Não é óbvio? Capítulo único.

Não é óbvio? Capítulo único.



NÃO É ÓBVIO?!

Harry acordou de repente. “Que gritaria é essa? Já é mais de meia-noite”, pensou Harry Potter.
De pé ante pé, Harry chegou à sala comunal. A gritaria continuava, e ele logo percebeu que as vozes eram de duas pessoas muito conhecidas.
Ele decidiu nem entrar na sala, pois com certeza sobraria pra ele. Mas ele, obviamente, ficou colado a porta, querendo saber o por que daquela discussão.
“Que besteira! Eles sempre brigam! Então por que o Harry ficou tão curioso?”, você deve estar pensando. Mas acontece, meu caro, que aquela não era nem de longe uma briga qualquer. Era a pior dos últimos anos.
Por mais incrível que pareça.
-Por que você é assim, dá pra me dizer? – Perguntou a Hermione, baixando o tom de voz pouco depois de perceber que daquele jeito ela acordaria todo o dormitório.
-Assim? Assim como? – Perguntou o Ron.
-Você é sempre tão... Tão... Tão grosso. – Falou ela, suspirando. No fundo, ela realmente não queria saber a resposta.
E sabe? O Ron nem tinha idéia do por quê. Puxa, ela era sua melhor amiga, não era? Então por que ele a tratava daquela maneira?
Ah, a cabeça do Ron andava tão confusa. Ele não tinha resposta pra nenhuma das perguntas que ele tinha na mente. As coisas são tão simples para algumas pessoas, e tão complicadas para outras...
-Eu... Eu... – Gaguejou ele – eu não sei, Mione.
-Você nunca sabe. - Ela deu um sorriso triste e saiu andando lentamente. Acredito que na esperança do Rony ir atrás dela. Mas ele não foi. Ninguém nunca vai.
Harry teve vontade de matar o Ron. Por tratar a Mione assim, por ser assim tão idiota. Também teve vontade de ir atrás da Hermione, de conversar com ela, para fazê-la se sentir melhor.
Mas ele fez a escolha certa. Ele somente se afastou e deixou-a passar com uma pequena lágrima quase escorrendo. Mas, puxa, ela é Hermione Jane Granger. Então, não. Ela não chorou. Apesar de a sua vontade ser de desabar em lágrimas e gritar pros céus o que sente pelo Ronald Weasley. Era tudo quase tão confuso quanto era na cabeça do Ron.

-O que está acontecendo aqui, Ginny? Seu irmão está mais mala do quê nunca! – Perguntou o Harry à Gina, durante o jantar. Acontece que depois do fato (noite do dia passado a esse que vos falo), a Mione e o Rony não trocam olhares, muito menos se falam. O que é bem estranho, se pararmos pra pensar. O Rony só fala e a Mione só critica as suas falas com aqueles discursos gigantescos.
-Não faço a mínima idéia. Sabe, eles brigam sempre. Não pensei que fosse durar tanto assim, Harry.
Harry deu um leve dar de ombros e se sentou. Mas a Gina não. Ela ficou um breve momento em pé junto à mesa até que o seu olhar atingiu Harry e ela perguntou:
-Hã, você me chamou de Ginny? – Nem dava pra disfarçar. Um sorriso largo e lindo preencheu o seu rosto.
-É. Bem. Hã. É. – Gaguejou. – Ginny, he, he.
Gina soltou um risinho. Ela achou graça, claro, mas ficou desapontada. Ela tinha esperanças de que ele se declarasse, mas apenas sentou-se ao lado de Hermione e sussurrou:
-Muito bem, garota. Esse silêncio já está me dando raiva.
-O que você quer que eu fale? – Perguntou a Mione, tirando os olhos do livro e arregalando-os para a Gina.
-Se você não sabe, como quer que eu saiba? – Disse, abrindo um sorriso um tanto quanto irônico. A Gina sabe irritar a Mione às vezes. Mas é pra isso que as amigas servem. Não, não pra irritar a outra, mas sim pra abrir os olhos da outra.
Gina, sentindo-se um tremendo de um cupido, também virou-se pro Ron e disse:
-Olha só, maninho querido, se você não falar com a Mione AGORA, eu transformo você em um sapo.
-Mas... Mas... – Disse, fazendo uma careta de como se dissesse: “olha-minha-carinha-fofa-e-faz-isso-pra-mim”. Ou algo do tipo.
-Esse seu ‘mas’ não funciona comigo, garoto. Vai. – Disse, fazendo um pequeno gesto com a cabeça e deixando a voz um pouco mais doce.
Rony olhou pra Harry, esperando uma palavra de incentivo, mas o dito cujo estava ocupado demais apreciando a Gina. Ele era, decididamente, louquinho por ela.


-Mione? Posso falar com você um segundinho? – Perguntou o Rony a Hermione, cutucando-a depois de se levantar.
-Falar o quê, Ron? – Perguntou ela, na esperança de ouvir o que queria.
-Eu... Eu... Venha cá, Mione, por favor.
Ela o seguiu pelo longo e estreito corredor que dava no pátio. Ron sentou-se atrás de um grosso e robusto carvalho, e ficou olhando para o nada.
Pedir desculpas ele até pedia, mas não enfrentaria o seu olhar. Não, nem pensar.
-Olha, eu... eu... ta bom, desculpa! Desculpa. Eu sou um idiota... você não merece, Mione.
Ela sorriu. Ela ficou feliz por ele pedir desculpa. Quem não fica?
-Claro que perdôo, Ron. Como ficar de mal com você? – Disse ela, rápido e baixo.
Ele corou.
Os dois estavam tão pertos um do outro, ouviam-se seus corações batendo, apressados. Seus rostos ficaram mais pertos, e mais, mais. Ela fechou os olhos, ele tremeu.
Teria sido um beijo tão lindo, se não tivessem ouvido um risinho abafado de trás da árvore. Hermione abriu os olhos e se afastou.
Era a Gina. E o Harry. De mãos dadas. Isso mesmo, você não leu errado. De mãos dadas.
-O quê... – Gaguejou o Rony.
-Quando... - Dessa vez foi Hermione.
Os dois ficaram sem graça e logo largaram à mão do outro.
-Ah, não é nada, não. –Falou o Harry, fazendo uma careta sem jeito. Gina sorriu e mordeu o lábio.
-Ah. O quê? – Disse o Ron. Um silêncio se passou. – Harry, se você não cuidar bem da minha irmã, eu... Eu...
-Ta, ta. Mas, não tem nada, sabe, aconteceeendo. E... Ei, a gente interrompeu algo? Sabe, estávamos aqui atrás e tudo o mais, só que vocês falam tão baixo.
O Ron suspirou, a Mione encarou os sapatos.
Foram para o quarto, cabisbaixos.
Não foi dessa vez.

-Ron?
-Que é Harry?
-Quem é seu melhor amigo? – Perguntou o Harry, se remexendo na cama enquanto tentava acertar o cesto de lixo com uma bolinha de papel.
-Que pergunta idiota – Disse o Ron, botando a língua pra fora – Você, é lógico.
-Então você confia em mim. Certo? – Perguntou o Harry, inseguro. Estava cheio de perguntas.
-É, Harry. Confio. Por que, hein? – Ron levantou os olhos do livro. Estava cansado de perguntas, só queria estudar. Ou ficar com a Mione, obviamente.
-É que – Ele já tinha se cansado de tentar acertar a cesta com a bolinha. Recorreu à magia, então – você ainda não me contou o que estava acontecendo entre você e a Hermione antes de eu e a Ginny chegarmos...
-Nada, Harry. Nada. Não aconteceu nada, nem nunca vai acontecer. Ela não quer. Que aconteça, quero dizer. – O Rony suspirou.
-Então... Então você quer, não quer? – Ele estava insinuante demais para o Ron.
Ele não disse nada, apenas suspirou mais uma vez. Não tinha o que dizer. Harry sabia muito bem a resposta.
Ron abriu a boca para dizer algo, mas nesse instante Neville entrou no quarto.
-Desculpa. Vocês viram meu sapo? – Perguntou ele, com os olhos inchados, como se tivesse chorado muito a procura do sapo.
Harry riu. Ron perguntou, afirmando. Não era exatamente uma pergunta.
-Ele vive sumindo, não é?
Não comentaram mais sobre o assunto de Hermione. Não dava para o Ron. E o Harry não precisava fazer mais perguntas sobre isso.
Ele sabia muito bem a resposta de todas.
Menos das suas próprias perguntas.

-Muito bem, crianças. Vocês, como são alunos do quinto ano, terão direito a comparecer ao Baile de Natal. Já devem saber as regras: o quinto, o sexto e o sétimo ano estarão lá. Todos deverão levar um par e, se quiserem, o seu acompanhante pode ser de uma série mais baixa – Anunciou a Profª. MacGonagall, durante a sua aula.
Houve uma muvuca, todos conversando ecitados. Simas chegou de fininho por trás do Rony e do Harry, e perguntou de uma forma que a Hermione não pudesse ouvir:
-E aí? Já sabem quem vão levar?
-Sabe quem eu acho que você deveria chamar, Rony? – Perguntou Dino Thomas, insinuante, debruçando-se na carteira de Harry.
-Hã, quem? – Não foi por mal, mas o Rony olhou para a Mione. Era incontrolável, ele só olhava para ela, até nas horas mais inconvenientes.
-Isso mesmo, menino esperto... – O Dino deu uma risadinha – Eu acho que vou com a Anna, da Lufa-Lufa. Ela é uma gracinha...
-Cai na real, Dino. Ela gosta do Ernesto... Já a Lilá, ah, a Lilá; ela é caidinha por mim...
-Vai sonhando Simas, querido. Não sou caidinha por você! – Gritou a Lilá do outro lado da sala, que ouviu a conversa dos meninos, apesar de estar conversando com a Mione e com a Parvati.
-Mas vai ao baile comigo, não vai?
-Er... Ta. – A Lilá deu um risinho. Ela era sim, caidinha pelo Simas...
Mas o Harry não tinha a menor idéia. Parte dele pensava que não era nada, mas a outra parte achava a Gina uma menina linda.
O mesmo valia pro Rony. Ele sabia, no fundo, no fundo, ele sabia. Sabia que, desde que cresceu mais um pouco, começou a achar a Mione muito mais bonita, muito mais legal e... Diferente, pra ele. Mas ela era sua amiga. Puxa, ela era sua amiga, das melhores.
-Eu não sei... Talvez eu fale com a Cho... – Disse o Harry. Rony olhou pra sua cara, incrédulo.
-O quê? Eu pensei que... Mas eu pensei que... – Ele murmurou – Esquece.
Bateu o horário do almoço, o Harry pegou seus livros, sua mochila, e suspirou pro Rony:
-Eu também pensei. – Saiu andando, devagar, pensando na vida, sem esperar pelo Rony, ou pela Mione. Encontrou com eles no salão principal, quando estava com a boca cheia de carne de porco. Rony sentou do seu lado direito e Hermione do esquerdo; não paravam de falar.
Bom, eles tinham prometido esquecer da briga anterior, mas era meio difícil, devo dizer impossível.
A discussão começou mais cedo do que Harry esperava.
-Já convidou o Krum, Mione? – Perguntou o Rony, sarcástico, enquanto se servia de bolo de carne.
-Muito engraçadinho, mas não fui eu que fui ao baile com uma pessoa que nem conhecia. – Rebateu a Hermione.
-Pelo menos ela falava a nossa língua.
-Pelo menos o Krum gostava de mim, e admitia.
-Pelo menos... O que você quer dizer com isso, Mione? – Ele fez uma careta, e a Gina, que estava sentada na frente do Harry deu uma risadinha e olhou insinuante para ele. Pro Harry, quero dizer.
-Quero dizer que você é um idiota! – Berrou a garota, olhos quase lacrimejando.
-Mione... Por que eu seria idiota? Eu sou um ótimo – ‘Não’, pensou o Harry. ‘Não’, ela ficava repetindo na cabeça. Daria tudo para que o Rony não dissesse ‘aquilo’; ele não podia dizer ‘aquilo’ – amigo – Ele disse.
Harry abaixou a cabeça, Gina engoliu em seco e mordeu os lábios. O garoto acompanhou seu olhar e ela corou.
-É – Mione levantou-se de repente, fazendo Neville levantar as sobrancelhas e tossir – É, você é um ótimo amigo – E saiu depressa do salão.
Rony abriu a boca pra gritar em resposta, mas Harry pisou no seu pé.
-Cala a boca, Ronald Weasley. A situação já está bem ruim assim. – Gina se levantou também, e foi correndo falar com a amiga, que correu em direção ao gramado da frente do castelo.
Rony suspirou, olhou para o nada e começou a comer; ele sabia que era um idiota, ele sabia perfeitamente.
Fred e Jorge, agora do sétimo ano, chegaram de fininho e deram palmadinhas no braço do irmão, quando Jorge suspirou, sorrindo:
-Mano, você ta ferrado.

-Mione, esquece, ta? Todos os meninos, sem exceção, são idiotas.
Harry olhou pra Gina fazendo uma careta.
-É isso aí. Todos são. Não tente entendê-los... – Gina sentou no grande carvalho do parque, tentando consolar a Hermione, enquanto Harry ficava ali, em pé, com as mãos no bolso, pensando na frase da Gina, e na vida em geral. Até que ele quebrou o silêncio e disse:
-Eu acho que ele gosta de você, Mione. Ele sempre foge desse assunto, amor, sabe?
-Conheço alguém igualzinho... – Era o Rony, que chegava por trás do carvalho, andando bem devagar – Posso falar com você? Por favor?
Ela sorriu.
-Claro... Gente.
-Oh, sim! Vem, Harry...
-Mas eu...
-Vem, Harry – E arrastou o garoto até perdê-los de vista, mãos se tocando, coração na garganta. Não tanto quanto o de Rony ou de Hermione, claro.
-Então. – Ele jogou-se ao lado dela, enquanto a suave brisa despenteava seus cabelos. Rony podia nem se dar conta, mas tornara-se muito bonito. Ela riu um pouco triste, e ajeitou uma mecha que teimava em passar pela sua testa.
-Então...
-Mione, é meio estranho dizer isso novamente em um período de menos de duas semanas, mas... Me perdoa? – Ele passou a mão pelo cabelo, nervoso. Cerrou a outra, em meio à grama e orvalho. Mione não ficou tão feliz com as desculpas como havia ficado com a outra, e respondeu:
-Eu também errei, Rony. É só que às vezes eu me estresso, só isso.
-Bom... – Ele chegou o rosto mais perto do da Hermione. Ela contraiu os lábios, insegura; ele notou, e somente abraçou-a.
A garota parou de tremer e o abraçou também, sorrindo.
-Tem par pro baile? – Perguntou Rony, em meio ao abraço.
-Er, não. Você tem?
-Se você disser ‘sim, Rony, meu melhor amigo de todo o sempre, eu vou com você ao baile’... Aí eu tenho um par – De onde ele tirou tanta coragem é que ele nunca soube...
-Se você esquecer a parte do ‘melhor amigo de todo o sempre’, você já tem um par.
-Feito!
Ela sorriu, abraçando o Rony cada vez mais forte, com os lábios firmes, distanciando a cabeça do ombro dele, sem largá-lo. Ele estremeceu, pousou suas mãos na cintura da Mione, quando...
Eles se largaram. Era Draco, com a Pansy, que chegaram se agarrando por trás do carvalho. A menina com cabelos castanhos penetrantes, agora despenteados, limpou a boca quando avistou os garotos a palmos de distâncias um do outro.
Draco limpou a boa inchada também, olhou mais atentamente para aquelas caras espantadas e riu.
-Ora, ora, ora. Que belo casal. A sangue-ruim com o pobretão.
-Acorda. Não somos nós que estamos nos agarrando e cambaleando com as bocas inchadas pelo colégio.
Pansy ficou ligeiramente desconcertada, mas logo melhorou e gritou, desencostando da árvore.
-Cala a boca, sardento! Vai, fica com a Srta. Sabe-Tudo. – Draco riu, virou-se para a Pansy e disse meio que em um tom sarcástico:
-Eu amo você.
-Eu sei.

Os instantes depois do acontecimento custaram a passar, e Rony estava muito apreensivo, não só porque perdeu a chance de beijar a Mione, mas como vinha notando que a Gina andava muito triste ultimamente.
-Gina? Você ta bem? – Perguntou o Harry, medindo as palavras.
-É, você anda meio estranha – Continuou o Rony.
-Eu to ótima – Voltou a ler o livro, com um olhar vago. Harry duvidava que ela estivesse mesmo lendo alguma coisa.
-Que bom, então vou me deitar, já passa das oito, veja só. Boa noite – E Rony saiu deslizando triste pela sala, mais estranho que a própria Gina.
Harry foi andando na ponta dos pés e se largou no sofá, junto a Gina. Ela olhou pra ele, assustada, abaixando o livro. Estavam realmente muito próximos um do outro.
-O que você tem, Ginny? Pode falar comigo, você sabe. – Cauteloso, porém sutil.
A barriga dos dois inchava e murchava em uma velocidade impressionante, já que seus corações estavam a mil. Harry sabia que era a hora, Gina também sabia, mas não ali; não ali, com toda aquela gente.
-Eu... Não dá pra ser agora, Harry. E eu me sinto mal por isso, entende? – Ela afundou no sofá até cair no chão, sentada e agarrando as pernas.
Harry deixou-se cair também.
-Na verdade, eu não entendo.
-Quer saber? Nem eu – Ela agarrou a mão do garoto e lhe roubou um beijo, tal retribuído. Harry ouviu os ‘oohs’ do Simas, do Dino Thomas, do Fred, do Jorge e do Lino Jordan.
Gina levantou e correu para o dormitório das meninas, olhando apenas uma vez para Harry, que continuava lá, parado, murmurando ‘uau’ pra si próprio.
-Boa escolha, Harry, ela é uma gata! – Falou o Dino, pouco antes de receber um beliscão do Jorge.
-Danadinho, danadinho... Se tratar mal a Gina eu te transformo num porco-espinho.
Disse o Fred, rindo. Harry estava extasiado demais pra falar algo que prestasse, então só disse:
-Vou me deitar...
-O quê? Qual é, Harry! São oito e vinte! Você ta quase pior que o Rony! – Berrou o Simas. E ele estava certo, essa era a pior parte.
-Mas eu... Eu já vou. Boa noite.
E antes que os amigos pudessem dizer alguma coisa – qualquer coisa -, Harry já estava trilhando o caminho do corredor de volta ao seu quarto.

-Rony?
-O quê? – Ele estava jogado na cama lendo pela vigésima vez o mais novo livro dos Cannons.
-Eu posso te fazer uma pergunta? – Harry tentava ser o mais cauteloso possível, não podia falar demais, não mesmo.
-Manda ver. – Rony jogou o livro na prateleira, e sentou-se curioso – Mas não, eu não beijei a Mione; não, eu não gosto da Mione; não eu não...
-Calma, Rony, não é nada disso, amigo. É que, bom... Como posso dizer?
-Harry! Se tiver algo pra falar, fala logo! – Agora ele o fitava com os olhos.
-Certo, coloquemos as coisas dessa maneira, então: você sabe onde a sua irmã aprendeu a beijar tão bem? – Harry se encolheu na cama o máximo que pôde.
-Ah... O QUÊ???
-Oh, lembre-se que eu sou seu amigo, lembre-se que eu sou seu amigo... – Ele agradeceu o fato de ainda estar de roupa e também de ser oito e meia da noite, por isso poderia andar livremente pelo colégio. Mas ele se lamentou pelo Rony ainda estar de roupa também...
Saiu correndo, Rony na sua cola, murmurou ‘pedras brilhantes’ para a Mulher Gorda. Ouviu também o Simas comentar, rindo: “Ele já deve ter contado ao Rony sobre o beijo...”.
Quando eles já avistavam a Lula-Gigante ao longe, Harry gritou ‘trégua’, e Rony aceitou.
-Muito bem. Harry, o que foi que aconteceu? – Perguntou Rony, ainda com os punhos cerrados.
-Rolou... Eu tava conversando com ela e quando eu vi, ela estava me beijando. ELA estava me beijando.
-Como se você não tivesse retribuído. – Disse, secamente.
-Bom... – Harry sentiu-se total e completamente desconcertado. Mas aí a Gina chegou:
-Oi maninho. Oi... Harry. – Ela hesitou um pouco, estava tão confusa.
-Olá, Ginny...
-Gina! Gina, ta legal? O nome dela é G-I-N-A! – Berrou o Rony, impaciente.
-Você é tão careta, Ron. Por que você não entende que eu amo o Harry? – Rebateu a Gina, sem sequer se dar conta de que realmente disse o que achou que disse.
-Por que não entende o quê??! – Murmuraram os dois garotos, queixos no chão.
Ela desviou o olhar e corou.
-Nada.
-Não, Ginny. É que eu... Eu meio que sinto o mesmo... – Harry sentiu uma vontade incrível de encarar os sapatos naquele momento. Os dois coraram, ele pegou a mão dela e disse, sublinhando as palavras – Eu amo você.
Ela sorriu contente e envergonhada. Harry corou ainda mais e a Gina apertou sua mão com força.
Ron sorriu. Um sorriso sincero e disse:
-Eu fico feliz por vocês, mesmo. Hã, com licença. – E ele saiu, deixando os dois sozinhos com o luar e com dois alunos da Corvinal que se beijavam atrás das Abóboras do Hagrid. Mas Harry e Gina não se importavam. Pela primeira vez na vida deles, tanto fazia se o mundo inteiro estava ali; eles só queriam ficar juntos.

-Então eles estão juntos? Nossa, que empolgante! – Comentou Hermione, quando encontrou o Rony no salão comunal da Grifinória.
Ron lançou-lhe um olhar seco.
-O quê? É o que eu penso! – Continuou ela, sorridente – Nem sinal deles, né?
-O Harry ainda dormia que nem pedra quando eu me levantei. Suponho que tenha ido dormir tarde, já que, ah, você sabe, estava com a Gina – Ele estremeceu. Apesar de ser legal, de ser simpático e todo o resto, ainda era muito ciumento, o Rony.
Durante o sábado inteiro Gina e Harry trocaram sorrisinhos e olhares misteriosos, o que estava deixando o Ron maluco.
-Rony, cara, se acalma – Falou o Harry, enquanto colhia uma maçã e a oferecia a Gina – Eu sou legal!
-Tenho minhas dúvidas disso.
-Rony, Rony, Rony. Vamos dar um passeio? Ar fresco lhe fará bem – Falou Hermione, praticamente arrastando o garoto do pátio até o outro lado do tal.
-Não, eu já te saquei garota, mas não vou deixar esse aí com minha irmã, sabendo como ELES são, não é, dona Gina?
-Não adianta Rony. Você vem sim – Quando ela pegou em sua mão, o mundo do Rony parou. ‘Mas e daí se a Gina e o Harry estão juntos? A Mione ta segurando minha mão!’, pensou ele. Então foi muito fácil arrastá-lo dali.
Quando já estavam consideravelmente longes, Gina virou pro Harry, vermelha, e perguntou baixinho:
-Noite passada, er, você falou sério, Harry?
-Aham. Você falou? – Ele estava sério, olhando o lago. Sua mão foi passeando até encontrar a da Gina. Ela tremeu alegre e ao mesmo tempo, nervosa.
-Eu não queria dizer daquele jeito, pareci uma idiota e...
-Você nunca é idiota, Ginny. Pelo contrário, você é perfeita.
Ela corou ainda mais, mas sabia que aquele momento não era de se jogar fora.
Eles se beijaram. O Draco viu e zoou, mas o Harry não se importou. Levantou uma sobrancelha, abriu um olho para ele, mas não parou o beijo. Cho Chang passou, ele viu, mas não significou nada para ele, ele não parou o beijo. Ele viu a Edwiges piando feito uma louca, mas mais uma vez ele não parou o beijo.
Nada, nem ninguém os interromperiam.

-Dois dias para o baile, você tem par dessa vez, Harry? – Perguntou Parvati, em meio a risinhos. Mas antes que o próprio Harry pudesse responder, Simas falou:
-Se ele tem par? Ah, você perdeu, Parvati; o Harry e a Gina, aquela ruivinha bonitinha do quarto ano, se agarrando na sala comunal. Ela que deu em cima dele, tudo bem, mas o Harry pegou, viu? E ainda ta pegando que eu vi lá no carvalho, hein, senhor Harry? He! He!
Harry afundou na cadeira e amou quando o professor Filtwick chegou. ‘Graças a Deus’, pensou ele, ‘que o Rony não estava na hora’. O resto da quarta-feira foi com o Dino, com o Simas, com os gêmeos e com o Lino Jordan dizendo: ‘pegador’!
Harry morria de vergonha de ‘pegar’ uma menina. Ele amava a Gina, simplesmente. Mas ninguém entendia isso, nem seu melhor amigo. Rony ainda não se acostumara com o fato do Harry estar namorando a Gina.
-Oi, Ginny – Falou o Harry, quando a encontrou no corredor, ao fim das aulas.
-Harry! – Ela o beijou, o que o surpreendeu. Até então ela não gostava de demonstrações públicas de afeto.
O beijo foi tão intenso que fez o professor Snape, que passava, dizer:
-Se continuarem assim, Potter e Weasley, vão ser quinze pontos a menos para a Grifinória.
Mas isso só fez parar o beijo por um breve instante. Quando o professor desapareceu pelo corredor mal iluminado, o Harry puxou a Gina e eles cambalearam entre beijos e suspiros até o salão principal, onde estavam servindo o jantar.
Eles só pararam o beijo para rir, quando uma menininha do segundo ano falou pro Harry:
-Harry, você é tão maravilhoso, quer se casar comigo?
Ela falava sério.
-(Ufs) Chega (aair) Harry! O Rony pode ver... – Disse, empurrando-o para longe dela.
-Nem fale isso, Ginny! Ele me esfolaria. – Comentou, limpando os lábios com as costas das mãos.
-Não, limpa direito – ela passou o dedo indicador pelo lábio do Harry, que estremeceu – A gente veio, ahn, conversando, ta?
-Claro.
-Ei – Disse, puxando-o novamente contra o corpo e dando um breve beijo nele.
-Você ainda vai me amar amanhã? –Perguntou a garota, sorrindo triste e esperançosa.
-Para sempre, babe.

-Hermione, eu to tão nervosa. Eu quero ir perfeita... – Disse, jogando roupas e mais roupas na cama, procurando uma maravilhosa. Implicara com seu vestido, mas havia caído perfeitamente nela.
-Não se preocupe, Gina. Harry não vai se importar com a sua roupa, pra ele você é perfeita de qualquer jeito.
Ela abriu um largo sorriso.
-Sério mesmo. Mas o problema agora sou eu, né, Gina? O Rony não me vê perfeita – Ele nem me vê, pensou a garota -, então tenho que ir linda.
-Ah, Mione, eu tenho a absoluta certeza de que ele te vê maravilhosamente linda. Meu Deus, vocês são tão bobinhos...
A Hermione levantou-se da penteadeira para encarar a Gina mais de perto.
-Bobinhos? Por quê? – Gina suspirou, como se a resposta dessa pergunta fosse muito óbvia.
-Só vocês não percebem... – Ela não conseguiu conter uma risadinha, Hermione se enfureceu.
-Dá pra você ser mais clara, por favor?
-Você sabe muito bem que gosta dele e... Psiu. Me deixa falar. E está mais do que na cara de que ele também gosta de você. Por acaso, só uma pergunta, por que você acha que, desde sexta de manhã, ele anda tão tristinho?
-Hã – Ela tentava pensar num motivo convincente – Porque você e Harry estão juntos?
-Acorda, Mione! Isso foi à noite! Ele ta assim porque não conseguiu te beijar!
Ela ficou mais vermelha que um pimentão, murmurou palavras que saiam com ‘ahejekrhej’ e coisas do tipo, até que finalmente conseguiu falar coisa com coisa.
-Nunca ouvi tanta asneira. Vou... Vou arrumar o meu cabelo, só faltam trinta minutos.
E saiu apressada de perto da Gina. Ela sabia que era verdade e gostava disso, mas não tinha coragem de admitir.

-Você combinou de se encontrar com a Mione onde, Ron?
-No salão principal, Harry. Será que ela vai demorar?
-Acredito que não e... Gina... Uau.
Ela mordeu o lábio inferior, acabara de chegar. Se conteu em não beijar o harry, já que o Ron estava ali, só pegou na sua mão. Estava linda.
-Ta linda, maninha. Cadê a Mione? – Ron olhava excitado pela sala comunal, na esperança de encontrá-la.
-Ela já vem, disse que te encontra no salão. Vamos?
-Claro, Ginny. Vamos – Sussurrou o Harry, puxando-a para perto dele, apertando sua mão.
Ela olhava para ele extasiada, ele também estava lindo, com seu terno verde-rulê. Ela, com seu vestido preto comprido, fazia um contraste perfeito com o Harry, que apertava a sua mão bem perto dele.
-E vocês, sem beijinhos junto de mim, por favor. – Anunciou Ron, enojado com os olhares misteriosos – Vamos logo, sim?

Quando chegaram ao salão, tocava uma música agitada das Esquisitonas e vários alunos dançavam. Gina logo puxou o Harry e ele cambaleou até a pista. Ron se sentou em um banquinho de pedra ao fundo. Várias garotas que passaram por ele cochicharam, como se estivessem com pena do pobre garoto sem par.
Mas não demorou muito para o Rony ver alguns garotos que estavam próximos à porta olharem para ela, sem saberem o que dizer.
Ron notou. Ele logo notou quem estava ali e se levantou num pulo.
-Mione! – Falou, murmurando um ‘uau’ para dentro.
-Desculpe a demora, Ron, eu... – Ela foi interrompida pelo garoto.
-Sem problema!
Estavam tão nervosos; pararam para conversar um pouco com a Lilá e com o Simas.
Os quatro estavam bem nervosos mesmo. Não sabiam se tocavam nas mãos, não sabiam o que falar. Até que começou a tocar uma música lenta. Simas se apressou a puxar Lilá e se juntaram a Dino e Anna, a Harry e Gina, a Parvati e um garoto da Corvinal.
Ron até pode jurar que viu Draco sorrir – Não um sorriso sarcástico – enquanto conduzia a Pansy Parkinson pelo salão.
Não demorou a Hermione e a Rony, envergonhados, caminharem até a pista. De canto de olho, Ron viu Harry olhar a Gina de um jeito tão sincero que ele até sorriu. Hermione notou e comentou:
-Eles se amam mesmo, Ron...
-É – Sussurrou, deslocando o olhar até a Mione e parando de sorrir – Mas ele só pensa nela e vice versa. Ah, todo mundo sempre vai embora...
-Bom – Mione corou e desviou o olhar – Eu ainda estou aqui...
-Ainda.
-Eu... – Murmurou a garota, corando ainda mais – Talvez eu não queira ir...
-Ah... Espera, o quê?
Ela só mordeu os lábios, não disse nada, mas foi como se tivesse dito tudo.
Ron apertou sua cintura, Mione enroscou seus braços delicadamente no pescoço do garoto. Um já podia sentir o coração batendo apressado no peito do outro. Eles se aproximaram um pouquinho mais, ela contraiu os lábios, muito nervosa, ele fechou os olhos. E daí que tinha toda aquela gente? Eles se beijaram, e dessa vez ninguém interrompeu.





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