Acerto de contas
Acerto de contas
Um adolescente de olhos verdes e uma cicatriz em sua testa olhava para o teto, procurando fugir de seus próprios pensamentos. Harry Potter não queria pensar. Iria lembrar da morte de Dumbledore. E isso doía, doía muito. Mais um morreu para protegê-lo.
Gina Weasley. Ela não poderia morrer por causa dele. A missão é somente sua, pensava Harry. Hermione e Rony também não poderiam correr tantos riscos por sua causa. Ele tinha de partir sozinho para terminar com o reinado de Lord Voldemort. Não podia colocar ninguém em risco.
- Essa missão é minha. Não posso envolver mais ninguém. – disse Harry em tom de promessa.
Harry estava na casa dos Dursley, seus tios que o odiavam. Somente permanecia naquele inferno porque prometera a Dumbledore. Se não, teria partido desde que chegou naquela casa há quase dois meses.
Os tios de Harry reclamaram muito quando Harry apareceu um mês antes na Rua dos Alfeneiros, número quatro. Eles nunca entendiam. Já teve até de pintar a casa! Mas o trabalho era bom, pois distraia Harry da sua missão: caçar os Horcruxes restantes e derrotar Voldemort.
Sobre a escrivaninha de Harry, estava um monte de papéis diversos, principalmente o Profeta Diário. As notícias não eram nada animadoras. Voldemort intensificara os ataques às comunidades trouxas e também bruxas. Uma repórter que esteve presente num dos ataques e conseguiu sobreviver relatou que Voldemort bradava aos quatro cantos “Com Dumbledore fora do caminho, ninguém terá coragem de me enfrentar”.
Também sobre a escrivaninha estava o colar que debilitou Dumbledore. Alguém pegou aquela Horcrux e Harry ainda não descobriu quem foi. Também sobre a cabeceira havia uma carta oficial do Ministério da Magia comunicando a todos os alunos que Hogwarts estaria fechada enquanto Voldemort não fosse contido.
Os aurores até que tentavam reprimir as forças de Voldemort, mas parece que o exército do Lord estava se fortalecendo cada vez mais. Magias estranhas e inéditas.
Nisso, passos apressados e duros chegam à porta de Harry e adentram no quarto escandalosamente. Era somente o tio Valter que para variar veio incomodar a Harry.
- Moleque inútil, desça logo para jantar. – bradou o Dursley.
- Já estou descendo.
Harry saíra somente poucas vezes. E todas as vezes ia para a casa da Sra. Figg. Somente ele e a gentil senhora sabiam o que ele estava planejando. Harry desceu para a cozinha, onde o jantar o esperava. Tia Petúnia tinha cada vez mais aquela cara de cavalo. Tio Valter estava bem mais gordo e Duda, o filho rolha-de-poço dos Dursley, estava mais gordo e mais feio. Os dois homens devoravam o bolo de carne com batatas como se a vida deles dependesse disso. Harry serviu-se sobre o olhar inquisidor de sua “adorada” tia.
Comeu calado, mesmo ouvindo as provocações dos Dursley.
- Duda, meu querido filho, você está saindo igual a mim. Um dia será um grande lutador, e quem sabe, até famoso. Não como esse traste aí... Nem deve ser conhecido pela gente da laia dele. – provocou o Tio Valter.
- Com certeza! Esse deve ser o maior e mais incompetente do mundo dele. Teve um padrinho marginal até! – zombou Duda.
Harry continuava a comer calado enquanto ouvia todas as baboseiras que aqueles dois falavam. Tia Petúnia estava observando muito. Harry não entendia o porquê. Parece que sabia que algo estava para acontecer. Terminou o jantar, lavou o seu prato e subiu ao seu quarto. Guardava todas as coisas que tinha em seu malão. Trancou Edwiges, sua coruja, na gaiola. Pegou o livro de fotos que ganhou de Hagrid em seu primeiro ano em Hogwarts. Viu seus pais felizes e junto dele. Teriam sido uma ótima família. Seria amado, não teria essa horrível fama, o terrível fardo do menino que sobreviveu. Colocou o álbum no malão. Viu também a carta do Ministério que o convocava para o teste de aparatação, que ocorreria amanhã, trinta e um de julho às dez horas no Ministério. Todas as roupas velhas do Duda que tinha, deixou-as no armário. Nunca mais usaria aqueles trapos.
Estava decidido a mudar radicalmente de vida. E esta era a hora. Na realidade, nove horas da noite do dia trinta de julho. Harry desceu as escadas apressado e encontrou os Dursley em frente à televisão. Tio Valter reclamando do ministro bretão. Tia Petúnia tricotava algo e Duda roncava feito um porco estirado no outro sofá.
Harry trouxe o seu malão até a sala. Tia Petúnia o observou, não largando de seu tricô. Harry posicionou-se em frente à televisão e desligou-a. A têmpora de Valter Dursley não ficou vermelha, mas escarlate. Harry firme e decidido continuava parado em frente à televisão.
- Ligue essa televisão agora! – berrou Valter – Liga agora, seu inútil, anormal, traste.
- Não. Eu fiquei muito calado durante esses anos todos. Tive de suportar vocês durante dezessete anos. Agora é a vez de ficarem calados e me ouvirem. – disse um Harry impositivo.
- Traste atrevido. Você vai ver agora! – berrou novamente Valter que fez menção de levantar-se.
- Vamos ouvir o que ele tem para dizer, querido. – intercedeu Petúnia – E fale logo, seu anormal.
- Durante esses anos que eu estive em Hogwarts, muitos fatos ocorreram que eu nunca quis relatar a vocês, pois não merecem, mas para eu conseguir concluir, devo começar pelo começo. Quando cheguei aqui com um ano, meus pais haviam sido mortos pelo mais terrível bruxo das Trevas existente na época: Lord Voldemort. – nisso Petúnia Dursley arrepiou-se – Ele matou os meus pais, e ao tentar me matar, algo muito estranho aconteceu: o feitiço mortal virou-se para ele e ele perdeu seu corpo, por assim dizer, e eu ganhei alguma das habilidades dele e essa cicatriz.
- Eu não sabia que era um bruxo – continuou Harry apontando seu dedo para os tios - e vocês fizeram questão de ocultar esse pequeno detalhe. Quando parti com Hagrid, naquele aniversário de onze anos, descobri um mundo novo, onde eu tinha certeza de que era meu lugar. Logo que cheguei à rua comercial de bruxos, todos eles me conheciam. Ao chegar ao meu cofre no banco bruxo Gringotes, descobri que eu tenho muito dinheiro. Tanto é que vocês nunca desembolsaram um centavo comigo. Nesse ano conheci meus amigos e tive de enfrentar a forma de Voldemort e impedi-lo de seu plano maligno para voltar à vida.
- No segundo ano, - disse Harry calmamente, como se estivesse numa aula de História da Magia - um diário deixado por esse mesmo bruxo, fez-me enfrentar uma enorme e mortal cobra, chamada basilisco, para salvar a irmã de meu colega. No terceiro ano, descobri que tinha um padrinho. No quarto ano, após ser inscrito por um aliado de Voldemort numa competição muito perigosa, consegui chegar até o troféu e de lá caí numa armadilha preparada por Voldemort para assim ressuscitar. Tudo bem que ele tem a cara de uma cobra, mas está vivo. Morreu meu colega de escola Cedricco, mas por sorte eu consegui escapar daquele local e voltei para Hogwarts.
- No meu quinto ano, - continuou Harry calmo, mas seus tios tinham os olhos cada vez mais arregalados - o Ministério tentou desacreditar a mim e a Dumbledore, pois afirmávamos que Voldemort voltara. Tanto é que tentaram me expulsar de Hogwarts utilizando aqueles dementadores que atacaram ao Duda. Bem, lá em Hogwarts, todas acreditavam que eu estava maluco e tinha uma professora, Umbridge é o nome, que conseguiu tomar o poder de Dumbledore e no fim foi deposta. Mesmo assim, tive de enfrentar a Voldemort que preparou uma armadilha para mim e resolveu atacar o Ministério. Consegui sair ileso da batalha. No sexto e último ano, Dumbledore me ensinou várias coisas interessantes e Snape, o odiado professor, traiu a confiança de Dumbledore e o matou. Também com a ajuda deste, Malfoy e de outros, os aliados de Voldemort conseguiram invadir Hogwarts. Eu não pude fazer nada. E por isso voltei mais cedo para cá.
- Muito comovente a sua história, mas o que quer com ela? – disse rispidamente tia Petúnia.
- Somente alertar para o fato de que Snape pertencia à Ordem da Fênix, uma organização feita por Dumbledore para deter Voldemort. Desde o quinto ano eles vigiam a mim sem eu saber, e com certeza Snape sabe onde nós moramos. Não se atreveu a atacar antes aqui por causa dos feitiços protetores feitos por Dumbledore. Mas esses feitiços acabam hoje à meia-noite. Com um pouco do meu dinheiro, comprei uma casa em outro ponto perto de Londres, que já está totalmente mobiliada e até com um carro novo. Vocês somente teriam de fazer as malas. Então, essa é a minha proposta: vocês desejam morar numa nova casa ou pretendem continuar aqui? Dou-lhes duas opções. Façam a sua escolha.
Harry sentou-se calmamente numa poltrona vazia e serenamente olhava para os Dursley tentando descobrir qual a melhor opção para eles. Pareciam muito assustados. Harry estava muito paciente. Não queria conviver mais com os Dursley, mas não desejava que eles morressem. Estava calmo e sereno, como Dumbledore.
- Nós – gaguejou Valter Dursley – Nós aceitamos a casa que nos oferece. Mas não acha que por isso aceitaremos gente da sua laia.
- Então arrumem as suas malas e levem somente o necessário. – disse Harry – Não se preocupem que a casa é maior e mais bonita até. Terá todos os seus brinquedinhos, Dudoquinha e um pouco de dinheiro estará lá caso precisem.
Os Dursley subiram correndo e logo desceram com algumas malas. Duda trazia duas, Petúnia uma e Valter duas. Harry colocou em cima da mesa uma pequena caixinha de música. Ela estava embrulhada em um pano.
- Segurem as malas com as mãos. Vocês viajarão para a casa nova através de magia, para não serem descobertos, muito menos seguidos. Desejo-lhes uma boa vida, e que sejam felizes. Esse é o meu adeus. Não nos veremos mais. Não guardo rancor. Podem ir em paz. Quando eu contar três, coloquem a mão sobre a caixinha. Um. Dois. Três.
Num clarão, os Dursley sumiram daquela casa. Só restava Harry nela. Harry pegou de seu bolso um pequeno recado e deixou afixado na parede da sala. Sabia que os comensais iriam aparecer logo. Pegou outro objeto embrulhado, dessa vez, um simples cristal. Eram onze e cinqüenta e cinco do dia trinta de julho. Harry segurou o seu malão e a gaiola onde estava Edwiges. Tocou na pedra com a outra mão e num clarão desapareceu daquela casa para sempre.
Naquela casa, abandonada, somente tremulava com uma pequena fresta de vento, um bilhete:
“Chegaram tarde. Ainda não é a hora de nos enfrentarmos, Tom”.
X-X
Nota do Autor(NA): Muito obrigado pelos comentários feitos. Como puderam ler, esse capítulo foi bem calmo. Antes da tempestade, sempre há a bonança! Ou algo parecido! Espero que tenham gostado. Imaginei estes dias que o capítulo seria assim, ao invés (minha idéia inicial nada original) de ter uma bela briga na rua dos Dursley. Comentários são bem vindos!
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