Velas queimadas, folhas secas
Música: Vanessa Mae - Devil's trill sonata
Capítulo IV - Velas queimadas, folhas secas e vinho tinto.
Por algum motivo ele iria fazer aquilo, algum motivo que ele desconhecia. Passou a noite em claro pensando. Era burrice, definitivamente era uma imbecilidade sem tamanho. Teria que conversar com o velho...
Não sabia se ele iria apoiar, antes da noite passada tinha certeza que não. Mas voltou do jantar com os Crouch muito alterado, gritando, xingando e quebrando os cristais preciosos da sua mãe. A mulher estava consternada, não pelo acesso do homem, mas pelos seus cristais.
Pensou em Bellatrix e nas suas palavras da noite passada. Não era por elas que iria fazer. A opinião que ela tinha dele era inútil, não faria a menor diferença.
Também não era o seu esposo. Não, por mais convincente que Rodolphus Lestrange pudesse parecer, não era por causa dos seus argumentos. Não sabia o porquê de estar considerando a possibilidade de entrar para o séqüito de Voldemort.
Levantou-se e abriu as cortinas da janela. Nunca fazia aquilo, não se importava em arejar o quarto.
O céu estava clareando e ele não tinha sequer fechado os olhos, bem à sua frente os pequenos pontos luminosos pareciam sumir no horizonte. Olhou para o relógio, 5:17.
Embaixo estava o quintal. Agora parecia pequeno, mas era muito maior quando criança. Tinha uma enorme árvore no meio, cercada por alguns bancos de madeira e as flores que sua mãe cuidava pessoalmente, o chão era feito de pedras rústicas. Parecia imitação de uma pequena praça.
Fazia realmente muito tempo que não ia lá. Desde que crescera. Quintal era um lugar para crianças, não adultos. Só as mulheres vão ao quintal depois que crescem.
Narcissa gostava do quintal. Gostava do cheiro das flores.
Também não pensava nela há muito tempo, casou. Sua Narcissa casou e foi embora, nunca mais voltou ao quintal.
Ela tinha uma pele macia e sedosa, e cheiro de flor de amendoeira. Poderia sentir se quisesse, seu perfume estava gravado nas suas lembranças.
Era seis anos mais novo que ela, mas sempre se deram bem. Eram razoáveis, o bastante para não se meter em confusão como Sirius, Andrômeda ou Bellatrix. Eram parecidos, gostava de ser quem eram.
Enquanto Bellatrix e Sirius brigavam na biblioteca e Andrômeda tentava separá-los, os dois estavam juntos no quintal. Narcissa recitava poemas que ele escutava de olhos fechados. Ela o tinha ensinado que para escutar realmente era preciso estar com os olhos bem fechados, precisava se concentrar para entender o significado das palavras. Quando já estava tarde o bastante ela fechava o livro velho, e sorrindo dizia:
- Já chega, primo. Vamos nos lavar para jantar. – e pousava aquelas mãos no seu rosto.
A primeira coisa que ele via era seus olhos, e quando isso acontecia sentia que não poderia fazer mais nada na vida além de olhar para eles. Admirava-os tanto que, se pudesse, gostaria de roubá-los só para serem a primeira coisa a enxergar. Levou tempo para descobrir que somente os olhos não o satisfariam, isoladamente eles não eram nada. Seriam comuns se não fossem os traços delicados dela.
E como era graciosa. E como ninguém prestava atenção nela?
Sirius era ocupado demais com o próprio umbigo para olhar meio metro adiante.
Bellatrix era querida por todos, apesar do mal-humor, da irritação permanente, da impaciência constante.
Andrômeda era estranha.
Narcissa era como um diamante em meio aos cascalhos, uma flor ladeada por ervas daninhas.
Aos seis anos, Regulus convenceu a mãe a plantar narcisos. Junto com ela cuidou durante todo o ano, até que chegasse o verão e Narcissa viesse. No dia que antecedeu a chegada da prima não conseguiu dormir direito, colocou a culpa no calor do maldito verão.
E então ela chegou.
Com um vestido azul, os cabelos soltos, tão compridos que passavam da cintura. Brilhantes como os raios do sol.
Deixou que ela cumprimentasse os parentes e subisse ao quarto para pegar o livro, e quando chegou ao fim da escada ele pegou sua mão envolta pela luva de seda e disse:
- Tenho uma surpresa para você.
Ela abriu um sorriso e assentiu com a cabeça. Quando chegaram perto da porta que dava para o quintal pediu que ela fechasse os olhos, e conduzindo até o canteiro perto da árvore ele pediu que abrisse.
- São lindas... – disse chegando mais perto para sentir o cheiro.
E Regulus achou que ela nunca tinha lido tão bem, as poesias pareciam sofrer os efeitos. Quando ela fechou o livro arrancou uma flor e colocou no meio da página. Um narciso.
- Para marcar onde paramos. – piscou antes de levantar-se.
Já não havia mais narcisos.
Ele mesmo arrancara todos eles no dia em que ela se casou.
- Regulus? Estou surpresa. – não parecia nada surpresa. Pelo contrário, parecia ter certeza que ele iria aparecer na lareira da sua casa a qualquer momento.
- Onde está Rodolphus? – perguntou diretamente. Não estava com humor para agüentar as ironias da prima.
Ela sorriu mais ainda deixando o livro que lia em cima da mesa de centro. Era incrível a capacidade de ser irritante que Bellatrix possuía.
- No escritório. Venha, é por aqui. - e dizendo isso o conduziu por uma ante-sala até um corredor mais estreito.
A Mansão Lestrange era mais sombria do que qualquer outra que ele já vira. Por um motivo desconhecido as janelas permaneciam fechadas, a única luminosidade existente era a de velas. O cheiro de parafina queimada era constante.
- Não pensam em abrir as cortinas vez ou outra? Diminuiria esse fedor de vela queimada...
- Não nos incomoda.
- Ora, Bella... o que Tia Druella pensaria se visse que sua filha se tornou uma dona-de-casa tão relapsa?
Ela não respondeu, aquele sorriso tão conhecido brincou nos seus lábios.
Era imprudente falar daquela maneira, mas Regulus estava exausto e impaciente. Parecia que ofender Bellatrix o faria sentir-se melhor, enganou-se. Suas ofensas surtiam o efeito contrário, ela se sentia cada vez melhor. Os Black tinham essa teoria, que muitas vezes se tornara verdadeira, de que quando são alvos de insultos significa que estão incomodando o bastante para isso.
E quando se incomoda bastante é que se sabe a sua importância e o que ela representa.
Ela abriu a porta sem ao menos bater.
Era um cômodo bem maior do que o escritório do seu pai. Com estantes repletas de livros, até onde os olhos não pudessem enxergar, o tapete vermelho bordado com fios dourados se estendia pelo todo. Havia um globo do lado esquerdo da escrivaninha central, o sofá ficava ao lado de um mezanino com uma bandeja de prata a qual continha uma garrafa de conhaque e algumas taças.
- Regulus... quanto prazer voltar a vê-lo em tão pouco tempo. – disse o homem estendendo a mão.
- Gostaria de conversar com você... a sós. – acrescentou olhando para a prima.
Ela arqueou as sobrancelhas divertida, molhou os lábios com a ponta da língua fina e sentou-se no sofá servindo-se de conhaque.
- Não há nada que você não possa falar na frente da minha esposa. – respondeu sentando-se novamente.
Não podia negar que estava se sentindo desconfortável. Cansado, passou a noite acordado pensando no que estava prestes a fazer, a pseudo-conversa que teve com seu pai minutos antes, o olhar irritantemente superior de Bellatrix.
- Então... em que posso ser útil? – perguntou o homem trançando os dedos sobre a mesa com um ar extremamente ocasional.
- Sobre ontem. Você falava sério? – conseguiu perfeitamente disfarçar a fraqueza na voz. Ser objetivo para terminar logo com aquilo, era só nisso que pensava.
- Muito.
Maldito perfume de Bellatrix misturado ao cheiro das velas, penetravam em seus pulmões imperdoavelmente, estava começando a ficar tonto.
- E o que eu ganho com isso?
Rodolphus sorriu, mas não ele quem respondeu.
- Poder, Reggie... Muito mais do que você um dia sonhou. – disse ela oferecendo um cálice com a bebida.
Olhou-a diretamente no fundo dos olhos, sentia seu coração acelerar quando as pupilas dela contraíram, como se estivessem sendo agredidas por uma luz que não existia. Desviou a atenção. Não queria que ela invadisse sua mente.
- O poder, no caso, seria para o Lord... estou falando da minha pessoa... – disse ao homem na sua frente, ignorando-a.
- Você não acha que nos aventuraríamos a andar por esses caminhos só por uma ”causa”, não é? Teremos a nossa parcela... – e seus olhos brilharam ao falar daquela maneira, pareciam sair faíscas deles.
Regulus sempre duvidou que a alta sociedade se envolvesse em casos como aquele por causa de uma doutrina familiar, era evidente que matar os trouxas imundos não era a questão principal.
- Penso nos riscos. – respondeu com a voz calma e pausada, casualmente, embora sentisse seus joelhos fraquejarem.
- Ora, Black, não conseguiríamos nada se não nos arriscássemos... – e Rodolphus levantou-se irritado. Deu as costas para ele e colocou-se a pensar.
- Está com medo? – sibilou a voz feminina aos seus ouvidos de maneira debochada.
Ela ainda não tinha saído do seu lado, se aproximara ainda mais. Regulus podia sentir o hálito quente saindo daqueles lábios venenosos, perturbou-se ainda mais.
Rodolphus tornou a virar-se.
Perguntou-se se ele não estaria se sentindo desconfortável com a proximidade entre os dois.
Não. Claro que não. Era óbvio que ele não o achava suficientemente perigoso a ponto de tentar sua esposa. Na certa acreditava que era um maricas.
- Não se trata de medo, Bella. Não vejo nada de mal em zelar pela minha própria segurança... – rebateu sem esconder a agressividade.
Zombava dele. Ela sempre gostou de fazer isso.
- Como se você tivesse algo a perder... – falou encaminhando-se para o sofá.
- E tenho. Posição social, dinheiro, anos de influência... e muito mais! – respondeu com selvageria. A seus lábios tremiam, sentia que o peito fosse explodir a qualquer momento.
- Ora Bella, não seja insensível... ele está certo. – o sarcasmo na voz do outro era tão palpável quanto qualquer outro objeto na sala.
Os dois se olharam com cumplicidade, e silenciosamente ele pediu para que a esposa se sentasse no sofá. Ela obedeceu.
Suas mãos suavam.
Rodolphus voltou toda a sua atenção a ele.
- Não vamos perder, Regulus. Somos muito... o Lord é poderoso...
- Se são tanto, e estão tão fortes como você me diz, por que procuraram-me?
- Você é um Black... existem certas coisas que são inerentes ao seu sangue. Essa é uma delas.
Seu estômago reclamou.
Velas queimadas, folhas secas e vinho tinto, conhaque.
Desviou o olhar para o grande relógio de pêndulo atrás da cadeira de Rodolphus. 10:50. Não comia a mais de 12 horas.
Queria acabar logo com aquilo.
Respirou fundo.
Maldita caverna sem janelas.
Fechou os olhos massageando a têmpora.
- Vamos nos atrasar, Lucius está esperando. – a voz dela era tão baixa que se surpreendeu de ter escutado.
Lucius Malfoy um Comensal de Morte.
Sentiu suas pernas perderem a sensibilidade quando voltou seu rosto para o casal.
- E então? – inquiriu Bellatrix sorrindo.
- Estão certos. Estou a disposição do Lord.
Rodolphus sorriu triunfante enquanto tirava um charuto do bolso das vestes.
Regulus não podia não aceitar, estaria comprovando uma fraqueza na frente deles. Sabia que iria passar mal depois, tantas horas sem colocar algo na boca, e o cheiro do lugar somado ao gosto do charuto seriam insuportáveis ao seu corpo.
Aceitou-o com um sorriso enviesado.
Tragou duas ou três vezes. A ânsia o incomodava mais do que tudo.
Um fino risco de suor pelas suas costas o fez sentir calafrios involuntários que ele disfarçou com uma tosse.
- Bom, acho que vou indo. – disse colocando o charuto sobre o grande cinzeiro de jade da escrivaninha.
- Por favor, ainda é cedo. – a educação de Rodolphus Lestrange era mais do que falsa.
- Almoce conosco... – continuou Bellatrix pousando a mão direita no ombro do homem.
- Absolutamente, tenho algumas coisas para resolver ainda hoje. E...
- Entramos em contato com você. Fique sossegado. – interrompeu o homem tragando mais uma vez.
- Tem certeza que não vai querer almoçar conosco? Vamos à casa de...
- Não, muito obrigado Bella. Tenho outras coisas para fazer. – não, não iria almoçar na casa de Narcissa.
Levantou-se rapidamente e abaixou a cabeça, despedindo-se.
- Eu o levo até a porta... – continuou a mulher.
- Ou pode usar a lareira daqui. – observou Rodolphus apontando para uma lareira tão grande que poderia ser facilmente confundida com uma porta para outro cômodo.
- Não... está um dia agradável, se não se importam gostaria de ir andando. – respondeu sorrindo e tomando a bengala na mão.
- Precisa que...
- Não, Bella, eu sei o caminho. Muito obrigado.
Sabia porque ela queria acompanhá-lo até a porta. Falaria sobre a doce Cissy e seu casamento com o maravilhoso Malfoy, como ela estava feliz, e como eram perfeitos um para o outro.
O dia não estava bom, talvez os dois, enfurnados no covil que moravam, não tivessem percebido que o dia estava nublado e com alta probabilidade de chuva.
Ele só queria uma desculpa para sair de lá o mais depressa possível.
A Mansão Lestrange ficava no campo, bem afastada de qualquer tipo de civilização. Trouxa ou mágica.
Uma pequena nevoa acompanhava toda a extensão da propriedade, campos verdes até onde os olhos pudessem ver. Algumas árvores esparsas, mas nada que obstruísse a visão geral que tinham de dentro da casa.
Dobrou-se atrás de uma particularmente grande, e vomitou um líquido esverdeado.
Voltar para casa estava fora de cogitação.
Sentou-se para descansar e acabou dormindo ali mesmo.
N/a: Opaaa, nãoo morri não...
percebo que nao agrado, eu sei.
foi frustrante receber dois comentarios, e por isso vou tirar o maior proveito que puder
(:
a Tia Lara esta desapontada
desapontada pq ela quer saber pq as pessoas nao comentam
sera o medo???
O.o
eu juuuuro que gosto de receber criticas... boas e mas tb, pq nao?!
sabe, as reviews, alem de levantarem o astral do autor, ajudam na escrita.
ta ruim?
nao gostou?
ta mal escrita?
escreve pra Tia Lara que ela nao vai azarrar vc!
no maximo [se tiver mto ruim] ela vai tirar do ar para privar os pobres desavisados de esbarrarem aqui...
sim. EU FICO MARIA DO BAIRRO nessa epoca do ano, e avisei que iria tirar o maior proveito da falta de comentarios que pudesse...
acontece q sou teimosa tb... e como soh existem duas simpaticas leitoras [haha, hello Morgana e Alex] comentando eu vou postar nem que seja só pra elas...
humpf!
oia gente, vamos ser razoaveis... deixa um ou outro comentario de vez em quando...
naaaao, nao precisa ser sempre sempre, uma vez ou outra soh pra Tia saber que ta escrevendo pra mais gente alem das duas carissimas que comentam..
[nossa, que N/a gigante..]
eh isso, crianças...
até a proxima!
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