Prólogo



V for Vendetta


A grama já crescia irregular por toda a extensão do portão de entrada à porta da Mansão, banhada na luz sepulcral da noite estrelada.

Ele teve de abrir, com dificuldade, um caminho entre a relva até os degraus de mármore da soleira.

A grande porta principal rangeu, ruidosa, quando fora aberta e uma camada de poeira se levantou no ar, irritando suas narinas.

Ele precipitou-se para dentro do hall e tornou a fechar a porta. Não ligou as luzes: chamaria menos atenção. De qualquer maneira, não seria necessário: a Mansão estava idêntica à que deixara para trás havia anos, e a conhecia como a palma de sua mão.

Subiu as escadas apressadamente, marcando o tapete encardido com os sapatos. Caminhou até o final de um longo corredor, ignorando as faces serenas nos grandes quadros, dispostos por toda a imensidão das paredes, que roncavam baixinho.

Adentrou o quarto que havia ao final, girando a maçaneta em forma de serpente, e fechou a porta atrás de si sem muito cuidado.

O ambiente não estava muito melhor que o restante da Mansão. Teias de aranha pendiam do teto e o cheiro do mofo exalado pelas cortinas o fez prender a respiração por algum tempo.

Passou os olhos cinzentos sobre a grande cama de dossel, com suas cortinas manchadas e rasgadas. Os lençóis ainda estavam embolados, como se alguém houvesse acabado de deixar o local... Quando a casa os vira pela última vez, os seus donos, havia muitos e muitos anos.

Atirou-se sobre uma poltrona ao canto e derrubou tudo o que havia sobre a mesinha de centro - antigas fotos em molduras de prata empoeiradas, tinteiros secos e pergaminhos amarelados - e atirou ali o último exemplar do Profeta Diário, passando uma das mãos pelos cabelos nervosamente.

Após algum tempo, passou a massagear os olhos, pensativamente.

Lera uma matéria num canto de página enquanto sentia o sangue ferver.

Segundo ela, estava morto.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.