A Carta
Minha Cara.
Sinto em saber que as coisas andam nesse pé. Acredito que meu afastamento da sociedade não tenha sido comentado porque fui uma pessoa fechada, de gostos diferenciados, difícil de se aceitar. Admito que tenha feito pouco esforço para tê-los ou consegui-los, mesmo sendo admirado por um punhado isolado de pessoas. Errei, admito também. Mas de meus erros cuido eu. Julgo eu.
Nego-me a pensar que a vida seja repleta de armadilhas sempre prontas para capturarem qualquer desatento. Mas como é possível uma só pessoa ser tão infortunada a ponto de não possuir amigos? Até certo estágio pode-se levar a vida aos trancos e barrancos, sem se preocupar com ninguém. Contudo, no meio do caminho, na encruzilhada, você pára e percebe que todo o resto do mundo passa, em movimento frenético, cheios de alegria e vivacidade, repletos de amizades, e você então se pega deduzindo: “Será que sou eu o problema?”
E se dá início a um reflexivo processo de análise de vida:
“Fiz tudo o que deveria ter feito?”
“Agi corretamente com todos?”
“Tive princípios?”
“Respeitei quem deveria ser respeitado?”
“Fui tolerante (um mínimo, pelo menos)?”
“Sou um zero à esquerda?”
Antes de entrar em depressão, porém, há que se perguntar: “Estão as pessoas com quem você convive se colocando umas no lugar das outras, tentando entender-se? Estão sendo sinceras com você e consigo mesmas? Estão sendo compreensivas com o semelhante ao invés de se colocarem no espírito Malfoy?”
Pois que, Malfoy é o indivíduo cuja mediocridade ultrapassa qualquer limite máximo; é aquele que não desconfia de que está na hora e lugar errados a todo o momento; é o soberbo ao extremo, mas que vive bajulando. E, em decorrência disso, os envolvidos com ele o veneram, o bem dizem e também lambem o chão em que ele pisa (???). Muitos não o suportam, mas preferem conviver com um Malfoy porque se sentem melhores com si mesmos.
Não me conformo em ver pessoas tão cheias de possibilidades e com enorme ramificação de amizade, continuarem confraternizando com gente daquele tipo. Entretanto, de que me adianta apenas pensar. Dizer-lhe não irei porque julgarão que tenho ciúmes daquela vida luxuosa - e mentirosa! Digo-lhe, com certeza e sem rodeios, minha cara, o mesmo que lhe disse há tempos atrás: prefiro morrer com poucos ao meu redor e na sarjeta que é meu canto em Spinner ’s End, do que aturar o maldito e sua falsidade. Foi amigo... amigo da onça, percebi tarde apesar do aguçado senso que tenho para desmascarar farsantes.
Só quero lhe deixar bem claro, mesmo sabendo que a senhorita é uma pessoa esclarecida: fale a verdade sempre, não importa a quem doa. Há jeito para tudo! Todavia, se a pessoa não aceitar a verdade, de duas possibilidades, uma: ou tal pessoa realmente é medíocre e não lhe irá fazer falta, ou é alguém a quem se possa chamar de amigo, que irá se revoltar por algum tempo - o qual usara sabiamente e descobrirá que você tem razão -, mas depois virá até você e o agradecerá!
Continuo no aguardo de notícias, ainda surpreso - depois de meses - em saber que a senhorita é quem as envia.
Severo Snape
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