Oneshot



Na verdade… não sei como aconteceu… eu era tão feliz com ele… e agora… apenas me vê como amiga… que dor me dá no coração, meu Merlin… que dor…

Desculpem… não me apresentei… sou Lilian Evans… sou ruiva de olhos extremamente verdes… e como qualquer ruiva que se preze, tenho um génio… especial… *risos* sim, eu sei… deveria ser mais calma… inspirar fundo…fechar os olhos… contar até 10… expirar… abrir os olhos novamente… mas não dá… nunca vos aconteceu, quando algo vos irrita profundamente, fazer isso e, ao abrir os olhos novamente… tudo está na mesma? Pois é… comigo é assim… sempre foi, desde criança… e agora, com 20 anos, continuo um pouco stressada…

Mas desta vez, não foi o meu temperamento que me deixou nesta situação… foi algo… mais doloroso… algo… meu Merlin, eu nem sei se vou conseguir continuar isto… as lágrimas estão a embaciar-me a visão… mas eu conto tudo…

Tudo começou há, aproximadamente… 9 anos atrás… na altura, eu era uma garotinha muito… digamos… inflamável , se me permitem o trocadilho… muito baixinha (ainda hoje sou), com imensas sardas pela cara, sempre rosada demais, olhos muito vivos, e um cabelo imensamente vermelho… ainda mais... digamos… ressabiada… ou seja… não levaria um desaforo pra casa…
Eu tinha recebido A carta… um simples pergaminho que me abriu as portas de um mundo completamente novo… maravilhoso… mágico… foi nesse dia que descobri que era uma bruxa… isso deu azo a muitos problemas, principalmente com a minha irmã, a Petúnia…


*FLASHBACK*
- Pai… mãe… eu… eu recebi uma carta… de… Hogwarts…
- E então filha? – um homem com uma expressão extremamente bondosa, sentado numa poltrona confortável, de óculos na ponta do nariz, cabelos um pouco grisalhos, olhos verdes por cima dos óculos, sorria, extremoso, para sua pequena filha.
- E… diz aqui que… eu… sou uma bruxa, pai…
- Filha… bruxas não existem… – falou uma senhora ruiva, de olhos castanhos, fazendo tricô.
- Mas diz aqui…
E a garotinha entregou a carta ao pai que leu e mostrou à mulher. Ambos sorriam.
- Parabéns, Lily! Arthur, a nossa filha é uma bruxinha…
- Eu sei, querida… eu sei… parabéns, amorzinho…
Uma outra garotinha, com alguns dois, três anos a mais, levantou-se furiosamente da poltrona que estava e, olhando a irmã, falou rispidamente:
- És uma aberração! Nunca, mas nunca, penses que eu vou aceitar que a minha irmã é uma bruxa! Eu bem sabia que as coisas estranhas que tu fazias não eram fruto da minha imaginação! A partir de hoje não tenho mais irmã!
E saiu a passos largos. A pequena ruiva tinha os olhos cheios de lágrimas. Com as costas da mão, as limpou rapidamente. Seus pais a olhavam tristemente.
- Pois para mim… o sentimento é mutuo…
*FIM DO FLASHBACK*



Sim… a minha irmã é uma idiota… mas os meus pais sempre me aceitaram… e isso é o mais importante para mim…
Bem, voltando ao que estava a dizer…
Dia 1 de Setembro… estação de King’s Cross… plataforma 9 ¾… foi um problema para achá-la… mas… ao fim de muita observação… descobri o segredo… e lá fui eu… embarcar pela primeira vez naquele combóio vermelho… acreditem, nada foi mais emocionante para mim do que entrar ali… as cores pareciam mais vivas… as formas, mais bonitas… as pessoas, mais alegres… na altura, pensei que todos os bruxos seriam pessoas felizes e bondosas… estava enganada, mas na altura, essa era a minha imaginação a falar mais alto…
Milhares de garotinhos e garotinhas, da minha idade e mais velhos, corriam, com seus malões e animais… e eu, com o meu enorme malão e a minha coruja, Minerva, sentia-me a mais pequena ali… cheia de medo que ninguém gostasse de mim… e eu tivesse de voltar para casa ao fim de uma semana…
De repente, aconteceu… não sei como foi, só sei que senti um estrondo enorme e, no segundo seguinte, estava debaixo do garoto com os olhos mais lindos que eu já vira…


*FLASHBACK*
- Er… desculpa…
Um garotinho, moreno, cabelos pretos, arrepiados, olhos que tinham um misto de castanho-esverdeado com cinzento, por detrás de uns óculinhos, levantou-se, oferecendo a mão à pequena menina que estava debaixo dele.
- Não… não faz mal… – ela corou intensamente.
- Ainda bem… mas cuidado… o próximo que tu atropelares pode não ser tão simpático. E vê se consegues controlar melhor o teu malão, ok?
Lilian corou mais um pouco. Mas desta vez, não de vergonha.
- Escuta lá…
- Hey… parece que estão a chamar-me… até depois… ruivinha…
Aproximou-se dela e deu-lhe um beijo rápido na bochecha. Lilian, vermelha de raiva, voltou-se e gritou:
- PRA TI, EU SOU EVANS, OUVISTE?
*FIM DO FLASHBACK*



Foi nesse dia que entrei, pela primeira vez, no castelo de Hogwarts… foi… como explicar… não dá para explicar… é uma coisa que… só sentindo dá para entender… fui seleccionada para a melhor casa… Gryffindor… não, não é gabarolice minha… mas é a casa dos bravos, corajoso, leais… digam se não são boas qualidades?
Enfim… descobri, para meu enorme pesar, que aquele projecto de gente, o da estação, se chamava James Potter e que, para meu infortúnio, fora seleccionado para a mesma casa que eu, bem como duas meninas com quem eu travara amizade no combóio… Melissa Thompson e Anya Davidson…

Pra mim era tudo novidade… os dormitórios… a sala comum… o salão nobre, todo enfeitado… os uniformes… aquele senhor tão simpático, o professor Dumbledore… os outros professores… até mesmo a rivalidade entre Gryffindors e Slytherins… era… maravilhoso…
Apenas uma coisa era insuportável… aquele garoto… minha nossa… ele arranjava qualquer desculpa para implicar comigo… fosse pelo meu cabelo… as minhas roupas… o meu jeito de falar, de andar, a maneira como eu tentava responder a todas as perguntas que os professores faziam… aaarrggghhh… que raiva… apenas havia uma coisa com que ele não implicava… os meus olhos…


*FLASHBACK*
- Agora, agitem as varinhas, primeiro com uma leve rotação de pulso, e depois com um movimento rápido e seco… e falem… Wingardium Leviosa .
Lilian conseguira, bem como James, um garoto de cabelos pretos e extremos olhos azuis, que ela soube se chamar Sirius, outro de cabelos castanhos e olhos mel, de aparência doentia, Remus, e suas amigas, Melissa, uma morena de olhos verdes, e Anya, de cabelos pretos e olhos violeta. Daquele grupinho, apenas um garotinho chamado Peter não conseguira.
- Vê bem, Sirius… até a ruiva conseguiu…
- Verdade… quem diria que uma stressadinha teria tanto jeito?...
Lilian os olhou, com raiva no olhar e rosto escarlate, de fúria.
- Escutem lá, vocês dois, seus pirralhos… mais alguma boquinha e eu lanço um feitiço em vocês dois… ouviram?
E virou-se para a frente. Ouviu-os a rir. Voltou-se novamente, ficando com sua cara a milímetros da de James.
- E tu… vais ser o primeiro, entendeste?
Uma batalha visual travava-se. Castanho-esverdeado vs. verde. Ele parecia ficar desarmado, cada vez que ela olhava fundo nos seus olhos. Murmurou algo como ‘entendi’ e ela, sorrindo triunfante, tornou a voltar-se. Mas, de repente, ouviu alguém sussurrar no seu ouvido:
- Aqui podes ter ganho a batalha… mas não ganhaste a guerra… tens sorte que eu não duelo com meninas…
E riu, ao perceber que ela mordera o lábio inferior e cerrara os punhos, com raiva.
*FIM DO FLASHBACK*



Por Merlin… aquele miúdo irritava-me profundamente… as minhas amigas, com quem eu dividia meu dormitório, diziam que ele era um peste… ah… sabem… a eterna batalha garotos x garotas… com 11 anos era de se esperar…
James e Sirius eram os maiores encrenqueiros que eu já vira… na primeira semana de aulas, conseguiram ter 10 detenções! 10! São capazes de imaginar? Do grupinho deles, que eram quatro (James, Sirius, Remus e Peter), apenas Remus era, a meu ver, o melhorzito… Peter… bem, vou ser sincera, eu nunca fui com a cara dele…
E aqueles dois barraqueiros irritavam-me profundamente. A sério, eu não podia vê-los à frente… sempre arranjava maneira de denunciá-los aos professores… e eles começaram a enfeitiçar-me… foi duro… isto durou um ano… até que no final desse ano, decidimos dar tréguas… e foi a melhor coisa que podíamos ter feito… porque assim, podíamos fazer a vida negra aos Slytherin… *risada maléfica*

Verdade seja dita… eu nunca fui uma menina certinha… pelo menos, não em frente aos professores… Mel e Any conhecem bem as asneiras que fiz… e, nesta altura, enfeitiçar Slytherins desprevenidos, era o meu maior passatempo… pelo menos nisso, eu e James éramos parecidos… só que ele tinha um extra… adorava fazer-me passar da cabeça…
E foi no segundo ano que ele se tornou ainda pior do que nunca… sim… ele conseguiu vaga como seeker na esquipa de Quidditch… bem, falemos a verdade… ele jogava bem… era muito rápido… fazia manobras incríveis… mas... começou a ficar muito convencido… principalmente porque as raparigas o rodeavam como moscas no mel… ai, que raiva…


*FLASHBACK*
- James, que manobra incrível!
No fim de mais um jogo de Quidditch, obviamente ganho pelos Gryffindors, James e Sirius, seeker e beater, respectivamente, estavam na sala comum da sua casa, festejando a vitória, e tinham convidado os Ravenclaw e os Hufflepuff para a festa. Slytherins foram, como é obvio… esquecidos…
E os dois rapazes estavam rodeados de raparigas, que piscavam repetidamente os olhos e suspiravam quando eles sorriam para elas.
- Ah… pelo amor de Merlin… – murmurava Lilian.
- Lily… será que notei um pouquinho de ciúmes? – gozava Mel.
- Desculpa? Eu? Ciúmes daquele pirralho, idiota, estúpido, atrasado, cam…
- Lily, Lily… por favor… poupa-nos à tua lista de… elogios… ao James, sim? – falava Any, com ar de tédio.
- Sabem que mais? Eu vou dormir… – disse Lily, enquanto revirava os olhos ao ouvir duas raparigas do terceiro ano convidarem-nos para ir a Hogsmeade na próxima saída.
*FIM DO FLASHBACK*



Pronto, pronto… confesso… na altura eu não queria admitir, mas aquilo estava a dar-me ciúmes… sim, porque a partir dai, o James não mais me incomodou. Não pelo menos até ao quarto ano. Confesso que senti falta das gozações dele… mas começámos a seguir caminhos diferentes… eu tornei-me mais certinha, estudiosa… e ele, mais mulherengo e irresponsável… nós, as meninas, aproximamo-nos mais dos garotos… Marauders, como eles quatro se intitulavam… mas sempre como um grupo de amigos… aos 14 anos começou o meu inferno… vocês riem-se? Deviam passar pelo que eu passei… James Potter pode ser um ser obsessivo, quando quer…


*FLASHBACK*
- Bom dia, meu anjo ruivo.
- Só se for para ti, Potter… o meu acabou de se tornar um inferno…
- Também te amo, Lily.
- Evans, Potter. Evans.
- Gostei da combinação… Evans Potter… o teu nome vai ficar lindo quando casarmos.
- Sim, e depois bateste com a cabeça e acordaste, não? Baza!
James aproximou-se dela e a beijou repentinamente, colando seus corpos. Poucos segundos, ouvia-se o som de uma mão a chocar com um rosto.
- Nunca… mas nunca… – falava Lilian, vermelha de raiva, e um pouco ofegante, espetando o dedo na cara de James – experimentes fazer isso outra vez… ou não terás descendência futura… entendeste?
E saiu da sala comum, murmurando palavrões baixinho, e ameaçando primeiranistas, que se assustavam com o olhar da ruiva.
- Viste, Prongs? Ela ama-te… – falava Sirius, dando uma risada que parecia um latido.
- Padfoot… entende uma coisa… tudo o que James Potter quer, James Potter tem. E com ela não vai ser diferente.
- Ah… mas eu vou adorar quando ela te deixar… incapacitado… ah se vou… – ria Sirius, acompanhando James, que se dirigia pelo mesmo sitio que Lilian tomara.
*FIM DO FLASHBACK*



Não era normal… ele sempre tivera todas as raparigas que quis… era só estalar os dedos e elas vinham a correr pra ele… mas porque carga de água ele foi logo ter que se meter comigo? Eu nem era, nem sou, nada de especial…
Mas bastou apenas uma tampa para a minha vida mudar completamente…


*FLASHBACK*
James Potter aproximara-se lentamente da poltrona onde Lilian Evans estava sentada, a ler calmamente.
- Lily…
- Evans… pra ti é Evans…. Potter…
Ele passou a mão pelos cabelos, despreocupadamente.
- Sim, ou isso… bem, o que importa é que vai haver uma saída até Hogsmeade no próximo fim-de-semana, e eu achei que gostarias de vir comigo.
Lilian sorriu e respondeu rapidamente, antes de voltar seus olhos para o livro que lia anteriormente.
- Não.
- Sim, eu sei que estás muito comovida e… – James paralisou e olhou-a, com uma sobrancelha levantada – Desculpa?
- Não. N – Ã – O.
- Mas… mas… como…
- Potter… qual foi a parte do “não” que não percebeste? O “N”, o “A”, o “O” ou o til?
E levantou-se, muito calma, subindo as escadas que davam para o dormitório feminino, sem olhar para trás. Mas se o fizesse, veria um James Potter completamente espantado, de boca aberta, que olhava para ela como se nunca a tivesse visto na vida.
*FIM DO FLASHBACK*



Pois é… um simples fora… e a partir dai, o James começou a perseguir-me… todos os dias me perguntava se queria ir com ele a Hogsmeade… e todos os dias eu respondia que não… ao principio, era apenas um pedido e uma negação… mas depois… ele começou a afastar qualquer rapaz que quisesse sair comigo e eu aceitasse… coitados, eram enfeitiçados com feitiços drásticos… e, a partir dai… tornou-se pessoal…
O nosso dia começava com: sala comum, Lily x James; pequeno-almoço, Lily x James, aulas da manhã, Lily x James, almoço, Lily x James, aulas da tarde, Lily x James, jantar, Lily x James… hum… deixem-me pensar… sim… Lily x James, Lily x James, Lily x James, sala comum, Lily x James… basicamente isto… durante… quatro anos… não, não é exagero… e nas férias ou feriados que passávamos em Hogwarts… era bem pior…

Ele dizia que me amava… mas, vejam lá bem… como acreditar num rapaz que, desde o começo, implica contigo, enfeitiça qualquer um que o contrarie, sai com metade da população feminina da escola… não é muito fácil… aliás, é impossível… e vai dai… nem sequer queria ouvir o que ele tanto declamava…


*FLASHBACK*
Era um dia de Inverno. Tinha nevado na noite anterior, e, por isso, os campos de Hogwarts encontravam-se cobertos por um manto branco. Na sala comum dos Gryffindor, Lily, Mel e Any encontravam-se a jogar xadrez bruxo, à vez. Era um domingo calmo. Muito calmo, na opinião de Lily, que achava que James ou já a fizera ou estava para fazê-la. Mas eis que…
- Lily! Lilian Evans!
Alguém a chamava do lado de fora da janela. Estranhando, ela levantou-se e abriu a janela.
Do lado de fora, montado numa vassoura, estava James Potter. Cabelos ao vento, faces muito rosadas, lábios quase roxos, tremendo de frio.
- O que é que tu queres daqui, estropício?
- Lily… olha lá pra baixo…
Quando ela olhou, seus olhos se arregalaram. No meio da neve, quase todos os Gryffindor se alinhavam na neve, de maneira a escrever “Lily Evans, queres sair comigo?”. As raparigas que se encontravam com Lily e as suas amigas na sala comum, suspiravam e davam risinhos. Ela bufou e fechou a janela furiosamente, sem reparar que, lá em baixo, se tinham alinhado de maneira a escrever “Lily, eu amo-te”.
*FIM DO FLASHBACK*



Era demais… ele escrevia-me bilhetinhos… declamava poemas em voz alta, após ter apanhado a snitch… presenteava-me com flores, lírios brancos, os meus preferidos, peluches, bombons… eu sei lá… mas coitado… tinha azar… pois eu nunca aceitei sair com ele…

No meu quinto ano, tornei-me prefeita. Foi uma novidade, porque eu não era assim tão responsável… quer dizer… pelo menos fora do alcance do olhar dos professores… desconfio que Dumbledore sabia que eu não era tão certinha assim… mas tornei-me prefeita na mesma. E foi uma maravilha, pois assim, podia descontar a minha raiva nos dois tipos de pessoas que eu mais detestava: Slytherin e James Potter. Ah, e Sirius Black, também… *risinhos* ai ai… ele sofreu tanto nas minhas mãos…


*FLASHBACK*
Lily vagueava pelos corredores, fazendo a ronda dessa noite. Ela e Remus tinham acabado de combinar quem patrulhava o quê. E, caminhando despreocupada, Lily avistou James e Sirius perto de uma estátua.
- Hey, vocês dois! O que estão a fazer aqui a estas horas?
- Pergunto o mesmo, meu lírio. – falou James, numa voz rouca, passando as mãos pelos cabelos.
- Potter… começo já a avisar-te… eu não estou de bom-humor… portanto, aconselho-vos a irem para a sala comum e…
- Ora Lily, não estamos a fazer nada de mais. Apenas… passeamos pelos corredores do magnífico castelo de Hogwarts… – falou Sirius, calmamente, mas com um tom de gozação.
- Eu estou a avisá-los…
- Meu anjo ruivo… que tal irmos os três para lá e, enquanto isso, o Sirius baza e nós ficamos… como dizer… mais à vontade?
Lily inspirou profundamente. Tirou um caderninho e um lápis das vestes e, enquanto escrevia, falava pausadamente.
- Menos 10 pontos de cada um para os Gryffindor.
- Lily… – murmurou James, exasperado.
- Eu avisei. E é Evans. Por favor, dirijam-se para o vosso dormitório.
E recomeçou a andar. Mas, de repente, virou-se de novo e falou.
- Ah… e sábado, às 10 da noite, na biblioteca. Detenção.
- Li… quer dizer, Evans… temos treino de Quidditch! – falava James, desesperado. Sirius apenas estava de boca aberta, pasmado.
- Pensasses nisso antes, Potter. Boa noite.
E seguiu, sorrindo triunfante.
*FIM DE FLASHBACK*



Ah… isso sabia bem… mas confesso que chegava a sentir-me culpada… sentimento esse que desaparecia rapidamente, pois parecia que James tinha gosto em receber as minha detenções. “Desde que tu possas monitorizar… tudo bem”… meu Merlin… hoje que penso nisso… dá vontade de rir… mas na altura… só o queria estrangular…

O tempo foi passando. E, quando demos por nós, estávamos no sétimo ano. O ultimo ano naquele sitio. O último ano em que poderíamos caminhar naqueles corredores, tomar as refeições naquele salão, decorar os nossos dormitórios, passear pelos campos, admirar a beleza do lago quando acabava de nevar… a ultima vez que viajaríamos naquele comboio… a ultima vez que ouviríamos o som do lobisomem nas noites de Lua Cheia… (um segredo que mais tarde vos contarei) a ultima vez em que veríamos as criaturas que habitavam a Forbidden Forest… pensávamos nisso e sentíamos um pesar nos nossos corações… a nossa vida fora feita ali… nossos caminhos cruzaram-se ali e dali… só Merlin saberia o que ia acontecer…
Dali se formaram casais, amigos inseparáveis, inimizades eternas… de uma maneira ou de outra, todos ali tinham tocado nossas vidas, quer pelas melhores ou piores razoes… e eu, pelo menos, podia dizer que éramos todos uma grande família, com suas ovelhas brancas e negras

Nesse ano, fui eleita prefeita-chefe. Uau! Era demais. Estava convencida que Remus iria ser eleito também, mas enganei-me redondamente. Houve um Gryffindor eleito, sim. Mas não foi Remus. Foi ele. Ele mesmo, que vocês estão a pensar. James Bartholomew Potter. Para minha desgraça, tivemos que dividir um dormitório, o dos prefeitos-chefe. Era uma forma de pesadelo.

Uma amiga minha, da Mel e da Any, a Alice, uma Gryffindor também, iria casar com Frank Longbottom, da mesma casa. Claro que nos convidou para o casamento. Eu iria ser a madrinha. Adivinhem quem me calhou na rifa como padrinho? Bingo…
Ele próprio. James Bartholomew Potter. Eu estava a sentir-me ainda mais perseguida que nunca. Mas, incrivelmente, ele mudara. Não era o mesmo James. Era, mas não era, se é que me faço entender… ele não era tão mulherengo, tão irritante, tão infantil… podia até afirmar que estava a tornar-se mais… adulto…

Até que houve um dia em que ele se aproximou. Tivemos uma pequena conversa que mudou nossas vidas para sempre…


*FLASHBACK*
James e Lily passeavam pelos campos de Hogwarts. Era um dia de Dezembro, mas não estava frio. Ambos usavam seus cachecóis, luvas, casacos, agasalhos, e estavam perto do lago. Por incrível que pareça, conversavam sem gritos, discussões ou agressões.
- Então… já pensaste o que queres seguir, quando deixares Hogwarts? – falou James, num tom baixo e calmo.
- Sim… acho que vou ser curandeira. Ou isso ou auror. Talvez os dois.
E riram.
- E tu? – perguntou ela, sem o olhar.
- Auror. Como os meus pais.
Lily olhou para James. Já não era aquele garotinho irritante. Agora, tinha um olhar diferente. Uma aparência diferente. Uma atitude diferente. E isso deixava-a esquisita. Confortável e, ao mesmo tempo, com medo.
- E, acredita, se tu fores auror ou curandeira, serás a melhor que o mundo bruxo já viu, Lily.
Ele olhou-a. Ela corou um pouco e sorriu.
- Obrigada… James…
Estavam parados em frente ao lago, perto de uma árvore.
- Chamaste-me James…
- Esse é o teu nome, não é?
Ambos riram. James olhava nos olhos de Lily. Aquele brilho que eles tinham, quando ela ria, deixava-o desarmado. Desde que se conheceram assim fora. Aquele verde fazia-o perder o norte… fazia-o querer mergulhar neles vezes sem conta e nunca mais vir à superfície.
- No que pensas? – ela sussurrou.
- Nos teus olhos. Já alguma vez te disse como são lindos?
Ela corou mais um pouco e virou o rosto.
- Algumas vezes.
E ficaram algum tempo em silencio, contemplando a ondulação das águas.
- Lily…
- Sim, James…
Viraram suas caras e corpos um para o outro, ficando frente a frente. Acinzentado perdendo-se no verde.
- Eu vou-te perguntar pela última vez. Se não aceitares, se não quiseres, eu saio da tua vida para sempre…
- James…
- Lily, não. Agora é a sério. Queres sair comigo?
Ela olhou para ele seriamente. Um turbilhão de emoções envolveu-a.
- Sim, James. Nada me daria maior prazer.
E ficaram a sorrir um para o outro, durante bastante tempo.
*FIM DO FLASHBACK*



Fomos a Hogsmeade. Confesso que nunca me diverti tanto. O James era… como dizer… igual e diferente, ao mesmo tempo… com ele, eu sentia que podia conversar sobre tudo, sem me preocupar se ele me poderia julgar… entendem?... dei por mim a confessar-lhe os meus maiores segredos e, acreditem, não estava sobre o efeito do álcool. Passeamos por toda Hogsmeade, ele levou-me a todos os sítios, mesmo àqueles que eu adorava mas que ele… bem, ele nem tanto assim… e, nem por uma única vez, disse que me amava… eu entendo porque… ambos tínhamos medo de que, se ele o fizesse, estragasse o momento.

A partir dai, tornamo-nos bons amigos. Saímos muitas vezes. Até que, numa dessas vezes, aconteceu…


*FLASHBACK*
James e Lily encontravam-se no bar The Three Broomsticks, bebendo cerveja amanteigada, descontraídos. Falavam de coisas banais, e riam-se como se fossem amigos de longa data. Num momento repentino, suas mãos se tocaram por segundos. E ambos ficaram em silêncio, encarando-se um ao outro. Até que saíram.
Passearam por Hogsmeade, num passo lento, não davam conta para onde se dirigiam. Apenas andavam e conversavam animadamente. James contava peripécias dos Marauders, e Lily tentava fazer uma expressão de indignação, mas não aguentava e começava a rir.
Até que chegaram perto da Shrieking Shack. Ali, podiam ver o pôr-do-sol… estava magnifico. Os tons do céu pareciam que tinham sido pintados. Ficaram algum tempo observando a noite que caía. James via o reflexo da noite nos olhos de Lily. Nunca a achara tão linda como agora. Inspirou bem fundo e soltou um suspiro.
- O que foi, James?
- Nada. Apenas estava a admirar-te. Estás tão linda, hoje. Não que tu não sejas, mas hoje… hoje estás mesmo demais…
Ela corou.
- Obrigada. Tu também estás muito bem…
Ele passou as mãos pelo cabelo nervosamente.
- Lil, eu… bem, tu… tu tens par para o Baile de Finalistas?
- Não. Ninguém me convidou ainda.
Ela mentia. Já muitos a tinham convidado, mas ela mantinha a esperança que James o fizesse.
- Então… gostarias de ir comigo?...
Ela sorriu e, num sussurro, respondeu.
- Não há nada que me faria mais feliz…
Os seus olhos encontraram-se novamente. James vagueava seu olhar pelo rosto dela, bochechas rosadas, nariz um pouco vermelho, devido ao frio, lábios vermelhos e carnudos, olhos verdes brilhantes, cabelo que teimava em cair-lhe para os olhos… quando se apercebeu, a distancia que os separava era mínima. Lily sussurrou.
- James… o que estás a faz…
- Sshhii… – ele colocou seu dedo sobre os seus lábios e falou no mesmo tom – Não digas nada… deixa-me sentir-te… e sonhar que tu também me amas…
E seus lábios selaram-se no beijo mais doce que alguma vez houve. Não havia pressa, nem saudade, nem urgência… apenas amor…
Quando se separaram, ambos estavam vermelhos e um pouco ofegantes. James encostou sua testa na dela.
- Eu amo-te Lily. Amo-te como nunca amei ninguém. Amo-te mais que a mim mesmo. Amo-te. E amar-te-ei para sempre. – ele sussurrou – Tu és perfeita. És maravilhosa. És tudo o que eu sempre sonhei, tudo o que eu sempre quis. Quero-te só pra mim, por inteiro. Para sempre.
- James, eu…
- Não digas nada. – abraçou-a fortemente – Quero que tenhas a certeza do que sentes. Não quero forçar-te a nada. Quero que sejas minha por livre e espontânea vontade. Vem comigo ao baile. Depois… Depois decidiremos…
E permaneceram abraçados por algum tempo, até que voltaram para o castelo, de mãos dadas.
*FIM DO FLASHBACK*



Durante algum tempo, eu e o James evitámo-nos. Eu, por não saber o que dizer, e ele, por não querer influenciar-me. Foi estranho. Já estava a começar a habituar-me ao seu jeito de ser, às suas piadas, às suas expressões, à sua maneira de acordar, ao seu jeito de rir, de me olhar, de falar… enfim… cheguei à brilhante conclusão que o amava… nossa, difícil chegar lá, dizem vocês… não… não foi… eu já o amava… sempre o amei… só não queria aceitar que eu, a ‘prefeita-quase-certinha-Evans’ estava perdidamente apaixonada pelo ‘maroto-mulherengo-irresponsável-James’…

Chegou a noite do baile de finalistas… como combinado, eu fui com o James. O Sirius foi com a Any e Remus com a Mel. Eles namoravam. Apenas eu e James íamos como… ‘amigos’… uns amigos especiais… foi lindo… ele foi a pessoa mais maravilhosa que eu já vi, nessa noite… e eu estava cada vez mais caídinha por ele…


*FLASHBACK*
James e Lily estavam de novo perto do lago, debaixo daquela árvore. Estava calor, e os ramos pareciam refrescá-los. A lua, que estava quase cheia, brilhava ainda mais intensamente. Lily, que tinha se descalçado e sentado na margem do lago, molhava seus pés. James estava a seu lado.
- Gostaste desta noite, Lily?
- Adorei.
Os cabelos dela estavam presos no alto, deixando alguns cachos ao lado do rosto caírem estrategicamente. Usava um vestido pérola, muito trabalhado. Ele usava um smoking. Tinha-se descalçado também.
- Lily… eu… preciso de saber…
Lily fechou os olhos. Quando os abriu, fitou a lua. Parecia que brilhava com mais intensidade.
- James eu… eu sempre te achei irritante… tu sempre me deste motivos para te odiar com todas as minhas forças… tu fazias com que o pior que existe em mim sobressaísse… – James virou o rosto – tu foste o único garoto, para além dos Slytherin, a quem eu quis lançar um feitiço imperdoável… acredita… mas… tu mudaste… não posso negar… tornaste-te uma pessoa incrível… fizeste-me sentir bem, contigo… fizeste-me… sentir feliz… – ele voltou a olhá-la – naquele dia, em Hogsmeade, não havia outro sitio onde eu quisesse estar, senão em teus braços… tu fizeste-me falta estes dias, quando não falamos… e, se não ficar contigo, vais-me fazer ainda mais falta… por isso… quero dizer… amo-te… e sim, quero ser tua… para sempre…
E olhou-o. Os olhos dela estavam vermelhos. Mas os dele… os dele irradiavam uma felicidade extrema. Abraçou-a com muita força.
- Então sê minha… meu amor… – ele sussurrou em seu ouvido. E beijaram-se novamente. E, dessa vez, a lua e as estrelas adquiriam um brilho excepcional.
*FIM DO FLASHBACK*



Começámos a namorar nesse mesmo dia. As pessoas não queriam aceditar que Lily e James, o casal-discussão, estivessem juntos. Mas estávamos. Os amigos mais chegados estavam felizes por nós. Alguns alunos parabenizavam-nos. E outros, como os Slytherin, pirraçavam-nos.
Mas não havia problema… estávamos juntos, isso é que interessava. E estávamos felizes. Muito felizes.

Fizemos as provas finais e demo-nos bem. Todos. Eu consegui qualificar-me para a carreira quer de curandeira, quer de auror. Sirius e James, de aurores. Remus, de professor. Any, de inominável. Mel, de curandeira. Peter… não sei… nem me interessei, na altura.
Houve um discurso de Dumbledore, no último dia do nosso sétimo ano. Um discurso que, por muitos anos que viva, nunca esquecerei…


*FLASHBACK*
Todos os alunos se encontravam no salão nobre. Para alguns, era o final do primeiro ano, começo de muitos outros. Para outros, era o final do sétimo ano, e começo de uma vida real. Uma vida adulta.
Dumbledore levantou-se e o silêncio reinou no salão. Ele, então, principiou o seu discurso.
- Queridos alunos… para muitos de vós, este é o ultimo ano que cursam neste escola. É um ano de mudança, para vós. Vão passar os limites da protecção deste lugar para um outro, onde a protecção é feita por vós mesmos e por aqueles que vos rodeiam. Lembrem-se, a união faz a força. E o amor faz a união. A vossa vida vai mudar. As pessoas que conhecem vão mudar. Os lugares que acham seguros vão mudar. Tudo vai mudar. Vocês vão mudar. Vão entrar num ciclo de responsabilidades, de decisões, de escolhas, que nem sempre serão as melhores, mas que deverão ser as melhores para vocês. E lembrem-se: não desistam daquilo que acreditam. Uma salva de palmas para os formandos deste ano!
E o salão irrompeu em aplausos sonoros. Todas as casas, até os Slytherin, aplaudiam fervorosamente. Após os aplausos cessarem, um representante de cada casa foi discursar. E o representante dos Gryffindor foi James Potter.
- Caros colegas Gryffindors… colegas das outras casas… é com enorme gosto e enorme prazer que venho dizer algumas palavras… – começou a procurar algo nas vestes, mas não encontrou – Eu tinha aqui um pergaminho, mas parece que me esqueci… que se lixe, vai de improviso mesmo… pessoal do sétimo ano… acabou… tenho muita pena em dizer, mas a nossa estadia aqui acabou… não teremos mais a comidinha boa dos elfos todas as manhãs… nem a balbúrdia das salas comuns… nem a… – sorriu maroto – a desarrumação dos dormitórios… nem a companhia dos professores… ou colegas… não teremos mais a oportunidade de vermos a beleza dos campos de Hogwarts pelo nascer do sol, depois de uma noite de neve… – a esta altura, alguns alunos fungavam – nem poderemos rejubilar com as vitorias do Quidditch… enfim… acabou… mas não acabou definitivamente… sairemos daqui pessoas melhores… adultos… aqui fizemos amizades eternas – olhou para os outros três Marauders, a quem acenou e eles retribuíram – amores infindáveis – olhou para Lily, sorriu e ela corou – e até inimizades inesquecíveis – olhou para a mesa dos Slytherin e revirou os olhos, o que deu lugar a alguns risos, até dos professores – enfim… fomos brindados com lugares, pessoas, situações inesquecíveis… acabou… mas aqui fora… – ele fez um circulo em volta de si próprio – porque aqui dentro – apontou para a sua cabeça – e aqui dentro – fez o mesmo para o seu coração – isto vai estar vivo e existir… mais incrível e real do que sempre… parabéns aos formandos deste ano! A nossa vida está à nossa frente!
Numa explosão incrível, todos os alunos e professores existentes na sala se levantaram e aplaudiram James Potter. Era incrível. Alunos choravam, riam, cumprimentavam-no… ele desceu os poucos degraus do palanque mas… a meio do caminho de volta, voltou atrás… e clareou de novo a garganta, aproximando-se do microfone.
- Desculpem… eu… eu sei que já falei e já tive os meus 15 minutos de fama – alguns alunos riram – mas… sabem como eu sou… um exibido… – mais risos e um ‘podes crer’ de Sirius – mas há algo que eu queria acrescentar… a nível pessoal… esta escola significou muito para mim… aqui eu encontrei pessoas que eu não vou esquecer nunca... Peter… Pete… vou sentir saudades das nossas escapadelas à cozinha… bem… nem por isso… tu comias tudo e não me deixavas nada… mas eu adoro-te… sempre… – olhou para Peter, que corou – Remus, lobo mau… – risos – eu nunca te disse nada, mas o som da minha consciência tem a tua voz… sério… tu conseguiste que eu ganhasse algum juízo, principalmente quanto a conseguir conquistar a minha ruivinha… agora espero que os meus filhos não te tenham como professor senão… vão sofrer imenso… – expressão desesperada, que deu lugar a mais risos – Sirius, seu cão com pulgas… tu… tu és o melhor amigo que um homem pode ter… sem trocadilhos – gargalhada geral – és meu irmão… não de sangue, mas és… vou sentir a falta das nossas escapadelas nocturnas, meu… dos planos infalíveis para conquistar o meu anjinho… dos planos inconfundíveis para enfeitiçar Slytherins… ainda pra mais agora vais viver lá praquele apartamento… desgraçado… temos de fazer uma festinha de inauguração… – e apontou seu dedo para Sirius, que gritou ‘combinado, parceiro’, o que fez as gargalhadas aumentarem – Frank… Frank… cuida bem da Alicinha… senão… tens de te haver comigo, camarada! E agora, por ultimo… mas não menos importante… Lilian Evans… o meu anjo ruivo… a mulher mais linda, perfeita, maravilhosa que eu já encontrei… e é minha, portanto, poucas intimidades, rapazes! – mais gargalhadas – Sem querer desfazer das outras constituintes da ala feminina, claro está! – ‘eu ouvi isso, senhor Potter!’, gritou Lily, o que fez James coçar a cabeça e todos gargalharem ainda mais – enfim… ela é demais… ela faz o melhor de mim sobressair… ela… ela mudou a minha vida… com ela, eu sinto-me completo… eu não preciso olhar para mais nenhuma para me sentir inteiro, feliz – olhar de superior de Lily para as outras raparigas, que a fuzilavam com o olhar – ela é o ar que eu respiro… a doçura na minha vida… a minha outra metade… a minha alma-gémea… aquela que vai ser a mãe dos meus filhos… de todos eles – risos – o meu único e eterno amor… nesta vida… e na outra… – suspiros vindos das raparigas – por isso, meu amor… quero passar o resto da minha vida contigo. Seja onde for. Vamos morar juntos.
Lily sorriu. Levantou-se do seu lugar e, em passos apressados que só ela sabia dar, dirigiu-se para James, que desceu do palanque. Abraçaram-se e ele rodopiou-a no ar, beijando-se e rindo, ao som de muitos aplausos de todos.
- Sim, meu amor. Vamos morar juntos. Vamos ser felizes.
*FIM DO FLASHBACK*



E assim foi. No final desse ano, que acabou três dias depois desse discurso, eu arrumei as minhas tralhinhas e comuniquei aos meus pais que ia morar com o meu namorado… sim, foi um choque… mas, depois de conhecerem o James… eles entenderam.
E viemos morar para uma casinha agradável. Em Godric’s Hollow. Foi maravilhoso. A nossa vida não poderia ter sido melhor. Eu saia de manhã, ia para St. Mungus, e chegava a casa por volta das três da tarde. James chegava por volta das cinco. E… durante a tarde… o mundo era nosso. Entregávamo-nos à paixão, sempre como se fosse a primeira vez. E não, não vos vou contar como foi… coscuvilheiros… *risos* com o James, a minha vida era estável e imprevisível, ao mesmo tempo. Tão depressa podíamos ficar sentados no sofá, embrulhados num cobertor a ver televisão, numa noite, como na noite a seguir, ele me levaria a voar na sua vassoura. Um tempo de paz.
Tempo esse que não durou muito. Há algum tempo aparecera um bruxo, um bruxo das trevas, que se auto-intitulava Lord Voldemort, o mais poderoso. Há, o tanas. O mais poderoso é, e sempre foi, Dumbledore. E não me venham com cenas. Mas enfim… o que consta é que o ‘bicho’ atentava contra a vida de inocentes… muggles e mestiços… e também… mudbloods, como eles diziam… ah, sim… eles… os Deatheaters… maioria… qual maioria, todos eles, Slytherins. Havia massacres em massa… e o Ministério da Magia nada fazia… cambada de covardes…
James, Sirius, Remus, eu, Mel, Any, Frank, Alice, entre muitos outros… a Marlene, também… tentávamos apanha-lo… mas o danadinho escapava sempre… até que Dumbledore nos convidou para fazermos parte da Ordem da Fénix… um grupo de bruxos que combatiam a arte das trevas… juntamo-nos, claro, com muito gosto… e foi ai que os meus problemas começaram…

Como eu era curandeira, era crucial que ficasse em St. Mungus… além de poder ajudar os feridos, poderia obter informações vitais para a Ordem… eu aceitei, relutante… queria participar nas missões de terreno… Dumbledore fez-me compreender que era importantíssimo o meu trabalho, bem como o de Mel. E eu fiquei no hospital.
James, como auror, participava nas missões. E chegava tardíssimo a casa. Por vezes, nem vinha. Eu desesperava, pensava mil e uma desgraças, não dormia… até receber uma noticia, por muito pequena que fosse…

Outubro chegou. E, com ele, o aniversario de James. Combinei com todos os seus, nossos, amigos, uma festa surpresa. Sirius ficou encarregue de o atrasar enquanto eu, as meninas e Remus preparávamos a festa na nossa casa. Mas Sirius chegou mais cedo. Sozinho. Afirmando que James desaparecera durante o dia, avisando que voltaria para casa. Para todos os efeitos, eu estaria de plantão, nessa noite.
As horas foram passando. Permanecíamos no escuro, para dar a ideia que não estava ninguém. Então ele apareceu. Acendeu as luzes e…


*FLASHBACK*
- SURPRESA!
Todos os amigos de James se encontravam ali. Sorriam, usando pequenos chapelinhos de festa. James sorria, daquela maneira que só ele sabia. E, a seu lado, com a mão dele em volta de sua cintura, estava uma morena de olhos verdes, que sorria também.
Lily estava surpresa. Que lata a dele! Estar ali, na casa deles, na festa de aniversario que ela preparara, na sua frente, com… com a outra!
Largou a cintura da rapariga e foi cumprimentar seus amigos, sorrindo, recebendo e dando palmadinhas de afecto dos rapazes e dois beijinhos calorosos das raparigas. Quando se aproximou de Lily para a beijar, esta apenas virou o rosto.
- Amorzinho… o que foi?
- O que foi? O que foi?! Nada. Simplesmente nada. Depois falamos. Diverte-te na tua festa, Potter.
E, pegando a sua bolsa, saiu, batendo a porta com força.
*FIM DO FLASHBACK*



Vim a saber, quando fui trabalhar, na manhã seguinte, que James pedira desculpa a todos, dizendo que não estava a sentir-se bem. E que dissera à sua prima que voltasse noutra ocasião, para me conhecer. Senti-me mal. Senti-me partida por dentro. Não consegui trabalhar de maneira nenhuma. Só pensava em pedir-lhe desculpas. Mas tinha a sensação que era escusado. Imaginava os piores cenários. Ele, a acabar tudo comigo. Pra sempre.

Voltei para casa nessa tarde. Quando entrei, encontrei a casa na penumbra. Ele tinha fechado todos os estores e cortinas. Estava sentado no sofá, com a cabeça entre as mãos…


*FLASHBACK*
Lily caminhava calmamente. Chegou perto de James e sentou-se ao seu lado, no sofá.
- James… – ela sussurrou – Posso acender a luz…
- Não.
A voz dele saiu grave e triste. Lily arrepiou-se.
- Deixa-me olhar para ti, James.
- Para quê?
Ela estendeu a mão e tocou sua perna. Ele afastou-se um pouco. Lily sentiu lágrimas formarem-se nos seus olhos.
- Para pedir desculpas.
- Não precisas. Apenas… explica-me porque tu, sequer, imaginaste que eu poderia trair-te… porque eu… sinceramente… não entendo…
Lily pegou a sua varinha e murmurou Lumus . Quando olhou James, este encontrava-se com o mesmo fato do dia anterior, barba por fazer, olheiras enormes, olhos vermelhos.
- Meu am…
Mas não conseguiu terminar. Começou num choro compulsivo. Largou a varinha no chão e escondeu o rosto entre as mãos, murmurando coisas sem sentido.
James abraçou-a forte. Começou a afagar seus cabelos ternamente, em silêncio.
- Perdoa-me James. Perdoa-me. Eu sou uma burra. Duvidar de ti. Oh, James.
- Shii… está tudo bem… já passou…
E assim ficaram por muito tempo, na penumbra do quarto.
*FIM DO FLASHBACK*



Fizemos as pazes nesse dia. Bem… e como fizemos… mas isso não interessa… o que interessa é que, com o tempo, não ficou tudo bem…

James continuava a chegar tarde. Eu dizia que não havia problema, mas cá dentro, sentia uma raiva imensa. Porque ele não podia estar ao meu lado? Porque ele não podia dar-me aquilo que eu precisava? Ele chegava cansado, comia, deitava-se, dava-me um beijo, virava para o lado e dormia. Eu passava as noites a chorar. Eu não sei se ele notava, mas nunca o dava a perceber.

O tempo foi passando. Eu já não cuidava de mim como dantes. Para quê, se o único sitio onde me viam era no hospital, de bata e cabelo apanhado? Já não fazíamos os nossos serões no sofá. Já não me levava a passear de vassoura… já não fazíamos amor…
A minha insegurança aumentou. Cada vez que eu ia até à sede da Ordem, encontrava novas recrutas. Jovens e bonitas. Bonitas demais. Que sorriam para James. E ele retribuía. E eu começava a imaginar coisas…


*FLASHBACK*
- Chega, Lilian!
Era mais uma discussão entre James e Lily. Pelo mesmo motivo. Ciúmes.
- Chega? Não, não chega! Pensas que eu não vejo os olhares que tu lhe deitas?
- Lily… eu não…
- Pára!
Ela caminhou até ao quarto, fechando a porta com força. Ele entrou logo a seguir.
- Lily, eu amo-te… eu nunca…
- Ela é boa de cama? Geme o bastante? Geme o teu nome, como tu gostas? Elogia o tamanho dele? Como é? Conta-me!
- Lilian!
- Fala-me! Explica-me!
- Lilian, eu não sei se ela é boa de cama. Não sei. Mas…
- Mas?
- Acho que poderei vir a saber. Porque… não estou a aguentar mais isto. Adeus, Lily. Eu não volto hoje para casa.
E saiu porta fora, deixando Lily num canto, a chorar.
*FIM DO FLASHBACK*



Era semana sim, semana não… estava difícil… James saia todas as noites e só chegava de madrugada, às vezes bêbedo, às vezes não… eu fingia dormir, quando ele se aproximava para me beijar… até que desistia… e dormia… e eu… eu chorava… aquela não era a vida que eu tinha sonhado para mim… onde estava o James que eu tinha conhecido em Hogwarts? Onde estava o homem que tinha feito uma declaração de amor em frente à escola toda? Eu não sabia… eu só sabia que não queria aquela situação durante muito mais tempo… mas também não o queria deixar…

Um dia…


*FLASHBACK*
Lily estava em casa, cozinhando. Estava a cortar cebola, mas não chorava só por isso. Chorava pelo rumo que a sua vida tinha tomado. James não aparecia em casa há três dias. Até que bateram à porta.
- Já vai…
Ela levantou-se, limpou as mãos ao avental, enxugou os olhos e foi até à porta. Caminhava normalmente. As batidas tornavam-se mais insistentes.
- Já vai! Raios…
Abriu a porta. James.
- Jam…
Mas não terminou. Ele tomou-a nos braços e começou a beija-la incessantemente.
- James… o que…
- Cala-te Lily…
E beijava-a, prendendo-a em seus braços, não lhe dando hipóteses de escapar. Caminhava até ao quarto.
- James… pára… solta-me…
Mas ele não parava. Entrou no quarto e trancou a porta atrás de si. Voltou a beija-la, tirando-lhe a roupa rapidamente.
- Não… pára… eu não quero…
Ele parou. Olhou-a seriamente.
- Lily… eu não estou com ninguém há quatro meses… se pensas que eu fui ter com a Rachel, depois daquela noite, enganas-te. Fui dormir a casa do Sirius. Todas estas noites que eu não venho, eu vou para casa dele. Eu não penso em nada a não ser em ti. Eu quero-te, Lily… eu amo-te… faz amor comigo esta noite…
- James… tu está… bêbado…
- Talvez esteja. Mas se não estivermos juntos hoje… não poderemos estar nunca mais… eu vou achar que já não me amas… e vou sair da tua vida…
Lily começou a sentir os olhos marejar.
- Eu amo-te Lily. Amo-te como nunca amei ninguém. Vamos ser um só. Esta noite… nada mais interessa.
E beijaram-se com paixão. Numa noite comprida. E completa.
*FIM DO FLASHBACK*



Na manhã seguinte, acordei sozinha. Levantei-me e fui até à cozinha. James estava lá, com uma mala cheia de roupa. Disse-me que ia passar uns tempos a casa do Sirius. Precisava de pensar. Pensar em nós dois. Eu não disse nada. Apenas ouvi tudo sem dizer uma palavra. Ele saiu depois de me beijar na testa. Eu continuei a fazer o que fazia todas as manhãs. Fui para o hospital. Só quando lá cheguei, consegui entender. Ele estava a ir-se embora. E eu não podia fazer nada. Chorei. Chorei tudo o que consegui.

Até que ele apareceu, este fim-de-semana passado. E tivemos uma conversa bastante séria…


*FLASHBACK*
Bateram à porta. Lily foi abrir. Era ele. James. Parecia abatido. Mas tinha uma expressão séria. Muito séria.
- Precisamos falar.
Apenas disse isso. Lily soube, então, que era chegada a hora. Convidou-o a entrar. Sentaram-se no sofá.
- Lily, eu… eu quero terminar tudo. Eu acho que a nossa relação não tem futuro. Somos muito diferentes. Não vai funcionar. Eu…
- Porquê?
- Porque… aconteceu o que eu mais temia… o meu amor por ti… foi morrendo… não sei como, nem porquê, mas… eu já não te amo da mesma maneira… eu amo-te, sim, mas não da maneira que tu queres ou mereces… não como uma mulher maravilhosa como tu merece…
- James…
- Espera… deixa-me acabar… talvez seja melhor acabarmos agora do que deixar arrastar isto por mais tempo e sofreres mais… porque se eu ficar contigo, será por pena… e eu não te posso mentir… nem mentir a mim mesmo… talvez… seja melhor sermos só amigos…
Lily chorava, em silêncio. Já se tinha preparado mentalmente para aquele dia, mas estava a ser muito doloroso.
- James… não me mintas… eu sei que tu me amas… não estragues o que nós temos… é tão lindo… tu prometeste ficar comigo, amar-me, sempre… o que aconteceu?
- Não sei, Lily… não sei… só sei que… não posso continuar assim… a mentir-te e a mentir a mim próprio… por isso… adeus…
- James… oh, James…
Ela levantou-se e abraçou-o forte, beijando-o repetidamente, com lágrimas grossas descendo por seu rosto.
- Fica comigo, nem que seja por pena. Deixa-me ser feliz. Eu só posso ser feliz contigo. Ao teu lado. Tu e eu, como um só. Não me deixes.
- Lily, não…
Ele afastou-a.
- Entende. Acabou. Não há mais ‘tu e eu’. Agora só há ‘tu’ – apontou para ela – e ‘eu’ – apontou para ele – em separado. Adeus Lily. Sê feliz.
E saiu.
*FIM DO FLASHBACK*



Estamos separados há quatro dias. Sinto que ele nunca mais vai voltar. Todos os dias o vejo na Ordem. Nunca me pareceu tão abatido, tão triste. Não consigo pensar nele e não chorar. Ainda agora, estou a chorar por ele. Faz-me falta. Ainda mais agora. Agora é que ele deveria estar comigo. Agora que eu…






Bateram à porta. Lily largou o pergaminho e levantou-se, arrastando os passos. Usava um robe gasto. O cabelo estava num desalinho. Tinha umas olheiras enormes, fruto de varias noites em claro. Abriu a porta sem olhar para a pessoa.
- Lily…
Aquela voz. Olhou para cima. Era ele.
- O que queres daqui? Acho que já levaste tudo.
Ela falava rispidamente. Sentia-se cansada.
- Eu sei que deves estar zangada comigo, mas… não fales assim, por favor…
Ela fez um gesto com o braço, convidando-o a entrar. Sentaram-se no sofá.
- Então. O que vieste aqui fazer?
Ela olhava para ele, com um ar extremamente cansado.
- Pedir-te perdão.
Ela arregalou os olhos.
- Como?
- Eu cheguei à conclusão que a tua ausência me faz mal. Cheguei à conclusão que te amo mais do que nunca. Que a vida sem ti não faz sentido. Que tu és a minha metade. Que sem ti… eu morro…
Lily fechou os olhos. Não queria chorar. Não agora.
- James…
- Eu entendo se não me quiseres mais. Quer dizer… aceito… mas não entendo totalmente…
Lily inspirou fundo.
- James, eu… tenho medo… pela primeira vez, desde que estou contigo, tenho medo. Medo de sofrer de novo… eu não quero sofrer de novo…
- Lily… – ele pegou nas mãos dela – eu prometo que nunca mais te farei sofrer… prometo…
- Oh James…
E abraçaram-se forte. Beijaram-se com urgência, saudade, paixão, amor.
- Perdoa-me meu anjo…
- Não há o que perdoar, meu amor…
E ficaram abraçados por algum tempo, até que mataram as suas saudades (da maneira que nós sabemos… não é?).




Abraçados na cama, entre os lençóis, Lily permanecia aninhada nos braços de James, desenhando coisas em seu peito, enquanto ele afagava seus cabelos ternamente.
- James…
- Sim amor…
- Tenho uma coisa para te dizer…
-Fala, meu anjo.
Lily sentou-se na cama, tapando seus seios com o lençol.
- Eu acho que…
- Sim…
- Quer dizer… eu tenho a certeza…
- Lily, fala, estás a deixar-me nervoso…
- Ai, meu Merlin… James…
- Lily… fala… pelo amor de Merlin…
- James, tu vais ser pai…
Um silêncio descomunal invadiu o quarto.
- James… amor… fala…
Mas ele não conseguia. Apenas estava de boca escancarada, olhar vago, pálido. Levantou-se da cama, enrolando-se no cobertor, e começou a andar de um lado para o outro. Lily levantou-se também.
- James, eu… eu sei que esta não é a melhor altura para engravidar, mas… desculpa, eu não tomei a poção anti-concepcional, e…
Não conseguiu terminar de falar, pois ele tomou-a nos braços e beijou-a apaixonadamente.
- Essa é a melhor noticia que eu já poderia ter recebido até hoje, minha ruivinha linda…
Ela sorriu e abraçou-o.
- Agora eu sei, amor…
- O quê, Lil?
- Que vamos ser felizes. Para sempre. Até à eternidade. E mais além…









Olá pessoal!!!!!
Gostaram?
Espero que sim… foi a minha primeira oneshot… sei lá como se diz… só sei que adorei escrevê-la… agora espero comentários… construtivos, claro!!!!!
Beijos a todos!!!

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