Parte I - A Aposta
Parte I – A Aposta
Londres, verão.
O calor estava sufocante naquele momento do dia. Era exatamente aquela a hora em que todos estão encerrando suas atividades matinais, mas seus cérebros já encontram-se na mesa do almoço. Aquela infeliz hora do dia em que só se consegue pensar em parar e nada que se faça parece ter efeito na vã tarefa de acelerar o ritmo do relógio. O pior momento do dia para Sirius Black era aquele em que a cidade desprendia seus piores odores. O aroma dos diferentes pratos preparados em cada casa misturava-se ao cheiro de cal e argamassa que se desprendia da cidade e tudo isso subia, subia, até a janela de Sirius, deixando-o enojado.
Agradecendo à Merlin por estar de férias, ele se espreguiçou mais uma vez no sofá e continuou encarando o céu sem nuvens à sua frente.
-“Ainda deitado?” – perguntou uma voz às suas costas – “Levante-se um pouco, respire ar fresco! Vamos dar uma volta pela cidade!”
-“Pontas, você já reparou o quão chato você ficou desde que descobriu que sua amada ‘vermelhinha’ está na cidade?” – retrucou Sirius, sem se dar ao trabalho de virar-se para encarar o amigo – “Sei muito bem o objetivo dessas suas ‘voltas’ intermináveis por Londres.”
-“Escuta aqui almofadas,” – começou Tiago, ao que o outro revirou os olhos com um suspiro de ‘lá vêm’ – “em primeiro lugar: é ruivinha! Minha ruivinha! Em segundo lugar...”
-“Você nunca vai conquistá-la! Por que não desiste?” – Sirius finalmente encarou o amigo.
-“Você pode não ter reparado, mas eu estou mais perto de conquistar a Lílian do que nunca!”
-“Ah, sim. E você disse isso... vejamos... ano retrasado, quando ela lhe parabenizou pela vitória no quadribol e você achou que ela tava dando mole.” – começou Sirius, contando nos dedos – “Ano passado também, quando você perguntou qual era o dever de transfiguração e ela não gritou com você e... ah, é claro! Nesse verão, quando você a convidou para tomar sorvete e ela disse que ia pensar. E você a conquistou depois disso, Potter? Hein?”
Tiago fechou a cara, era visível que o amigo tinha ido longe demais.
-“Pois eu posso conquistá-la quando eu quiser, ouviu? QUANDO EU QUISER!” – explodiu ele.
-“Calma, Pontas!” – disse Sirius, levantando-se.
-“Você sabe que eu estou falando sério!” – ameaçou o outro.
-“Tudo bem, eu sei que é sério, tá?”
Tiago pareceu acalmar-se um pouco. Passou a mão pelos cabelos, pensativo. Será que estava tão longe assim de conquistar Lílian Evans?
Sirius esforçava-se para entender o amor que o amigo sentia por aquela monitora, mas não conseguia. Na verdade, ele considerava aquilo uma espécie de paixão doentia, uma obsessão. Mas também já não se importava mais, acostumara-se.
De repente, uma idéia passou-lhe pela cabeça.
E pensando bem, não é má idéia!
-“Pois eu aposto que, se você convidá-la para sair, ela não vai aceitar!”
-“Não vai? Ora, eu posso convencer Lílian Evans a sair comigo quando eu quiser!”
-“É mesmo? Então está bem. Sabemos que ela sempre caminha no parque no fim da tarde.” – começou Sirius, ao que Tiago balançou a cabeça, concordando – “Vamos encontrá-la nesse passeio e durante esse tempo você pode tentar convence-la a sair com você.”
-“Tentar? Não apenas tentar, meu amigo, eu vou conseguir!”
Sirius adquiriu uma expressão de incredulidade.
-“Tem certeza?” – perguntou.
-“Pois eu aposto que, se eu encontrar Lílian no início da rua que leva ao parque, a convenço a sair comigo antes de chegarmos à outra esquina!” – disse Tiago, decidido.
As palavras do amigo chocaram Sirius completamente. Porém, passado o susto, sua única reação foi um ataque do riso.
-“Pontas, você está me dizendo que vai fazer isso ao longo da Knightsbriedge?”
Tiago hesitou por uma fração de segundo, depois prosseguiu, mais decidido do que nunca:
-“Se essa for a rua que leva ao parque, é isso mesmo que farei!”
Sirius olhou o amigo de cima a baixo, com uma sobrancelha erguida.
-“Se você quer assim.” – disse ele, ao que Tiago sorriu confiante.
-“Assim será.”
-“Ótimo, Pontas. Mas se você não conseguir, terá que desistir para sempre dessa garota.”
Tiago prendeu a respiração, ficou branco por um tempo. No entanto, recuperou-se relativamente rápido do choque.
-“Nunca mais chame Lílian de essa garota como se ela fosse uma qualquer!” – gritou ele, ao que Sirius assustou-se – “Eu aceito o desafio e garanto: vou vence-lo! Além disso, quando eu ganhar, você terá que namorar a mesma garota por seis meses.”
Sirius deixou o queixo cair.
-“O QUÊ?”
-“Qual é o problema, Almofadinhas? Não consegue uma garota que lhe ature por seis meses seguidos?”
-“Isso é bobagem!” – riu ele – “O difícil é me fazer aturar a mesma garota por seis meses seguidos!”
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