Frissons
Em algum lugar ouvi Madame Hooch apitar, o capitão da Sonserina havia pedido tempo. Inclinei o cabo da vassoura fazendo descer, pousando logo em frente ao vestiário, onde não chovia.
Desci da vassoura meio cambaleando. Sabe como é, quando se fica horas voando você se sente meio leve de mais quando pisa no chão. Eu estava molhada dos pés a cabeça e o uniforme grudava no meu corpo um pouco mais do que teria desejado.
A Nanda, do meu lado, estava na mesma situação e dava pra sentir os meninos olhando pra gente.
- Perderam alguma coisa? – a Nanda perguntou bem cara de pau.
Na hora eles desviaram o olhar pra qualquer lugar fingindo que nada havia acontecido.
- Certo... – o Chris pigarreou – Continuem como estão, Lara, o máximo de gols possível e Tiago, pelo amor de Merlim – ele jogou os braços pra cima – Pega esse pomo de uma vez.
Madame Hooch apitou de novo e nós levantamos vôo. Ainda chovia muito forte, mas, pelo menos o vento tinha diminuído.
Vi o Benson com a goles e fiz sinal para o Kenny. Não sei se ele entendeu o que eu falei porque na hora ele quase levou um balaço. Felizmente a Nanda roubou a goles quando o Benson foi passar a Weber.
Ela passou voando por mim e me passou a goles fazendo um sinal com a cabeça, que eu entendi perfeitamente.
Grabow e Weber vieram pra cima de mim tentando recuperar a goles. Eu poderia passar para o Kenny que estava livre, mas o Chris queria gols, então ele ia ter gols. Inclinei o cabo da vassoura para cima subindo no mínimo uns dez metros, quando as artilheiras me seguiram eu passei a goles para a Nanda que passou para o Kenny.
Benson tentou ir atrás, mas era tarde demais, o Kenny já estava na pequena área.
- GRIFINÓRIA MARCA 180 À 70!!! GOL DE ANDERSON!!!
Infelizmente Weber agiu rápido no rebote quando eu estava na metade do campo ela já estava na pequena área das nossas balizas. Chris defendeu com pés e lançou a goles para mim.
Eu fui na direção das balizas da Sonserina e a Grabow me seguiu, olhei para trás para ver quem tentava me marcar e quando olhei pra frente de novo só vi um punho vindo na minha direção.
Benson socou meu nariz! Meus olhos lacrimejaram com a dor, eu perdi um pouco de altura e deixei a goles cair. Por sorte Madame Hooch viu e apitou pênalti.
- QUE RAIOS FOI AQUILO, BENSON? – ela gritou com ele.
- Eu tentei um Faz-que-Vai da Transilvânia.
Pela dor no meu nariz ele tentou um Faz-que-Vai e FOI!
- PENALTI A FAVOR DA GRIFINÓRIA!!!
O Kenny cobrou o pênalti porque além da chuva ainda tinham lagrimas nos meus olhos e eu não estava enxergando muito bem, graças ao Faz-que-Vai malfeito do Benson.
Na real, acho que ele tinha esperança de que um soco no nariz me tirasse do jogo. Isso não da certo, claro, se você tiver levado inúmeros socos assim do seu irmão gêmeo quando era pequena.
Bom, o Kenny marcou no pênalti de modo que o placar ficou 190 à 70. O jogo recomeçou e a Nanda pegou a goles. Ela ia lançar para mim, mas o Richen lançou um balaço na minha direção de modo que eu tive que descer uns três metros para desviar e a Nanda foi obrigada a segurar a goles mais um pouco.
Agora ela estava sendo marcada e o Kenny também. Eu estava livre, mas isso não duraria, uma vez que o Sr. Faz-que-Vai estava vindo me marcar.
Foi nesse momento que o narrador gritou no microfone.
- E PARECE QUE POTTER VIU O POMO!!!
Todos pararam e olharam para o meu irmão, ele voava atrás do pomo e o apanhador da Sonserina, Joshua Allen, voava atrás dele.
- ALLEN TAMBÉM VOA ATRAS DO POMO, MAS PARECE QUE ELE ESTÁ SÓ SEGUINDO O POTTER!!
Josh estava bem atrás de Tiago e parecia achar que ele estava só tentando despistá-lo. Mas não estava. Tiago realmente tinha visto o pomo e estava quase o capturando quando o Benson resolveu voltar ao jogo e roubou a goles de mim.
Nesse momento parece que todo mundo voltou a funcionar porque a Hugs rebateu o balaço na direção de Tiago. Mas nós não íamos perder o pomo. Sirius chegou a tempo de tirar o balaço de perto do meu irmão e afastar Josh Allen o suficiente para Tiago pegar o pomo.
- POTTER PEGA O POMO!!! 150 PONTOS PARA A GRIFINÓRIA, O PLACAR FICA 240 À 70! VITÓRIA DA GRIFINÓRIAAAAAA!!!!
Nós descemos e fomos engolidos por uma multidão vermelha e dourada. Foi um caos conseguir chegar no vestiário mas depois de uns 20 minutos agradecendo e pedindo licença conseguimos.
Só tenho uma coisa a dizer. Maldito vestiário conjunto. É a desgraça das meninas jogadoras de quadribol.
Acontece que antigamente, em Hogwarts, só homens jogavam de modo que os vestiários não tem divisão, para meninos e para meninas. Portanto eu a Nanda somos obrigadas a tomar banho naqueles boxes semi abertos com umas cortininhas na frente.
Quem me garante que os meninos não vão espiar por cima da divisa do box enquanto eu enxáguo os cabelos?
Pelo menos os meninos deixam a gente tomar banho primeiro enquanto eles esperam bem longe dos chuveiros. Depois que a gente se veste eles tomam banho. Felizmente, eles parecem não se importar que a gente de uma espiada nos abdomens definidos deles quando eles desfilam pelo vestiário só com uma toalha.
- Quem roubou minha calça? – Ron gritou com os meninos enquanto eu penteava os cabelos.
- Ta aqui!! – alguém jogou uma calça na cara dele.
- Licença, Lara!
Eu me virei. Sirius estava lá, pingando água, os cabelos molhados caindo no rosto e um sorriso maroto de quem estava olhando a minha bunda.
Na hora o meu coração deu um pulo, mas eu achei que talvez fosse só pelo fato do Sirius estar só de toalha ali na minha frente exibindo todo aquele físico.
- Claro! – disse e depois corei, ainda bem que ele não viu. Estava pegando as roupas dele no armário.
Eu fiquei lá pensando. Há duas semanas eu tinha ataques de taquicardia cada vez que o Sirius olhava pra mim, sorria pra mim, falava comigo, em fim... Eu ficava o maior tempo possível perto dele, sentia um contentamento estranho quando fazia ele sorrir e ficava me imaginando beijando ele.
A minha tia Adriana tem um nome especifico para isso. Frisson. Parece que frisson é um tremor de atração intensa. Então eu conclui o que estou sentindo era uma atração intensa por ele. Talvez pelo fato, ou não, de ele estar só de toalha.
- Você ta corada. – alguém falou no meu ouvido e eu me arrepiei.
- Nanda, que susto!
- Por que? Tava fazendo algo que não devia? – ela riu com um sorrisinho safado no rosto.
- NÃO! Tava distraída. Só.
- Você teve outro, como é mesmo... Frisson?
- Não. – menti.
- Certo.
Enquanto íamos para o castelo eu pensei sobre os meus recentes frissons.
FlashBack # 1
O Sirius tava no Salão Comunal fazendo a tarefa de astrologia.
- Posso copiar o seu mapa celeste? – ele perguntou.
- Toma. – passei o pergaminho pra ele.
- Obrigado. Você é de mais!!
Ele me abraçou como ele sempre fez. Só que dessa vez eu me senti estranhamente segura e protegida. Como se nada pudesse me fazer mal.
FlashBack # 2
A gente estava fazendo o trabalho de poções no Salão Principal. Eu levantei os olhos do pergaminho e dei com os olhos azuis do Sirius.
Meu coração acelerou e eu corei baixando a cabeça rápido. Mas ele não. Eu sentia ele me observando. Até quando o Professor Slughorn bateu com a apostila de poções na cabeça dele.
FlashBack # 3
Minha pena caiu na aula de Transfiguração e eu abaixei pra pegar ao mesmo tempo em que o Sirius. Nossas mãos se tocaram e lá veio a aquela sensação de novo.
- A Nanda falou que você teve um frisson no vestiário... – minha amiga falou quando eu cheguei no dormitório me despertando dos meus devaneios.
- Ju, por favor... – eu disse corando.
- Só comentei. A propósito, todo mundo vai usar vermelho e dourado na festa. Tipo uma homenagem...
Que ótimo, eu não tinha vestido dourado nem amarelo e o meu vermelho era... Bom, o meu vermelho (escuro, vermelho-escuro antes de chegar ao bordo) era de cetim com alças de dois dedos e dava pouco acima dos joelhos. Ah, também tem um acabamento de lacinho atrás.
Eu não tinha escolha então vesti ele mesmo. Não ficou tão ruim. Eu achei que ia parecer meio oferecida nele, mas olhando no espelho....
Ele me dá um ar de glamour sexy. Nada vulgar, sexy. Mas eu ainda estava meio desconfortável.
As meninas já tinham descido porque o time sempre entrava por último no Salão Comunal. Encontrei os meninos na metade da escada. A maioria usava calça jeans e camiseta da Grifinória ou camisa pólo vermelha ou amarela. A Nanda tava com uma saia plissada curtinha preta e uma blusa vermelha.
Eu preferia ter vindo de saia e blusa, mas a maioria das meninas vinha de vestido. E além do mais tive a impressão de que aquela roupa deixava a Nanda um pouquinho (muito pouco) atirada. Não era o glamour sexy. Era só o sexy, sem o glamour.
Ai o Sirius me olhou de baixo pra cima e aconteceu de novo. Frisson. Ele ergueu as sobrancelhas mais do que achei que podia e disse um simples “Uau”.
Essas exclamações são realmente um mistério. “Uau” poderia significar “Você ta linda, por que não termina com o Dave e fica comigo?” ou “ Você parece um daquelas meninas galinhas com quem eu costumo sair pra me divertir”.
Eu arrastei o Tiago até o patamar de cima.
- Eu... Hum... Pareço atirada nesse vestido? – perguntei pra ele.
- Quê? – ele me olhou tipo “Por que ta perguntando isso pra mim?”.
- Ta, olha só. Se você fosse um menino.
Ele me lançou um olhar de censura e eu ri.
- Eu sei que você é um menino. Mas tipo... se você fosse... Sei lá o Sirius! – eu disse.
- Por que o Sirius?
- É só um exemplo!
Claro que não era só um exemplo. Eu queria saber a opinião do Tiago sobre o que o Sirius acharia da minha roupa. Se eu fosse um menino eu perguntaria para o ele “Você acha que o Sirius vai gostar da minha roupa?” mas eu sou uma menina. As meninas são sutis... Muito sutis...
- Certo.
- Se você fosse o Sirius, ou qualquer outro menino que não fosse o meu irmão... você acharia que eu pareço atirada nesse vestido?
- Sei lá... Não! – ele deu de ombros.
- Tem certeza?
- Por que está me perguntando, não tem espelho no seu quarto?
Credo, meninos tem tão pouco tato.
- É que... ai, eu não to muito a vontade...
- Você ta bonita... É isso que quer saber?
- Sim e não.
- Ah, Lara...
Entendam... no momento era muito importante saber o que Sirius ia achar da minha roupa. Mas ai eu parei e pensei “Por que é tão importante saber a opinião dele?”.
Acho que isso tinha a ver com aqueles frissons todos....
- Ta, esquece. Vamos!
Nós descemos as escadas dos dormitórios e todo mundo começou a aplaudir e gritam os nossos nomes e tal, como sempre. Mas ai eu olhei pro lado e o Sirius tava me olhando. Frisson de novo. Que raiva, essas coisas não param, o pior é que agora ele veio acompanhado por uma onda de calor e eu corei um pouco.
Depois do incidente inicial eu encontrei o meu ficante numa poltrona tomando cerveja amanteigada. E eu pensei “Ótimo, agora eu acabo com esses frissons idiotas” dois minutos depois a gente estava se amassando em um cantinho escuro do Salão Comunal.
Só que ai, entre um beijo e outro eu olhei pro lado. E foi como se um bloco de cimento tivesse caído no meu estomago e eu senti uma vontade enorme de chorar. O Sirius tava beijando uma menina do quinto ano.
Não que fosse novidade. Não que eu ligasse para as meninas que ele ficava.
- Ham... Dave... eu to meio tonta, vou ali fora um minutinho.
Eu dei uma desculpa esfarrapada pro menino e sai do Salão Comunal.
Eu nunca liguei para o que o Sirius pensava sobre mim. Eu nunca me importei por ele sair com um monte de meninas. Então por que de repente isso importava tanto?
Por que eu queria agarrar aquela menina pelos cabelos e atirar ela longe? Por que eu queria estar no lugar dela? Aquilo não era uma atração física temporária. Não podia ser só um frisson...
Eu nunca tinha me sentido assim perto Sirius. E olha que eu já me senti de várias formas perto dele. Tipo, são seis anos de convivência. Para falar a verdade eu acho que nunca me senti assim por ninguém antes...
Não, eu já senti isso sim. No primeiro ano o meu coração disparava cada vez que o monitor-chefe falava comigo. No segundo ano eu corava cada vez que o capitão do time de quadribol da Corvinal sorria pra mim.
No terceiro ano eu sentia calor e frio ao mesmo tempo quando aquele menino da Lufa-Lufa pedia meu caderno emprestado. Eu senti a mesma coisa pelo Anthony, meu namorado no quarto ano e pelo Lawrence no quinto. E eu achava que sentia isso pelo David até essa história de frisson aparecer.
Eu amo o Sirius. É a melhor conclusão a que eu cheguei. Amo. Mais do que eu amei todos esses meninos citados anteriormente. Amo de um jeito diferente do Tiago. Não é um amor fraternal. É mais do que isso... Muito mais.
E quando eu achei que tinha resolvido o meu problema de taquicardia eu dei de cara no muro. É um muro hipotético, certo?
Eu não sabia se ele sentia por mim o mesmo que eu sentia por ele. Eu me debrucei no parapeito da escada e suspirei.
- Você ta bem? – alguém perguntou atrás de mim.
- Não. Acontece que eu acabei de descobrir que o que eu sentia pelo melhor amigo do meu irmão não é um frisson, nem atração. De uns tempos pra cá eu descobri que me importo com o que ele pensa e gosto de fazer ele sorrir. Cada vez que ele me abraça eu me sinto protegida, e eu fico imaginando como seria se ele me beijasse e eu também quero agarrar aquela nojenta que ele tava beijando pelos cabelos e todo aquele calor e o frio que eu senti...
Desatei a falar sobre tudo. Tudo mesmo, tudo o que guardei pra mim mesma durante as últimas semanas. E era bem provável que a pessoa que tinha me perguntado como eu estava já tivesse ido embora, mas eu não ia parar de falar agora que tinha começado.
- E quando eu finalmente descobri que não era um frisson eu comecei a pensar que ele talvez não goste de mim como eu gosto dele e... É isso.
- Uau.
Eu escutei a pessoa falar. O mesmo “Uau” de algumas horas antes. Aquele “Uau” confuso que podia ser bom ou ruim. Meu coração acelerou como nunca antes e a sensação de frio e calor veio a toda. Eu comecei a suar e me virei para encarar o Sirius.
- Eu... O que você deve estar pensan—
Mas eu não pude terminar a frase. Não por que eu não sabia o que falar, bem... talvez eu não soubesse o que falar mesmo. Mas não foi por isso que eu não terminei, foi porque o Sirius segurou o meu rosto com a mão direita e me beijou.
E aquele beijo foi como eu sempre imaginei que seria. Me respondeu porque tantas meninas ficavam com ele mesmo sabendo que eram só um brinquedo. O Sirius beijava muito bem. E quando a gente se separou pra respirar ele olhou no fundo dos meus olhos.
Dessa vez o meu coração não pulou, eu não corei, não desviei o olhar. E ele sorriu daquele jeito lindo que só ele sabe.
- Eu só perguntei se você estava bem...
Eu acho que ele me chamou de tagarela indiretamente. Mas eu não me importo, porque na manhã seguinte todos sabiam que eu e o Sirius tínhamos ficado na noite anterior.
Agora eu era a menina mais invejada de Hogwarts. Por que além de ter um irmão lindo apanhador do time, eu namorava o menino mais lindo e cobiçado da escola que era de quebra o batedor do time.
E apesar dos olhares invejosos e dos ataques de ciúmes dirigidos a mim eu estou feliz por eu amo o Sirius e ele me ama e ninguém vai tirar isso da gente.
E se ousarem tirar, eu mato.
N/B: Hi! Eu sou a Beta da Carol e botei a fic dela na net. Leiam porque tá simplesmente muito fofa. E PELOAMORDEDEUS! COMENTEM!
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