperar por resposta, ele entrou e se acomodou na frente de Amélia. Não que ela quisesse começar uma amizade, ou uma conversação, mas o que tinha acontecido com 'Boa tarde, você se importa se eu me sentar aqui?'. Ela ainda esperou que ele falasse algo, mas ele sequer a olhou. Ela sentiu a necessidade de falar alguma coisa, ou acabaria parecendo ser tão anti-social quanto o garoto.

- Er... Você... Também é o seu primeiro dia?

- Sim.

Ele não era muito comunicativo, ela percebeu. Silêncio atingiu a cabine. Ele não parecia se incomodar com a falta de palavras, mas ela sim. Amélia achava simplesmente irritante – e constrangedor – ficar num ambiente com outra pessoa sem falar nada.

- Você... Está nervoso? Com a mudança de vida?

- Não.

'Não... Quer saber? Dane-se! Ele que fique aí calado e entediado a viagem inteira! E tomara que seja muuuuuuuito longa, para que ele fique tão entediado que queira morrer!

'Vou ler! É isso! Ler é melhor do que ficar agonizando no silencio sepulcral dessa cabine!'

Ela abriu a mochila. Alegrou-se um pouco ao ver o livro que a mãe tinha escolhido para ela; "Maldição - Uma breve história das Artes das Trevas". Amélia simplesmente adorava esse livro! Ele era magnífico!... Mas antes que ela pudesse abrir o livro, a voz do garoto que estava sentado na frente dela finalmente soou.

- Você gosta de Artes das Trevas?

'Boa pergunta! Eu gosto de Artes das trevas? Não sei! Acho abominável, mas fascinante ao mesmo tempo. Sei como usar, mas condeno quem usa. Adoro ler sobre o assunto, mas julgo as pessoas que também gostam de ler... Mas como dizer isso?'

- É... Acho que eu gosto!

Ele a olhou por um momento. Então estendeu a mão.

- Severo Snape.

Ela sorriu.

- Amélia Lair.

Ela projetou a mão na direção da dele, almejando um simples aperto de mão. Mas, ao invés disso, o garoto segurou a mão dela e a beijou suavemente. Amélia estranhou um pouco, mas adorou constatar que aquele garoto estranho era educadíssimo... E provavelmente estaria aberto a uma conversação agora.

Eles ficaram se olhando por um tempo. Ele esperava que ela dissesse algo. Ela desejava que ele fizesse o mesmo... Assim, o silêncio constrangedor voltou a se instalar na cabine. Ela suspirou e, incapaz de pensar em outra coisa, disse:

- Er... Você também gosta das Artes das Trevas?

- Muito. Estudo Artes das Trevas desde que aprendi a ler. Na verdade, o primeiro livro que li em toda a minha vida foi 'O Livro Negro das Artes Negras', de Fillineus Robespierre.

- Já li esse livro. É realmente muito bom.

E o silêncio voltou a reinar. Ela folheou algumas páginas do livro, mas não conseguia focalizar na leitura quando tinha certeza de que tinha alguém a observando. Ela fechou o livro e perguntou:

- E esse livro? Você já leu?

- Na verdade, não.

- Se você quisesse, eu poderia te emprestar.

Ele a estudou por um tempo. Ela então percebeu o que tinha acabado de fazer... E se ele tivesse entendido que ela emprestaria o livro ainda no trem? Pensando bem, seria isso que ela entenderia! E agora a oferta já estava feita, ela não poderia recuar. 'Ai meu Deus! Por todos os profetas! Por jesus-maria-josé! Não aceite! Por favor, NÃO aceite!'

- Eu quero.

'DROGA!'

Agora ela tinha que emprestar! Tinha que entregar o seu precioso livrinho e esperar que a viagem não fosse tão longa e maçante quanto ela imaginava que seria! Ela estendeu o livro para ele. Assim que ele segurou o livro, um garoto loiro abriu a porta da cabine. Ele olhou para Snape e deu um sorriso encantador.

- Severo! Já estava quase desistindo de te procurar!

- Augusto. – Snape acenou com a cabeça.

Snape se recostou e abriu o livro de Amélia na primeira página. O garoto loiro entrou na cabine e se sentou, só então notando a presença dela. O garoto tomou o livro das mãos de Snape e o fechou com um estampido. Amélia quase sentiu dor por ver seu livrinho tão maltratado... E Snape enviou para o loiro um olhar amedrontador.

- Severo você não vai me apresentar à sua amiga?

- Ela não é minha amiga.

Amélia respirou fundo e fechou a cara. 'Grosso!'. Ela teve vontade de pegar o livro imediatamente de volta... Tudo bem que ela realmente não fosse amiga dele... Mas não tinha necessidade nenhuma dele ter comentado isso! O garoto loiro ficou encarando Snape por um tempo, exigindo uma resposta. Snape então suspirou exasperado.

- Augusto, essa é Amélia Lair. Sta. Lair, esse é Augusto Malfoy.

Malfoy a olhou por um tempo e então abriu um largo sorriso. Segurou a mão de Amélia (que, por sinal ainda não estava estendida) e a beijou, assim como Snape tinha feito.

- É maravilhoso te conhecer, Sta. Lair! Suponho que seja americana, não?

- Desculpe, mas como você sabe disso?

- Seu pai é um conhecido do meu. Ele contou ao meu pai, que, naturalmente, me contou, que você viria estudar em Hogwarts.

- Ah, tá.

Amélia começou a imaginar quando o pai dela tinha dito ao pai de Augusto Malfoy que ela estudaria na Inglaterra... Porque, bom, ele só tinha se dignado a contar a própria Amélia dois dias antes da viagem! Ela ficou então imaginando se esse garoto soubera que ela estudaria em Hogwarts antes que ela própria tomasse conhecimento disso. 'Nota mental: fuzilar papai quando chegar em casa'

Malfoy se virou para o amigo e disse, ainda sorrindo.

- Severo você não sabe quem ela é? – Snape ergueu a sobrancelha – Ela é a filha do ministro Albert Lair! O ministro americano!

A expressão no rosto de Snape mudou subitamente.

- Então, ela é uma sangue-puro.

- Se não fosse eu não teria beijado a mão dela!

Amélia indignou-se com o comentário do loiro. Ela ficou ligeiramente boquiaberta, mas, antes que pudesse discursar sobre como seria importante para o mundo se os bruxos perdessem essa postura e como tudo seria melhor se trouxas e bruxos convivessem como irmãos..., Snape disse no tom mais gentil e amigável do mundo.

- Eu peço desculpas pelo meu comportamento. Espero sinceramente que possamos ser amigos.

'Pois eu não! Eu espero que você e seu amigo saiam do trem e sejam esmagados por um trasgo! Eu nunca vou ser amiga de pessoas que são preconceituosas com os trouxas! Até porque eu os adoro!' Mas, ao invés de dizer isso, Amélia vestiu o seu melhor sorriso eu-sou-filha-de-político-e-sou-simpática-com-todo-mundo e respondeu:

- Eu também espero isso.

- Perfeito! – Exclamou Malfoy, com o seu sorriso ficando ainda maior (se é que isso era possível). – Já que é assim, vamos para a cabina que eu estava! Lá, Sta. Lair... Posso te chamar de Amélia?.

'Não!'

- Claro que sim!

- Então, como eu ia dizendo, Amélia, lá você vai poder conhecer algumas pessoas... Nossos amigos – Ele disse isso se referindo a ele e a Snape. – Todos, é lógico, da mais alta sociedade bruxa!

Amélia pensou em qual seria a reação dos dois (e da "mais alta sociedade bruxa") quando descobrissem que ela simplesmente amava os trouxas... Ela se divertiu com o pensamento. Decidiu que iria com eles, só para ver a cara deles quando descobrissem... Malfoy se levantou e pegou a mão dela.

- Vamos, Amélia?

Ela se levantou e sorriu, ainda com o pensamento anterior em mente.

- Vamos!

Ela deixou a cabine, sendo escoltada por Malfoy. Após alguns passos, ele percebeu que Snape tinha ficado na cabine. Ele voltou e colocou a cabeça lá dentro.

- Você não vai, Severo?

E logo estavam os dois amigos e Amélia indo para uma outra cabine, para encontrar a "mais alta sociedade bruxa".

Continua...

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