Sua presença...



Inicio de fevereiro. O inverno londrino estava mais forte do que o normal. O tempo estava mais sombrio e assustadoramente mais perigoso. A maior parte do dia, era noite. O que combinava com a esfera de tensão e medo que rondavam a comunidade bruxa e trouxa.

A caça aos horcrux continuava, restava apenas um além da Nangine e o próprio Voldemort. Harry, Ron e Hermione já sabiam onde encontrá-lo. Estava em Hogwarts. Assim acreditavam. A Câmara secreta escondia muito mais que um basilisco e Voldemort, é claro, tirou proveito disso.

Na Toca o clima era de paz. Apesar da “meia” loucura da Sra. Wesley andando de lá pra cá, preocupada com os membros de sua família, fazendo vigília dia e noite aguardando um sinal de vida de cada um, tudo estava tranqüilo. A Toca fora magicamente protegida. Era lá que se encontrava a nova sede da Ordem da Fênix, sendo a Hermione a guardiã do segredo, opinado por Ron e apoiado pela maioria dos representantes da Ordem. Era um entra e sai constante de pessoas, era o lugar ideal para descanso, pois a apesar da “situação” da Sra. Wesley, ela era bem disposta em ajudar a todos que recorressem à ordem, tanto quanto a alimentação quanto a apenas uma pousada de descanso.

Apesar da tranqüilidade a guerra estava acabando com cada um, aos pouquinhos. Harry era o que mais sofria, apesar de se manter calado “aceitando” a situação em que se encontrava, seus amigos Ron, Mione e Gina, sabiam o que realmente se passava na mente do moreno. Era muita responsabilidade para um jovem de apenas de 17 de anos, que carrega um fardo desde antes mesmo de começar a andar e a falar. De certo modo já aceitara seu destino e seria o que Merlin quisesse.

E era neste momento de aceitação que Harry decidira acabar logo com isso. Em busca do 3º horcrux, Harry presenciou o que sempre temia. Gina quase morrera ao ser atacada por 2 comensais que lançaram feitiços ao mesmo tempo. O que a salvara fora um feitiço de cura, nenhum dos meninos conheciam, mas que Hermione fora rápida suficientemente para curá-la antes que perdesse os sentidos, mas que teria que tomar porções especiais para evitar qualquer seqüela.

E era por isso que se encontravam na Toca. Harry queria acompanhar de perto a recuperação da ruiva. Ajudava Hermione nas poções e no que mais podia na Toca. Enquanto isso Ron fora participar, com alguns aurores, num grupo de busca de Lupin que desaparecera há uma semana sem dar nenhuma notícia. Garantiu a Harry e Hermione que voltaria em no máximo 10 dias com ou sem Lupin, precisavam agilizar a busca ao 5º horcrux e não podiam perder tempo quando se tratava de Voldemort. Três dias haviam se passado sem nenhuma notícia da equipe, o que deixava algumas pessoas com os nervos a flor da pele.

Harry e Hermione estavam no quarto de Gina conversando. Já era possível observar uma grande melhora da ruiva, com seu humor “A lá Wesley”.

– Eu os peguei bem no flagra! Eles levaram um susto e tanto, precisavam ter visto a cara dos dois – Gina fez uma cara muito engraçada, fazendo os amigos rirem.

– Pois é! Quem diria né! Neville e Luna! Até que combinam – comentou Hermione divertida e feliz.

– Ahh... Nem vem Hermione, todos nós sabemos que a Luna teve uma quedinha pelo Ron e olha só o tanto que você esta aliviada dela estar com alguém – disse com olhos penetrantes encarando a morena.

Harry abafou uma risada.

– Gina!! – exclamou Hermione com uma expressão chocada – Não é nada disso, fiquei feliz pelos dois porque... porque – Hermione procurava uma resposta à altura, odiava ser encurralada desse jeito – ... porque eles se combinam sim, de verdade, e se merecem também e não tinha ciúmes dela com o Ron.

– Ahh ta bom!! Vou fingir que acredito – disse debochada, girando os olhos.

Hermione ia retrucar quando ouviu uma voz da escada chamando por Harry. Harry se virou para as meninas e dando de ombros disse:

– Acho melhor eu ir ver o que querem – disse se levantando em direção, parou segurando a porta com o corpo já de fora e se virou para Hermione e completou – Se não era ciúmes, que crises eram aquelas que você dava toda vez que a via se aproximar do Ron? – e fechou a porta rindo antes de um travesseiro acertá-lo. Gina ria, mas parou ao sentir uma pontada no abdômen. Olhou para a amiga.

– Que ce têm Mione?

– Nada não Gi, só não gosto de ser o alvo de piada – disse fazendo uma careta.

– Ahh nem vem!! Eu te conheço... – disse olhando mais sério – Ele.. ainda não entrou em contato?

Hermione se levantou.

– Nenhum Gi, nem ninguém da equipe de busca – completou Hermione olhando as montanhas brancas visíveis pela janela do quarto – Por que ele não escreve ou não manda o patrono? Poxa já fazem 3 dias!! Que raiva!! Ele tinha que se oferecer para ir. Isso me deixa preocupada.

– Não fica assim Mi. Relaxa. O Ron esta bem, você sabe como ele é irresponsável, se tivesse acontecido alguma coisa já saberíamos.

– É eu sei Gi, mas...

Hermione foi interrompida com o chamado de Harry. Olhou para Gina com cara de interrogação. Gina deu de ombros. Hermione então, se dirigiu para porta dizendo um “volto já”.

Desceu as escadas normalmente, pensava que Harry estaria ao pé da escada aguardando-a, quando não o avistou, se dirigiu para cozinha. Adentrando no cômodo, o visualizou do outro lado perto do fogão, com uma expressão meio que de... Pena?? Olhou para os outros presentes: Moody com dois aurores que não se lembrava do nome e o Sr. e a Sra. Wesley que imediatamente se adiantou a fim de recebê-la.

– Hermione, minha querida, sente-se, por favor – disse puxando uma cadeira para a garota – temos que lhe contar, você tem que ser forte.

Não saía uma palavra de sua boca e nenhum pensamento lhe passava em sua cabeça. Olhou interrogativamente para Harry que continuava com a mesma cara e se virou novamente para a Sra. Wesley para que continuasse.

– Querida, creio que as notícias não são boas... – Hermione percebeu que ela estava com lágrimas nos olhos – Aconteceu um ataque, não sabemos como descobriram o lugar, ainda mais na França...

Ao ouvir a palavra “França” seu cérebro imediatamente começou a trabalhar e ligar os pontos. Seus olhos focalizaram um ponto qualquer na cozinha enquanto raciocinava. França. Guerra. Férias. Lágrimas. Pena. Más notícias. MEUS PAIS...

– ... mortos! – terminou a Sra. Wesley já chorando enquanto a abraçava.

Hermione não moveu um músculo. MORTOS. Essa fora a última palavra que sua mente capitou depois de “França”. Não ouvira mais nada. Não ouvia mais nada. Sua mente ficou em um branco total. Estava estática. Todos aguardavam alguma reação quando a Sra. Wesley a soltou. Levantou-se, foi em direção a porta. Não viu o olhar de interrogação de Harry, nem a expressão de tristeza (rara) de Moody, nem ouviu a pergunta que Gina lhe fizera ao passar por ela na porta da cozinha.

– Mione... O que aconteceu? – perguntou a ruiva ao ver a amiga com um semblante pálido.

Continuou subindo as escadas rumo aos quarto de Gina. Se lhe perguntassem para onde estava indo, pela primeira vez não saberia responder, pois não tinha mais controle sobre suas pernas, sua mente estava totalmente vazia.

Sentou na cama extra, colocada especialmente pra ela, abraçou as pernas e continuou com o olhar fixo. Nenhuma lágrima caía. Não percebeu quando a escuridão ou Harry, logo depois Gina lhe vieram fazer companhia, não via nada.

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Três dias se passaram desde a trágica notícia. Três dias que Hermione não fazia nada e não falava com ninguém. Ela só saía do quarto pra tomar banho, e Gina já a pegou perambulando pela casa de madrugada. Não comia, e raramente dormia.

Harry, Gina e todos os outros membros tentavam algum contato com ela, mas sem sucesso. Hermione se fechara de tal modo, que parecia não ouvir ninguém. Ninguém sabia o que se passava em sua cabeça. Nunca ninguém a vira desse jeito. Estava num estado catatônico temporário. A Sra. Wesley estava pra entrar em pânico com o comportamento da morena. Ninguém sabia o que fazer.

Gina era a que mais sofria. Doía-lhe não poder conversar com Hermione. Eram tão amigas e ainda tinha Harry, que vendo o estado da amiga, se fechou ainda mais, provavelmente se culpando pelo ocorrido. Tentando manter a pequena lucidez que ainda tinha, perguntava de hora em hora pelo grupo de busca. Precisava urgentemente falar com Ron. Só ele poderia dá uma sacudida em Harry e trazer a Mione de volta pra realidade. Na verdade, antes não entendia o papel de Ron no trio maravilha (como eram conhecidos em Hogwarts), mas devido as circunstâncias, agora ela sabia.

Apesar do ciúme doentio de Ron, ela amava o irmão. Tinha um carinho todo especial por ele. Cresceram juntos, lutando contra as traquinagens dos gêmeos. Era Ron que de noite a acalentava depois de um pesadelo ou quando se machucava. Sofreu quando ele foi pra Hogwarts em seu primeiro ano e voltou falando de “Harry pra cá, Hermione pra lá”. Esse afastamento permitiu uns bons desaforos e brigas. Afinal, o sexto ano de Ron está aí como provas. Gina confiava em todos os seus irmãos mais velhos, mas era apenas em Ron que o via mais como irmão, o via como amigo. E ela sim podia dizer das mudanças que Ron sofrera, poderia dizer do tanto que ele amadurecera em tão pouco tempo. Como essa maldita guerra lhe tirou todas as perspectivas de um futuro, fazendo com que lutasse apenas para viver, ou melhor, proteger aqueles que amava e se precisasse se jogar na frente de um Avada para protegê-los, tinha certeza que ele o faria.

Ron não era só o piadista do grupo ou o “guarda-costas” de Harry. Ele era o equilíbrio.

Do que adianta ser a melhor em tudo se não sabia viver? Essa era a relação de Hermione com Ron. Hermione podia saber tudo sobre as revoltas dos duendes, ou qual a poção mas eficaz para determinado tratamento, mas era Ron que abalava suas bases, bagunçava suas estruturas e a tirava do sério. Ron lhe ensinava a viver de maneira simples, lhe ensinava que na vida existe mais que regras, que existe também o oposto. E nisso Ron era ótimo. Mostrou-lhe que ser o “oposto” também é bom. Tão bom que Hermione já não conseguia viver sem ele. E era exatamente isso que os uniu. O destino foi lapidando as arestas de cada um para terem um encaixe perfeito. Opostos, porém, metricamente iguais.

Com Harry, o a relação era mais sutil, contudo mais visível. Ron ao se aproximar do Menino-que-sobreviveu não pedira nada em troca, só uma amizade sincera. Por sentir-se excluído por seus irmãos mais velhos vira em Harry um novo irmão, que não disputava com ele por atenção dos pais. Foi em Harry que vira verdadeiramente o amor fraterno que tanto desejava. E faria de tudo para honrá-la. Em troca, Ron deu a Harry o que ele tanto desejara. Uma família. Meio que inconsciente. Mas Harry viu nos Wesley, força, coragem de que tanto precisa nessa guerra. E estava disposto a morrer por cada um.

Não era atoa que sempre os chamavam de Harry, Ron e Hermione. Ron o equilíbrio. No centro. Era Ron que mostrava os limites. Podia não ser o mais inteligente ou o mais forte, mas sem sombra de dúvida era o mais leal e que estava disposto a tudo para honrar no que acreditava.Um verdadeiro grifinório. A caça aos horcrux teria que continuar e se Harry ou Hermione continuasse desse jeito, seria uma vantagem para Voldemort. E agora mais do que tudo, eles precisavam de Ron. Ela precisava de Ron.

E na conclusão de seus pensamentos falara baixinho:

– Ron... cadê você? – e bufou irritada.

Como tudo era mágico, Gina ouve um CRACK na cozinha, instintivamente correu pra lá. Sorriu ao ver Ron assoprando as mãos a fim de esquentá-las.

– Obrigada meu Merlin! – murmurou antes de correr e abraçar o irmão. – Graças a Merlin você está bem! Estávamos sentindo sua falta – apertou Ron com mais força, não segurando as lágrimas.

– Estou lisonjeado! – disse com um sorriso no rosto, e percebendo que Gina estava chorando correspondeu ao abraço acariciando-lhe a cabeça – Calma Gi, eu estou bem, com frio... mas bem. – depois de um tempinho...– Vai me dizer que você está chorando só porque fiquei 6 dias fora.?

Gina bufou de raiva e se afastou do abraço dando tapa no peito de Ron.

– Ai. – gemeu Ron.– Brincadeira Gi, estava brincando – apressou-se em dizer quando viu a cara emburrada da irmã. – Eu também senti sua falta. – murmurou finalmente a puxando de novo para o abraço. – Mas eu ainda acho que o Harry vai ficar com ciúmes, se ver você me abraçando desse jeito.

Gina sorriu entre as lágrimas, se afastou do irmão.

– Como você está? Cadê todo mundo? – perguntou Ron aproveitando o afastamento para retirar as luvas e o cachecol. Gina suspirou.

– Estou melhor, meu corpo não dói mais, e só falta uma poção agora...– mordeu o lábio inferior antes de continuar. – Ron, aqui tá horrível! – seus olhos encheram de lágrimas novamente. Ron se voltou para Gina.

– O que aconteceu? – perguntou aproximando-se dela novamente. – Gi, cadê o Harry? E a Hermione? – sua cara estava séria agora.

– Você não soube? – limpou as lágrimas do rosto. Depois dessa pergunta Ron tentou engolir o bolo que se formara em sua garganta.

– Onde eu estava não tinha como nos comunicar com ninguém, e se usássemos patrono provavelmente nos descobririam e adeus ataque surpresa. Mas me diz logo. Cadê o Harry e a Hermione?

– É horrível Ron... o Harry está do mesmo jeito de quando Dumbledore morreu, ele mal responde minhas perguntas, e me trata com frieza, e...e...– continuou pegando fôlego – a Hermione não fala com ninguém, não come e não dorme, ela...ela... fica parada no quarto olhando para o nada e...– Gina voltou a chorar.

– Mas por Merlin Gina! Me conta o que aconteceu! – Ron estava entrando em desespero. Podia subir e perguntar aos amigos, mas não podia deixar sua irmã ali, ele já vira essa cena antes e como antes, Gina precisava dele.
– Os pais da Hermione, Ron, eles...eles... foram atacados... há uns três dias mais ou menos, desde então o clima ficou assim e... e...eu não sei o que fazer, já tentei de tudo, não posso fazer isso sozinha.– Gina abraçou o irmão novamente.

Ron imediatamente entendera. Conhecia Harry, ele provavelmente estava se culpando pelo ocorrido, por isso fazia com que Gina se afastasse. Quando Dumbledore morreu tentou afastá-la e estava fazendo isso de novo, tentando ser nobre. Com Hermione já não sabia o que dizer, ou fazer. Gina ainda chorava.

– Gi... – chamou-a segurando pelos ombros. –...se acalme está bem? Vou precisar da sua ajuda. Onde está o Harry? – Gina ainda não conseguia falar, então continuou.– Está no meu quarto? – A garota fez um sinal afirmativo com a cabeça. – Então me escute. Eu vou lá em cima dá um puxão em Harry e daqui a pouco você sobe com um chá e dá o seu puxão de orelha nele está bem? – a última frase foi seguida de uma piscadela e um sorriso. – Afinal, chá...

– Ajuda qualquer um, em qualquer situação. – terminou a frase dita muitas vezes pela Sra. Wesley. Gina sorriu em resposta. – Tá bom, Ron, e a Hermione?

– Não sei, pelo o que você me disse ela não come e não dorme à três dias? – Gina confirmou com a cabeça. – Não sei o que passa naquela cabeça brilhante, mas vou tentar, vamos ver.

Ron dera-lhe um beijo na bochecha. E se encaminhava para fora da cozinha, ouviu o barulho de armário batendo seguido de um “Droga!” de Gina. Até estranhou quando percebeu que Gina finalmente, fazia algo ele mandasse. Encaminhou-se para a escada.

Enquanto subia pensava em como Hermione deveria estar sofrendo. Culpou-se mentalmente por não está presente quando ela soubera da notícia. Passou pelo quarto de Gina e parou. Continuou se xingando. Mas rumou até seu quarto. Precisava de Harry são para lhe ajudar com Hermione.
Entrou sem bater na porta, viu Harry deitado olhando para o teto, girou os olhos. Não agüentava mais Harry se culpar por tudo que acontecia no mundo da magia.

– Nossa cara! Só lembro de você com essa cara de enterro, quando dera seu primeiro beijo na Cho. – disse marotamente.

– Ron! – Harry se levantou da cama com um sorriso e foi cumprimentar o amigo. – Cara, demorou hein, não deu notícia por quê? E o Lupin? Conseguiu encontrá-lo? – Ron se dirigiu para sua cama, Harry sentou de frente para ele.

– Onde estávamos não tinha como nos comunicarmos, e sim, encontramos o Lupin, ele estava meio ferido e o levamos para o Mungus, acabei de chegar de lá – mostrou uma linha vermelha no braço – não foi nada um dos caras lá, fez com um punhal. Não tivemos nenhuma baixa, foi tranqüilo. E então cadê o resto do pessoal? Minha mãe, meu pai... encontrei a Gi lá embaixo...

– Bom... – Harry desviou o olhar de Ron. – Não tenho certeza, mas ouvi-os dizerem que iriam a Hogwarts e que voltariam para o jantar...e...– Harry não teve tempo de continuar Ron se levantava e se dirigia para a porta

– No jantar conversamos então. – Estava com a maçaneta da porta na mão e se virou para o amigo. – E Harry? – Harry estava para se deitar de novo, quando ouviu o chamado. Olhou para Ron.

– Não é culpa sua cara! – Harry fez uma cara de interrogação.– Você sabe que não! E pare de se martirizar! Estamos nessa guerra porque acreditamos no bem, e acreditamos em você, sabíamos das conseqüências e mesmo assim optamos por estar ao seu lado. Hermione sabia disso. Então por favor, melhore essa cara, porque se eu vir a Gina chorando de novo como a vi lá embaixo com esse seu ato de nobreza... – Ron dissera as últimas palavras com uma expressão de seriedade no rosto mas sorriu ao continuar.–...eu lhe dou uma surra. – fechou a porta do quarto.

Encontrou Gina no 4º andar com a xícara de chá, lançou-lhe um olhar significativo do tipo “Eu ainda sou ciumento, olhe lá o que vai fazer hein”, e depois sorriu. Continuou seu caminho parando em frente a porta do quarto de Gina. Ainda sentia-se culpado por não estar por perto. Suspirou fundo e abriu a porta.

– Mione? – chamou-a, o quarto estava meio escuro apesar de ainda ser de tarde. – Mione? – chamou-a novamente quando a viu sentada na cama abraçando os joelhos, com um olhar fixo em algum ponto do quarto.

Parou diante dela e a chamou mais uma vez. Hermione não moveu um músculo se quer. Levou a mão ao rosto da garota. Sua mão fria não a tirou do frenesi em que se encontrava. Lentamente virou o rosto da garota para si.

– Sou eu... o Ron! – sua voz era doce.

Hermione finalmente o olhou. Seus olhos começaram a lacrimejar, porém não disse nada.

– Sou eu Mione, Ron. Estou aqui agora! Vai ficar tudo bem! – falava olhando nos olhos castanhos lacrimejantes.

– Ron? – a garota sussurrou. – Ron? – enfim o abraçou. Grossas lágrimas corriam pelos seus olhos.

Ron a abraçou imediatamente. Sentando-se na cama, com Hermione ainda e seus braços, a apertou ainda mais. Beijava-lhe o topo da cabeça.

– Está tudo bem, Mione... shiiiii... vai ficar tudo bem, estou aqui agora! – Ron estava prestes a chorar também, não agüentava vê-la naquele estado.

Hermione chorava ainda mais, e mais alto. Qualquer um podia ouvir seu pranto. Ron continuava a consolá-la. Tirou forças não se sabe da onde para segura o choro. Hermione o abraçava com tanta força que parecia que ia sufocá-lo e Ron retribuía o gesto com muito prazer. Quem os visse tão juntinhos diriam que era apenas uma pessoa só. Ron não queria soltá-la, sentira muita falta dela nesses dias, e não sabia por que, mas quando estava lá fora no resgate de Lupin sentira um aperto no coração e seus sonhos via Hermione chorando. Não disse mais nada, deixou que Hermione chorasse a vontade, ela precisava.

– Foi minha culpa. – Hermione sussurrou de repente, o assustando. Ainda chorava, mas já parara com os soluços.

– Como é que é? – perguntou. Entendera muito bem, o que ela dissera.

– Foi minha culpa. Se eu não tivesse aceitado ir para Hogwarts, eles ainda estariam vivos. Éramos felizes. Eu os abandonei. Não devia ter ido para Hogwarts, assim não participaria desta maldita guerra.

Ron engolira em seco. Talvez Hermione não soubesse mas essas palavras estavam ferindo-o.

– Não diga isso Mione... por favor, não diga... – sua voz era vacilante. Apertou-a mais contra si.

– Mas é minha culpa – ela insistia – Eles não tinham nada a ver. Se não fosse tão cabeça-dura eu não teria insistido tanto para ir para Hogwarts. Minha mãe foi contra, e eu...Eles ainda estariam aqui. – mais lágrimas.– e eu não estaria sozinha agora, Ron. Maldita carta!

Ron afrouxou o abraço e se soltou de Hermione a fim de olhar-lhe nos olhos.

– Nunca mais repita isso, está bem? – disse com uma lágrima na face. – Você não está sozinha e nunca vai estar. – suspirou fundo limpando a lágrima. – Mione você é a única certeza que tenho na minha vida, é o que me faz abrir os olhos a cada manha e lutar. Agradeço a Merlin ou seja qual lá for a entidade divina por ter trazido você a minha vida – sorriu.– Ahh!! Lembra-me de agradecer ao Neville por ter perdido o Trevo no trem – Ron viu um esboço de sorriso na garota e se acalmou. Envolveu-a novamente num abraço. – Mione eu não sinto a sua dor, mas daria tudo para que você não sentisse isso. Sei que agora terá um espaço vazio em seu coração, mas você não pode deixar que esse vazio seja o centro da sua vida. Faremos de tudo para que ele diminua. – tomou fôlego e continuou. – Sinto muitíssimo por seus pais... – nesse momento ela voltou a chorar –... mas Mione, nós tivemos escolhas e fizemos uma promessa se lembra? Sabíamos das conseqüências dos nossos caminhos. Seus pais também sabiam, e lembro do olhar deles de temor, porém eles confiavam em você, e nos mesmos olhos de temor, também vi orgulho e...– pegou fôlego – o Harry precisa de você. Eu preciso de você. Não conseguirei ajudar o Harry sem você do meu lado. Não sem a sua teimosia e autoritarismo, não sem a sua inteligência... e... sem nós o Harry tampouco conseguirá. – finalizou. Hermione estava perfeitamente encaixada nos seus braços. Ron sentia sua camisa ser molhada com as lágrimas dela.

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Passara-se muito tempo. Pela janela Ron avistava a escuridão, devia passar das 19:00 h. Hermione parara de chorar já tinha um tempo. Ron pensando que ela estivesse dormindo, se mexeu e sentiu um abraço apertado.

– Pensei que estivesse dormindo. – murmurou dando-lhe um beijo no topo da cabeça. Hermione não respondeu. – Mione?

– Me desculpe Ron! – dissera finalmente com a voz embargada pelo choro. – eu não devia ter dito aquilo – sussurrou voltando a chorar.

– Está tudo bem, Mione.

– Não, não está – disse se levantando para encará-lo. Ron sentiu um friozinho no local onde ela estivera antes. – Eu fui egoísta Ron, não sei o que deu em mim. Eu passei esse tempo todinho aqui, não pensando em nada. Na verdade eu só conseguia pensar neles.– ela engoliu um soluço. – Eu pensava neles, antes, agora. Não ouvia ninguém. Estava nesse mundo de lembranças quando entre as lembranças eu ouvi uma voz. A sua voz, Ron. E me trouxe para a realidade.

– Me desc...–Hermione o calou com um dedo em sua boca.

– Sim Ron, eu o agradeço. Ao ficar neste mundo de lembranças, era tão real, eu acabei me esquecendo do que era concreto na minha vida. O Harry, seus pais, seus irmãos, essa guerra...você! E foi você que me trouxe de volta, que me abriu os olhos. Quem diria não é mesmo.... justo você.– ambos riram.

Ron colocou a mão atrás da cabeça de Hermione a aproximando. Suas testas se colaram. A respiração dos dois estava calma, num só ritmo.

– Senti saudades! – sussurraram ao mesmo tempo.

Beijaram-se suavemente. Foi um beijo singelo, humilde mas que causou uma devastação por dentro.

O beijo não durou muito tempo, mas com certeza seria inesquecível. Hermione permitiu-lhe ser abraçada novamente. Sentia-se leve. Um peso fora lhe tirado. Seu coração ainda doía, mas seguiria em frente, por Harry, pelos Wesley, por Ron.

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Ainda estava abraçada quando ouviu u barulho vindo de Ron, mais precisamente de seu estômago. Não agüentando começou a rir.

– Ahh Mi! Eu não tenho culpa se o meu corpo sabe a hora de jantar – disse rindo também e se levantando. – Anda, vamos. Estou morto de fome. – Hermione girou suas íris castanhas

– Novidade!! – argumentou divertida.

– É sério, estou mais de 24 horas sem comer, o que é um absurdo – disse puxando Hermione.

– Não Ron, eu não quero ir – Ron a olhou com as com as sobrancelhas erguidas. – não estou com fome!É sério. – exclamou rapidamente ao olhar de zombaria dele.

– Tá bom, até parece que você vai ficar mais um minuto sem comer, já não bastaram 3 dias? – exclamou.

– Não Ron, olha como estou – disse apontando para si mesma. – estou horrível, não vou descer assim.

– Ahh vai sim! E vamos rápido antes que a comida acabe!

– Eu não vou!

– Ahh vai sim Srta.! – disse se aproximando dela.

– O que vai fazer? – perguntou espantada com a aproximação repentina.

– Isso!! – e a pegou no colo.

–Nãão! Ron, me põe no chão! – disse surpresa.

–Você me deixou sem alternativas Mione, então aproveita a carona. – disse já passando da porta e descendo as escadas.

– Me larga agora, Ronald! – exclamou elevando a voz.

– Se você não parar de se mexer nós dois vamos cair feio!

– Me põe no chão! Eu sei andar sabia? – disse bufando de raiva, e se mechendo muito. Sabia que Ron não cairia, afinal ser goleiro da grifinória tinha suas vantagens.

– Hermione, já estamos chegando... para de se mexer um pouco, seu cabelo está fazendo cócegas.

– Está fazendo é? – sorriu maliciosamente.

– É sério Mi, tira do meu rosto, se não vamos cair – disse rindo.

– É só me colocar no chão!

– Nem!! Só quando chegarmos à cozinha, – Ron fazia umas caretas tentando afastar o cabelo do rosto. Hermione ria com gosto.

E foi com esse sorriso que encarou todos os presentes na cozinha: Sr. e Sra. Wesley, Fred, Jorge, Gina, Harry, Tonks, Moody, Neville e Luna. Enfim Ron exclamou:

– Olha quem eu encontrei por aí! – e colocou Hermione no chão. Hermione estava muito vermelha, percebeu que todos a encaravam enquanto Ron se afastava divertido.– Ô mulher difícil viu!!

– Ron!! – exclamou Hermione com a insinuação de Ron.

Neste momento todos caíram na gargalhada. Hermione estava muito encabulada, vermelha que nem um pimentão, mas sorria.

– Sente-se querida – aproximou-se a Sra. Wesley da nora – você precisa se alimentar, vê se pode! 3 dias sem comer – Hermione sentara e imediatamente a Sra. Wesley colocou um prato em sua frente!

– E eu mãezinha? Não mereço também não? – Foi dar um beijo na Sra. Wesley. – Que foi? – fez uma cara de inocente vendo que a Sra. Wesley o olhou em repreensão. – Eu não tenho culpa, ela não queria descer, mas ela não resistiu ao meu charme!! – exclamou passando a mão no cabelo, numa pose bem cheio de si!

– Você me paga Ronald – bufou Hermione.

– Mãe! Olha a Hermione me ameaçando – clamou pela mãe com uma carinha nada inocente.

Todos voltaram a rir. Ron se posicionou para trás da Sra. Wesley no momento em que Hermione lhe jogara uma bolinha de guardanapo. Ron ria abertamente e lhe mostrou a língua desafiadoramente, fazendo com que todos rissem ainda mais. Hermione se levantou da cadeira.

– Ixiii Ron! Agora é serio – disse Fred.

– Ela até se levantou – exclamou Jorge.

– Protejam seus pratos! – exclamou Fred.

– A batalha vai começar – disse Jorge protegendo seu prato.

E mais risadas. Hermione lançou um olhar mortal aos gêmeos que logo se juntaram a Ron atrás da mãe.

– Que coisa feia! – exclamou Gina – Três marmanjões contra uma garota!!

– Não é só uma garota! – disse Fred.

– É Hermione Granger – afirmou Jorge

– A sabe tudo de Hogwarts – continuou Ron.

– Sabe feitiços inimagináveis – disse Jorge.

– A mais inteligente desde a época em que Macgonagall era estudante.– disse Fred.

– E bota tempo nisso – afirmou Jorge. Fazendo com que todos abafassem um sorriso.

– E que tem um soco direita que derruba qualquer um – finalizou Ron.

– Você já levou um soco da Hermione Ron? Uma garota? – perguntou Luna.

Ron imediatamente ficou sério. E todos riram da cara dele, até Hermione que tentava segurar o riso não conseguiu.

– Ei, ei, ei... não é nada disso, tá ok!! Eu nunca apanhei de ninguém tá! Apesar dos tapas da Mione doerem. – acrescentou rapidamente...– Mas se quiserem confirmar do soco dela é só perguntar para o Malfoy não é Harry?

E mais risadas. Felizmente aquela noite estava lhe fazendo muito bem. Fred e Jorge contaram piada por todo o jantar. Ron era o alvo preferido deles. Fora uma noite tranqüila apesar de tudo. Ron contara como tinha sido o resgate, falou da punhalada que levara, mas que agora estava bem, falou que Carlinhos tinha coisas urgentes a fazer, (todos suspeitavam que ele tivesse uma namorada). Tonks contou do estado de Lupin,e que receberia alta amanhã mesmo.

E como tudo que é bom dura pouco, os presentes começaram a se retirar. Fred e Jorge foram para a Gemialidades Wesley, Neville, Luna, e Moody fora para Hogwarts, onde ajudavam Minerva com os refugiados e desabrigados da guerra. Tonks, voltaria para o Mungus para ver Lupin.

Finalmente, em Molly foi visível um sorriso de satisfação. Despediu-se todos com alegria e antes de subir com o Sr. Wesley lançou um olhar de advertência para os quatro jovens que restaram.

– Não demorem queridos! Amanhã será um dia longo para vocês!Boa noite! – disse dando um beijo na cabeça de cada um.

–Boa noite, mãe! – disseram Ron e Gina.

– Boa noite, Molly – disseram Harry e Hermione.

E restaram apenas os quatro num silêncio profundo. Estavam Ron e Mione de um lado da mesa e Harry e Gina do outro lado. Não se olhavam, cada um estava perdido em pensamentos.

– Pois é... cá estamos de novo não é, nós quatro! – disse por fim Gina – E maninho... – chamou a atenção de Ron. – Obrigada! Sentimos sua falta!

– É eu sei que vocês me amam! – Gabou-se o ruivo.

Todos giraram os olhos. E o silêncio voltou a se instalar no aposento.

– Mione...– chamou Harry sem olhá-la.

– Sim, Harry. – respondeu Hermione virando para fitar o moreno.

– Eu sinto muito, Mi – completou finalmente a olhando nos olhos.

– Está tudo bem Harry, é serio, não foi culpa sua, eu tenho que...– engoliu em seco.– me... acostumar ...– suspirou – só isso, e... eu... precisarei da ajuda de vocês. – terminou olhando de Harry para Gina.

– E nós ajudaremos Mi. Estaremos sempre prontos a te ajudar. – Harry se levantara e contornou a mesa para abraçar a amiga. Quando terminou o abraço virou-se para Ron. – Seja bem vindo meu amigo. – e deu tapinhas nas costa tendo um sorriso como resposta.

– Vamos Gi? Você têm que tomar a poção.

– Sim, vamos! – Gina estava com lágrimas nos olhos, se levantou e voltou para amiga. – Estamos aqui Mione, sempre aqui. – e a abraçou também. – Boa noite! – despediu-se.

Quando estavam saindo Harry se voltou para o casal.

– Eu sei que não é a hora adequada, mas teremos que partir amanhã depois do enterro. Infelizmente as notícias não são boas, e eu quero agilizar as coisas. – sorriu para os amigos – Boa noite! – e voltando a caminhar segurando a mão da ruiva – Não Ginevra e você desta vez não vai. Já conversamos sobre isso, você ainda está tomando a poç...– e o timbre da voz de Harry diminuía conforme se afastavam da cozinha subindo as escadas.

Ron e Hermione se olharam e sorriram. Estavam de mãos dadas por de baixo da mesa, desde quando sossegaram para comer, soltando apenas para que Hermione pudesse abraçar os amigos, voltando a pegar quase que instintivamente quando o abraço de Gina terminou. Hermione precisava desse toque, apesar de ser simples, demonstrava certa cumplicidade. Ron a soltou a fim de pegar mais chá.

– Mais chá? – disse colocando um pouco em seu copo.

– Não obrigada! – respondeu de um jeito simples.

Ron colocou a chaleira na mesa e antes de beber de seu copo, pegou novamente a mão de Hermione, só que desta vez levou-a a próximo ao rosto, para logo em seguida beijar-lhe de leve.

– Tá tudo bem? Valeu a pena ter te trazido a força? – perguntou sorrindo.

Hermione que tinha acompanhado o trajeto de sua mão até a face de Ron sorriu. – Bem, Ron, muito bem...! – baixou os olhos para logo acrescentar – Obrigada!

Ron sorriu, e levantando disse que ainda iria conversar com Harry sobre a saída amanhã, mas que a “Srta.” iria descansar com a ajuda da poção do sono. Estavam
parados em frente ao quarto de Gina.

– Ron eu não vou tomar poção do sono nenhuma.– bufou cruzando os braços.
– Ai meu Merlin! Deixa de ser teimosa Hermione, você precisa! Três dias sem dormir é mais que o suficiente! – exclamou colocando o frasco na mão dela.

– Ahh, Ron, eu não quero, não estou com sono e...– disse fazendo bico, e sua expressão mudou fixando num ponto qualquer no rosto de Ron. Não queria dormir para não sonhar, não sonhar com seus pais. Lágrimas caíram.

Ron a conhecia muito bem cada expressão do rosto de Hermione e deduziu antes mesmo dela começar a chorar o que estava pensando.

– É poção do sono sem sonhos, – disse limpando as lágrimas dela com o polegar, trazendo seu rosto para mais perto. Roçando os lábios ao dela terminou. – Mi, amanhã você terá que se despedir, e precisara de forças para isso. Estaremos todos lá com você dando-lhe essa força, mas você precisará da sua força interior para seguir em frente e só cabe a você. Então tome a poção, por favor, amanhã partiremos logo depois e eu precisarei de você forte e revigorada.

Hermione bufou, detestava quando Ron tinha razão, mas não respondeu, não por falta de argumentos, mas sim porque Ron capturou-lhe os lábios com todo amor que os unia.

Diferente do beijo anterior, esse mostrou a necessidade que eles tinham de ficar juntos. O ar estava ficando mais escasso à medida que o beijo e os toques se tornavam mais exigentes, seus corpos pediam mais, mas foi justamente por falta de ar que se separam.

Ainda estavam de olhos fechados, porém muito próximos. Era apenas uma respiração, um só ritmo de coração, uma só alma, uma só vida...

– Amo você! – declararam-se ao mesmo tempo.

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