A decisão de Hermione
Capítulo 10: A decisão de Hermione
- Hermione, você está bem? – Ela piscou três vezes, antes de responder ao amigo.
- Desculpa, Harry... Eu o perdi. – O moreno, ainda preocupado, deu-lhe um meio sorriso e a puxou um pouco para baixo, tentando protegê-la dos raios de luz que começavam a vir em suas direções.
- Não tem problema.
- É, Mione, nós ainda vamos acabar com esse desgraçado do Malfoy. – O ruivo disse e eles voltaram a lutar.
Por quê? Por que ela ainda não se lembrava do que havia acontecido antes disso? Lembrava-se de ter corrido atrás do Malfoy e então, sua mente dava um pulo até a cena aonde retirava parte da memória de Madame Pomfrey e voltava aos amigos.
Se ela se lembrasse de mais alguma coisa, poderia ter a certeza de que aquele sonho fora apenas um sonho e então, voltaria a dormir em paz. Mas não, sua cabeça latejava, ela já não dormia e tentar lembrar era o que sobrava fazer.
Alguém, do lado de fora, levou o punho à porta três vezes e a castanha teve a certeza de quem se tratava.
- Pode entrar, Luna.
- Te acordei?
- Não, eu só estava pensando. – A castanha disse, ainda deitada com a cabeça apoiada sobre os braços e a loira sentou-se ao seu lado, na beira da cama.
- Pensando em quê? – Hermione deu espaço para a amiga, que se ajeitou e pôs as mãos sobre os joelhos, observando a amiga com curiosidade.
- Nada demais. Só pensando. Em tudo, acho.
- Me desculpa pelo carro.
- Já disse que não tem problema, amanhã pegamos ele. – A loira sorriu. – Posso te perguntar uma coisa?
- Claro, Mione.
- O que te fez esquecer de trazer o carro?
Luna respirou fundo e encarou a amiga nos olhos.
- Briguei com Harry.
- Quer falar sobre isso? – A castanha levantou-se e pôde ver uma fina lágrima descer por seu rosto até chegar à boca, antes de ser abraçada.
- Não, obrigada. Obrigada, Mione. Por cuidar de mim, por me deixar aqui... Obrigada por me entender.
Hermione começou a sentir a intensidade daquela amizade. Tudo o que podiam juntas, o que podiam quando estavam abraçadas, daquele jeito. Sem contar com ninguém.
- Não precisa agradecer.
- Sim, eu preciso. – Ela não chorava. Separou-se da mulher a sua frente e se levantou. – Vamos comer fora? Eu pago.
A castanha a observou, ainda sentada na cama.
- Deixa só eu pegar o meu casaco.
Abriu os olhos pela décima vez. Não, não era possível. Era só um sonho e iria logo, logo acordar. Era o que pensara e voltara a fechar os olhos, em vão. Esperou mais um pouco, tentou pensar em carneiros pulando a cerca.
Carneiros pulando cercas? Os trouxas eram realmente estranhos. Desde quando, contar carneiros ia ajudá-lo a dormir? Desde quando, contar carneiros ajudava em alguma coisa? E por que, raios, drogas de carneiros?
Pelo menos, estava pensando em algo diferente à conversa com aquela sangue-ruim. Passou as mãos no cabelo, nervosamente, piscou os olhos diversas vezes, sentou-se e pegou a varinha na cômoda de madeira rústica ao seu lado, começando a fazer pequenos feitiços para desviar seus pensamentos.
Quando ficara ainda mais entediado, pegou um pedaço de pergaminho e uma pena negra, ambas em sua cômoda, e escreveu um pequeno bilhete. Chamou sua coruja, assoviando para a varanda do apart-hotel. O vulto negro entrou trazendo uma rajada de vento e pousando nos lençóis cor de vinho.
Draco acariciou o bico do animal, antes de entregar-lhe a carta e mandá-la entregar para o destinatário. Esperava ter sua resposta na manhã do dia seguinte. Iria acabar com aquele tédio, de uma vez por todas.
Seus pensamentos demoraram muito pouco para se voltarem aos olhos castanhos de uma mulher. A mulher a qual teria contado coisas, as quais não confiara a ninguém antes. Se sentia um pouco vulnerável. Draco Malfoy vulnerável? Ah, mas que contradição, ele pensou. Sabia que nunca deveria ter dito todas aquelas coisas a quem tinha dito, sabia que ela poderia estar simplesmente contando tudo para o Cicatriz, naquele exato momento. Tentou desviar os pensamentos mais uma vez, antes de abrir a gaveta da cômoda e pegar um vidro pequeno com um liquido meio arroxeado dentro.
Precisava pregar os olhos. Porém, mal ele sabia que talvez preferisse ficar de olhos abertos.
- A noite foi tão agradável, Hermione.
- Com certeza. Eu realmente precisava disso, obrigada, Luna. – A loira sorriu, antes de ouvir um grito histérico e um som de explosão, do outro lado da rua.
Ambas as garotas olharam depressa para a direção de onde ouviram o som e se encararam, antes de correrem para a casa completamente apagada, com as varinhas em mãos. O carro que passava quase pegou Hermione, antes dessa chegar à calçada.
O que aconteceria a seguir seria mais rápido do que elas poderiam processar. As duas abriram a porta destrancada da casa, com um empurrão e entraram o mais rápido que puderam, encontrando o corpo de uma mulher, de cabelos bem loiros, jogado no chão, segurando um bebê também sem vida.
Ouviram uma risada aguda e quando olharam de onde ela vinha, só puderam vir o sorriso cínico, os olhos vermelhos e os cabelos negros daquela que aparatara.
- Não é possível. – A voz da castanha estava falha.
- Ela não é quem eu penso que é... Ou é, Hermione?
- Parece que sim, Luna.
- Mas não seria loucura vir pra cá, sendo quem é?
- Algo digno dela. – A grifinória abaixara e tentara achar o pulso da mulher loira, já sabendo qual seria o resultado. Fez o mesmo com o bebê, antes de sair da casa.
- Mas por que ela voltaria pra cá? – E só então, Hermione percebera o motivo.
- Draco Malfoy.
“Os olhos azuis de seu pai, os olhos vermelhos de seu mestre, os olhos puros de sua mãe e os olhos castanhos que ele não quisera identificar de quem eram, embora soubesse de imediato.
As vozes, as ordens, os desejos, os pensamentos... Tudo se misturara de uma maneira que era difícil de separar. Sentiu a dor, quando ouvira a última frase de sua mãe e pode se lembrar da última cena feliz que tivera, até tudo ficar escuro e o vermelho-sangue tomar contar do que lhe restara.
Os choros, as risadas, o desespero e a marca que ardia em seu braço. O brilho no olhar da primeira pessoa que salvara. E a vontade de voltar no tempo pra poder ver aquele brilho de novo. A motivação para ir contra todos os princípios que foram postos a ele.
A primeira vez que correra riscos de verdade, pelo que acreditava realmente. A primeira vez que vira o orgulho de alguém nos olhos. E a vez que o orgulho nos olhos de outro se perdeu.
Os gritos foram outra vez ouvidos, as ordens novamente ignoradas, a vontade mais uma vez jogada no lixo. E depois limpada, polida e restaurada. Quando tudo se iluminou, não novamente, mas como nunca tinha sido iluminado.
A luz que restaurara tudo, mas que também botara mais risco na vida dele. Talvez fosse bom correr risco, talvez não fosse tão ruim querer salvar vidas. A motivação voltara a percorrer suas veias, sujando seu sangue e apagando sua tatuagem.
Tudo estaria bem, se tivesse terminado ali. Porém o sangue voltara a escorrer, a marca voltara a arder, e os olhos de seu pai ainda brilhavam. A vontade era de contar que tudo aquilo fora feito por ele, mas quando a covardia voltou ao seu ser, ele não pôde dizer que fora ele o culpado de tudo.”
Acordou achando que deveria ir direto para Askaban e jogar na cara de Lúcio Malfoy que sim, ele tinha salvado a vida de Hermione, e também tantas outras vidas, uma atrás da outra. Que tivera sido sim, um espião. Ao lado de Snape e com um orgulho que não tinha como descrever.
De todos os homens que conhecera, Draco tinha certeza que Snape era o mais corajoso. De todos os homens, Draco queria poder dizer a seu pai, que o único herói de verdade, era aquele o qual tinha matado.
Por mais que a vontade fosse grande, ainda sim, Lúcio era seu pai. E por mais que desejasse que toda a justiça fosse feita, ele não poderia negar que aquele homem fora importante pra ele. Por mais que odiasse admitir, aquele homem um dia fora seu herói.
Aquele homem havia sim, salvado a vida de sua mãe. E isso bastava para que o ódio que Draco sentia fosse esquecido. Talvez, esquecer tudo estivesse só a um passo de distância.
Ele levantou de sua cama e se trancou no seu banheiro. Ou talvez, a solução de seus problemas fosse simplesmente um banho.
- Harry? – A voz era baixa, como se talvez tudo fosse um segredo.
- Hermione? – Ele estava incrédulo.
- Você estava certo. – A respiração ainda era descompassada. – Você estava certo. As pessoas não mudam.
- O quê? – Ele ainda estava sonolento, e sem entender muito bem.
- Draco Malfoy, Harry.
- Onde você está?
Hermione deu as coordenadas para seu amigo, que desligara logo em seguida, dizendo que estaria com ela em um minuto. E o tempo em que levara para contactar Olho-Tonto fora o mesmo que levara para ele chegar.
- Aquele...
- Se acalme, Harry. – A loira de olhos azuis ainda tinha o tom sonhador, o único que o fazia ficar calmo. Ele se sentou ao seu lado. – Não podemos ter certeza de que ela está de volta por ele.
- Que outro grande motivo ela teria? – O tom de voz dele era o mesmo de quem discutia sobre a última previsão do tempo. – Ser presa ou morta?
- Harry, talvez ela esteja aqui por ele sim. Mas nada nos afirma que ele está do lado dela.
O moreno parou para pensar durante uns minutos, antes de ver uma Hermione furiosa andar em sua direção.
- Como eu pude acreditar nele? Como foi que eu pude acreditar naquele loiro aguado?
- Calma, Hermione. – Ele dizia em um tom de voz tão sonhador quanto ao da loira ao seu lado.
- “Calma, Hermione”? – Ela falava incrédula. - “Calma, Hermione” porque não foi você que discutiu com seu amigo em prol de um idiota que não merece nem uma primeira chance, que dirá uma segunda!
- Mas... – A loira tentou.
- Por que foi que eu não te escutei, Harry? Por quê? Me diz!
- Talvez, Hermione...
- Não, não me diz. Eu estava realmente cega por um estereotipo feito Draco Malfoy. – Ela o interrompeu. – Ah, mas que ódio que estou sentindo de mim, Harry. Sério, eu acreditei nele. Eu realmente confiei nele. E ele ainda veio com aquele papinho de “meu pai...” – Ela se calou de repente.
- O que houve, Hermione? – Os olhos verdes estavam vidrados na garota.
Era como se a cena de horas antes passasse por sua cabeça em minutos. E ela se arrependera de ter começado a falar... Ela sabia que tudo aquilo que ele tinha falado era a mais pura verdade, mesmo vindo dele.
Os olhos dele não poderiam ter mentido tanto. Ele provavelmente estivesse se xingando por ter dito tanto pra ela. E ela acreditara sim em tudo que ele dissera. Parou por mais uns segundos, antes de respirar fundo.
- Eu preciso ir pra casa.
- O que houve, Mione? – O amigo pouco entendia.
- Só preciso dormir um pouco, tive um dia cheio e ver Belatriz Lestrange não me ajudou nem um pouco.
- Preciso me preocupar? – A loira a fitava nos olhos, entendendo o que se passava em sua cabeça.
- Não, não precisa. Diria até para ficar ai. Harry, pode levá-la mais tarde, não é? – O moreno de olhos verdes assentiu com a cabeça e a castanha sorriu. – Boa noite pra vocês dois. – Ela saiu direto para casa, seus pés a guiavam e seus pensamentos eram convictos. Ela iria acreditar nele, até que realmente provassem o contrário. Tinha certeza de que esse era o certo a ser feito.
Os dois se entreolharam durante minutos, esperando que o outro interrompesse aquele silêncio. Quando Harry abriu a boca para um pedido de desculpa bastante impulsivo, Olho-Tonto parou em frente a eles, que estavam sentados nos degraus da casa.
- Muito bom, meninos. Lovegood, você e a Granger foram muito espertas em nos chamarem. Temos pistas muito boas sobre o paradeiro de Lestrange e se a Granger não tivesse nos ligado, talvez não teríamos descoberto. Falando nisso, cadê ela? – Luna e Harry se entreolharam novamente, depois que Moody parara de falar.
- Acho que foi pra casa. – Quem respondera fora Harry e o chefe do departamento da elite de aurores do Ministério da Magia assentiu.
- Vocês deveriam fazer o mesmo. – Luna se levantou antes mesmo da frase ter sido completada. – E não se esqueçam, amanhã tem reunião, às oito. Avisem ao Weasley, pelo amor de Merlim. – E ele deixou os dois novamente.
- Eu te levo. – Os olhos verdes pareciam, ao ver de Luna, analisar detalhadamente sua alma.
- Não é preciso, Harry. – Luna ainda se sentia mal em estar ao seu lado. Aquele para o qual havia revelado seu maior segredo e que havia agido estranhamente agressivo, aquele Harry que definitivamente não era o mesmo que a fitava sem piscar, com medo de acordar de um sonho bom. - Tudo bem. – Ela falara finalmente, como se estivesse bufando.
Eles começaram a andar e o silêncio permanecia, como se aquilo fosse o normal entre os dois. A falta de coragem bateu dessa vez em Harry, que não conseguiu se desculpar, sabendo que agora era de Gina.
Sabia que tinha errado muito e que deveria se desculpar, porém agora achava que seria melhor ficar afastado daquela loira por um tempo.
- E você e Gina? – O grifinório produziu um som de desentendimento após ter sido retirado de seus pensamentos.
- O que tem?
- Como vocês estão? – Ele fez uma pausa, respirou fundo. Mentir ele não faria, até porque ela iria descobrir de uma maneira ou de outra.
- Namorando, acho.
O ar dos pulmões de Luna parecia nunca ter estado lá. Por um minuto, passou por sua cabeça que agora sim, tudo estava acabado, até pensar em Hermione e respirar fundo. Uma grossa e solitária lágrima caiu de seu olho marejado e morreu em sua boca. Luna não a secou, aquela seria a última vez que chorava por ele.
Hermione estava com a cabeça no travesseiro, abafando os gritos que queria poder dar sem acordar todos os vizinhos. Se ela estivesse bem, iria dormir. Afinal, já era madrugada e teria que acordar cedo no dia seguinte. Mas não conseguia.
A imagem da face daquele loiro aguado não a deixava em paz, sabia que no dia seguinte teria que explicar muito e na reunião, era óbvio que iria defendê-lo. Suspirou ao pensar em como os meninos iriam brigar com ela por isso.
Por que Belatriz Lestrange tinha que aparecer? Por que aquela mulher tinha que complicar tanto a vida de Hermione? A castanha ouviu a porta da casa sendo aberta e novamente trancada. Minutos depois ouviu o primeiro soluço de uma série de outros.
A grifinória levantou da cama rapidamente e foi até sua companheira.
- Meu deus, Luna, o que houve?
- Desculpa, achei que estivesse dormindo. – Ela secou as lágrimas.
- Tudo bem, o que houve?
Luna respirou fundo. Por mais que Hermione fosse sua amiga, não queria trazer aqueles problemas pra ela. Talvez, ela não devesse saber de nada daquilo. Talvez, ela não devesse saber de nada. A loira abraçou a amiga.
- Luna, - Ela a chamou e a olhou nos olhos. – não precisa falar, está tudo bem. Mesmo. – A loira sorriu e as duas foram conversar na cozinha. Minutos depois, aquela cena pareceu nunca ter existido.
- Hermi, você está bem?
- Por quê?
- O jeito que você ficou quando estávamos com Harry. – Falar o nome dele ainda doía. Talvez, ele nunca tivesse sido aquilo que imaginou ser.
- Sei lá, Luna. Eu sei tudo o que falei, mas... – Ela respirou fundo, esperando o primeiro ataque de muitos outros. – Eu acredito nele. – Fechou os olhos.
- É, eu entendo. – A castanha abriu os olhos, incrédula.
- Entende?
- É claro. Ele não é aquilo que Harry e o resto pensam que é. Eu sei que não. E você também percebeu isso. – A loira a olhou, com um sorriso indecifrável. E Hermione correspondeu.
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