Surpresas Ineesperadas (do con



SEXTA-FEIRA, 17 DE NOVEMBRO, 1979

DENTRO DO ARMÁRIO DO QUARTO DE CASAL, 16:00

Eu sei que disse pra mim mesma que estava super bem resolvida, e não precisaria mais desse diário porque tinha aprendido a externar e lidar com os meus sentimentos e tudo o mais; até porque agora estou mais madura, sou uma mulher adulta, casada... Mas é que tem algo que eu preciso desabafar. E a quem eu poderia recorrer agora? Quero dizer, é claro que posso contar com minhas amigas, mas antes de admitir para o mundo, preciso admitir para mim mesma, e principalmente, arranjar forças para sair do chão da parte de vestidos de festa (porque é a menos abarrotada) do meu armário no quarto em que eu e James compartilhamos.

Lily Evans, quem diria. Você está se escondendo dentro de um armário! Pensei que isso nunca mais tornaria a acontecer. Bem, é verdade, eu me escondia dentro do meu armário quando tinha medo – principalmente quando Petúnia me ameaçava, e tal. Mas isso só até os meus onze anos de idade, quando descobri um novo mundo inteirinho que eu não conhecia, e que para conhecê-lo, eu não poderia ter medo. E então nunca mais me escondi dentro do armário.

Historinha tocante, não?

Pois aqui estou eu, novamente. Não é o mesmo armário, mas...

Ok, eu já entendi. Estou fugindo do assunto. Por que eu sempre faço isso, hein? Tudo bem, vou contar tudo desde o início...

Depois da semana de lua-de-mel que eu e James e tivemos, - que não foi passada somente em casa, porque ele me fez uma surpresa e planejou uma viagem de três dias para o interior da França, numa vila super romântica – retornamos nossas vidas e nossos trabalhos. Ele trabalhando dobrado no Ministério (ao mesmo tempo que terminava de se formar) junto com Sirius, Marlene, Emelina, Alice, Frank, e até mesmo Remus, - já que anda difícil encontrar emprego de professor nesses tempos - cada um num setor diferente, e eu no St. Mungus todos os dias, já que Voldemort (aquele bruxo das trevas que falei na última vez que escrevi aqui) e seus Comensais continuam realizando ataques por todo o país e há muitos feridos. É realmente assustador o clima que rola lá no hospital. Toda semana é algum parente de algum funcionário que morre ou desaparece. Os pacientes também estão tão apavorados, com medo de Voldemort e os Comensais os encontrarem e terminarem o serviço, que ou fogem antes mesmo de finalizarem o tratamento, ou imploram para ficar mais tempo no hospital, na esperança de algum tipo de proteção. Até alguns aurores têm ficado por lá, só por precaução. A cidade está beirando o caos.

Com todo esse clima baixo-astral, e tanto trabalho a ser feito, eu e James não tínhamos conseguido mais nos reunir com nossos amigos, a não ser nas reuniões da Ordem da Fênix, mas nunca dava pra conversar coisas amenas, devido ao clima pesado.

Quanto à família, algumas coisas tristes aconteceram. Os pais de James, meus sogros, bruxos tão distintos e tão benévolos, que trabalharam por muitos anos no Ministério da Magia, e criaram James (e Sirius) tão bem, morreram há três meses, de causas naturais. James ficou muito triste, e Sirius também, já que considerava Helen e Henry Potter como pais. Mas eles já eram bem velhinhos, então não foi tão trágico. Mas James lamentou eles não terem tido a oportunidade de conhecerem os netos que um dia daríamos a eles...

Em relação aos amigos, fazia muito tempo que não os tinha por perto durante um dia inteiro, ou mesmo por uma hora inteira. Sentia falta de conversar com as meninas, compartilhar todas as minhas aflições e felicidades, ou mesmo dos nossos momentos de futilidade, em que apenas fazíamos compras – tanto em Londres quanto no Beco Diagonal; apesar de eu sempre ter preferido um bom livro – e falávamos amenidades.

Também sentia falta de Sirius e Remus – de Peter, confesso que não senti falta nenhuma; nunca fui muito ligada a ele, e acho que as garotas também não – de como eles me fazem rir e deixam James alegre. E foi pensando nisso que escrevi uma carta há algumas semanas atrás e mandei via coruja para todos eles:

Queridos amigos,

Convido vocês para uma pequena reunião aqui em casa, para comemorarmos o Dia das Bruxas, e de quebra o aniversário de James. Sei que os tempos andam ruins, mas acho que uma festa poderia ser agradável.

Contatem todos os nossos colegas de escola, e quem mais vocês quiserem (mas não muita gente, ok, Sr, Black?), e faremos uma pequena festa.

Por favor me respondam confirmando.

Abraços a todos,

Lily

P.S.: a festa é uma surpresa para James.

Com todo o lance da morte de seus pais, ele nem estava lembrando que seu aniversário (no dia 31 de outubro) estava próximo.

Poucas horas depois recebi respostas entusiasmadas, e Sirius logo se encarregou dos convidados. Marlene se ofereceu para fazer a decoração, Emelina e Remus para cuidar das músicas e outras formas de entretenimento, e Alice se ofereceu para me ajudar com a comida, enquanto Frank se responsabilizaria pelas bebidas. Peter apenas respondeu que talvez estivesse ocupado, mas que tentaria comparecer.

Com duas semanas de planejamento, a festa até que foi bem organizada (organização é o meu nome do meio, diga-se de passagem). O dia 31 de outubro foi numa sexta-feira, dia que James faz hora extra, portanto tivemos bastante tempo para arrumar tudo.

Marlene, Alice e Frank foram os primeiros a chegar, por volta das quatro da tarde (eu consegui sair mais cedo do hospital. A festa seria às oito, e James chegaria às nove). Eu e Alice começamos a cozinhar bolos e doces de abóbora, e fizemos chocolates em forma de morcegos, gatos, chapéus de bruxa, e até uma imitação de sapo de chocolate, que eu consegui que coaxasse quando mordido. Os salgados eram os mesmos das festas trouxas, coxinhas de galinha, empadinhas, etc. Enquanto cozinhávamos, Frank colocava as bebidas (alcoólicas e não-alcoólicas) para gelar numa espécie de tina que ele tinha transfigurado próximo à porta da cozinha que levava para o quintal, onde Marlene espalhava abóboras esculpidas com rostos assustadores e com velas dentro, depois de já ter decorado o hall, a sala de visitas e a sala de jantar, cuja mesa havia sido reduzida e retirada por magia, e serviria de pista de dança, onde Remus e Emelina se instalariam para testar os equipamentos de som uma hora depois.

Às seis e meia eu subi para tomar um banho na minha suíte e me arrumar. Vesti um vestido roxo simples, de manga um pouco acima do cotovelo, decotado (mas não muito) e solto depois dos seios até os joelhos. Nos pés, uma sapatilha preta com paetês. Deixei meu cabelo ruivo e liso solto (agora já está bem comprido, indo até bem depois das costas), com uma presilha em forma de morcego preto de paetês prendendo alguns fios atrás.

Quando desci, lá pelas sete e meia, Peter e Sirius já tinham chegado, e o segundo usava vestes negras e uns chifrinhos na cabeça, e vi que Remus e Peter caçoavam dele. Mas ele estava combinando com a fantasia de Marlene, que era um vestido vermelho sexy, sapatos de salto vermelhos, os cabelos negros sedutoramente soltos e ondulados, uns chifrinhos vermelhos na cabeça, e uma espécie de cauda de diabo. Emelina era exatamente o oposto, estava toda de branco e com umas asas de anjinha, os cachos louros bem arrumados, e Remus usava roupas brancas, mas o rosto empalidecido com algo que parecia maquiagem, uma tentativa de representação de fantasma. Alice usava um collant preto que cobria seu corpo inteiro, uma espécie de rabo comprido atrás, os cabelos lisos soltos e uma máscara preta, numa espécie de mulher-gato, acredito, e Frank estava todo de preto com uma máscara que lembrava um morcego. Peter usava roupas normais. Na verdade, a festa nem precisava ser à fantasia, mas eles estavam tão felizes assim, que decidi ficar na minha e não dizer nada.

Os convidados começaram a chegar. Os primeiros foram o casal Leigh, Melissa e Bryan. Ela estava grávida, com um barrigão, e usava um vestido cor de abóbora estilo balonê de gola verde e sapatos verdes, parecendo uma abóbora mesmo, mas ela não parecia saber disso; estava alegre e sorridente demais para notar que estava um pouquinho patética. Ela e Bryan pareciam felizes.

Logo depois chegou Amos Diggory, com sua esposa Íris ¹ (eles estavam um ano à nossa frente em Hogwarts, mas Amos jogava quadribol e era amigo de James no Ministério. Eles já têm um filhinho de dois anos chamado Cedric). São um casal muito distinto e amigável.

Depois chegaram alguns amigos da Ordem da Fênix, Gideon e Fabian Preweet com suas namoradas, Dorcas Meadowes, Benjy Fenwick, e ainda Kingsley Shacklebolt, aparentemente colega de Sirius e James no Ministério, e Andrômeda, prima mais velha de Sirius, (e segundo ele a única pessoa que presta em sua família) com o marido Ted Tonks, que assim como eu, é nascido trouxa. Conversei com os dois e eles são ótimas pessoas, e já tem uma filha de seis anos.

Chegaram mais alguns convidados, e a festa já rolava solta. As músicas que Remus escolheu estavam bem adequadas e divertidas, bem dançantes também, ² e todos dançavam animados e comiam os quitutes preparados por mim e Alice. Agora só faltava James, e passando pelo hall, o vi entrando em casa distraído com suas vestes bruxas de trabalho, os cabelos bagunçados como ficam ao final do dia, e muito surpreso, se deu conta da festa.

“Lily... o que é tudo isso?” ele perguntou com um sorriso confuso.

“Surpresa! Pensou que eu deixaria passar a data do seu aniversário e o Halloween?” disse com ar divertido e despreocupado, enlaçando-o pelo pescoço enquanto ele me pegava pela cintura. Ele sorriu e me beijou rapidamente.

“Parece que você se transformou numa perfeita marota.” Rimos e eu bati de leve no ombro dele, e nos beijamos mais uma vez. Coloquei uma máscara preta nele e o puxei para dançar.

E a festa foi rolando, todos muito animados, dançando, bebendo, conversando, comendo, bebendo mais um pouco, e se divertindo acima de tudo. Até cantamos ‘Parabéns’ para James, e servimos um bolo de chocolate em formato de pomo de ouro com glacê dourado e branco por cima que eu mesma encomendei na doceria bruxa mais próxima (você não acha mesmo que eu teria tempo de fazer esse bolo super trabalhoso depois de tudo o que eu tinha preparado para a festa? Nem com magia!) A festa durou até umas duas da manhã, quando os convidados começaram a ir embora. Aqueles que tinham filhos ou estavam grávidos foram antes, à meia-noite, e Peter também.

Na verdade, achei Peter muito estranho. Muito observador e calado, atento às conversas alheias. É verdade que ele sempre foi fofoqueiro... mas percebi que ele pouco conversou com os amigos, Sirius, James e Remus, quero dizer. E quando perguntei o que ele andava fazendo, foi muito vago em sua resposta. Estranho...

Enfim, ficaram na festa apenas Alice, Marlene, Emelina, Frank, Sirius e Remus, e é claro, James e eu. James se divertiu bastante, e adorou a festa. Fiquei muito feliz, ele estava mesmo precisando se distrair. Todos bebemos consideravelmente, e isso proporcionou conseqüências que vão além da ressaca do dia seguinte...

Quando todos finalmente foram embora, eu e James ficamos sozinhos (dã, que óbvio!), e ele estava todo amoroso, e eu também, vai saber, deve ter sido o espírito do Halloween – esta data tem grande influência mágica nos bruxos, sabe. Bem, mas o que aconteceu é que nós, hum... você sabe. Bem, nada mais natural para um casal casado, certo? Sim, mas como os tempos não são muito propícios, estávamos tomando precauções quanto a possíveis ‘acidentes’, como um bebê, por exemplo. Mas foi como eu disse, estávamos altos demais para lembrar dessas coisas... E, bem, é como eu disse: o Halloween tem uma grande influência nos bruxos, quase como um dia dos namorados. Coisas mágicas realmente acontecem...

E daquele dia até hoje eu comecei a me sentir estranha, mais sensível, com desejos de comer coisas malucas (como espinafre com banana), e muito enjoada (espinafre com banana não é muito bom, sabe). E hoje eu me consultei com uma médica lá do hospital que jurou que não ia contar pra ninguém, que eu descobri que estou...

Grávida.

Grávida?

Grávida!

E é por isso que estou aqui, em plena tarde de sexta-feira, trancada dentro do armário do meu quarto e de James. Pedi para sair do trabalho mais cedo hoje porque não estava me sentindo muito bem e agora estou aqui. Sozinha. Apavorada. E grávida.

ESCRITÓRIO, 17:00

Tive que sair do armário para receber uma coruja que batia freneticamente na janela do andar de baixo da casa. Era de Marlene. Eis a mensagem:

Oi Lily!

Como você está? Sei que está em casa porque hoje foi o meu dia de ficar de guarda no St. Mungus, sabe como é... pensei que fosse te encontrar mas uma curandeira disse que você tinha ido embora mais cedo, que não estava se sentindo bem...

Mas você está bem, certo? O que aconteceu? Quer que eu avise o James? Tenho certeza que o deixariam sair mais cedo hoje para ficar com você.

Se já estiver bem, me avise, eu e as garotas temos planos pra hoje à noite.

Beijos, Marlene

Respondi a carta de Marlene no mesmo instante.

Oi Lene,

Não diga nada ao James! Estou bem, foi só uma indigestão. Mas não sei se vou poder sair hoje à noite.

Beijos, Lily

A resposta dela também foi imediata.

Ah, Lily, você vai sair com a gente sim! E nem vem com a historinha de querer ficar com o James. Eu sei que vocês são o ‘casal grude’, e que você se arrepende totalmente de ter passado tanto tempo longe dele, e agora que estão casados vocês compensam passando todo o tempo possível juntos... mas vamos, você não pode esquecer das amigas, né! E depois, o James deve sair com o Sirius hoje...

Vamos Lily, anima! Hoje vai ser a noite das garotas!

Vou passar pra te pegar aí às sete, ok?

Não fura com a gente!

Beijos, Lene.

Não gostei muito do que ela escreveu. Eu e James não somos tão grudentos assim! É uma afirmação completamente infundada! Ta, eu admito que me sinto mal por ter rejeitado o amor da minha vida por tanto tempo... e a gente passa grande parte do tempo juntos pra compensar... mas não somos grudentos!

Bom, parece que eu vou sair com as garotas hoje à noite. Melhor começar a me arrumar.

QUARTO DE CASAL, 18:30

Acho que vai ser meio estranho eu passar a noite toda de badalação indo ao banheiro para vomitar. Talvez se eu preparasse uma poção...

Ai, o que é que eu faço? Eu estou grávida! Eu nunca estive grávida antes! Eu não sei o que fazer! Eu não tenho um plano, como sempre tenho. Não tenho nada. Pela segunda vez na minha vida inteira (a primeira talvez você se lembre bem...) eu não sei o que fazer.

SALA DE ESTAR, 18:55

Aqui estou, sentada no sofá da sala, esperando Marlene. Estou usando um vestido preto simples de manga três quartos e sapatilhas pretas. Estou pensando se não seria uma boa idéia contar às minhas amigas sobre a minha nova situação. Quero dizer, elas são minhas amigas. Farão de tudo para me apoiar. Eu não preciso ter medo.

Opa, Marlene acaba de tocar a campainha.

SALA DE ESTAR, 23:30

Estou aqui com Alice, Emelina e Marlene, jogando baralho comendo guloseimas. Vou contar como viemos parar aqui...

Atendi a porta e Marlene praticamente pulou em cima de mim, como costuma fazer quando ficamos muito tempo sem nos ver.

“Lily! Que saudade! Como você está? Aquilo que você teve no trabalho não foi nada mesmo, né?”

“Não, não foi nada...” menti o melhor que pude.

“Ah, que ótimo! Venha, o Knightbus ³ está esperando! As meninas já estão lá dentro!”

Ao ouvir essas palavras meu estômago embrulhou. Eu só tinha andado de Knightbus uma vez na vida, e não foi nem um pouco agradável. Perguntei porque não podíamos simplesmente aparatar, ou ir pela rede de pós de Flu. Mas ela respondeu assim:

“1: Você não sabe onde é e pode acabar se perdendo” verdade, mesmo tendo licença de aparatação, acontece, de vez em quando, de eu errar o destino... mas eu consigo consertar depois!

“2: No lugar que vamos não tem lareira.” Que lugar seria, então? Todo local bruxo tem uma lareira. Justamente para isso! Mas talvez eu ficasse ainda mais enjoada... sei lá, o pós de Flu tem um cheiro muito enjoativo, e você ainda fica rodado lá dentro...

“3: É uma surpresa! Agora anda, o condutor é meio estressadinho...”

Marlene me puxou para dentro do ônibus roxo de três andares, e lá vi Alice e Emelina, a primeira meio pálida, como se estivesse enjoada. Como eu ia ficar quando o ônibus começasse a andar, ou melhor, correr. E estava certa. Mas logo que senti que ia vomitar, Alice me estendeu um saco de papel. Percebi que ela também estava vomitando. Ok, eu sei que é nojento. Mas o que eu podia fazer no estado em que me encontro, num ônibus tresloucado dirigindo a 100km/h?

Quando finalmente chegamos, eu e Alice tivemos que ser amparadas por Emelina e Marlene. Elas perguntaram inúmeras vezes se estávamos bem mesmo, mas respondemos que estava tudo ótimo. Bem, é claro que eu menti.

Entramos numa portinha no meio de uma rua mal-iluminada, passando por um segurança, e descobri que o lugar era uma boate-bruxa (dava pra ver pela banda que estava tocando no palco, As Esquisitonas) imensa, lotada, música alta e gente dançando. Diferente de qualquer lugar a que eu esteja acostumada. Geralmente eu prefiro um pub, sabe, aconchegante, mais tranqüilo, e ainda assim bacana. E eu nunca tinha ido numa boate assim antes – Tipo, a da minha despedia de solteiro não conta. Era uma boate drag queen, completamente decadente, e vazia. Passamos a noite cantando músicas no karaokê. Nessa boate com certeza não tinha karaokê...

Nós logo fomos para o bar, já que não tinha nenhuma mesa vaga. Eu ainda estava tentando acostumar meus ouvidos à barulheira, quando Marlene gritou para o bar-tender:

“Quatro doses de whisky de fogo, pra começar!”

“Ah... eu não vou beber, Lene.” Eu disse, e Alice apoiou. “Sane, eu tive aquela indigestão hoje, já passei mal no Knightbus, não quero ficar pior, sabe como é...”

“Hum... sei...” concordou Marlene. “Mas vocês vão dançar, não vão?”

“Ah, claro!” dissemos, juntas.

Eu e Alice pedimos água mineral e começamos todas a conversar.

“E aí Mel, como vão as coisas? Não nos falamos muito ultimamente... como vai o Remo?” perguntei, interessada. Emelina sorriu, deu um gole em sua bebida, e respondeu desanimada, ou melhor, tentando demonstrar animação:

“Ah, estamos... bem. Sabe como é, tem todo esse negócio das missões do Ministério, ando muito cansada, e não temos ficado muito juntos... também ando com saudades dos meus pais. Você sabe, eles se mudaram para o interior, pra fugir dessa confusão toda. Imploraram para eu ir junto, mas não posso abandonar meus amigos, nem o trabalho que estou fazendo para deter o... você sabe quem.”

De uns tempos pra cá esse bruxo tem ficado tão poderoso e tão temido, que poucos são os que se atrevem a citá-lo, ou mesmo falar o nome dele. Eu particularmente não acho que isso ajuda. Por que teme um nome? Mas em respeito a meus amigos e às pessoas que me rodeiam, eu acabo dizendo só ‘Você-Sabe-Quem’, mesmo.

“Hum... posso imaginar...” respondi, e ficamos caladas um momento. Era nossa noite de diversão e não parecíamos nem um pouco divertidas.

“Que tal dançarmos um pouco agora?” sugeriu Alice, de repente. “Depois a gente conversa mais. Vamos, precisamos esfriar a cabeça, nos divertir um pouco!”

Saímos para a pista de dança, onde várias pessoas dançavam apertadinhas, como se nada mais existisse, vivendo o momento. Sei lá. Às vezes fico pensando se eu não deveria ter me divertido mais na adolescência. Sabe, sair e tal. Eu sempre ficava em casa estudando ou lendo. E, ok, é importante, mas... bom, às vezes sinto que não vivi a minha vida intensamente. Qualquer um pode dizer que é bobagem, que eu ainda sou jovem e ainda terei tempo pra tudo isso. Mas é que fica difícil pensar no futuro quando este é tão incerto, devido às circunstâncias em que se vive.

Bom, estávamos lá, dançando, por um bom tempo já, Marlene mais agitada do que o normal e pegando drinks que serviam na pista. Estava achando ela meio estranha. Mas não sabia porquê. E, depois que a vi flertando e dançando sensualmente com um cara, tive certeza que ela não estava bem. Cutuquei Alice que dançava perto de mim, e apontei. Emelina também viu e ficou chocada. Observamos que ela estava quase beijando o cara! Inacreditável! Tipo, a Marlene ama o Sirius, e está noiva dele!

Daí eu fiz a única coisa que me passou pela cabeça: a arrastei pelo braço, tirando-a dali, seguida por Alice e Emelina. Fomos para o banheiro da boate, já que o bar estava lotado, e também porque deveria te menos barulho, perfeito para conversarmos. A não ser pelo fato de que era um banheiro de boate, e não deveria estar muito limpo, sabem como é...

“Lene, você ficou louca?” eu soltei. Eu ia dizer ‘Você bebeu?’, mas seria muita burrice, já que ela tinha, de fato, bebido. É impressionante o quanto ela pode beber em tipo, quinze minutos.

“Só estava me divertindo” ela respondeu simplesmente, e surpreendentemente, parecia sóbria. E não estou mentindo quanto à quantidade de drinks, só na pista de dança foram uns dez. Olhei para a cara de Alice, igualmente chocada, e Emelina, embora estivesse tão surpresa quanto nós, parecia estar um pouco alheia àquilo tudo.

“Desembucha, Marlene McKinnon.” Mandou Alice, no tom imperativo que ela sempre usava em mim quando estávamos em Hogwarts, quando eu estava chateada por alguma coisa, como o James ter levantado a minha saia no primeiro ano, ou eu ter tirado uma nota baixa em Transfiguração no terceiro.

Ela nos encarou com aqueles grandes olhos azuis, contornados por lápis e rímel pretos, a boca num batom rosado comprimida.

“Eu e Sirius tivemos uma briga.” Confessou, cruzando os braços em seguida. Bom, estava tudo esclarecido.

Não é incomum Marlene e Sirius brigarem. Eles são como eu e James, brigam o tempo todo por coisas bobas. Mas ao contrário deles, nós sempre percebemos o quanto estamos sendo idiotas e fazemos as pazes imediatamente (bom, James sempre cede, mesmo quando nós dois sabemos que eu estou errada, por causa do meu orgulho. Mas sabe como é, eu sempre tenho que ter a razão, pelo menos no momento da briga. E depois, ele não se incomoda nem um pouco de estar totalmente sob meu controle... ah, não, eu não sou tão malvada quanto você pensa! Meu marido é que é... sabe... compreensível e fofo demais. O que posso fazer quanto a isso?).

Mas sempre que Marlene e Sirius brigam, é um caos. Eles brigam por qualquer coisinha, sabe, uma vez eles ficaram três dias sem se falar porque o Sirius esqueceu que tinha prometido comprar pasta de dente. Quebram a casa toda praticamente, gritam, se descabelam, e algumas vezes o Sirius acaba aparatando lá em casa pra dormir no nosso sofá. Mas mesmo assim tudo se resolve depois, e eles ficam parecendo aqueles casais super grudentos que parece que acabaram de sair da lua-de-mel (nada a ver com um outro casal que dizem que é grudento...).

“Mas... o que aconteceu de tão grave dessa vez?” perguntei. Ela nos olhou tristonha, desviou o rosto, e depois abaixou a cabeça, chacoalhando-a de leve, os cabelos negros cobrindo a face. Quando ela ergueu a cabeça, já estava chorando.

“Acontece que... eu fiquei grávida...” nesse momento todas fizemos exclamações de surpresa, e eu quase gritei ‘Eu também!’. Mas achei que não era o momento apropriado.

“Lene... mas... mas... como você...” começou Emelina, mas não conseguiu concluir, pois Marlene voltou a falar, aos prantos, sentando-se numa cadeira que tinha ali no banheiro por acaso, e pegou umas folhas de papel para limpar as lágrimas, apesar de que não adiantava muito, já que ela não parava de chorar.

“Descobri ontem.” Marlene recomeçou a falar, um pouco mais calma. “Provavelmente aconteceu depois daquela festa de Halloween” Sim, a festa de Halloween... eu disse que essa data tem um poder mágico sobre os bruxos, especialmente as bruxas! Tem que ter! “Fiquei preocupada achando que talvez Sirius não gostasse muito da notícia, e esperei o momento certo pra contar... e foi hoje durante o almoço. Pedi para ele vir almoçar em casa, já que era o meu dia de folga. Disse que tinha uma surpresa. Preparei o prato favorito dele, e o esperei, um pouco nervosa pela reação que ele teria. Quando ele chegou, trouxe junto uma colega de setor, estagiária, na verdade, que era, por acaso, Melinda Adams.”

Mais exclamações de surpresa. Mas o que mais me impressionou foi o fato de Melinda Adams, a irmã mais nova e mais burra de Melissa ter conseguido um estágio no Ministério da Magia. Sempre achei que ela fosse abrir um salão de beleza bruxo, ou uma loja de cosméticos, algo assim. Mas estagiar como auror? Nunca imaginei.

Marlene agora não estava mais chorando, mas proferia as palavras com muita raiva. Nunca a tinha visto desse modo.

“Ele contou uma historinha qualquer que era supervisor dela, e que ela não tinha onde almoçar, por isso a convidou. Aceitei razoavelmente, e fui até simpática, mas quando ela se inclinou totalmente para cima do Sirius, com a desculpa de pegar o guardanapo que tinha caído, eu não me segurei e saí correndo para o quarto. Sirius veio atrás de mim, perguntando porquê eu estava sendo tão grossa com a convidada dele. É claro que eu não me segurei e comecei a gritar o quanto ele era um cafajeste de trazer aquela piranha pra casa, depois de tudo o que aconteceu em Hogwarts... vocês se lembram o quanto ela dava em cima dele e eu simplesmente odiava, né?” Concordamos com a cabeça, totalmente atentas ao relato que se seguia.

“Aí ele disse que eu era uma maluca, ciumenta e paranóica, que ela era só uma colega de trabalho, e que eu estava ficando louca. Aí eu revidei dizendo que se eu sou assim é culpa dele, já que sempre me dá motivos pra desconfiar, e que se ele tinha o mínimo de respeito por mim, não teria trago aquela cachorra pra nossa casa. E sabem o que ele disse?” Abanamos negativamente com a cabeça, boquiabertas. “Disse que não somos oficialmente casados, e portanto, não era nenhum tipo de traição.”

Marlene estava lívida. E com razão.

Sirius realmente pediu a mão dela em casamento, no dia do meu próprio, mas ainda não tinham arranjado um momento propício para realizar a cerimônia. Aí, num fim de semana, eles viajaram para um vilarejo Trouxa no interior, e lá se casaram, com cerimônia simples, numa capela Trouxa. Mas combinaram de fazer uma cerimônia oficial e uma festa, quando aparecesse uma brecha nos tempos difíceis que temos vivido. Apesar de não ter sido uma cerimônia bruxa tradicional, ninguém nunca tinha contestado a oficialidade da união. O que importava é que estavam juntos, e eram ‘casados’. Mas parece que Sirius não pensava assim.

Eu e as garotas ficamos chocadas. Mas ainda tinha muito a ser dito. Marlene recomeçou, depois de respirar fundo.

“Aí eu já estava chorando, mas sem muito escândalo, sabe. E disse bem assim: ‘Quer dizer que aquela celebração há três meses atrás não significou nada pra você? Que tudo o que temos vivido desde que deixamos Hogwarts, não significa nada pra você?’ Aí ele ficou nervoso, tentando retirar o que tinha dito. Vocês sabem, o Sirius não raciocina muito bem antes de falar as coisas... Mas eu não queria ouvir. Estava farta de tudo isso! Não bastasse ele nunca ter querido assumir uma relação séria, o primeiro passo que damos juntos à maturidade, ele ignora completamente? Daí a única coisa que eu consegui fazer foi arrancar aquela aliança do meu dedo e atirar nele.”

Mais espanto. Reparei que ela realmente estava sem a aliança bonita de prata no dedo anular da mão esquerda, que tinha substituído o de brilhantes do noivado. Ela continuou:

“E saí bufando para a sala, com ele no meu encalço. Expulsei a Adams que ainda estava sentada toda sonsa na nossa cozinha/sala de jantar/sala de visitas e ela ficou toda ‘Ui, cuidado com meu cabelo, sua horrorosa!’ Aí eu quis bater nela, já lá no corredor, e o Sirius me segurando, e eu estapeando ele. A Melinda finalmente desceu as escadas do prédio e foi embora, mas eu e Sirius permanecemos ali no corredor, na beira da escada. E ele finalmente disse: ‘Marlene, eu não estou te reconhecendo! Por que está agindo desse jeito?’ e então eu gritei, revoltada, completamente fora de mim: ‘PORQUE EU ESTOU GRÁVIDA!!’”

Parecia uma história de novela. Era surreal demais. Mas tudo tinha acontecido de verdade, e Marlene ainda não tinha terminado.

“Daí ele ficou meio atordoado, tentando pedir desculpas, e se inclinou pra me abraçar... mas eu me afastei e acabei tropeçando e rolei escada abaixo.”

Será que podia ficar mais parecido com uma novela mexicana? Sem querer desprezar a história toda, mas... agora eu vou acreditar nessas novelas idiotas!

“Lene! Meu Merlin! E como você está?” perguntou Alice, absolutamente chocada.

“O Sirius me levou no St. Mungus... por isso eu fiquei sabendo que você tinha ido pra casa mais cedo, Lil. Não tinha nada a ver com eu estar de guarda lá... bom, daí eu fui examinada... acho que vocês podem imaginar o que aconteceu... eu... perdi...” todas corremos para abraçá-la, e ela continuou, chorando novamente: “O Sirius ficou lá, todo preocupado, tentando se desculpar. Mas eu não quis saber. Assim que eu recebi a alta, aparatei e não disse para onde ia. Acabei dando umas voltas no parque, e foi tão deprimente... por todo lado só tinham casais e crianças felizes, aproveitando o fim do outono... depois quando voltei pra casa, ele não estava mais lá. E foi quando eu te mandei aquela carta, Lily. Desculpe por ter mentido antes.” Ela fez uma pausa. Deve ter sido muito difícil passar por tudo isso num único dia. Eu não sei como teria me saído se fosse comigo. Acho que estaria escondida num armário até agora...

“Puxa, Lene... que barra...” disse Emelina. Ficamos em silêncio, quando notei que ainda estávamos no banheiro sujo da boate.

“Lene... você não quer ir lá pra casa? Acho que vai ser melhor...” Ela olhou em volta, e mesmo com os olhos molhados e toda a desgraça que tinha relatado, começou a rir.

“É... acho melhor...”

Saímos da boate todas juntas, e aparatamos do lado de fora, já que não dava pra aparatar lá dentro. Chegamos aqui e nos jogamos nos sofás brancos e confortáveis da sala de estar. Fui para a cozinha preparar uma panela de pipoca e Alice me ajudou fazendo brigadeiro. Comemos junto com chá gelado e ficamos jogando uns jogos de tabuleiro que eu tenho desde criança, como ‘Jogo da Vida’ e ‘Detetive’. Até que foi divertido. Melhor que dançar numa boate.

Perái, Alice está dizendo alguma coisa. AI MEU MERLIN!!!!!!!!!

AINDA NA SALA DE ESTAR, 00:00

Bem, estávamos lá, jogando ‘Mau-Mau¹¹’, (eu estava escrevendo no diário, porque já tinha ganho a partida e elas estavam disputando o segundo lugar) quando Alice se pronunciou:

“Gente, eu estou grávida. Pronto, falei!” e daí ela cobriu os olhos com uma mão, meio que se escondendo. Ficamos todas tipo: QUÊ??

“S-sério, Ali? – perguntei, achando que fosse algum tipo de tática pra eu falar que estava grávida. Mas era verdade! Sabe, esse é o problema de se viver com James Potter. Você acaba pensando que o mundo gira inteiramente ao seu redor.

“É verdade... descobri hoje cedo... foi depois da festa de Halloween, sabe... ainda não tive oportunidade de contar para o Frank. Estou tão nervosa! Não sei o que fazer! Não sei nada sobre bebês!”

“Eu sei que vai parecer meio clichê agora, mas... eu também estou... grávida...” disse, numa vozinha bem tímida. Elas arregalaram os olhos pra mim.

“Duas grávidas?” exclamou Marlene, não acreditando. Fiquei um pouco preocupada de ela ainda estar traumatizada com tudo o que aconteceu com ela hoje... mas ela parecia estar agindo bem quanto a isso. Disse que não estava pronta para ser mãe, de qualquer forma. E que não queria ver Sirius tão cedo.

Emelina estava quieta, cabisbaixa.

“O quê, vai dizer que está grávida também?” perguntou Alice, quase rindo.

“Na verdade não. Foi alarme falso. E por causa disso Remo e eu tivemos um desentendimento...”

“Como assim?” perguntei, e ela começou a contar.

“Ele ficou desesperado, porque vocês sabem, a licantropia¹², é hereditária. Daí ele não queria um filho de jeito nenhum, e eu até compreendo, estávamos tomando cuidado, mas pensamos que eu tivesse ficado grávida. E aí eu fiquei chocada com a reação dele. Ok, eu sei que ia ser difícil, mas eu estava disposta a enfrentar todas as dificuldades... mas dava pra ver que ele não ia aceitar essa criança nunca! E vocês sabem que eu sempre gostei de crianças, sempre sonhei em ser mãe... fiquei bem chateada quando vi que tinha sido alarme falso, e ele ficou aliviado. Achei que podia ter me dado um apoio, sei lá. Mas não. Não disse nada confortante, e falou que precisamos tomar mais cuidado da próxima vez. Achei muito insensível da parte dele.”

“Eu concordo com você.” disse Marlene, comendo mais uma colherona de brigadeiro, com vontade, já que a pipoca já tinha acabado há muito tempo.

“Mas Lene,” falei, me servindo de brigadeiro também. “Vocês já pensaram em adotar?”

“Já. Falei com ele sobre isso várias vezes. Mas ele diz que seria inconcebível uma criança crescer com um lobisomem dentro de casa. E sabem? Desisti de tentar. Acho que nunca vou conseguir mudar aquela cabeça dura dele.”

“Talvez não...” concordou Alice. “Mas não acha que o relacionamento de vocês pode piorar se não chegarem num consenso logo?”

“Pode ser. Mas não sei se me importo. Ele tem estado tão frio ultimamente... temo que o nosso relacionamento não resista a essa guerra...”

Ficamos todas em silêncio, reflexivas. Depois de um longo tempo apenas comendo brigadeiro, Marlene exclamou, feliz:

“Agora chega de tristeza! Alice e Lily, contem como estão se sentindo! O James já sabe, Lil?”

Daí eu contei como me senti quando descobri, todo o meu desespero, (elas deram boas risadas, e Alice admitiu que sentiu o mesmo) e que não tinha contado a James ainda.

“Bobagem, ruiva,” disse Marlene, divertida. “O James vai amar! Não receie em contar a ele!”

Talvez ela esteja certa. Talvez eu não deva ter tanto medo. E acho que pode ser um motivo para lutarmos ainda mais bravamente nessa guerra que está se desenrolando. Lutar em benefício de um futuro tranqüilo para a próxima geração.

Lily Evans, você podia ser uma política bem-sucedida.

Opa. Estou ouvindo a porta se abrir. Por ela estão entrando James... e Sirius, e Remo, e Frank!

Ai meu Merlin, isso não vai dar em boa coisa...

SÁBADO, 18 DE NOVEMBRO

QUARTO DE CASAL, 10:30

Certo, precisarei de muuuito tempo e papel para descrever tudo o que aconteceu ontem, assim que os rapazes chegaram em casa...

Fui recebê-los à porta, um pouco surpresa, e vi que Sirius parecia abatido, olhando desajeito para Marlene, que emburrara e cruzara os braços, virando a cara. Ele passou por mim e foi até ela, e seguiram para o escritório. Remo olhou meio tristonho para Emelina, e vi os dois seguindo para conversar na varanda. Em seguida Alice foi ao encontro de Frank, sorrindo, e o levou até a cozinha. Eu e James ficamos sozinhos na sala.

“Oi.” Ele disse, todo fofo. “Vocês ficaram a noite toda aqui?”

Aí eu contei TUDO o que aconteceu. Sobre a boate, Marlene e Emelina, e como viemos parar em casa. Ele me contou que saiu com os caras para beber num pub e conversaram sobre o que tinha ocorrido, assim como nós garotas conversamos. Sirius estava realmente mal, e queria consertar as coisas. O mesmo para Remo. Frank e James estavam lá só para dar apoio e conselhos. Frank disse que sabia que nós íamos nos reunir, e James sugeriu que viessem para cá, com a esperança de que estivéssemos todas aqui. E eles acertaram na mosca.

Bom, nós estávamos sentados no sofá, abraçados, e eu resolvi tomar coragem para dizer o que eu vinha matutando o dia inteiro.

“James...” ele fez um ‘hum’, beijando a minha testa e acariciando os meus cabelos. “Eu... estou grávida.”

Ele parou instantaneamente de acariciar os meus cabelos, e se virou para me encarar, com um sorriso e um olhar muito fofos, e ao mesmo tempo desconfiados.

“Li... Vo... você não ta brincando comigo, ta?” eu abanei a cabeça negativamente, abrindo ainda mais o meu riso. Ele se virou ainda mais para me encarar melhor. Parou os olhos na minha barriga e começou a beijá-la, me fazendo cócegas. Depois nos beijamos apaixonadamente e ele voltou a falar. “Lily... isso é... maravilhoso...”

“Mesmo?” perguntei, toda abobalhada. Ele riu como se não acreditasse e disse, feliz:

“Claro, sua bobinha! Lily... você não imagina o quanto eu estou feliz com essa notícia! Nós vamos ser pais!”

Realmente, era tudo maravilhoso. Quero dizer, é. E eu toda aflita por nada...

Permanecemos lá, pensando em como seria legal esse bebê que vem à caminho, se preferimos menina ou menino (James, surpreendentemente, prefere uma menina, contanto que seja linda como eu, ele disse. Já eu, ainda não me decidi; mas sei que ficarei feliz de qualquer jeito!), alguns nomes (James sugeriu uns completamente esdrúxulos, que dizia ser homenagem a alguns parentes. Mas sinceramente, espero que ele estivesse brincando. Não acho que gostaria de ter uma filha chamada Glicinda ou um filho chamado Bartoldo), etc.

Algum tempo depois, apareceram Alice e Frank vindos da varanda, que estava radiante e surpreso com a notícia, compartilhando-a com James. Depois surgiram Emelina e Remo da cozinha, e Marlene e Sirius do escritório.

Emelina e Remo conversaram bastante. Ela contou como ficou chateada por ele não ter dado apoio nenhum quanto à falsa gravidez, e debateram novamente sobre terem filhos. Remo acabou cedendo, e prometeu que vão adotar uma criança, assim que todo esse sufoco da guerra acabar.

Já com Marlene e Sirius foi um pouco mais complicado. Ela não tinha engolido a visita de Melinda Adams. Sirius admitiu que fez besteira, que só a levou para almoçar porque a garota não desgrudava dele, e acabou seguindo-o. E ele aproveitou a oportunidade pra fazer um pouco de ciúmes em Marlene, para dar o troco por ela ter dado mole para outro cara devido à uma outra briga que eles tinham tido... ou seja: tudo isso aconteceu por pura infantilidade dos dois. Ah, ainda tinha o caso do casamento deles. Ele pediu perdão inúmeras vezes, tinha dito aquilo só para irritá-la, não tinha intenção de magoá-la. Ele até levou a aliança que ela tinha atirado nele para pedi-la em casamento novamente, e colocou-a no dedo dela novamente. E o lance do bebê... bem, tinha sido uma fatalidade. Ele disse que a ajudaria a superar o trauma. Sirius prometeu também que nunca mais vai aprontar nenhuma estupidez daquelas, e seria mais carinhoso e cuidadoso com ela. Por fim, acabaram fazendo as pazes. Afinal, eles se amam.

E assim a noite teve seu desfecho. Todos os casais se entenderam e se reconciliaram, e foram todos para suas casas, felizes da vida. E James e eu festejamos naquela noite.

Bom... agora estou aqui, deitada na cama, escrevendo. James está lá embaixo, preparando o café-da-manhã.

Ah!! E sabe o que ele me disse? Que o Halloween realmente é mágico para os bruxos, especialmente para as bruxas. É uma espécie de período de fertilidade, e que muitas bruxas ficam grávidas nessa data. Cara. Essa é uma informação totalmente válida! Como é que ninguém nunca me falou nada e eu nunca li nada sobre isso em lugar nenhum??

Bom, talvez ele tenha inventado isso só para explicar essa estanha coincidência de quatro amigas terem engravidado no mesmo dia. De qualquer forma, é uma história interessante...

Ah, James chegou com o café da manhã! Vamos comer e devanear sobre o nosso lindo bebê...

10:45

Sabe... acho que não vai ser tão difícil me adaptar a essa vida de grávida; claro que tem toda a inconveniência dos enjôos, cansaço excessivo, mudanças constantes de humor... mas eu conto com um marido super fofo, compreensivo, e paciente ao meu lado...

Acho que as coisas não poderiam ter acontecido em melhor hora...

BIBLIOTECA, 15:00

Tive que contar aos meus pais a novidade. Não que eu não quisesse, que fosse algo desagradável...

Liguei para eles depois do almoço. Sim, nós temos um telefone. Papai nos deu uma linha, de presente de casamento. Ele disse que não suportaria receber notícias minhas apenas por cartas, e disse que eu teria que ligar para eles pelo menos uma vez por semana. Eu aceitei mais ou menos numa boa, contanto que só eles e Petúnia – embora ela nunca mais tenha falado comigo – tivessem o nosso número. Questões de segurança... Só que James não gosta do ‘feletone’. Acha ‘aquele treco’ muito esquisito e escandaloso, o faz lembrar de um berrador. Mesmo que só meus pais e minha irmã tenham nosso número de telefone, sempre recebemos ligações de telemarketing, e James simplesmente fica perturbado com as conversas das atendentes. E é claro que ele nunca fala ao telefone. Uma vez eu tentei ensiná-lo, coloquei-o para falar com o meu pai. Ele gritava, com o gancho afastado de si. Eu me diverti muito, mas papai não gostou nada. Por mais que ele goste do James, ainda o acha um pouco estranho. Mas tudo bem. Eu tenho certeza que James é estranho, e mesmo assim eu o amo. E é por isso que James detesta telefones, e não suporta vê-los. Por isso eu o coloquei na biblioteca, – sim, eu tenho uma biblioteca! Só minha! James me deu de presente de casamento... – já que James usa apenas o escritório.

Bem, eu liguei, e quem atendeu foi papai. E a conversa foi exatamente assim:

‘Oi pai, sou eu, Lily. Tudo bem aí?’

‘Lily, minha florzinha, tudo ótimo! Estou com tantas saudades...’ (e chamando minha mãe do outro lado da linha) ‘Mary! A Lily está ao telefone!’

(Minha mãe, brigando com meu pai) ‘Ai, me deixa falar com ela, John!’ (e se dirigindo à mim, com sua voz super amável) ‘Oi filhinha! Tudo bem? Como vão as coisas? E o trabalho? Tem se alimentado direito? Como está o James? Mande um beijo pra ele!’

Depois que os pais de James morreram, mamãe, que já era encantada por meu marido, ficou ainda mais, praticamente adotando-o. Quando os visitamos, ela sempre cozinha qualquer coisa que James peça, e faz vários doces pra ele. Ela nunca fez nada disso para Petúnia, Valter, nem para mim! Ela gosta mais de um dos genros do que das duas filhas juntas!

‘Está tudo ótimo, mãe, tudo ótimo...’ (respondo, depois de deixá-la falar o quanto quiser) ‘Hum... mãe... eu tenho uma novidade...’

‘Novidade! O que é? Você foi promovida? O James foi promovido? Oh, eu sempre soube que isso aconteceria! Ele é tão talentoso...’

Eu falo sério quando digo que minha mão gosta mais do meu marido do que de mim!

‘Não, mãe, não tem nada a ver com trabalho...’

‘E então, o que é? Vocês vem nos visitar! Ah, que maravilha...’

‘Mãe!’ (eu interrompo-a, senão ela não pára de falar nunca)

‘Querida, não precisa ser grosseira. Diga logo, qual é a novidade?’

‘Bom... eu... estou grávida.’ (silêncio anormal do outro lado, seguido de um berro escandaloso de aparente alegria)

‘Oh! Mas que felicidade!’ (e gritando para meu pai) ‘John, a Lilyzinha está grávida!’ (e voltando-se para mim) ‘Oh, que maravilha, que benção! Há tantas coisas que eu posso te ensinar...’

‘Certo, quando eu precisar a senhora me ensina.’ (ela fez um bufo como se estivesse ofendida)

‘Está bem, está bem. Ah, mas que cabeça a minha! Sua irmã ligou ontem. Ela também está grávida! Que felicidade! Minhas duas filhas, bem casadas e grávidas! É muito mais que uma mãe pode querer...’

É... minha mãe é um pouquinho... superficial.

Conversamos mais um pouco, ela implorou para falar com James ao telefone, mas eu expliquei que ele não gostava, mas ela insistiu, eu o chamei, ele ficou com uma cara muito fofa de medo ao me ver com o telefone na mão, aproximou o rosto um pouco e disse timidamente ‘Oi, Sra. Evans’, e mamãe ficou super feliz. Finalmente, depois de prometer visitá-la mais vezes e escutar todos os conselhos que ela tem a me dar, terminamos a conversa – mais porque eu precisava ir ao banheiro vomitar do que porque ela tinha terminado de falar. E ela nem me deixou falar com papai direito! Ele só pôde dizer com aquela voz branda dele ‘Parabéns, flor’ e mamãe logo voltou a tagarelar. Ela fala muito.

Bom. É isso aí.

James acaba de sentar-se ao meu lado, sobre o braço da poltrona em que estou sentada. Ele começa a acariciar meus cabelos, a sussurrar no meu ouvido...

Hum... depois volto a escrever. Tenho outras coisas mais importantes no momento...

SEGUNDA-FEIRA, 20 DE NOVEMBRO

QUARTO DE CASAL, 22:00

Hoje no trabalho todos já sabiam da novidade. Aparentemente, Sarah, a médica que me examinou na sexta-feira, não consegue manter segredo. Também não ajudou muito as minhas visitas ao banheiro de cinco em cinco minutos... Mas tudo bem, eu acho. Sabe, foi meio chato todo mundo que trabalha comigo fazendo piadinhas, e cheios de cuidados... Mas o mais legal foi James aparecer pra me buscar, depois do longo dia de trabalho. Ele estava lá no hall de entrada do hospital, com suas vestes de trabalho negras, um sorriso encantador, e um buquê de flores coloridas e variadas.

Voltamos pra casa, e depois de um banho relaxante, James cozinhou (!) para o jantar, sua especialidade, e meu prato preferido: arroz à piamontese com escalopinho ao molho madeira. Pena que não ficou muito tempo no meu estômago...

Agora me bateu um sono... James acaba de voltar do banheiro, beijar minha testa, e se deitar ao meu lado, me abraçando pela cintura. Acho que vou dormir também...

TERÇA-FEIRA, 21 DE NOVEMBRO

BANHEIRO DO HOSPITAL ST. MUNGUS, 15:00

Esses enjôos estão me matando! Vou preparar uma poção para isso assim que tiver um tempinho...

Acabei de cruzar com Bryan Leigh passando pelo corredor da área obstétrica. A Melissa entrou em trabalho de parto. Não me admirei, já que a barriga dela na festa de Halloween estava gigantesca. Lembro que pensei que ela teria o bebê ali mesmo!

Conversei um pouco com ele. Estava todo nervoso, ansioso, andando de uma lado a outro. Achei graça na expressão dele. Fiquei pensando se James ficará igualmente feliz e desesperado... provavelmente sim.

“Lily? Oi, tudo bem? Como você está? Soube que está grávida. Parabéns!” ele falou, afoito, esfregando as mãos nervosamente.

“Obrigada... mas o que houve, o que está fazendo aqui? A Melissa está bem?” ele parou de roer as unhas e voltou os olhos azuis para mim.

“Claro, claro. Quero dizer, espero que sim. A Melissa acabou de entrar em trabalho de parto.”

“Sério? Nossa, você deve estar mesmo nervoso!”

“Hum-hum.” Foi tudo o que ele respondeu, recomeçando a andar de um lado para o outro no corredor branco, em frente à porta da sala de parto.

“Já sabe se é menino ou menina?” perguntei, tentando distraí-lo um pouco.

“Os dois. São gêmeos.”

“Uau.” Exclamei. Por isso aquela barriga estava tão grande...

Nesse momento, uma medi-bruxa apareceu vinda da sala de parto, com um sorriso simpático e disse: “Sua esposa está te chamando.” Aí o Bryan se virou para mim, pegando minhas mãos.

“Lily, entra comigo?”

“Q-QUÊ? Eu? Entrar com você? M-mas...”

“Por favor, eu estou tão nervoso! E você é curandeira também... Melissa é muito sensível, deve estar muito amedrontada, se ela vir você, pode ser que ela se tranqüilize... vamos, Lily, por favor... faça isso por um amigo... por favor...”

Eu encarei aqueles olhos azuis tão grandes e suplicantes... eu detesto magoar as pessoas. Eu não podia dizer não. “Tudo bem, eu vou com você.”

Encontrei Melissa sentada sobre uma maca, usando uma camisola do hospital cor-de-rosa (para mulheres), os cabelos castanho-acizentandos presos num coque, seu rosto convertido em fúria como ficava nos tempos de colégio, e atirando cubos de gelo nas enfermeiras (não me pergunte para quê serviam os cubos de gelo; nem eu sei.) e berrando com elas:

“SUAS INCOMPETENTES! ME DÊEM UMA POÇÃO PARA PARAR COM ESSA DOR AGORA OU... Amorzinho!” fez Melissa, com uma voz amável, ao ver Bryan chegando. “Lily! Oh, finalmente alguém competente nesta espelunca!” Corei. Eu não sei nada de obstetrícia-bruxa. Sorri amarelo e acenei, me aproximando da maca lentamente, enquanto que Bryan já tinha corrido para abraçá-la. “Você vai ficar para assistir, não vai? Por favor?” pediu Melissa suplicante. É estranho pensar que nós já nos odiamos um dia, brigamos pelo mesmo cara, e estávamos ali, conversando como velhas amigas, sem brigar por motivos bobos.

“Olha, Melissa... a minha área não é bem essa, sabe... eu não entendo muito de obstetrícia... não vou poder ser muito útil, sabe...”

“Ah, não importa, contanto que eu tenha uma amiga por perto! Por favor, fique!”

Eu não podia negar. Ninguém nega um pedido de uma grávida. Espero que James saiba disso. Mas a questão é, que eu não podia dizer “não, obrigada, tenho outras coisas pra fazer”. Até porque eu realmente não tinha nada pra fazer. Era o meu horário de almoço, e eu tinha comido apenas uma salada (sim, eu evoluí. Agora como folhas e frutos da terra. Não sou mais fresca com comida!), estava voltando para minha sala a fim de tirar uma sonequinha ou ler um bom livro. Portanto, eu aceitei. E foi aí que eu cometi um grande erro. Porque eu descobri que o milagre da vida, não é nada bonito.

Na verdade, é bem nojento. É de se pensar que qualquer um na vida já tenha visto uma cena de parto em detalhes, para não se chocar depois. Porque, eu acho, todo mundo acaba passando por essa situação um dia. Até mesmo um simples taxista que leve a grávida para o hospital. Pode ser que ela esqueça a bolsa no carro e ele vá levar para ela, e acabe ajudando no parto. E se apaixonando por ela no final. Pode acontecer.¹³ Mas o meu ponto é: todo mundo tem que ter visto uma cena de parto, seja ao vivo e à cores, ou na televisão. Pois é. Mas eu nunca vi. É claro que eu sei que o bebê sai da barriga lá por baixo. Mas nunca tinha visualizado o processo todo. E repito, é nojento. Podem dizer o que quiser, que é um privilégio, um milagre, uma benção, que é um momento mágico, que é a coisa mais linda do mundo. Mas eu continuarei a achar que é completamente desagradável.

E o pior é que todos ali pareciam achar tudo lindo e maravilhoso. A face de Bryan se iluminava cada vez mais, e ele ia fotografando tudo, enquanto Melissa, embora berrasse de dor, estava sorrindo, e ficou toda feliz quando viu o primeiro bebê sair, assistindo Bryan pegá-lo nos braços. Bom, aí eu olhei acidentalmente para a ‘fonte’ e vi a menina saindo... e aí não me segurei.

Vim correndo pelos corredores, e entrei no banheiro mais próximo, vomitando no vaso sanitário de um reservado. E aqui estou. Mais apavorada do que nunca.

Quando eu descobri que estava grávida, pensei em várias coisas, em toda a responsabilidade de ser mãe, de cuidar de uma pessoinha que é toda sua, educá-la, e ainda mais nesses tempos sombrios. Mas nem tinha parado pra pensar que esse bebezinho vai sair de dentro de mim. Eu sou uma pateta, mesmo.

E bem, aqui estou. Apavorada. Enjoada. Com medo dessa criaturinha que cresce no meu ventre. Se alguém lesse essas palavras, me internaria, porque eu estou louca. Porque, quem é que pensa assim, não é mesmo? Todos os pais, até os de primeira-viagem, aqueles que assim como eu e James, estão grávidos há pouco tempo, só pensam no quanto a maternidade (e a paternidade) é linda e gratificante. Não estão nem um pouco preocupados com os aspectos fisiológicos do nascimento. Estão completamente à vontade com tudo isso. Menos eu...

Ah, que desgraça! Eu estou vivendo o momento mais feliz que uma mulher pode viver (segundo minha mãe) e estou enojada pelos detalhes fisiológicos. Porque eu sou uma medrosa. Se mamãe soubesse disso, com certeza me daria uns sermões.

Bom, acabou. Espero que James saiba que se casou com uma medrosa, que provavelmente vai desmaiar na hora de dar à luz. É isso aí. Estou ferrada.

Opa, acho que meu horário de almoço acabou. Melhor voltar para o trabalho.

MINHA SALA, NO ST. MUNGUS, 16:30

Encontrei Bryan quando saí do banheiro. Ele estava radiante. Sorri o melhor que pude, e me desculpei por não ter ficado até o fim. Ele aceitou numa boa, disse que entendia, já que eu estava grávida, e tal ,que devia ter sido muita emoção para mim. Bota emoção nisso.

Ele me levou até o quarto onde Melissa estava instalada, e pude ver que ela já estava bem mais, hum, recomposta, e igualmente feliz, com os dois bebezinhos recém-nascidos nos braços, a menina envolta numa manta rosa, e o menino numa manta azul.

“Lily, veja, eles não são lindinhos?” ela me sussurrou, para não acordar os bebês.

“São lindos, Melissa. Parabéns!” sussurrei de volta. “Como se chamam?”

“Jack e Juliet.” Respondeu Bryan.

Aí o Bryan ficou ao lado dela, abraçando-a, os dois trocaram olhares cúmplices, e Melissa disse enfim:

“Lily... eu e o Bryan conversamos e... queremos que você seja madrinha da Juliet... Claro, se você quiser.”

É claro que eu fiquei surpresa com o convite. Eu não esperava que me chamassem para ser madrinha da filha deles, cujo nascimento eu nem assisti por completo.

“Nossa, eu, eu... eu nem sei o que dizer!”

“Diga sim!” disse ela, sorridente, e Bryan acenava positivamente com a cabeça.

“Ta bom! Eu aceito!” disse, então, contagiada pela felicidade deles.

Aí eles me ofereceram segurar minha nova afilhada nos braços. E eu me vi segurando o meu próprio bebê. E por um momento, esqueci todo o meu medo de ser mãe e, sabe, dar à luz a um bebê. E sabe o quê mais? Eu nem tive enjôos depois.

Bem. Até agora.

Bom, terei muitas coisas para contar a James hoje...

EM CASA, 22:40

Quando James apareceu pra me buscar hoje, estava acompanhado de Peter e Sirius, que foram jantar lá em casa. A Marlene só não foi porque teve que fazer uma visita de emergência aos pais dela, parece que a mãe dela está muito doente...

O jantar foi bem divertido. Comemos pizza. Sirius contou umas estórias engraçadas, e já se candidatou para ser o padrinho do bebê. Aproveitei e contei a novidade sobre minha mais nova afilhada. Os três escutaram a história com muita atenção e pareceram surpresos, exceto por Peter. Ele ainda estava saboreando a sua mousse de chocolate, muito calado e alheio ao resto do mundo.

“Nossa... quem diria...” fez James, boquiaberto.

“Você, madrinha da filha de Melissa Adams com Bryan Leigh? Rá, parece até aquelas coisas que as mulheres trouxas assistem naquelas tevelisões!” exclamou Sirius, risonho. Por ‘tevelisão’ ele quis dizer televisão, e ele se referia às novelas.

“Como assim? Por que a surpresa? Nós fomos colegas de escola e por acaso eu estava por lá e dei apoio aos dois.” Expliquei. Mas James replicou:

“Mas Lily... até dois anos atrás vocês se odiavam... e... teve aquele lance com o Bryan...” começou James, amarrando a cara ao pronunciar o nome do ex-possível-rival. Porque Bryan nunca chegou a ser um rival, de fato; eu sempre amei o James... Mas ele continuou. “Eu sei que depois vocês superaram tudo isso... mas não é estranho?”

Refleti por um momento. Sim, era estranho! Bizarro! Pior ainda se ela pedisse para ser madrinha do meu filho/filha! Quero dizer, ela passou a segunda metade do nosso último ano escolar dando em cima do James, e fazendo de tudo para tirá-lo de mim, até se aliar ao Bryan, que gostava de mim na época, e que agora é marido dela, para estragar a minha vida! É no mínimo espantoso...

“Hum... acho que entendo o que vocês querem dizer... mas o que eu podia fazer? Recusar eu não ia. Vai que ela decidisse me jogar alguma praga, sei lá. Ou...”

Lembrei-me instantaneamente da história da Bela Adormecida. Eu sei, você deve estar pensando: ‘Mas você não está velha demais para contos de fadas?’ Mas eu lhe digo de volta: Nunca se está velho demais para contos de fadas! Contos de fadas são eternos e seus ensinamentos duram para a vida inteira!

Pois bem, como eu ia dizendo, lembrei-me do momento em que a bruxa Malévola invade o batizado da princesa Aurora, ofendida por não ter sido convidada para a festa, e lança nela uma maldição terrível. E sei lá, a Melissa pode ter mudado, mas já foi bem capaz dessas coisas... Eu é que não quero tê-la pelas costas...

“Ou...?” fez Sirius, pedindo que eu continuasse a frase. Acordei de meus pensamentos, chacoalhei a cabaça levemente e disse: “Ah, bobagem. Deixa pra lá.”

Voltamos a conversar sobre outros assuntos, agora mais pesados. Sirius contou que Dumbledore pediu que nos avisasse sobre a próxima reunião da Ordem da Fênix...

Não vou escrever neste diário os detalhes e planos das nossas missões; não é seguro ter essas coisas escritas. Foi Sirius que me alertou. Ele percebeu que eu escrevo o tempo todo sobre tudo o que acontece, e disse que pode ser perigoso. “Nunca se sabe quem temos à nossa volta... vai que este diário cai em mãos erradas...” James concordou; mas reparei que Peter ficou um pouco incomodado com a conversa, e mudou de assunto, elogiando pela terceira vez a mousse.

Pouco depois Peter se levantou e foi embora; disse que tinha um compromisso. Sirius ficou mais um pouco e depois nos deixou, refazendo o pedido para ser padrinho do nosso primeiro filho/filha, como ele fez questão de destacar; “Vocês tem cara de que vão ter uma dúzia de filhos.”, comentou brincando. Depois do que presenciei hoje no hospital e do que vou viver daqui a mais ou menos nove meses, vou pensar bastante antes de engravidar novamente...

James acaba de me beijar a orelha e dizer que é tarde e que eu deveria ir dormir, e que ele já está subindo. Realmente, estou bem sonolenta... vou subir e dorm

QUARTA-FEIRA, 22 DE NOVEMBRO

HOSPITAL ST. MUNGUS, 13:30 (ALMOÇO)

Ontem acabei adormecendo no sofá, e quando James voltou da cozinha (ele tinha ido ajeitar a bagunça do jantar), me carregou nos braços para nossa cama, onde dormi enfim. Ele é tão atencioso...

SÁBADO, 25 DE NOVEMBRO

MEU QUARTO, NA CASA DOS MEUS PAIS, 16:30

Mamãe está enlouquecida com a minha gravidez. Mas no bom sentido, sabe. Não pára de dizer o quanto ser mãe é maravilhoso, e que eu vou amar a experiência, e fica me dando dicas. Ah, Petúnia está aqui, grávida também. Ela não trouxe o marido; não queria que ele visse o lado insano da família. Ou seja, eu e James. mas pouco me importa. Mas como eu ia dizendo, mamãe fica nos dando conselhos de grávidas o tempo todo, e nos fez tirar uma foto juntas, com as barrigas encostadas, o que é meio idiota, já que ainda não tem nenhum volume. Mas como não se discute com a senhora Margaret Evans, tiramos a foto.

Bem, mamãe também fez questão de nos alimentar, o que significa: nos encher de comida até explodirmos. Só que Petúnia não explode, nem fica gorda; ela é um varapau. Eu sei que não é legal dizer essas coisas sobre minha irmã, mas ela já me chamou de aberração e anormal tantas vezes durante todos esses anos, que nem ligo mais.

E agora estou aqui, refugiada no meu quarto, porque o meu cunhado Valter chegou para buscar Petúnia e me destratou na frente de todo mundo, (me chamou de retardada mental) e daí James ficou possesso (porque ele não suporta que me ofendam) e começou a brigar com ele, e como James é muito mais forte e ágil que o Valter, que é todo corpulento, este saiu machucado, e aí Petúnia brigou comigo e disse que meu marido era um imbecil, bruto e lunático, e daí eu parti pra cima dela, mas papai nos separou, e daí James e Valter voltaram a brigar e mamãe foi tentar apartar, e James sacou a varinha e quase fez um estrago. Resultado: mamãe agora está com Petúnia lá na sala, cuidando do olho roxo do Valter, papai foi buscar um saco de gelo para o punho de James (o marido da minha irmã tem uma caraça muito dura aparentemente) que ficou refugiado no escritório, e eu subi para o meu quarto e me joguei na cama, muito aborrecida com tudo o que aconteceu.

A porta do meu quarto acaba de se abrir. É James.

MAIS TARDE, EM CASA

“Oi... você ta legal?” James perguntou, todo preocupado.

“Eu estou sim, mas é com você que estou preocupada. Como vai o seu punho?” perguntei, me sentando, enquanto ele sentava ao meu lado.

“Vai ficar legal... ei... você não ficou chateada com toda essa confusão, né?” ele perguntou, carinhoso, se deitando na cama e aninhando a cabeça no meu colo.

“Ah... eu sempre fico incomodada, sabe... não queria que as coisas fossem assim entre minha irmã e eu... mas eu não posso fazer nada quanto a isso. E se ela não quiser nos aceitar como somos, o problema é todo dela.”

Ele então me sorriu e ergueu o tronco, beijando meus lábios suavemente. Ficamos por ali mais um pouco, até que papai bateu na porta.

“Querida. Eles já foram.”

“Tudo bem. Nós também já estamos indo, não é Jamie?”

James concordou com a cabeça e saímos do quarto. Nos despedimos de papai e mamãe com calorosos abraços da parte deles e viemos para casa. Agora James está na cozinha, preparando o jantar. mas não sei porquê, acho que dessa vez não vai ser tão gostoso como da última vez...

Acho até que estou sentindo cheiro de queimado!

-.-.-.-.-

É. James queimou as batatas. Vou terminar de cozinhar o que sobrou e mantê-lo longe do fogão. Antes que ele ponha fogo na casa...

Bom, até qualquer dia, Diário! Não sei quando voltarei a escrever... sabe como é, não tenho muito tempo, e tal... mas a julgar por todas as situações enervantes que passei quando escrevi aqui, creio que naõ será tão tarde... nossa, e não é que eu só escrevo quando estou completamente surtada? Esse Diário deveria se chamar "Diário de uma Bruxa à Beira de um Ataque de Nervos". Ou algo parecido...

Bom, até!

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Notas:
¹: Uma homenagem para Íris Diggory, leitora dessa fic ... embora eu saiba que ela preferiria ser esposa do Cedric, e não mãe dele... mas pelo menos já é parte da família!

²: Como sabem, nas minhas fics eles escutam músicas trouxas, então... podem imaginar que música tenho em mente para essa festa? Hein, hein? “Cause this is thriller, thriller night...” Michael Jackson! Bom, na época ele era um cara legal…

³: Knightbus é o mesmo que nôitibus, em inglês. É que eu acho mais bonito Knightbus do que nôitibus. ;)

¹¹: Jogo de cartas parecido com Can-Can.

¹²: Licantropia, para quem não sabe, é a doença que transforma o ser humano em lobisomem.

¹³: Assistam o filme “Olha quem está falando”, com John Travolta e Kirstie Alley. É velho, mas é muito legal! Os dois me lembram um pouco nossos queridos James e Lily...

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