Perigo <i>à la Française</i>

Perigo <i>à la Française</i>



Capítulo 1
Perigo à la Française

(N/A: Cruel Intentions foi uma das melhores fics que eu já li, tanto porque eu amo o filme “Segundas Intenções” quanto porque achei a idéia de conciliar a história com o background de HP fantástica. Minha única crítica a CI é o fato de a fic não ter capturado toda a malícia e a perversão do filme - daí a idéia desta fic. Outra: tive que ajustar o background da história um pouco para caber nos padrões do filme. Eu sei que o trio Harry-Ron-Hermione não passa o sétimo ano em Hogwarts, mas a história não poderia ter se desenvolvido no sexto tampouco. Esta N/A já está ficando longa, mas eu também preciso dizer isso: eu pensei muito se classificaria Dangerous Liasons como NC-17 ou Slash, pois as cenas da última categoria pertencem ao background, às tramas secundárias da história e não à principal. De qualquer modo, aí vai, e eu sinceramente espero que vocês gostem :) !!!)




As montanhas passavam rapidamente, enormes mantos verdes revolvidos, sob o céu azul sem nuvens. Parecia um dia perfeito - e para os passageiros do Expresso de Hogwarts o era, já que estavam voltando para completar seu sétimo ano na famosa Escola de Magia e Bruxaria. Harry Potter olhou para a visão bucólica que passava por sua janela sem interesse algum. De que valia, se não estava podendo aproveitar a paisagem com seus amigos? Ron e Hermione, como monitores, faziam a ronda do trem, implantando a maldita disciplina - e, no caso de Ron, aproveitando a deixa para maltratar um pouco os “anõezinhos”, como chamava os estudantes de primeiro ano.
Ao seu lado estavam Luna Lovegood e Neville Longbottom, os melhores amigos que podia ter nos momentos de conflito - mas os mais chatos nos tempos de calmaria. Luna era, para dizer o mínimo, imprevisível, com seus comentários francamente verdadeiros mas completamente fora de hora, e aos quais geralmente não havia resposta pensável. Neville era o garoto mais infeliz da face da Terra - incluindo-se nesse aspecto o fato de ser azarado.
A única presença que trazia alguma luz ao compartimento era a da ruiva Ginny Weasley - a garota mais adorável do mundo, na opinião pessoal de Harry. O garoto a amava desde sabe-se-lá-quando, no entanto o lesado apenas o percebera no ano anterior - exatamente quando precisara romper relações mais profundas com ela devido a seu plano de perseguir Voldemort durante os tempos por vir - e nessa situação, sendo namorada de Harry Potter, o Menino que Sobreviveu, o Escolhido, o único que poderia matar Voldemort efetivamente, seria fatal para ela. Ginny estaria em perigo.
E enterrar fundo seus sentimentos por ela, pretender que não se importava tanto com sua presença ou sua atenção - até mesmo fingir que sua presença não suscitava emoções nele diferente da amizade, era de amargar.
Finalmente, a porta do compartimento foi aberta e seus melhores amigos, Ron Weasley e Hermione Granger, entraram.
- Novidades? - perguntou Harry.
- Para começar, a bruxa do carrinho de comida está prestes a passar - disse Ron, sentando-se ao lado de Neville.
- Você só pensa com o estômago, Ronald Weasley! - resmungou Hermione, sentando-se entre Harry e Ginny - Se ao menos você pensasse com outra coisa mais...
- Estou com fome, poxa! - disse Ron - E o que você quer dizer com “outra coisa mais”?
Meu Deus, pensou Harry, Ron é o cara mais lesado do mundo.
- Você está sempre com fome! - retorquiu Hermione - E você sabe que “outra coisa mais” se refere ao seu...
- Afora a bruxa do carrinho, quais são as outras novidades? - perguntou Harry, pensando que realmente não queria que Hermione terminasse aquela frase.
- Temos problemas - disse a loira de cabelos loiros. Estes já não eram tão frisados quanto anteriormente, pois a gênia inventara uma Poção Alisadora que dava muito menos trabalho do que a original. - Catarro à quarta potência.
- E o que você quer dizer com isso? - perguntou Ginny. Fôra ela a inventora da expressão “Catarro” para se referir a Fleur Delacour, sua mais recente e intratável cunhada, que se casara com seu irmão Bill Weasley durante as férias.
- Parece que Hogwarts se envolveu num programa de intercâmbio - respondeu Hermione - E isso resultou em termos quatro exemplos de “Catarro” mais intoleráveis do que nunca no compartimento ao lado, principalmente pelo fato de serem ricos, muito mais esnobes do que Fleur, e além disso um deles me passou uma cantada!
Ginny e Luna fizeram cara de espanto.
- Esses franceses - murmurou Ginny.
- Ele não passou uma cantada, exatamente, Hermione, seja franca - disse Ron de mal-humor - O que aquele francesinho presunçoso passou foi a mão na sua bunda!
- Poupe-me dos detalhes, Ron - pediu Hermione - O fato é que eles são perigosos...
- E representam que tipo de perigo? - perguntou Harry.
- Ainda não sei... Os três não me inspiram confiança... - disse Hermione - A única que não parece ser pretensiosa é uma certa loirinha de cabelos na altura dos ombros. Foi a única com quem eu fui com a cara.
- E tem um sorriso muito meigo - disse Ron com uma cara sonhadora.
Hermione lançou ao namorado um olhar de advertência, depois continuou:
- O fato é, meu instinto me diz que devemos ter cuidado com eles...
- Espero que esteja falando dos Comensais da Morte, querida - disse uma voz quente e sedutora da porta da cabine.
Harry, Ron e Neville abriram a boca, embasbacados. Um sonho em forma de mulher entrou na cabine. Pálida, olhos amendoados escuros, cabelos castanhos longos até a cintura, vestida com vestes pretas semi-trasparentes que revelavam um pouco do interior, e uma cruz de prata no pescoço.
- Oh, vejo que ainda não me conhecem - disse a recém-chegada num inglês com um quase imperceptível sotaque - Sou Kathryn Merteuil, faço parte do Programa de Intercâmbio entre Hogwarts e Beuxbatons.
Sua voz parecia música aos ouvidos dos garotos. Será que ela também é descendente de veela, como Fleur?, pensava Harry. Neville tremeu e ficou completamente mudo. Ela não pode ser tão má como Hermione a descreve, pensou Ginny, lançando-lhe um sorriso simpático. Ron babava - esta é a melhor definição para a situação do ruivo.
- Este aqui é meu meio-irmão, Sebastian Valmont - Kathryn deu espaço e Sebastian entrou no compartimento. Depois do encontro, Ginny o classificaria como “perdição em forma de homem.” Era loiro de cabelos curtos cortados rente, alto, olhos azul-piscina, óculos de leitura Armani no rosto e o mais importante de tudo - um sorriso sedutor.
- E o que vieram fazer em Hogwarts? - perguntou Hermione desconfiada.
- Aprimorar nosso inglês, é claro - disse Sebastian - E o que quer mais que precisar ser aprimorado... - e piscou para Ginny, que se derreteu toda. Harry sentiu o dragão adormecido renascer em seu estômago e rugir - podia até sentir a fumaça saindo de suas orelhas.
- Mas também estamos interessados em... conhecer pessoas - disse Kathryn, aproximando-se perto de Ron - muito perto - e quase roçando com os lábios o pescoço do garoto.
- Vá em frente - murmurou Ron num suspiro extasiado.
- Ei! - disse Hermione, francamente ofendida - Ele é meu namorado!
- Oh, desculpe! - disse Kathryn, com a maior cara de falsa inocência - Eu tive a impressão de que ele estava gostando.
Piscando para Ron - com a expressão mais embasbacada do mundo - e dando um sorriso simpático para Hermione - contrastando com o olhar fulminante desta - Kathryn saiu da cabine jeitosamente.
- Au revoir, ma chérrie - disse Sebastian galantemente para Ginny - Quem sabe você faça alguma visita ao meu dormitório depois...
Com um sorriso maroto e o olhar derretido de Ginny, ele também saiu. O dragão no estômago de Harry soltou mais chispas de fogo.
- Eles não me cheiram bem - disse Hermione convicta.
- Cheiram nada! - disse Neville - Você não sentiu o perfume de Kathryn? Os perfumes franceses são os melhores do mundo!
- Você me entendeu, Neville - disse Hermione. E depois deu um tapa em Ron, que ainda babava para a porta - Tire essa expressão estúpida da cara!
- Lindo dia pra você também - respondeu Ron, ainda encarando a porta.




- Aquela loirinha metida não foi com a nossa cara - disse Kathryn andando pelo corredor - Precisamos dar uma lição urgente nela.
- Não conte com minha ajuda - disse Sebastian ajeitando os óculos - Tenho meus próprios planos.
- O quê? - perguntou Kathryn com desdém - Levar a ruivinha para a cama? Seu gosto está piorando, Sebastian.
- Não é pela aparência - respondeu Sebastian com um sorriso maroto - Harry Potter é caidinho por ela, você não percebeu?
- Oh, sim, aquele olhar de rottweiller que ele lançou para você - disse Kathryn abrindo a porta do vagão - EU acho que deveríamos nos concentrar primeiro na loirinha, porque ela representa um perigo para nós.
- Desculpe, Kathryn - disse Sebastian entrando atrás dela - Se eu quiser coroar a minha fama de pervertido dormindo com a namorada de Harry Potter antes do Natal, eu preciso me concentrar apenas nisso.
- Alguém idiota para enganar neste maldito trem? - perguntou uma voz quando entraram na cabine.
- Muitos - respondeu Sebastian, sentando-se ao lado de sua meia-irmã - Mas nenhum que valha a pena.
A voz vinha do adolescente no banco oposto, com cabelos negros também cortados rente e uma aparência de nerd - apenas na aparência, já que era seguro para Lamaison Rosemonde parecer um completo idiota. Tornava-o um conspirador menos provável.
- Você está ficando velho, meu caro primo? - pinicou Lamaison.
- Você tem sorte de que Tia Rosemonde tenha deixado você vir - disse Sebastian com um sorriso - Basta uma palavra minha - e você sabe que ela me adora - e você estará no Expresso de Hogwarts sem sequer ter pisado no castelo.
Lamaison grunhiu.
- Você não sabe se divertir.
- Eu acho que vocês deveriam parar com toda essa bobagem - disse uma loirinha com expressão inocente, sentada ao lado de Lamaison. Chamava-se Annette de Laclos, tinha olhos azul-turquesa e usava vestes brancas - Vocês já não se meteram em confusões suficientes?
- O problema é que ainda não fomos pegos por nossos joguinhos divertidos, querida prima - disse Kathryn, passando pó-de-arroz no rosto com o auxílio de um espelho de bolso. Vice deveria tratar de calar a sua boca. Aberração.
- Agora, temos um problema - continuou Kathryn - E Sebastian está se recusando a cooperar.
- Preciso de minha total atenção para meu novo projeto - disse Sebastian pensativo.
- E que projeto seria esse? - inquiriu Lamaison.
- Oh, ele quer levar a namoradinha do Potinho para a cama - disse Kathryn falseando uma voz fina.
Lamaison riu com gosto, enquanto Sebastian fez cara feia e Annette torceu o nariz.
- Vocês deveriam parar de brincar com as vidas dos outros - disse a loirinha.
- Vocês deveriam parar de brincar com as vidas dos outros - disse Kathryn, falseando a voz novamente - Cresça e apareça, Annette.
- Qual é o problema, afinal? - perguntou Lamaison.
- Harry Potter tem uma certa amiga loira e com um horrível cabelo alisado - disse Kathryn - O problema é que, além de feia, ela é esperta demais. Desmascarou-nos com apenas um olhar. Precisamos dar uma lição nela antes que a puta nos atrapalhe.
- E como você pretende fazer isso? - perguntou Lamaison, interessado.
- Ela tem um namorado tapado, de cabelo ruivo e sardas horrorosas - continuou Kathryn - Estava pensando em puxá-lo para a minha teia, mas para isso precisaria distrair a loira - e aí entraria todo o charme de Sebastian para corrompê-la.
- Eu poderia fazê-lo - disse Lamaison com um sorriso.
- Infelizmente, meu caro Lamaison Rosemonde, você não foi presenteado com charme, lábia e beleza ao nascer - Kathryn fez uma careta para ele - E para isso precisaríamos de Sebastian.
- Eu estou ocupado no momento, já disse - respondeu Sebastian irritado.
- Precisamos de uma proposta tentadora, então - disse Lamaison, sorrindo.
Durante toda a conversa, Annette apenas torcia o nariz e seu fingia de surda.
- Uma aposta, que tal? - perguntou Kathryn, guardando o espelho e o pó de arroz - Te ajudo a conquistar a ruivinha que você me ajuda a acabar com a loirinha.
- Posso fazer isso sozinho, obrigado - respondeu Sebastian olhando para fora.
- Você vai precisar de ajuda para desviar a atenção do Potinho... - disse Kathryn com voz meiga.
- Continue me tentando - disse Sebastian, entediado.
Kathryn jogou sua cartada final:
- Você pode, hum, me fazer visitas noturnas até o fim do semestre...
Sebastian abriu a bocarra de espanto e incredulidade:
- Você está brincando, não está?
- Não se finja de santo, meu querido meio-irmão - disse Kathryn - Desde que nossos pais se casaram, que você me come com os olhos - e sem seguida ela se aproximou dele e começou a dar-lhe chupões na garganta - E eu sou a única mulher do mundo que você não pode tocar...
- Estou me interessando - disse Sebastian num gemido - Mas falta alguma coisa.
Kathryn meteu as mãos dentro da calça de Sebastian - e Annette se virou para a paisagem que passava lá fora. Não falo, não ouço, não vejo.
Sebastian afastou-a levemente de si e pegou-lhe na nuca, fazendo-a encarar seus olhos.
- E se você ganhar?
Kathryn deu um sorriso maroto.
- Eu ganho o seu bem mais poderoso.
- Esqueça.
Sebastian sabia do que ela estava falando. Mas seu diário - onde estavam registrados os nefastos detalhes de todas as suas tramas e conquistas, onde gostava de escrever nas horas vagas, era única e exclusivamente para uso próprio.
Kathryn se aproximou dele novamente e deu-lhe beijocas na orelha.
- Podemos treinar o Kama Sutra inteiro...
Sebastian grunhiu, vencido.
- Está bem, você tem a porra da sua aposta - e apertou um pouco forçosamente as mãos com ela.
Enquanto isso, a mente de Lamaison fervilhava. A idéia de dormir com a viúva-negra da Kathryn era tentadora, sem dúvida... De algum modo, precisava virar o jogo a seu favor.
Um jogo que, aliás, já havia começado, enquanto Annette, copiando os três macaquinhos, viu no horizonte poente o castelo de Hogwarts surgir à distância.

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