Os novos colegas
Draco virou a direita na cômica estátua de Argus, o Vesgo, e encaminhou-se para a terceira porta a esquerda. Era uma porta grande de madeira, com uma cabeça de gárgula enrustida que lembrou-lhe a que guardava a entrada da sala de Dumbledore. “Que original”, pensou Draco. Quando o garoto se aproximou, a criatura o olhou ameaçadoramente. Draco deu uma risadinha desdenhosa. Até parece que se alguém quisesse entrar naquela sala, ia se intimidar com essa porcaria. “Pó de flu,”, disse ele, e a gárgula abriu a porta.
O aposento em que Draco entrou não se parecia em nada com uma sala de penicos. Na verdade, parecia mais com a sala de estar de uma prima de seu pai e que, segundo Lucio, era a maior preparadora de poções que já existiu. Draco a achava uma velha chata que cheirava a coisas defumadas. Claro que essa opinião era influenciada pelo fato de que a velha repetia exaustivamente o quanto os Malfoy se orgulhariam se Draco parecesse um pouco mais com Lucio. Resumindo, Draco não simpatizou muito com o ambiente. “Começamos bem”, pensou ele, olhando em volta de si. A sala era bem menor que o dormitório da Sonserina. Possuía poltronas aconchegantes perto da lareira, cada uma com a cor de uma casa. Havia uma porta ao fundo que, ele supunha, levava ao dormitório, e alguns quadros nas paredes. Um deles retratava um desses velhos que provavelmente foram importantes em vida, mas que agora só sabiam roncar e babar. No outro, um elfo doméstico corria desesperado pela tela, arrumando e organizando um aposento que era o perfeito caos. Terminado o serviço, ficava alguns segundos em silêncio, e então percorria o quadro como um pequeno furacão, desarrumando tudo. Em seguida começava o trabalho outra vez. Esse era um dos motivos pelo qual Draco desprezava os elfos. Eles eram ridiculamente burros. Embora, claro, nem se comparassem a Crable e Goyle.
Voltando a se concentrar na sala, ele reparou também que havia quatro mesas com cadeiras dispostas pela sala. Provavelmente para estudar. E provavelmente não seriam utilizadas. Pensando bem, ele se lembrou, com pesar, que Granger também estaria ali. Nesse caso, quatro mesas seriam insuficientes. Draco atravessou o local e entrou no dormitório. Este era igual ao de seu antigo dormitório, mas ao invés de cinco, havia quatro camas com dossel. Seu malão já estava depositado aos pés de uma delas. Entretanto, ele não era o único ocupante do quarto. Na cama ao lado, estava uma garota loira olhando vidrada para o teto. Ela devia ser Luna. “Bom, é óbvio que não é Granger nem McMillan, então só pode ser Luna”, pensou Draco. Andar com Crable e Goyle estava atrofiando seu cérebro.
Olhando-a de esguelha, Draco se dirigiu à sua cama sem dizer nada. Não simpatizara muito com ela. Tinha cara de ser um tanto maluca, ainda mais olhando fixamente para o teto. A garota tampouco pareceu reparar na sua presença. Ele se deitou em sua cama, cansado, e começou a avaliar a situação. Esse ano se encaminhava para ser o pior que já vivera em Hogwarts. O que não deveria acontecer, já que este era o último e deveria ser fechado com chave de ouro. Para começar, dividir o quarto com gente indigna não era para ele. Não para um Malfoy. Se a divisão de casas era justamente para evitar esse tipo de convivência, para poupar gente como ele de ter o menor contato possível com gente como... como aquela garota ali ao lado... “Você não a conhece” disse uma voz que possivelmente de tratava de sua consciência. “Não interessa”, respondeu a si mesmo. (Os Malfoy definitivamente não são famosos por levar a consciência em consideração). Se fosse boa o suficiente estaria na Sonserina. E não ignoraria a entrada dele daquela forma. Ninguém ignora um Malfoy. “Somos a elite”. Ele olhou para o lado e viu que a garota nem se movera. Por que? Aquele silêncio começou a incomodá-lo. Qualquer pessoa olharia alguém adentrando o quarto. Talvez ela estivesse em transe. Ou talvez... “Não, não” pensou Draco, sacudindo a cabeça para espantar os pensamentos. Ela não podia estar morta. Ele devia estar ficando paranóico, com tantos ataques e mortes ao longo de sua vida escolar. E, além disso, as coisas só acontecem com Potter. Se bem que, lembrando bem, aquela garota costumava andar com Harry. “Pare com essas idéias lunáticas, Malfoy”, repreendeu-se. Em todo caso, não custava conferir. Draco se levantou e se aproximou da cama dela. A garota continuava imóvel. Nem virara o rosto. “Isso não significa nada”, pensou, tentando se convencer. Ele chegou bem perto. Nada. Seu coração começou a acelerar. Ele estava ficando seriamente preocupado.
De repente, a porta se abriu. Draco, tenso como estava, assustou-se e deu um pulo para trás, tropeçando em um pequeno baú e se estatelando no chão. Luna pareceu despertar e, tirando algo dos ouvidos, olhou para o lado.
- Oh – disse arregalando os olhos - Vocês chegaram juntos?
Draco olhou para trás e viu que a responsável por sua queda era Hermione.
- Granger... só podia ser... – depois olhou para Luna, - Eu jamais chegaria com ela.
- Não faz a menor falta – replicou Hermione
- Estranho – disse Luna inclinado a cabeça e olhando para Draco – Talvez você devesse deitar na sua cama, sabe... dormir no chão costuma dar dor nas costas.
Hermione riu e Draco se levantou rapidamente, lançando um olhar frio a ambas. (Sentir-se encabulado também não é hábito dos Malfoy).
- Vocês tem certeza que não chegaram juntos? Não havia ninguém aqui, sabe, e eu es...
- EU estava aqui - disse Draco asperamente. Ela REALMENTE o havia ignorado – Não é possível que não tenha notado.
- Tem certeza? Talvez você estivesse lá fora...
- Eu sei perfeitamente bem onde estava!
- É verdade, Luna – disse Hermione – Ele estava te observando quando cheguei.
Draco sentiu o rosto em brasas desta vez.
- Cale-se, sua sangue-ruim. Ninguém lhe chamou na conversa.
Hermione lançou-lhe um olhar fulminante e preparava-se para responder quando a porta se abriu novamente. Ernesto Mcmillan entrou.
- Olá – disse Luna – Você também estava lá fora?
Ernesto a olhou espantado.
- Hum, na verdade estava.
- E ele por acaso não estava lá? – perguntou Luna, apontando para Draco.
- Você é retardada ou o que? Eu já disse que estava aqui! – respondeu Draco antes que McMillan dissesse qualquer coisa.
- Bom, pode ser, mas não custava conferir. – respondeu ela com simplicidade, dando de ombros.
Draco não tinha o que responder. A garota era totalmente maluca! “Ótimo” pensou Draco “Esse realmente vai ser um ótimo ano”
Mal humorado, deitou-se em sua cama e procurou dormir, desejando ardentemente estrangular alguém.
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