PRÓLOGO
Malfoy. Draco Lucio Malfoy. Durante muito tempo esse sobrenome gerou medo no mundo mágico. Felizmente hoje os tempos são outros, mais amenos e menos sombrios.
Não, senhores leitores, esse que vos fala não é um maldito herói grifinório como o Harry “Testa-Rachada-Bonzinho-Legal” Potter. Eu sou um Malfoy. E tive que carregar, para o bem e para o mal, esse sobrenome por toda a minha vida. Mesmo hoje, passados tantos anos da minha sociedade com Harry Potter, ainda há gente que insiste em dizer que o dito-cujo só virou meu sócio por ter sido vítima de uma maldição Império. Como se alguém conseguisse controlar com um Império o cara que derrotou Voldemort!
Na verdade, não tão queridos leitores, isso que vamos iniciar é uma viagem pelos meandros da minha memória e pelos escritos esparsos que produzi desde os 21 anos de idade. Boa parte dessa memória envolve a experiência com o time de quadribol dos Cannons, inegavelmente um período muito feliz, a minha associação com Harry Potter e seus amigos e outros episódios diversos da minha vida. Que, aliás, tem sido uma boa vida. Fora alguns percalços e uma grande tristeza, da qual falaremos um dia.
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- Uau! – disse o primeiro dos três pestinhas.
- Nossa! – disse o segundo – Olha, não é o vovô Harry?
- Que gatinho ele era! – disse a pestinha número três.
- Por que será que o vovô Draco vem sempre aqui nessa sala?
- Ora, ele vem olhar essas fotos. Nossa, é aquele time antigo dos Cannons que todo mundo fala!
- Que uniforme mais maneiro! Olha a vovó Gina. Ela era bem bonita também!
- Ei, essa vassoura parece coisa da idade da pedra!
- Dá uma olhada nessa foto, meninos – disse a única garota do grupo – É o vovô Draco fazendo chifrinho no vovô Harry!
- E ele briga com a gente quando a gente faz isso nas fotos!
- Caramba, olha o tamanhão desse batedor!
- É o pai da Miriam M’Bea – explicou o pestinha de cabelos pretos.
- A cantora? – perguntaram os dois pestinhas restantes.
- É. Vocês já viram ela lá em casa. Ela é amiga do pessoal. Ela cantou na minha festa de aniversário, lembra?
- Hem, hem... – eu pigarreio da porta e os três levam o maior susto da vida deles.
São três crianças. Ou três pestinhas, como eu os chamo carinhosamente. Eles possuem a mesma idade. Doze anos. Por Merlin! Eu nem me lembro se algum dia tive doze anos de idade. O garoto de cabelos pretos e levemente despenteados e a menina loira são meus netos. Apesar da diferença da cor dos cabelos são praticamente idênticos. Bom, é normal que sejam, pois são gêmeos. E são absurdamente parecidas com o pai. Os dois possuem muito pouca coisa que lembre a mãe deles. Minha filha. Ah, sim, eles possuem os olhos azuis da mãe e a pele um pouco, mas escura do que seria de se esperar de alguém com sangue Malfoy na veia.
O terceiro pestinha é um Weasley puro-sangue. Cabelos vermelhos um tanto crespos (deve ser herança da avó dele), sardas no rosto, alto para a idade, levado, brigão. Aposto que quando crescer vai começar a se interessar por coisas trouxas e mulheres nascidas trouxas. É o meu “neto adotivo”. Por mais que eu implique com ele, o moleque retruca e me provoca. Acho que gosto dele tanto quanto gosto dos meus netos.
É lógico que não dei aos pestinhas permissão para entrar nessa sala, onde eu costumo passar horas lembrando os bons tempos. Mas se os três pedissem permissão, certamente eu ficaria muito decepcionado com eles. Eles são filhos dignos de seus respectivos pais e acima de tudo netos dignos dos seus respectivos avós.
São a segunda geração dos descendentes das pessoas que tiveram que amadurecer muito cedo, como sempre diz a minha boa amiga Hermione Granger. Espero que nunca tenham que lutar numa guerra nem serem obrigados a escolher aos dezessete anos o lado certo para lutar. Essas são decisões que nos deixam velhos ainda adolescentes
Passo o resto da tarde mostrando aos pestinhas as fotos das várias fases dos Cannons, os nossos títulos, os troféus, a minha pose arrogante na maioria das fotos. O meu sorriso de sarcasmo após as vitórias espetaculares da equipe.
Lembro até hoje da técnica das Harpias de Holyhead gritando para as suas jogadoras: “Vamos ganhar esse jogo e tirar o sorriso daquele loiro desgraçado!” Apenas porque eu coloquei um anúncio no Profeta Diário oferecendo às jogadoras e à técnica empregos nas Organizações Potter-Malfoy, onde eu prometia uma boa colocação profissional para pessoas sem talento para o quadribol. Eu não tenho culpa se as pessoas não possuem senso de humor...
Paramos em frente a uma grande foto de corpo inteiro de uma bonita jogadora. Na verdade há várias fotos dela. Sempre bonita, provocante, agora muitos anos depois, continua fazendo poses como na época em que estava viva.
- Vovô, essa é... – ia perguntando a minha neta.
- Sim, é – respondo com dificuldade.
Agora, tantos anos passados, ainda dói. Os guris, que são mais inteligentes e perspicazes do que a maioria das crianças nessa idade, acompanham o meu silêncio emocionado Sempre paro por vários minutos junto às fotos daquela que foi a mulher da minha vida, fato que eu, obtuso como sou, demorei demais a perceber.
Mas Malfoys não costumam perder muito tempo lamentando o passado. Não quando estão tomando contas de três crianças que certamente já estão com fome.
E, disfarçando a tristeza do momento, guio os três pestinhas para fora do aposento, prometendo que os açoitaria e os colocaria numa masmorra se eles entrassem em algum outro lugar da propriedade sem autorização. Eles riem divertidos, principalmente o pestinha ruivo, que fica imitando o meu jeito arrastado de falar. Tinha que ser um Weasley, é claro.
E as risadas despreocupadas das três crianças, aos poucos, dissipam as nuvens negras de algumas memórias tristes.
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