Cada dia uma passo.



- O passeio foi bom, querida?


- Muito. E conheci um homem muito estranho.


- Não diga! Quem?


 


Tia Beth parecia intrigada. Homens estranhos eram uma raridade nas proximidades da fazenda, exceto um capataz aqui e ali.


 


- É hóspede de alguém, e terrivelmente britânico. Mas é também muito bonitão. - Tia Beth sorriu à expressão no rosto dela.


 


- Ora, ora. Um estranho alto, moreno e bonito na minha fazenda? Santo Deus! Onde está? E quantos anos tem?


 


Gina soltou uma risadinha.


 


- Eu o vi primeiro. E além disso, não é moreno. É praticamente louro, tem os cabelos em tom castanho bem claro e é muito mais alto do que eu.


 


- Então é seu, minha querida. Jamais gostei de homens altos.


 


- Eu os adoro.


 


Tia Beth olhou por cima dos óculos de leitura com ar solene.


 


- Você não tem muita escolha.


 


Ambas riram de novo e apreciaram um belo pôr-do-sol por trás das montanhas.


Foi mais uma noite serena, e Gina se levantou às sete, na manhã seguinte. Tinha desejos de sair por aí, mas desta vez não na égua castanha. Preparou uma xícara de café - pela primeira vez tinha acordado antes da Tia Beth -  e partiu no Morgan, fazendo o mínimo de barulho possível. Nunca tinha rodado muito por ali, e estava louca de vontade de fazer uma exploração.


O sol ia alto no céu quando ela a encontrou. Estava em más condições, mas era uma beleza. Parecia que alguém a havia perdido na grama alta e depois se cansara de procurá-la, há décadas. E agora lá estava, sozinha e mal-amada, com um cartaz de ‘ALUGA-SE’ muito inclinado de banda, perto dos degraus da entrada. Era uma casa pequena em estilo vitoriano, mas perfeitamente proporcionada. Experimentou a porta da frente, mas estava trancada. E Gina pegou-se sentada nos degraus da frente, abanando o rosto com o chapéu de palha de abas largas, sorridente. Não tinha certeza por que, mas sentia-se bem. E incrivelmente feliz.


Guiou de volta na estrada rural empoeirada e entrou na casa com um amplo sorriso. Tia Beth estava examinando a correspondência, ergueu os olhos, surpresa.


- Bem, por onde andou? Saiu um bocado cedo. - Havia malícia naqueles olhos azuis e uma delicada desconfiança.


 


- Espere só até saber o que encontrei!


 


- Outro homem nas minhas terras? E desta vez um francês. Eu sabia. Minha querida, está tendo visões por causa do sol.


 


Tia Beth estalou a língua, compreensivamente, e Gina rindo jogou o chapéu bem para o alto.


 


- Não, um homem não! Tia Beth, é uma casa! Uma em estilo vitoriano, incrível, linda, maravilhosa! E estou loucamente apaixonada por ela.


 


- Ah, Deus, Gina, não é a que estou pensando? A velha casa dos Wheeling em North Road?


 


Sabia exatamente qual era.


 


- Não tenho a menor idéia, só sei que a adoro.


 


- E já a comprou e o seu decorador vai chegar de Nova York logo amanhã cedo. - Tia Beth recusava-se a falar a sério.


 


- Não. Não estou brincando. Ela é linda. Já ficou recuada olhando para ela? Eu já, durante uma hora hoje de manhã, e fiquei sentada nos degraus da frente quase o mesmo tempo. Como será por dentro? Estava trancada, droga. Cheguei a experimentar todas as janelas.


 


- Só Deus sabe como é por dentro. Há quase 15 anos ninguém mora nela. Na verdade, costumava ser muito linda, tem muito pouco terreno, portanto ninguém quer comprá-la. Mas agora provavelmente poderia ser adquirida com um pouco mais de terreno, pois os Parker que moram logo atrás resolveram que querem vender uma boa parte da terra deles. Quase 40 acres, se é que me lembro bem. Mas, ao que eu saiba, a casa dos Wheerling continua vazia. Ano após ano. Os corretores mostraram-na para mim quando vim comprar a estância, mas não me interessei pelo local. Casa demais, terreno de menos, e eu queria alguma coisa mais moderna. Por que cargas d’água você iria querer uma casa em estilo vitoriano no meio do fim do mundo?


 


- Mas Tia Beth, é tão linda! - Gina parecia jovem e romântica enquanto sorria para a amiga.


 


- Ah, as ilusões da juventude. Talvez seja preciso ser jovem e estar apaixonada para querer uma casa daquelas. Eu queria uma coisa mais prática. Mas posso entender por que você gostou dela. - Estava notando o brilho nos olhos verdes da sua jovem amiga. - Gina, exatamente o que está pretendendo? - A sua voz agora era séria e quieta.


 


- Ainda não sei. Mas estou pensando. Sobre muitas coisas diferentes. Pode ser que sejam todas idéias malucas, mas tem alguma coisa fermentando.


 


Gina parecia claramente satisfeita consigo mesma. Tinha sido uma manhã maravilhosa e algo fantástico tinha acontecido na sua cabeça ou no seu coração, ela não tinha certeza, mas sentia-se viva,  excitada e nova em folha de novo. Era mesmo uma loucura. Uma passagem da Bíblia que tinha aprendido na escola dominical tinha vindo à sua mente enquanto estava sentada olhando para a casa. “Vejam, as coisas velhas desapareceram. Todas as coisas estão ficando novas”. Ela ficara pensando naquilo, e sabia que era verdade. Todas as coisas velhas estavam sumindo da sua vida... Até mesmo o horror do julgamento... Até o Harry...


 


- Bem, Gina, deixe-me saber o que você resolveu quando tudo estiver “fermentado”. Ou antes disso, se eu puder ajudar.


 


- Ainda não. Mas quem sabe mais tarde? - Tia Beth concordou e voltou para a sua correspondência,. Gina subiu escada acima, cantarolando baixinho. E então parou e voltou a olhar para Tia Beth. - Como faço para ver a casa por dentro?


 


- Ligue para os corretores. Ficarão encantados. Não creio que mostrem a casa senão uma vez a cada cinco anos. Procure o telefone deles no catálogo. Imobiliária do Condado de Hoover. Um nome terrivelmente original.


 


Tia Beth estava começando a se admirar... mas não podia levar Gina a sério. Isso devia ser um capricho passageiro, uma curtição. Mas manteria Gina entretida. Só o fato de pensar em outra coisa que não no seu tédio, lhe faria bem. Uma coisa era certa, não parecera entediada quando chegara. Não naquela manhã. E certamente não na noite anterior.


 


Oliver Wood telefonou naquela tarde enquanto Gina estava fora, e ligou de novo por volta das cinco, quando ela acabara do voltar. Indagou cortesmente se podia “aparecer” para tomar um drinque, ou trazê-la para conhecer os seus anfitriões. Gina optou pela vinda dele à casa da Tia Beth. E estava animadíssima.


 


Ele foi terrivelmente encantador, muito divertido, muito comportado, e ficou fascinado pela Tia Beth, o que agradou a Gina. Mas ficou ainda mais fascinado por Gina, o que agradou a Beth. Parecia ainda mais esplêndido do que Gina anunciara, ele usava blazer e calças de gabardina cor de marfim, uma camisa azul Wedgewood e um plastrão azul-marinho ao pescoço. Terrivelmente elegante, mas também muito atraente. Faziam um casal espetacular, ambos com uma graça natural. Teriam virado cabeças em toda parte, mesmo da maneira informal como se sentavam na sala de visitas da fazenda.


 


- Cavalguei pelas montanhas à sua procura hoje, Gina, e tudo em vão. Onde estava se escondendo?


 


- Numa casa com uma banheira de 1,20 m de profundidade e uma cozinha que parece saída de um museu.


 


- Bancando a Cachinhos de Ouro, imagino. Os três ursos chegaram antes de você sair, e que tal estava o mingau?


 


- Delicioso. - Riu para ele e enrubesceu ligeiramente quando ele pegou na sua mão. Mas ele a segurou apenas por um segundo.


 


- Pensei que você era uma aparição ontem, nas montanhas. Parecia uma deusa.


 


- Tia Beth me acusou de estar tendo visões por causa do sol.


 


- É, mas ela pelo menos não pensou ter visto um deus.


 


Tia Beth deu-lhe um fora para ver como reagia, mas ele reagiu bem. Foi muito cortês, e foi embora pouco antes do jantar, não antes de convidá-las para almoçar na casa dos seus anfitriões, no dia seguinte. Tia Beth fugiu ao convite, alegando que teria coisas para tratar na fazenda, mas Gina aceitou com prazer. Ele se afastou num Porsche cor de chocolate, e Gina olhou para Beth um brilho juvenil nos olhos.


 


- Bem, o que acha?


 


- Exageradamente alto. - Tia Beth tentou parecer severa, mas falhou instantaneamente quando o seu rosto se abriu num sorriso. - Mas, fora isso, aprovo de coração. Ele é um amor, Gina! Simplesmente um amor.


 


Tia Beth soava quase tão entusiasmada quanto Gina se sentia. Estava tentando lutar contra isso, mas com dificuldade.


 


- Ele é simpático, não é? - Pareceu sonhadora por um momento depois fez uma pirueta num pé. - Mas não tanto quanto a minha a casa.


 


- Gina, você me confunde! Estou velha demais para esse tipo de jogo! Que casa? E como ousa comparar um homem a uma casa?


 


- É fácil, porque sou má. E estou falando da minha casa. Da que aluguei hoje, para todo o verão!


 


O rosto de Tia Beth ficou sério ao ouvir a notícia.


 


- Alugou a casa dos Wheeling para o verão, Gina?


 


- Sim. E se gostar, ficarei mais tempo. Tia Beth, sinto-me feliz aqui, e você tinha razão, está na hora de mudar.


 


- Sim, filha. Mas, para uma coisa como essa? Isso é vida para uma mulher velha, não para você. Não pode se trancafiar aqui na roça. Com quem irá conversar? O que irá fazer?


 


- Conversarei com você, e começarei a pintar de novo. Há anos que não pinto, e adoro! Posso até pintá-la.


 


- Gina, Gina! Sempre tão avoada! Às vezes você me preocupa. Da última vez, se pôs de pé num salto e correu para casa para pedir o divórcio, e agora o que está fazendo? Por favor, querida, pense no assunto com cuidado.


 


- Pensei, e estou pensando, e vou pensar. Só a aluguei para o verão. Depois disso vamos ver. Não é uma mudança permanente. Vou experimentar. A única decisão permanente que tomei foi a de vender a loja.


 


- Santo Deus, mas como andou ocupada. Tem certeza disso tudo?


 


Tia Beth ficou mais do que ligeiramente desconcertada. Sugerira vender a loja, mas não tinha pensado que Gina a levaria a sério. O que tinha feito?


 


- Certeza absoluta. Vou vender a Lady G para Hermione, ou pelo menos oferecê-la para ela, quando voltar.


 


- E ela vai comprar. Pode ter certeza disso, Gina. Não posso dizer que lamento. Acho que seria bom para ela. Mas, você não vai se arrepender? A boutique parece significar muito para você, querida.


 


- Significou, mas isso agora faz parte do passado. Uma parte da qual tenho que me livrar. Não creio que vá me arrepender.


 


- Espero que não. - Havia mudanças no ar de novo, as duas o pressentiam. Mas, pela primeira vez em longo tempo, Gina sentia-se viva, e nem um pouco entediada. - A casa está habitável?


 


- Mais ou menos, com uma boa faxina. Uma faxina muito boa.


 


- E quanto aos móveis?


 


- Vou morar num saco de dormir.


 


Não parecia nem um pouco perturbada.


 


- Não seja ridícula. Tenho uns móveis sobrando no galpão, e outros no sótão. Sirva-se. Pelo menos estará confortável.


 


- E feliz.


 


- Gina... espero que sim. E por favor, tente não fazer nenhuma coisa importante depressa demais. Vá com calma. Pense. Pese as suas decisões.


 


- É isso o que você faz? - Tia Beth não pode abafar o riso ante a pergunta.


 


- Não. Mas é o tipo de conselho que se espera que as mulheres velhas dêem às mocinhas. Eu sempre entro direto e faço o que quero, e conserto os estragos depois. E para falar a verdade, vou adorar tê-la aqui no verão.


 


A mulher mais velha sorriu suavemente e Gina ficou pensativa.


 


- E se eu ficar após o verão?


 


- Ah, vou fechar as minhas portas para você e atirar em você das janelas da cozinha. O que imagina que faria? Ficaria encantada, é claro. Mas não a encorajaria a se mudar para cá por minha causa. Não faço isso nem com a Hermione.


 


Mas não pensava mesmo que Gina se mudaria, no final do verão estaria cansada da falta de movimentação... E o Oliver que ia se mudar para Londres parecia prometer muito.


Ele foi buscar Gina para almoçar no dia seguinte e ela voltou para casa de Tia Beth num ótimo astral. Gostara dos amigos dele, e estes tinham ficado encantados à idéia da mudança dela para lá durante o verão, e a convidaram para aparecer na casa deles sempre que tivesse vontade. Eram um casal na casa dos 50 que convidava amigos de Los Angeles para ficar com eles, com freqüência. Oliver era um deles...


 


- Parece que vou passar um bocado de tempo aqui nesse verão - falou.


 


- É?


 


- É, e é uma viagem longa à beça de Londres para cá. Você podia ter escolhido um lugar mais próximo para o sou refugio de verão, Gina. - Ainda não lhe tinha dito que estava pensando em se mudar de vez. Tinha olhado risonha nos olhou de Oliver enquanto ele a ajudava a sair do carro, na casa de Tia Beth. - Por falar nisso, Srta. Potter, quando vai voltar para a cidade?


 


- Amanhã.


 


Mas o “Srta. Potter” mexera com ela.. Srta.? Parecia estranho. Tão... tão vazio.


 


- Também vou voltar para Londres amanhã. Mas, a propósito - olhou para ela quase astutamente, e definitivamente satisfeito consigo mesmo - estou planejando estar em Chelsea na quarta-feira. Que tal jantarmos juntos?


 


- Eu adoraria.


 


- Eu também.


 


Pareceu surpreendentemente sério enquanto caminhavam para a casa, e discretamente envolveu a mão dela com a sua.


 


 


 


Hermione ficou atônita com a oferta de Gina, mas radiante, afinal desde a primeira vez que vira a boutique que tivera vontade de comprá-la.


 


- Mas você tem certeza?


 


- Absoluta. Fique com ela. Vou lhe dar uma idéia do quanto vale o estoque, falar com o meu advogado e acertaremos o preço.


 


Falou com Remus Lupin, e dois dias mais tarde deram o preço. Hermione não hesitou.


Pediu aos próprios advogados para prepararem os papéis. A Lady G seria sua pelo preço de 85.000 libras. Tanto ela quanto Gina ficaram satisfeitas com o preço. A única pontada que Gina sentiu foi quando Hermione falou em trocar o nome da boutique para Lady M. O som em inglês era quase o mesmo, e não faria diferença para as clientes. Mas não seria mais a mesma coisa. Ela seria da Hermione. O fim de uma era finalmente chegara.


 


Estavam no escritório dos fundos discutindo os planos para a venda quando Kasuko apareceu à porta com um sorriso no rosto.


 


- Tem alguém aí procurando por você, Gina. Alguém muito bonitinho, se me permito acrescentar.


 


- É? - Enfiou a cabeça pela porta e viu Oliver. - Ah! Alô.


 


Mandou que ele entrasse na sala o apresentou-o à Mione, explicando que a Sra. Granger era a mãe dela.


 


- Conhece a minha mãe?


 


Hermione ficou surpresa. A mãe não conhecia ninguém como Oliver.


 


- Tive o prazer do conhecê-la no fim de semana, na fazenda. - As sobrancelhas de Hermione ergueram-se enquanto lançava um olhar de surpresa para Gina, e Oliver acrescentou rapidamente:


 


- Eu estava lá visitando amigos.


 


E subitamente o rosto de Hermione falou que ela entendia por que Gina estava planejando passar o verão ali, naquela velha casa alugada em estilo vitoriano. Hermione quase se perguntou se seria por esse motivo que ela estava vendendo a loja. Mas sentia como se tivesse perdido alguma pecinha da história. Será que Gina andava guardando segredos? Olhou para Oliver o viu que este fitava Gina carinhosamente. E Hermione prendeu as perguntas que estavam na ponta da língua. Como? Quando? E agora? Será que ele... ele iria... ele faria...Oliver interrompeu os pensamentos dela com outro sorriso incandescente.


 


- Posso convidar as duas lindas senhoras para almoçar?


 


Chegou mesmo a abranger suavemente Kasuko com um olhar do pesar; sabia que alguém precisava ficar cuidando da loja. Os modos dele eram impecáveis. E Hermione gostava disso. Sentiu-se quase tentada a aceitar o convite, de pura curiosidade, mas não queria fazer isso com Gina. Mas Gina rapidamente cortou o convite para o almoço.


 


- Nem nos tente, Oliver. Estávamos discutindo negócios, a venda da loja e...


 


- Ora, pelo amor de Deus, Gina! -Hermione interrompeu os protestos conscienciosos de Gina. - Não seja boba... podemos falar de negócios mais tarde. De qualquer forma, tenho algumas coisas a fazer. Preciso ir à cidade - olhou pesarosa Oliver -, mas vocês dois tratem de ter um almoço gostoso. Encontro-a de volta aqui na loja por volta das duas, duas e meia.


 


- É melhor duas e meia, Sra. Granger.


 


Oliver aproveitou rapidamente a deixa. E Gina só olhando. Gostava do jeito como ele lidava com as coisas. Estava acostumado a exercer o poder, o que era evidente. Aquilo a faria sentir-se segura, mas não ameaçada. Agora que não sentia necessidade de que cuidassem dela, as suas atenções eram um luxo, não um plasma vital. Estava curtindo a diferença, e pegou-se perguntando como teria sido com o Harry, se as suas necessidades não fossem tão desesperadas, se tivesse tido mais confiança em si mesma. Mas afastou o pensamento da cabeça.


 


Almoçaram ali perto, num restaurante aberto na Union Street e foi uma refeição muito agradável. Ele era louco por cavalos, pilotava o próprio avião, estava planejando uma viagem para a África no inverno seguinte, e cursara Oxiford, depois do Eton. Estava evidente que estava muito impressionado com Gina. E cada vez que ele sorria aquele seu sorriso encantador, ela se derretia toda.


 


- Você parece muito diferente aqui na cidade, Gina.


 


- É impressionante a diferença que faz quando penteio o cabelo. - Ambos sorriram à lembrança do seu primeiro encontro. - Até mesmo uso sapatos, aqui.


 


- É mesmo? Que interessante. Deixe-me dar uma espiada. - Afastou jocosamente a toalha da mesa para dar uma olhada nos sapatos dela, e viu um belíssimo par de sapatos de camurça do Gucci, cor de canela. Eram quase exatamente da mesma cor da saia de camurça que estava usando, com uma blusa de seda cor do salmão. O tom de salmão era a cor favorita de Harry, e ela tivera que se forçar a vestir a blusa naquela manhã. Então era a preferida do Harry, e dai? Não havia motivo para largá-la do lado. Há meses que não usava a blusa, como se, por não fazê-lo, estivesse de alguma forma renunciando a ele. Agora parecia uma tolice. - Aprovo os seus sapatos. E, a propósito, está usando uma blusa multo bonita.


 


Enrubesceu ante o elogio, principalmente porque ele lhe fazia lembrar Harry. Havia algo no Harry...


 


- No que estava pensando? - Tinha visto uma sombra passar rapidamente pelos olhos dela.


 


- Em nada.


 


- Que vergonha, contando mentiras. Alguma coisa séria lhe passou pela cabeça. Coisa triste? - Assim lhe parecera.


 


- Claro que não.


 


Estava encabulada porque ele tinha visto tanto. Demais. Era muito observador.


 


- Nunca se casou, Gina? Parece incrível ter a sorte de encontrar uma mulher como você, livre o sem compromissos. Ou será que estou fazendo pressuposições?


 


Porém desde que a conhecera que tinha vontade de saber.


 


- Está fazendo a pressuposição certa. Sou livre e sem compromissos. E sim, já fui casada.


 


O senso de oportunidade dele era impressionante, era como se tivesse lido os pensamentos dela.


 


- Tem filhos?


 


Ergueu uma sobrancelha com um ar curioso.


 


- Não. Nenhum.


 


- Ótimo.


 


- Ótimo? - Que coisa esquisita de se dizer. - Não gosta de crianças, Oliver?


 


- Muitíssimo. Das outras pessoas. - Sorriu com naturalidade. - Na verdade, sou um tão perfeitamente maravilhoso. Mas daria um pai perfeitamente terrível.


 


- Por que diz isso?


 


- Circulo demais. Sou egoísta demais. Quando amo uma mulher, detesto compartilhá-la nas coisas importantes, e se você vai ser uma mãe como manda o figurino, tem que se dividir entre marido e rebentos. Talvez eu mesmo seja um tanto criança, mas quero aproveitar noites longas e românticas, viagens inesperadas a Paris, esquiar na Suíça sem três filhotes de nariz escorrendo chorando dentro do carro... Posso lhe dar mil motivos horrivelmente egoístas. Mas todos sinceros. Isso a choca?


 


Não pedia desculpas pelo que estava dizendo, mas estava disposto a aceitar que ela não aprovasse. Há muito tempo que cessara de dar desculpas. Na verdade, ele tinha tomado as suas providências para que não mais houvesse a possibilidade de um “escorregão”. Tinha se resolvido, e agora não havia como voltar atrás.


 


- Não, não me choca. Sempre senti a mesma coisa. Na verdade, exatamente a mesma coisa.


 


- Mas?


 


- O que quer dizer?


 


- Havia um “mas” na sua voz. - Ele o disso muito suavemente, e ela sorriu.


 


- É mesmo? Não tenho certeza. Costumava ter idéias muito definidas a esse respeito. Mas, não sei... mudei muito.


 


- Mudar é natural, se a gente se divorcia. Mas, de repente, você se pega desejando filhos? Imaginei que desejaria a liberdade permanente.


 


- Não necessariamente. E também não fiz nenhuma mudança de política grandiosa sobre filhos. Só que comecei a me fazer um bocado de perguntas.


 


- Para falar a verdade, Gina - segurava-lhe a mão meigamente, enquanto falava -, acho que você seria mais feliz sem filhos. Você parece ser muito semelhante a mim. Resoluta, livre; aprecia o que faz; não consigo imaginá-la abandonando tudo isso por uma pessoinha chorona de fraldas.


 


Ela sorriu à idéia.


 


- Deus.


 


- Exatamente.


 


Riram por um momento o tomaram um gole do vinho enquanto a segunda leva de fregueses para o almoço começou a chegar. Já estavam sentados ali há quase duas horas. Era estranho estar repentinamente conversando com ele sobre filhos. Teve a sensação de que o tópico era importante para ele, e que queria livrar-se dele logo. E sem dúvida partilhava das opiniões que Gina tinha há uma década.


 


Ela estirou as pernas e acabou o vinho, perguntando-se se deveria voltar para a loja, e subitamente se lembrando que devia estar atrapalhando os compromissos dele, também. Mas as horas que estavam passando juntos eram tão agradáveis que era difícil dar-lhe um fim.


 


- Vou a Paris a negócios na semana que vem, Gina. Posso trazer-lhe alguma coisa de lá?


 


- Que gentileza. Paris. - Os olhos dela dançavam à idéia. Paris. - Deixe ver... podia me trazer..... o Louvre..... SacreCrour... o Café Piore... a Brasserie Lipp..... o Champs Elysées... ah, e o Faubourg St. Honoré inteiro. - Deu uma risadinha ante a brincadeira.


 


- É disso que eu gosto. Uma mulher que sabe o que quer. A propósito, por que não vem comigo?


 


- Está brincando!


 


- Claro que não. Ficarei fora apenas três ou quatro dias. Você também pode se afastar daqui por tão pouco tempo, não pode?


 


Sim, mas com um estranho completo? Sabe lá Deus quem ele era.


 


- Eu estava pretendendo ir à Nova York para a loja, mas agora não preciso mais e... Paris?


 


Não sabia o que dizer. Depois do todos aqueles cretinos que tinham rastejado à sua volta, de repente pintava um homem perfeitamente divino, e queria levá-la para Paris.


 


- Nós não... - Parecia constrangido, mas era uma graça.


 


- Não precisamos partilhar o mesmo quarto. Se você ficaria mais confortável...


 


- Oliver! Você é um anjo. E pare com isso, se não acabarei indo e negligenciando todas as coisas que preciso fazer aqui. Fico muito sensibilizada por você me ter convidado, mas não posso, de verdade.


 


- Bem, vamos esperar para ver. Você pode mudar de idéia.


 


Puxa. Oliver era mesmo um espanto. Paris. Quase teve vontade de dizer sim, mas... por que não? Bolas, por que não? Paris... Deus, seria uma delícia, mas... que merda, por que se sentia como se estivesse enganando o Harry? Que diferença fazia agora? Estava livre. Ele nem saberia. Ela nem o via mais. Porém... de alguma formas.... ele estava ali... com uma expressão de dor nos olhos, como se não quisesse que ela fosse. Tentou afastar o rosto dele do pensamento, e sorriu para Oliver.


 


- Obrigada pela oferta.


 


- Gostaria que você viesse. Está vendo o que falei sobre gostar de viagens de improviso? Adoro esse tipo de coisa! Não é muito divertido se a gente tem que arrastar junto uma babá e quatro capetinhas, ou deixá-los em casa e se sentir culpado. Ser livre é realmente muito mais simples. Tem sobrinhos ou sobrinhas? - Ela balançou a cabeça, suavemente. - Irmãos ou irmãs?


 


-  Eu tenho um irmão, mas ainda solteiro, que por sinal mora em Paris.


 


Oliver pareceu intrigado, por um momento.


 


- Por que não mora com você? Bom de qualquer modo deve ser mais velho.


 


- Quando meus pais morreram, ele decidiu mudar o rumo de sua vida. Ele é um ano mais velho.


 


- Claro. Mas que estupidez a minha. Que coisa horrível. Vocês são muito chegados?


 


A pressão na mão dele aumentou um pouco, como que a dar-lhe apoio. A gentileza agradou muito a Gina.


 


- Sim. Mas fiquei muito perturbada quando ele se mudou.


 


Era a primeira vez que era capaz de dizer isso. Os últimos meses a tinham libertado de mais maneiras do que ela tinha consciência.


 


- Sinto muito.


 


Ela balançou a cabeça e sorriu.


 


- E você, quantos irmãos e irmãs tem?


 


- Duas irmãs, e um irmão muito empolado. Minhas irmãs são loucas de pedra. Mas muito divertidas.


 


- Passa muito tempo na Europa?


 


- Bastante. Alguns dias aqui, outros ali. Gosto muito desse jeito. A propósito, Gina, não está na hora de levá-la de volta à loja para seu encontro com Hermione?


 


- Cristo! Já tinha me esquecido. Tem razão!


 


Olhou pesarosa para o relógio e sorriu para ele de novo. Tinham sido umas horas deliciosas.


 


- Desconfio que também estou atrapalhando os seus compromissos.


 


- É, eu... - Mas o riso tomou o lugar da seriedade, e ele olhou para ela com um sorriso malicioso. - Não, eu não tinha um só compromisso. Vim para cá exclusivamente para vê-la.


 


Recostou-se na cadeira e riu de si mesmo, como que muito satisfeito.


 


- Foi? - perguntou Gina, espantada.


 


- Sem dúvida. Espero que não se importe.


 


- Não. Só estou surpresa.


 


Muito surpresa, e um pouco desconcertada. O que significava aquilo? Ele viera para vê-la.... e a sugestão da viagem a Paris.... que merda. Ele ia ser igual a todos os outros, esperando trocar uma refeição pelo corpo dela?


 


- Ah, mas a cara com que você está, Gina!


 


- Que cara?


 


Havia riso e embaraço na voz dela. E se ele realmente soubesse o que ela estava pensando? Parecia fazer isso com freqüência.


 


- Quer saber que cara?


 


- Quero. Vamos ver se você adivinha. - Era melhor não fazer charme.


 


- Bem, e se eu lhe disser que tenho um quarto no Huntington, você se sentirá melhor?


 


- Ora! Seu! - Bateu nele com o guardanapo. - Eu não estava..


 


- Estava, sim!


 


- Estava, mesmo!


 


Ambos riram e ele deixou uma nota de valor no prato do garçom e se levantou para ajudar Gina a vestir a jaqueta.


 


- Peço desculpas pelos meus pensamentos. - Gina deixou pender a cabeça, com amplo sorriso.


 


- E deve pedir, mesmo.


 


Mas ele lhe deu um abraço amistoso enquanto safam do restaurante, e foram brincando e rindo até chegarem na loja. Hermione os esperava com um sorriso descontraído, quando entraram. Ela ficava satisfeita em ver Gina feliz de novo, e com um homem.


 


- Vou deixá-las agora com as suas reuniões e seus negócios o seus seja lá o que vocês fazem. E Gina, a que horas devo apanhá-la?


 


- Aqui?


 


Pareceu surpresa. Era estranho ser paparicada de novo, acompanhada e cuidada, apanhada e entregue de volta. Há tanto tempo que não tinha isso, que já não sabia como se comportar do novo. Era como voltar a usar sapatos depois de meses andando descalça.


 


- Prefere que vá encontrá-la depois do trabalho?


 


- Como você quiser.


 


Olhou para ele toda feliz, e por um momento nenhum dos dois falou. Estivera prestes a oferecer-lhe o carro, mas não teve coragem. Não... não o Morgan. Sentia-se um lixo por não oferecê-lo, mas não podia.


 


- Por que não lhe deu tempo de ir para casa e descansar um pouco? Posso apanhar você lá?


 


Como ele já sabia que ela era um tanto arisca, os dois riram, mas ela concordou.


 


- Será ótimo.


 


- Digamos às sete? Jantar às oito.


 


- Perfeito. - E então, subitamente, ela teve uma idéia. Ele já estava quase na porta da loja, quando ela se dirigiu rapidamente para junto dele. - Não conhece Londres muito bem, não é?


 


- Não muito. Mas desconfio que posso me virar. - Parecia divertido com a preocupação dela.


 


- Gostaria de uma excursão no final do dia?


 


- Com você?


 


- É claro.


 


- Que idéia esplêndida.


 


- Ótimo. Onde você estará por volta das cinco horas?


 


- Onde você mandar.


 


- Muito bem. Apanho você diante do Hotel St. Francis às cinco. Está bem?


 


- Está excelente.


 


Fez-lhe uma breve continência e desceu correndo os degraus da loja enquanto Gina se voltava para Hermione.


 


Foi difícil para ela concentrar-se no que estavam dizendo enquanto discutiam a venda da Lady G.


 


- Certo, Gina?


 


- Há? - Hermione exibia um largo sorriso quando ela ergueu os olhos. - Ora, merda.


 


- Não me diga que está se apaixonando.


 


- Nem de longe. Mas ele é um homem muito simpático. Não é? - Desejava a aprovação de Hermione.


 


- É o que parece, Gina.


 


Gina ergueu os olhos para a amiga e riu feito uma colegial. Pareceu levar horas até terem resolvido tudo, embora as duas mulheres tivessem ficado satisfeitas com os resultados. Gina levantou-se radiante da sua mesa, fez uma pirueta sobre o salto de um dos lindos sapatos do Gucci, e olhou para o relógio.


 


- E agora, tenho que ir andando. - Pegou a bolsa, jogou um beijo para Hermione e parou feliz no vão da porta, por um momento.


 


- Daqui a 15 minutos tenho que apanhar o Harry.


 


Com um rápido aceno tinha saído porta afora e descido a escada... sem se dar conta do que tinha dito. Hermione sacudiu a cabeça e se perguntou se algum dia ela se esqueceria dele. Mais do que isso, perguntava-se como andaria o Harry. Sentia falta dele. E o fato de pensar nele diminuiu o seu entusiasmo quanto ao novo amigo de Gina. Esta já estava dando marcha à ré com o carro para ir buscar Oliver.


 


 


 


 


 


N/B: Eita situação... imagina se em outra hora ela troca o nome tbm? (se é q me entendem) Pergunta cretina da beta: porque não me aparece um desses? Chega ser maldade ler algo assim, não acham? Mas ameeei! E devo confessar que sou totalmente a favor do Oliver, ao contrario da Hermione (hahaha), apesar dele pegar meio pesado com o lance de criança eu concordo! Pirralho só atrapalha! =D Agora só falta mais, não é mesmo? beijos.  


 


 


 


 N/A: Olá pessoas lindas do meu coração, sei que vcs estão querendo me matar, mas por favor, não façam isso, minha vida anda uma loucura, não é fácil fazer inglês, pós graduação, já estar começando a minha monografia td ao msm tempo, mas vou tentar deixar minha fic em ordem. Bom quanto a fic, apesar do entusiasmo da Gina, alguém percebeu algo? Um certo Harry  aparecendo nos pensamentos qdo n]ao deveria? Rsrs aí foi minha dica. Bjos e por favor, continuem comentando e votando.

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