Cristal Verde



Capítulo 3


Os últimos acontecimentos viraram a vida de Harry de pernas pro ar. Ter sido escolhido como um dos campeões do Torneio Tribruxo sem ter se inscrito, só confirmava os sinais, alguém queria vê-lo morto. O que não era necessariamente novidade, Harry sabia de pelo menos uma dúzia de pessoas que dariam qualquer coisa para vê-lo debaixo de sete palmos de terra. O que mais o estava incomodando era a onda de hostilidade que enfrentava de quase todos os colegas, que acreditavam que ele estava tentando conseguir mais fama e visibilidade. E como se não bastasse também tinha brigado com seu melhor amigo. Para sua frustração, Ron parecia acreditar na versão mais difundida na escola de que Harry só queria se exibir. Já estavam sem se falar há duas semanas e o garoto achava que não teria suportado a pressão se não fossem Hermione, Celina e o professor de Trato das Criaturas Mágicas, Rubeus Hagrid.
Estavam os três na cabana de Hagrid para uma xícara de chá no fim da tarde, Ron havia recusado o convite quando soube que Harry estaria lá.
- Que coisa ridícula! Um evitando o outro como se tivessem nove anos de idade. – Hermione estava particularmente mal humorada.
- Não tenho nada com isso, foi ele quem não quis vir. – disse Harry amuado.
- Mas que encrenca, heim? – Hagrid enchia as xícaras, que mais pareciam tigelas. – Um dos dois vai ter que dar o primeiro passo para essa briga acabar.
- Acho bom mesmo, - Hermione engolia depressa seu chá - o quanto antes melhor, por que sou eu que tenho que ficar de um lado para o outro igual peteca.
- Onde você vai, Mione? – Hagrid perguntou vendo a garota já de pé, colocando o cachecol.
- Ron me pediu ajuda com um dever de transfiguração. – ela disse apressada – Ele está se sentindo bem sozinho...
- Então bem vindo ao clube! – Harry se enfureceu – Pelo que eu me lembro foi ele quem começou tudo isso, então se ele está se sentindo sozinho diga pra ele se juntar ao time “Vamos odiar o Potter”, a escola toda vai apoiar.
- Não vou dizer nada disso! – Mione falou já abrindo a porta – Vocês vão ter que acabar conversando e seria bom se alguém deixasse o orgulho de lado pra variar. – ela acenou para Hagrid e saiu antes que Harry pudesse abrir a boca.
- Vamos, Harry, a coisa não deve ser tão ruim assim. – Hagrid tentou amenizar o clima.
- Huum... é ruim sim Hagrid. – Celina atalhou por trás da xícara – Estão crucificando o Harry. – ela se virou para o garoto – Mas se eu fosse você não me preocupava com a opinião deles, ela não vai durar. Tem uma frase dos McGregor que diz que a verdade é como o sol, sempre encontra um meio de aparecer... principalmente quando era eu que aprontava alguma coisa. E quanto ao Ron, acho que é mais ou menos como a Mione disse, alguém vai ter que ceder.
- Ele que espere sentado. – Harry falou emburrado, virando o último gole da xícara e quase se engasgando.
Celina olhou para Hagrid e os dois deram leves sorrisos camuflados.
- Mais chá, Harry? – Hagrid apontou para o bule ao lado de Celina.
- Pode deixar que eu ponho. – a garota se esticou para o enorme bule de metal esmaltado. No movimento um pingente verde ficou pendurado à frente de seu corpo, preso a um cordãozinho prateado em seu pescoço. Hagrid apertou os olhos.
- Esse colar... ele não me é estranho.
A garota o pegou no ato, mas não antes que Harry visse que se tratava de uma pedra verde, muito parecida com uma esmeralda, toda lapidada e em formato de gota.
- Isso é uma esmeralda? É quase do tamanho do meu polegar! – se espantou o garoto.
- Que exagero! – a garota riu nervosa. – E não é uma esmeralda, é só um tipo de cristal.
- Posso ver de perto? – Hagrid se aproximou e ela relutante puxou o cordãozinho prateado deixando novamente à mostra o pingente verde.
- Eu realmente acho que já vi isso antes. – repetiu Hagrid concentrado.
- Você deve ter visto no pescoço da minha mãe. – Celina disse, vencida.
- Oh, é claro! Como eu não pensei nisso antes... ainda mais sendo vocês duas iguaizinhas... – o gigante riu – Com uma pequena diferença ou outra. Sua mãe tinha lindos cabelos dourados...
- E muito mais juízo que eu... eu sei. – Ela disse como se escutasse isso frequentemente.
- Ela era uma jovenzinha muito delicada, realmente encantadora.
- Queria saber quem eu puxei. – Celina balançou a cabeça.
Hagrid se inclinou para mais perto.
- Sua avó não era muito quieta, sabe? – disse ele confidencialmente.
- Minha avó Lilith? – e vendo Hagrid assentir ela riu deliciada. – Isso explica muita coisa... O que ela aprontava, Hagrid?
- Ora, eu não quero me indispor com sua avó. – o gigante disse risonho – Só vamos dizer que você teve sim a quem puxar. E por falar nisso, eu era bem menino na época de Lilith em Hogwarts, mas não me espantaria se ela usasse este mesmo colar...
- É um bem de família. Passa de geração em geração.
- Como uma herança? – perguntou Harry, achando que se fosse apenas um simples cristal não seria passado de geração em geração.
- Mais ou menos, ele é passado no momento do nascimento da primeira filha da guardiã do colar.
- Por que da primeira filha? – Harry estava ficando cada vez mais curioso.
- Porque era só assim que se podia ter certeza do colar passar para pessoas da mesma linhagem. Você conhece o ditado: “Filhos de minhas filhas, meus netos são. Filhos de meus filhos, quem sabe se serão.” É um costume antigo e bem ultrapassado, mas já virou tradição.
- Então sua avó ficaria muito brava se você o perdesse. – Harry viu a colega colocar o colar para dentro das vestes.
- Ele não pode ser perdido. – ela respondeu calma – Só pode ser retirado do pescoço da guardiã por sua livre vontade, de outro modo ele já teria sumido umas cem vezes só comigo.
- E pra que serve esse colar? Quer dizer, ele deve ser enfeitiçado... – Harry continuou.
- Essa é uma pergunta que mesmo que eu quisesse não poderia te responder. Eu procuro pensar que é só um colar, coisa de família velha. – e então encerrou o assunto – E você, Hagrid, não tem nenhum biscoito para acompanhar este chá?
Harry chutou seu pé por debaixo da mesa, mas ela só entendeu o motivo quando tentou morder um dos bolinhos do professor. Não era bolo mármore, era feito de mármore. O resto da visita se passou com Celina tentando a todo custo não começar a rir.
- O que foi aquilo??? Tenho certeza que se eu te acertar com um daqueles bolinhos você cai duro na hora. – ela caminhava de volta para o castelo, roxa de rir, com Harry logo ao lado.
- Ia poupar trabalho para muita gente. – a lembrança de que alguém queria matá-lo despertou em sua mente, mas estranhamente ele não estava se importando nem um pouco no momento. Era um início de noite muito bonito e ele estava se divertindo muito com Celina.
Mas o tempo passou, como não poderia deixar de ser, e agora a primeira prova do torneio estava para acontecer: dragões. Harry sentia a ansiedade crescer conforme os dias finais se esgotavam e ele não conseguia encontrar uma forma adequada de enfrentar o perigo. Hermione e Celina tentaram ajudá-lo, mas a idéia mais significativa acabou vindo do novo professor de DCAT Olho Tonto Moody: usar uma vassoura. Usar sua Firebolt para passar pelo dragão e capturar o ovo de ouro.
Momentos antes da prova, Harry se separou de Mione e Celina, que lhe desejaram boa sorte, nervosas. Ron não tinha dado as caras, teria sido bom ter o amigo para desabafar. No final, quando Harry conseguiu passar pelo dragão tendo a nota mais alta da prova, o desejo do bruxo se concretizou, Ron o procurou esbaforido, e com o jeito mais atrapalhado possível deu a entender que queria se desculpar.
- Anda, não precisa falar mais nada, cabeça de tomate. – disse Harry, que voltara a ter um melhor amigo.

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O inverno se instalara cobrindo de branco todo o castelo, um lindo cartão postal de neve. O natal se aproximava e com ele a grande novidade do momento, um Baile de Inverno. O ar parecia soltar faíscas de eletricidade tal era a empolgação dos estudantes, principalmente das garotas. Parecia que toda a escola resolvera ficar em Hogwarts para as festas.
Hermione estava na biblioteca terminando um dever de casa do Snape, sobre poções tranqüilizantes, e aproveitando para ficar longe da confusão gerada pelo baile. Ela se perguntava onde estava Celina, quando a própria sentou-se ruidosamente à sua frente, um pouquinho alegre demais.
- Onde você esteve? – Mione apontou para o relógio de pulso.
- Desculpa, me atrasei. – ela disse sem parecer minimamente preocupada.
- Você precisava ter chegado há quarenta minutos para ter se atrasado. – a colega levantou uma sobrancelha – O que você esteve aprontando agora?
- Crie fama e deite na cama. Não fiz nada, mamãe, pelo menos nada de errado. Estava me divertindo um pouco com os preparativos para o baile.
- Hump! Baile ... – Hermione bufou – Não que eu não goste de festas, mas essa estória de ficar esperando um garoto te convidar, como se ele estivesse te salvando de um afogamento é demais pra minha cabeça.
- E por isso é melhor a gente se esconder aqui, não é? Pra evitar toda essa falta de dignidade ... – ela falou debochando.
- Então, já aceitou algum convite? – Mione ignorou o comentário.
- Foi o jeito ... – ela disse vagamente.
- ? – Mione fez cara de interrogação.
- Mark Norton, e nem finja que não sabia.
- Era previsível. Tanto tempo te convidando pra sair ...
- Persistindo ... – Celina encolheu os ombros – Foi o caso de ganhar pela insistência. De todo jeito eu ia precisar mesmo de um par.
- Celina, do modo que você fala parece que está indo para o baile com um trasgo! O Mark é um rapaz gentil, bonito e que parece gostar muito de você.
- O que não quer dizer que seja recíproco. – ela colocou o queixo sobre os braços, quase se deitando sobre a mesa. – Você não acha ele certinho demais?
- Ele tem que ser certinho, é um monitor pelo amor de Deus! Além do que, qual é o problema? Tem alguém em especial com quem você gostaria de ir?
- Tanto faz, se não fosse esquisito eu preferia ir sozinha.
- Como é que é? - Mione riu – E que graça ia ter?
- A graça de me divertir a noite toda, dançar com quem eu quiser e não ter que me preocupar com nenhum garoto tentando me beijar.
- Então é isso ... – Mione finalmente entendeu.
- Não faça essa cara de sabe tudo pra mim. Você entende que é nisso que os garotos pensam o tempo todo? Eu escuto “Oi, Celina, quer que eu te ajude a carregar os livros?”, mas vejo “Oi, gatinha, quer me agarrar atrás da tapeçaria?”.
As duas riram alto fazendo a bibliotecária lhes lançar um olhar mortífero.
- Então o pobre Mark não tem a menor chance? – sussurrou Hermione
- Ninguém tem. – ela respondeu lacônica.
- Você sabe que um dia vai se interessar por outro rapaz, não sabe?
- Esse dia ainda não chegou, Mione. – ela se endireitou no banco.
As duas ficaram por um tempo sem dizer nada, Hermione finalizando o dever, Celina observando os outros estudantes.
- E você, gostaria de ir com alguém? – Celina se voltou para a colega.
- Não.- disse ela corando - E também ainda não tenho par.
- Por pouco tempo. – Celina disse enigmática
- O que você quer dizer?
- Quero dizer pra você desgrudar um pouco o nariz dos livros ... e apreciar a vista. – sorriu marota.
- Que vista? Estamos na biblioteca, aqui não tem vista nenhuma, só se eu for olhar para Madame Pince.
- Para um gênio até que você é bem burrinha, heim?
- Olha só quem fala? A srta tenho pânico de rapazes. – disse Hermione indignada.
- Estou só dando um tempo no estaleiro. – disse a amiga com um muxoxo – Mas você devia mesmo dar uns amassos em alguém. Pra te desestressar.
Hermione fez um som como se estivesse engasgando.
- Ah, não faz essa cara de chocada. Você é humana. – Celina disse baixinho - Agora repete comigo: Sou humana e preciso de um agarro.
- Celina! – Hermione hesitava entre se zangar ou começar a rir – Você é um demônio! – e cobrindo a boca com a mão, sorriu contrafeita.

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O castelo estava sendo enfeitado para o natal e Mark convenceu Celina, que convenceu Hermione, que arrastou Ron e Harry a ajudar na arrumação. A decoração estava mais grandiosa que de costume, sendo preciso uma quantidade bem maior de voluntários. Dezenas de alunos de todas as casas eram vistos agitando suas varinhas, fazendo levitar toda a sorte de enfeites imagináveis. Harry era um deles. No início tinha ficado contrariado por perder um luminoso dia de folga trancado no castelo distribuindo bugigangas pelo salão, mas quando viu passar uma certa chinesinha, levitando uma imensa quantidade de festões, descobriu que decorar o castelo podia ser tão interessante quanto jogar uma boa partida de quadribol. Queria muito convidá-la para ir ao baile, mas estava travado. Tinha medo de falar com ela, de levar um fora, sem falar que não sabia dançar nem para salvar a vida. Celina tentara durante dias ensiná-lo nos rudimentos da dança, ele e Ron ficaram admirados vendo a garota rodopiar com desenvoltura pela sala vazia explicando a eles o que fazer. Ron até que não se saiu de todo mal, mas Harry... A garota por fim tinha desistido, olhando para ele com uma cara meio penalizada, meio divertida. Ele sempre podia dizer que tinha quebrado a perna, não? Joanne Chase passou por ele dando um sorrisinho, agora que passara pela prova do dragão a hostilidade dos colegas tinha diminuído consideravelmente, e sendo ele um dos campeões do Tribruxo tinham garotas que ele nem conhecia o disputando à tapas como par. Olhou ao redor e viu que Celina ria muito com um rapaz que ele tinha certeza ser do quinto ano da Hufflepuff. De longe formavam um belo casal. Estavam colocando bolas e cristais num imenso pinheiro, na verdade mais deixando cair do que colocando. Quem não parecia nada feliz era o monitor Mark, que deu logo um jeito de levar Celina para o outro lado, perto de Harry.
- Fazendo novos amigos? – riu Harry.
- O quê ... ah, aquele é Joshua Parker, acabei de conhecer. – ela respondeu sem dar importância.
- Seu namorado não gostou nada. – Harry implicou.
- Quem? Malfoy?- ela devolveu a implicância.
- Seu noivo não se encontra aqui, estou falando do seu namorado. – ele disse risonho.
- Aah, é difícil ser uma garota tão comprometida, a gente nunca sabe a quem agradar.
- E por falar em noivo, onde anda seu prometido? Não tenho visto vocês de namorico por aí ultimamente.
Uma bola de natal escapou do pinheiro quicando na cabeça de Harry.
- Ai!
- Foi sem querer. – ela tornou a colocar a bola no lugar. – Malfoy não anda muito feliz comigo desde que aceitei ir ao baile com o Mark.
- De onde eu venho isso se chama ciúme. – ele esfregava a cabeça olhando de viés para Cho Chang.
- E de onde eu venho isso se chama paixão recolhida. – ela acompanhou a direção do seu olhar.
- Quê? - ele se fez de desentendido.
- Quando você pretende convidá-la? – ela observou o colega que fazia cara de interrogação. – A chinesa, Cho Chang, da Ravenclaw. Quer que eu desenhe um mapa?
Harry sentiu um calor desconfortável no rosto.
- Você podia até desenhar que eu não ia conseguir nada mesmo. – ele finalmente falou.
- Não é o que parece. Ela está sempre sorrindo pra você.
- O que não quer dizer nada por que você também vive sorrindo pra mim.
Celina franziu a testa.
- Dãh ... São sorrisos bem diferentes. Não vai ser difícil pra você arranjar um par, é só estalar os dedos, mas não ia ser bom ir com alguém que você realmente gostasse?
Ele pensou sobre o que ela disse, se demorasse muito era provável que Cho fosse convidada por outro. Ele cerrou os dentes com força e deu um pequeno passo em direção à chinesa. Sentiu um leve empurrão da amiga em suas costas e tomando coragem partiu para o ataque.
Quando voltou, minutos depois, estava muito amuado. Celina ficou quieta, esperando ele falar.
- Ela já tem par. Cedric Diggory.
- Ah, que pena, Harry.- ela deu um tapinha no seu ombro.- Mas eu sou muito mais você.
Ele deu um sorrisinho de lado, agradecido pelo apoio, mas pensando que a colega só estava dizendo isso por amizade. Cedric era um rapaz realmente bonito, mais velho, e uns bons quinze centímetros mais alto que ele.

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O tão esperado dia do baile finalmente chegara, e mesmo sendo ainda muito cedo, pouco depois do almoço, a escola parecia estranhamente vazia, como se todos estivessem se concentrando, arrumando ou rezando para tudo dar certo. Harry estava com Hermione, Ron e os gêmeos Weasley, Fred e Jorge, no pátio do castelo combinando uma guerra de bolas de neve.
- Já disse que não vou participar de nada disso! – disse Mione.
- Por que não? Seu parzinho para o baile pode estar olhando? – Ron questionou.
- Pela milésima vez, não vou contar com quem eu vou, Ron.
Ele olhou para a garota desconfiado mas sabia que não adiantava insistir.
- Vamos precisar de mais uma pessoa para a batalha na neve. – Fred sorriu em direção ao castelo. – Aí vem Joshua Parker, vai ficar faltando um.
Hermione constatou que o rapaz da Hufflepuff realmente vinha chegando risonho, e não estava só. Celina sentou do lado da amiga despejando:
- Cinco horas de organização só agora de manhã, isso sem falar em dias de preparação, mas finalmente ...
- Tudo pronto! – completou Joshua. – Vai ser uma festa de arromba, e modéstia à parte, tudo com nossa inestimável ajuda.
- Podem agradecer depois. – Celina esticou o pescoço para Fred e Jorge - E então, prontos pra apanhar?
- Você vai jogar? – Hermione perguntou com uma nota de censura na voz.
- Se não fosse pelo Josh eu provavelmente nem teria sido convidada ...
- Garotas não gostam desse tipo de jogo. São muito delicadas e podem quebrar. – interveio Harry implicante, recebendo quase que ao mesmo tempo uma bola de neve na cabeça.
- Isso a gente vê depois. – ela correu para o meio da neve formando um grupo com Joshua e Ron, que atacaram impiedosamente os outros três. Mione só balançou a cabeça, descrente.

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- Celina, por onde você andou? – Hermione, vestida com um roupão branco sacudia uma escova de cabelos ameaçadoramente.
Faltava menos de uma hora para o baile e só agora a amiga tinha aparecido, estava amarfanhada, com os cabelos desgrenhados e molhada de neve. Parvati e Lavender soltaram risadinhas maldosas ao verem o estado da garota.
- Alguém está com uma aparência horrorosa... – cantou Lavender.
- Liga não Lavender, o importante é que você tentou. – Celina passou correndo pelas colegas indo para o chuveiro. Ela sabia que a colega estava com dor de cotovelo por ela estar indo ao baile com o Monitor Chefe. Enquanto a água caía por seu corpo ela pensava na estranha combinação de pares para aquela noite. De alguma forma ninguém parecia estar indo com quem queria. Ela com Mark, mais sem graça que piada repetida. Aumentou a pressão do chuveiro e pensou que não podia ter um casal que combinasse menos. Porquê ela? Tudo bem, ela sabia que não era nada feia, que era interessante e tudo, mas tinha quatorze anos e Mark, com seus quase dezoito, podia ter arrumado uma garota mais velha, mais interessada nele, e que provavelmente teria muito mais experiência em atracar monitores pelos inúmeros cantos escuros que a escola oferecia. Lembrou-se da irritação de Malfoy quando viu seu convite ser recusado, por um instante parecia que ele iria sacudi-la. Era uma coisa esquisita como os homens sempre queriam o que não podiam ter. Será que ela era um prêmio? Um troféu pra se pôr na parede? Desde que se entendia por gente via sua mãe ser reverenciada como a beldade de sua época, tirando alguns detalhes as duas eram quase idênticas, será que era sobre isso que Florência sempre a prevenira? “Beleza pode ser uma bênção, mas quase sempre vira maldição. Isso acontece quando você começa a viver só em função dela. Beleza acaba, morre, o que fica são outros valores. Então vamos nos concentrar nisso e não na “casca” está bem?”, ela escutava a mãe falar com freqüência. E realmente foi nisso que ela se concentrou, tinha altos debates com os pais sobre coisas como o significado do bem e do mal e aprendera com a avó mais feitiços do que a metade dos setimoanistas sabia. Era uma preparação para a guerra. Desligou o chuveiro, se enrolou numa toalha e saiu salpicando água por todo lado enquanto corria rindo. A guerra que ficasse para depois, apesar dos pesares ela tinha um baile para ir.

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