Pesadelo
Domingo, 31 de Dezembro.
SALA COMUNAL, 16:00
Esse recesso de Natal não poderia estar mais perfeito. Parece que eu finalmente consegui me entregar à felicidade. James é realmente maravilhoso. Por que eu não percebi isso antes? Ah, tanto faz, agora eu estou ótima, feliz...
Alice voltou ontem da casa de Frank, e quando contei a ela a “novidade” sobre eu estar namorando James, ela pulou de alegria, literalmente, desde então não pára de fazer comentários como “eu sabia que você ia deixar de ser boba e ficar logo com ele” ou “agora todas temos namorados”, o que ainda não se aplica à Marlene, mas esta ainda segue com seu plano, com muito sucesso devo acrescentar.
Depois do beijo dela com Sirius na noite de Natal, ele não pára de chamá-la pra sair, e ela dá a entender que vai ceder, mas acaba por deixá-lo apenas na vontade... dá alguns selinhos, despista, fica fugindo dele, sem nunca perder o charme. Está dando certo, porque ele está ficando louco por ela.
Só Emelina que não parece estar tão radiante como antes... só espero que não esteja acontecendo nada ruim entre ela e o Remo...
Hoje é véspera de ano novo... não sou muito supersticiosa, mas, dizem que se a gente passar a véspera de ano novo bem, feliz, ao lado de pessoas que você gosta, o ano inteiro vai ser assim. É, pelo visto, terei um ano novo perfeito...
DORMITÓRIO FEMININO, 00:00
Sabe quando a gente está muito feliz com alguma coisa, e pensa que não pode ficar melhor? Pois é, às vezes acontece de ficar pior. Estranho, não? Com Lílian Evans, tudo pode acontecer...
Eu estava indo jantar, quando, ao passar pelo corredor do terceiro andar, ouvi vozes equivocadas vindas de um canto escuro, e achei muito suspeito. Me aproximei, pronta para surpreender quem quer que fosse, e aplicar uma detenção se fosse preciso. Principalmente se fossem sonserinos. Sei que não é ético, mas... eu simplesmente adoro aplicar detenções nesses nojentinhos...
Enfim, me aproximei um pouco mais, e pude reconhecer uma voz. Eu quis não acreditar que aquela voz pertencia à quem eu achava que pertencia, mas não tive mais dúvidas quando surpreendi o pequeno grupo com um “Alto lá!” de monitora. Antes eu não o tivesse feito.
Me deparei com Severo Snape de ponta-cabeça, o rosto vermelho, e xingando em vão, já que tinha sido silenciado por um feitiço. Ta, até aí nada de mais. Mas quando vi quem é que estava azarando o pobre coitado (sim: ele pode ser sonserino, nojento, asqueroso, me chamar de sangue-ruim e tal, mas ainda é um pobre coitado. Sou uma pessoa extremamente justa), levei um choque.
- James! – gritei incrédula, no que ele se virou para mim estupefato; ainda pude ver um resquício de sorriso babaca naqueles lábios que eu beijara ainda hoje de manhã. Ao lado dele, é claro, estava Sirius Black, rindo de se acabar da careta que Snape exibia, tentando em vão se livrar das cordas invisíveis que o prendiam pelos pés.
- L-Lily! O-o que você faz por aqui? – ele disse espantado, se desconcentrando e deixando Snape livre do feitiço que o silenciava, no que este começou a xingar e a tentar alcançar sua varinha, que jazia a alguns metros dele.
- Eu não estou acreditando no que eu estou vendo! James Potter, como você pode fazer esse tipo de coisa? É tão covarde, injusto... O que ele fez para merecer isso? – gritei indignada, no que ele começou a buscar explicações, abrindo e fechando a boca várias vezes, mas sem conseguir proferir palavra nenhuma. Black só fazia aquela cara de “Ih, sujou!”.
- Pelo que me consta, Evans, não pedi a sua ajuda! Não preciso da defesa de uma sangue-ruim nojenta como você! Sei me virar sozinho! – falou Snape, cuspindo as palavras. Pestanejei um pouco ao ouvir àquelas palavras, mas me mantive firme.
- Hey, limpa a sua boca pra falar da Lily! - falaram Sirius e James ao mesmo tempo, no que os três começaram a discutir.
- CHEGA! – berrei, no que todos voltaram o olhar para mim, Snape ainda resmungando – menos trinta pontos para a Grifinória, e menos dez para a Sonserina, por faltar com respeito à uma monitora! – ouvi Snape resmungar mais um pouco, e James e Sirius contestarem os pontos perdidos, no que eu os interrompi – E DESFAÇAM O FEITIÇO NELE!
James desfez o feitiço, cabisbaixo, no que Snape apanhou a varinha do chão e ameaçou, pelo que pude entender, me incluindo no meio também.
- Vocês vão se arrepender disso! – e saiu esvoaçando as vestes.
Instantaneamente, James se virou para mim, com olhar suplicante, no que eu apenas ignorei, voltando a caminhar em direção ao Salão Principal. Ouvi Sirius murmurar algo para ele do tipo, “Boa sorte, Pontas”, e James logo veio correndo atrás de mim.
- Lily, você não vai ficar chateada por causa disso, vai? – parei, em frente á umas armaduras reluzentes e voltei para ele o olhar mais frio e decepcionado que consegui produzir.
- Pensei que você tivesse mudado! Será que depois de todos esses anos, você não aprendeu nada? Quantas vezes eu já não te disse que isso não é certo, e que você não pode tratar as pessoas assim? É desumano! – estourei
- Desumano é o modo como ele fala com você e você nem reage! Só isso já seria motivo suficiente para eu azará-lo! – retorquiu ele, um brilho irritado nos olhos escondidos por detrás das lentes redondas.
- Mas para isso é que existem os monitores! – falei, enfatizando a minha função – Para descontar pontos e dar detenções, repreendendo esse tipo de comportamento, e não humilhando as pessoas publicamente!
- Mas não tinha mais ninguém ali!
- Você entendeu o que eu quis dizer! – continuei meus cabelos antes arrumados quase que por milagre num rabo de cavalo perfeito, o que é muito raro, agora com vários fios soltos pelo meu rosto. Bufei, tentando colocar um dos fios que caíam sobre o meu rosto para o lado. – O coitado já é impopular, e você ainda faz isso com ele numa noite de festa! É muita crueldade!
- Ta bem, me desculpe Lily, eu prometo que não vou fazer de novo...
- Não confio mais nessas suas promessas!
- Ah, Lily, não vai ficar chateada por causa disso, não é? Por favor... – ele disse, me segurando pelo braço e me trazendo para perto de si, na tentativa de me beijar, mas apenas alcançando a minha bochecha.
- Não quero papo com você agora, James. – falei me desvencilhando de seus braços fortes e me virando para entrar no Salão Principal (a essa altura, já estávamos quase lá). – Até mais... – falei, e fui sentar junto às minhas amigas, bem longe, pude observar, de onde estavam os outros marotos.
Me sentei ao lado de Alice, em frente à Emelina e Marlene, que me lançou um olhar questionador, fazendo gestos mudos em direção a James. Lancei um olhar explicativo, indicando que mais tarde contaria tudo.
O jantar passou rapidamente, e logo estávamos na sala comunal, prontos para a festa de ano novo. A sala estava toda decorada com faixas e bolas brancas e prateadas, uma música agitada estava tocando, tinham alguns aperitivos nas mesinhas, e até cerveja amanteigada numa tina de gelo próxima a entrada. Soube que Sirius estava planejando trazer wisky de fogo contrabandeado... não sei se ele conseguiu... Subimos para o dormitório, para nos aprontarmos para a festa (vesti um vestido de veludo branco de mangas compridas e levemente decotado, cuja barra ia até o joelho, bem justa, com sandálias prateadas.) Todas devidamente arrumadas, descemos, e minhas três amigas me cercaram e exigiram que eu contasse o porquê da demora no jantar, e porque a feição contrariada que James exibia. Contei tudo, e elas fizeram um muxoxo de compreensão. Não deu pra saber de que lado elas estavam.
- Hum, Lily... – começou Alice, olhando para o lugar onde estava James, e voltando a me encarar um pouco incerta – eu sei que você acha o que ele faz com o Snape totalmente injusto, e, eu também concordo com você, mas... brigar com o James só por causa disso?
- Ah, mas... eu não briguei, exatamente... eu só o repreendi... fiquei com pena do Snape,e justo em noite de festa... provavelmente iam deixar o coitado preso lá a noite toda... e depois, o James nem deve estar ligando. Aposto que já está planejando outra maneira de azará-lo sem que eu descubra...
- Se você pensa assim... – detesto quando ela faz isso. Me deixa completamente na dúvida. Não dá pra saber se ela acha que eu estou certa, ou se estou errada. Mas, como sempre, dá a impressão de que estou errada. Encarei Marlene e Emelina buscando apoio, e elas sustentaram o olhar de Alice. Eu mereço amigas como essas?
- Ai, ta bom, se vocês querem tanto que eu fale com ele...
Me dirigi para o canto onde James estava, mas não reparei que havia uma pequena aglomeração que o rodeava, que apesar de sua popularidade, não era muito comum. Chegando mais perto, pude ver que ele conversava com uma garota do sétimo ano, que me detesta, e eu posso afirmar ser recíproco: Melissa Adams. Ela ria agarrada em seu pescoço, e ele também estava rindo muito, com um copo na mão. Eles estavam falando do incidente com o Snape:
- ... e a chata da Evans te impediu de azarar aquele seboso? – falou ela desdenhando o meu nome. Argh, como eu odeio essa garota! Parece que ninguém tinha reparado a minha presença ali. Preferi me manter incógnita e continuei a ouvir o que eles conversavam.
- Pois é... se não fosse por ela, eu teria acabado com o ranhoso...
- Ah, mas deixa ela pra lá... vamos nos divertir... – e dizendo isso, ela simplesmente o agarrou e começou a beijá-lo! E ele não fez objeção!
Deixei o copo que eu tinha na mão escorregar desta e cair no chão (na verdade, eu meio que joguei ele com força no chão...), mas não teve o efeito que eu esperava (se espatifando e chamando a atenção de todos) por causa dos tapetes espessos que cobrem o chão de toda a sala comunal. O copo caiu num baque surdo, e ninguém pareceu reparar. Pelo menos não quem eu esperava que reparasse. Indignada, me desvencilhei dali e corri para encontrar minhas amigas (engraçado como mesmo um ambiente pequeno e conhecido fica espantosamente grande e impessoal em festas como essa), mas senti um puxão no meu braço direito.
- Lily, você está bem? – era Frank, e eu nem reparei que tinha esbarrado nele ao passar ali como uma bala.
- Ah, estou sim, obrigada... hum você viu a Alice, ou a Marlene...?
- Não, devem estar por aí... ah, e se vir a Alice, diga que eu a estou procurando?
- Claro, pode deixar... – e voltei a procurar minhas amigas, quando ouvi uma risada irritante e conhecida novamente.
- Ah, James, olha só quem está aqui... – senti Melissa se aproximando de mim, ao mesmo tempo em que sentia meu estômago dar saltos mortais e minha cabeça latejar fortemente. - ... a Evans, de quem estávamos falando agora há pouco...
- Evans? – ele disse, os olhos meio turvos, mas como se acordasse de um devaneio.
Senti meu coração apertar, ao vê-lo abraçado a ela, e decidi voltar para o dormitório de vez, quando James se pronunciou novamente, agora com urgência na voz.
– Lily? Lily espere! – ele segurou o meu braço, um pouco vacilante pela quantidade de wisky de fogo que já tinha bebido, (sim, Sirius conseguiu contrabandear bebida proibida para a escola debaixo do nariz da McGonagall... se eu não estivesse tão chateada na hora, entregado ele para ela!) no que eu consegui desviar dele, mas sendo agarrada novamente.
- Me solta. – falei friamente, meus olhos já lacrimejando, mas sem encará-lo.
- Lily, me deixa explicar...
- Me deixe em paz, Potter– e fui ao encontro de Marlene e Alice, que estavam na escada, e já haviam me avistado.
- Deixa ela pra lá, James, ela não sabe se divertir como nós! – falou Melissa, dando-lhe mais um copo de bebida, no que ele rejeitou e foi cambaleando ao meu encontro, mas foi segurado por Remo e Sirius, que observavam a cena de não muito longe.
- Deixa ela ir, James. Depois você fala com ela. – disse Remo sabiamente. Percebi que Emelina estava com ele, e esta me lançou um olhar meio triste.
- Mas... – replicou James, mas este foi convencido por um outro argumento, de Sirius, que eu não consegui escutar o que era, e se calou. Marlene e Alice, que já tinham percebido mais ou menos o que tinha acontecido por intermédio de Frank, subiram comigo para o dormitório, onde estou agora.
Há pouco estive chorando no colo de Alice, como fiz há não muito tempo, e sendo amparada também por Marlene, que repetia frases reconfortantes como “calma, Lily, tudo vai ficar bem”, ou então “logo vocês dois se entendem de novo”. Não sei se quero essa última opção. Estou muito magoada. Até ontem James não desgrudava de mim, e agora está lá na sala comunal, visivelmente bêbado, se divertindo com a Melissa... me pergunto, como isso foi acontecer? Quero dizer, só porque eu o repreendi por zoar com a cara do Snape? Por ter sido justa? Só por isso? Isso é motivo suficiente para ele me trocar?
Não acredito nisso. Eu, Lílian Evans, depois de tanto resistir aos “encantos” de James Potter, quando finalmente cedo a ele, sou trocada por um motivo bobo e inadmissível? Pior, ele que se dizia apaixonado por mim, que só tinha olhos para mim... e tudo aquilo no Natal? E a cena de ciúmes com o Bryan? Como é possível alguém mudar de idéia assim tão rápido? E por quê, eu estou tão revoltada com tudo isso? Orgulho ferido, talvez? É, deve ser. Não acredito que me deixei passar por isso. Como pude ser tão boba? Como eu pude me deixar levar pelas emoções? Como eu não percebi as verdadeiras intenções daquele estúpido e arrogante do Potter? Ai, que ódio! Como eu sou burra! É claro que era só mais uma estratégia do Potter imbecil pra me conquistar e me colocar na listinha dele! E o pior é que eu caí nessa! Ai, como sou burra!
Ai ai... agora já é um novo ano... E eu passei a virada do ano jogada às traças (nossa, que termo dramático) no dormitório. Chorando descompensadamente. Tenho a triste sensação de que meu ano inteiro será assim...
Mas, como minha mãe sempre diz quando estou triste, amanhã é um novo dia...
Segunda-feira, 01 de Janeiro
BANHEIRO FEMININO DO 2º ANDAR, 8:00
Sim, amanhã é um novo dia, no caso, hoje. Mas quem disse que é um dia melhor?
Hoje de manhã as aulas recomeçaram, e eu, como de costume, acordei um pouco atrasada, no que saí correndo pelas escadas, com minhas amigas em meu encalço. Elas, e quando digo elas não me refiro só à Alice, Emelina e Marlene, mas sim à todas as outras garotas do meu dormitório, nunca acordam sozinhas, eu é que tenho que acordar primeiro e então acordá-las gentilmente com um de meus gritos potentes, portanto, quando eu me atraso, todas se atrasam também.
Enfim, eu vinha descendo as escadas apressada, enquanto tentava amarrar meu cabelo num rabo de cavalo, e a sala comunal estava apinhada (já que todos da Grifinória, não sei porquê, tem o costume de acordar tarde e se atrasar), quando eu, sem querer, acabei por notar um casal se agarrando no sofá um pouco mais à minha frente. Revirei os olhos, pensando, “eu mereço!” e quando faltavam dois degraus da escada para eu descer, eu percebo que o cara é o Potter, e a garota era Melissa Adams. Eu tinha me esquecido completamente do ocorrido na noite anterior. Foi como se eu tivesse levado um choque, quase caí da escada quando vi, mas parei de chofre, derrubando todas as meninas que vinham correndo coladas às minhas costas. Eu teria rido da situação, se ela não fosse tão séria. E, como nada que acontece comigo é discreto e silencioso, mesmo que não seja da minha parte, minha presença foi rapidamente notada. Graças, é claro, à um berro de uma Alice mal-humorada (ela sempre acorda mal-humorada, principalmente quando está atrasada), que era a última da fila de meninas atrás de mim:
- Lily, por que você parou no meio da escada?
Para quem não tinha reparado na avalanche de meninas caindo escada abaixo, essa foi a segunda chamada para chamar a atenção de todos, que rapidamente viraram os olhares para mim, inclusive Potter que estava bem à minha frente, próximo à escada, ainda abraçado à nojentinha da Melissa Adams. Ele mostrou uma feição de pânico no rosto, e rapidamente largou a garota, que caiu numa poltrona próxima, com os cabelos todos desajeitados. Contive uma risada. Não era hora de rir agora.
- L-Lily... e-eu... – ele tentou falar, quando eu terminei de descer os degraus calmamente, os olhos firmes mirando o chão, acompanhada de Marlene e Emelina que estavam, respectivamente:
Desapontada com uma cara de “hoje eu mato um!”; e chocada com uma cara de “não acredito que ele fez isso!”. Alice passou pela aglomeração de meninas na escada e se pôs ao meu lado, fazendo uma cara de surpresa e raiva extrema, olhando de mim para o Potter, dele para Melissa, e novamente para mim. Eu respirei fundo, e disse friamente, olhando firme nos olhos dele.
- É Evans, Potter. Com licença... – e saí dali acompanhada de minhas amigas, deixando-o para trás com uma cara de completo idiota no meio de todo mundo. Ouvi a voz de Remo mandando todos dispersarem e irem para aula, ao mesmo tempo que uma nuvem de cochichos se estendia para além da sala comunal. “Eles estavam saindo juntos e terminaram ontem à noite”, foi um dos comentários que escutei. Meu coração ficou apertadinho, mas continuei andando firme.
Ao invés de ir tomar café-da-manhã e ir para a primeira aula que era de herbologia, vim direto para cá, me esconder numa dessas cabines abandonadas, acompanhada de minhas amigas que tinham caras tristonhas que tentavam mostrar solidariedade, mas só conseguiam me deixar com mais pena de mim mesma, por ter sido tão idiota à ponto de acreditar num imbecil qualquer.
- Lily, você está bem? – perguntou Emelina, com um tom de receio. Reprimi um soluço e respondi com voz embargada.
- Não. Estou me sentindo completamente idiota. – e como!
- Ah, se eu vir o James na minha frente, eu juro que... – começou Alice
- ... estraçalho ele todo, a começar pelos óculos para ele não enxergar nada, e vou cortar todo aquele cabelo que ele tanto gosta! – completou Marlene. As duas se olharam, num silêncio de compreensão. Ambas compartilham idéias psicopatas...
- Meninas, parem com isso! Vamos, Lily, saia daí... eu sei que você deve estar muito magoada, principalmente depois de tudo que... que...
Ai, eu não acredito nisso, Emelina está chorando! Que tipo de amiga é essa, que chora no seu lugar? E desde quando ela é tão sensível assim? Ela joga quadribol! Certo, eu vou sair. Mas quando puder eu relato o resto da conversa.
AULA DE HISTÓRIA DA MAGIA, 09:30
Bem, aqui está o resto da conversa do banheiro:
- Mel, não precisa chorar! – eu falei, saindo da minha cabine e sendo rapidamente abraçada pelas três.
- Ah, Lily... é que vocês dois eram tão perfeitos um pro outro... – uma lágrima se formou no meu olho direito e rolou pela minha face, solitária.
- Nunca fomos aquilo foi só uma fraqueza... Eu fico mais sensível na época do Natal, você sabe...
Foi quando meu gato, Luke, morreu, no meu terceiro ano em Hogwartz. Parece bobo ficar triste por causa de um gato, mas ele era meu amigo e confidente, fiquei arrasada quando ele pulou da torre do corujal, pensando que podia voar que nem uma coruja, na manhã de Natal... por isso fico sensibilizada nessa data, e acredito em bobagens que garotos idiotas me dizem...
- Ele não podia ter feito isso com você... Não com você... – ela frisou. Não entendi muito bem e resolvi perguntar.
- Por que, não comigo? Nós todas sabemos o quanto ele é galinha, enganador e aproveitador. Foi só uma questão de tempo até que eu cedesse e caísse de amores por ele – as três fizeram caras chorosas, no que eu continuei cautelosa -. Eu, mais do que ninguém, deveria ter percebido que tudo era apenas um plano, que, graças à cena de hoje, não vai se concretizar por completo, porque eu não vou sair com ele num encontro nem dar o gostinho de ele mostrar pra todo mundo que eu finalmente me rendi aos encantos dele. E, por mais que eu esteja destruída por dentro, ah, não façam essas caras, foi melhor assim.
Estou surpresa com essa minha atitude tão equilibrada. Não era para eu estar completamente arrasada e aos prantos, como naquela vez que ele me arrancou m beijo na frente de todo mundo? Dessa vez é pior! O que está acontecendo comigo?
- Mas, Lily, o James te ama!
- Mel, como você, que o conhece há mais tempo, se deixou enganar por essas mentiras? Nem eu caio mais nessa!
- Estou falando sério, Lily, eu sei que ele te ama! Alguma coisa aconteceu, algo sério... – meu coração deu um pulo. Por que Emelina sabe de todas essas coisas? Como assim ela sabe que ele me ama? Isso está muito estranho...
Passados alguns minutos, em que eu extravasei minha raiva e minha mágoa num balde próximo, enxuguei as lágrimas e fomos para a segunda aula, de História da Magia, e como pode ver, voltei a escrever durante as aulas, deixando de copiar essa matéria tão importante para os exames que já sinto estarem se aproximando...
Não acredito que me deixei ser enganada pelo Potter. Caramba, até anteontem nós parecíamos um casal de namorados, e hoje de manhã, por causa de um desentendimentozinho de nada, ele já estava beijando outra na sala comunal na frente de todo mundo... Sou muito estúpida mesmo, como pude acreditar nele...
Um papelzinho acaba de pousar em minha mesa, após um vôo gracioso. É do Potter, óbvio. Ótimo, o que poderia ser agora? Um pedido de desculpas? Ignoro totalmente, voltando minha atenção para coisas mais importantes:
Novos adjetivos para o Potter: ridículo, imbecil, energúmeno, estúpido, idiota, asqueroso, enganador, aproveitado, falso, mentiroso...
Outro bilhetinho pousa em minha mesa, vindo do meu lado esquerdo. Olho para Sirius que está, milagrosamente sentado numa das primeiras fileiras, bem ao meu lado. Ele me olhou com uma cara aflita, e pediu para eu ler. Viro a cara com frieza. De repente, outro bilhetinho, vindo do meu lado direito, pousa nas minhas mãos. Esse é do Remo, que me olha penosamente, parecendo bem preocupado comigo. Ta, vejamos o que ele tem a dizer:
“Lily, você está bem? Olha, eu sei que o que o James fez foi terrivelmente errado, de todas as garotas ele não poderia ter feito isso justo com você, mas veja o que ele tem a dizer, por favor. E, eu aconselho você a abrir o bilhete do Sirius, pois este poderá se auto-destruir daqui a poucos minutos.”
Até tu, Remo? Meu melhor amigo, que namora uma das minhas melhores amigas, me pedindo para eu perdoar o imbecil! Eu não acredito nisso!
Ta bom, Remo, mas só porque você é meu amigo. E, só pra concluir, depois dessa, nossa amizade está por um fio!
“Pode deixar, Lily, confie em mim. O James é idiota, mas não a ponto de fazer alguma coisa que pudesse te deixar profundamente magoada. Acredite. Eu conheço ele.”
Ta, ta, já entendi. Mas não prometo nada, viu? Vou só ler o bilhete dele.
“Ok. Mas abre o do Sirius antes, que já ta começando a sair fumacinha...”
Certo, melhor ver o que o Sirius tem a dizer...
“Lily, eu soube do que aconteceu na sala comuna, e o que aconteceu ontem também. Não é culpa do James, acredite! Leia o bilhete dele, por favor.”
Era só o que me faltava! Mais um para defender aquele safado, cachorro e sem-vergonha!
Não sei se percebeu, Black, mas eu estou tentando prestar atenção na aula. E você deveria fazer o mesmo.
“Lily, não fuja do assunto!”
Reviro os olhos. Ta, vou ler o que ele tem a dizer...
“Lily, me perdoa, por favor! Ontem eu estava um pouco chateado porque você brigou comigo por causa do Snape e acabei bebendo um pouco além da conta... Eu não queria ter beijado a Adams! Foi ela que me agarrou! Você sabe que eu gosto de você! Você é especial! Por favor, não vá jogar fora tudo aquilo que nós tivemos no Natal, por favor!”
Crápula, mentiroso, atrevido... Respondo pra ver se ele pára de olhar pra cá...
Não tenho nada a ver com o que você faz ou deixa de fazer na sua vida. E o que aconteceu no Natal é passado. E não minta que gosta de mim ou que me acha especial. Não sabe que só me magoa?
“Lily, estou dizendo a verdade quando digo que gosto de você! Gosto muito mesmo! Por favor, acredite em mim! E tudo o que eu menos queria era te magoar! Você é muito especial para mim, Lily, você sabe disso. Por favor, me dê uma chance! Pra te provar de uma vez por todas que eu mudei!”
Ah, claro que mudou! Ai, que raiva! Controle-se Lily, mantenha a calma. Responda com classe.
Já te dei chances demais. E depois, você não tem que me provar nada. Agora me deixe em paz, preciso estudar.
AULA DE TRANSFIGURAÇÃO, 10:30
Cinco minutos depois do último bilhete a aula acabou, e antes que eu o deixasse vir atrás de mim, saí correndo para a aula de poções. Ele me mandou mais um bilhete na aula, mas apenas amassei e joguei fora, sem nem antes ler. Minhas amigas estão preocupadas comigo. Acham que estou muito calma. Na verdade, pela primeira vez na vida estou completamente sã. Equilibrada. É assim que eu tenho que agir. Alice diz que eu estou em estado de choque, e ainda não assimilei os últimos acontecimentos. Estou muito bem. Perfeitamente bem. Não ligo para o fato de ter me apaixonado pelo idiota do Potter e ele ter se atirado pra cima de outra garota hoje mesmo. Não ligo nem um pouco.
BANHEIRO FEMININO DO 2ºANDAR, 10:40
- Por quê, justo eu tinha que me apaixonar pelo Potter! Por que! – choro desesperada, trancada na minha já habitual cabine do banheiro da Murta-que-Geme.
- Lily, por que você não conversa com ele? Ele mesmo não disse que tem uma explicação? – diz Emelina.
- Ai, Mel... eu sou tão burra... – soluço
- Não é não! – diz Marlene – ele é que idiota de te deixar nesse estado! Mas... por que você não faz o que a Emelina disse?
- Ah, Lene... EU NÃO VOU ME REBAIXAR A OUVIR AS MENTIRAS QUE AQUELE IMBECIL TEM PRA ME DIZER! – estourei.
- Essa é a Lily que eu conheço! – fala Alice, no que Emelina se vira para ela com um olhar reprovador. Deu pra ver pela frestinha lateral da porta.
- Lily, eu falei com o Remo, e ele disse que o James quer muito falar com você. Pra se explicar de verdade. Por favor, apenas ouça o que ele tem a dizer! – Emelina voltou a insistir.
- Será que você não entende que ele não tem nada para explicar? Aliás, ele já até tentou por meio dos bilhetes e não conseguiu. Não há necessidade de tentar novamente. Eu sei o que eu vi, e nada muda isso!
As três se calaram. Certo, chega de se lamentar por agora. Você está perdendo conteúdo importante da aula de transfiguração, Lily. Controle-se, acalme-se. Encontre o seu equilíbrio. Aquele idiota não merece as suas lágrimas. Nem umazinha sequer. Respiro fundo e digo finalmente:
- Ai, chega! Vamos voltar para a aula!
SALA COMUNAL, 11:00
A profª. McGonnagal não deixou que retornássemos à aula dela, tirou cinco pontos de cada uma de nós, e nos mandou para a sala comunal, só porque saímos no meio da aula dela para irmos ao banheiro e só voltamos dez minutos depois! Que falta de compaixão da parte dela! Será que ela nunca teve o coração partido por um cara estúpido?
É, parece que estou em crise pela segunda vez esse ano. Tudo por causa de uma mesma pessoa, que agora odeio mais do que tudo na vida. Calma, Lily, respira. Ta tudo bem. Você supera essa. Vamos voltar para os deveres de casa.
Alguém está entrando pelo buraco do retrato. Só espero que não seja alguém indesejável...
DORMITÓRIO, 11:30
Era Melissa Adams, ladeada de sua irmã e suas amigas patricinhas. Baixinha, magricela como um cabide, cabelos tingidos de louro-mel, com direito à raiz morena (Louro-mel não é uma cor antipática? Os cabelos de Emelina são louros, mas não tem uma “clasificação”. E principalmente, são naturais. Não são tingidos. Completamente ridículo) e alisados por feitiços e poções de beleza (eu sei porque já cansei de pega-la no banheiro com esses produtos e outros ilegais), maquiagem carregada. Metida ao extremo. Ignorei sua presença, mas ela veio até mim, sorrindo sonsamente. Eu já não gostava dessa garota, agora gosto menos ainda.
- Oi Evans, soube que foi expulsa da aula hoje. Deu mais um de seus ataques de nervos? – que garota insuportável! Mantive a classe e respondi apenas:
- Minha cara, isso não é da sua conta. E você, está matando aula?
- Não é da sua conta. – nossa, que resposta criativa
- Certo, então você poderia me deixar estudar, sim?
- Claro, não quero desviar sua atenção. E, à propósito, não sei se soube – cínica! – mas eu e James Potter – ela enfatizou - estamos juntos...
- Que bom pra você! Agora me deixe em paz!
- Ih, Evans, stress faz mal, sabia? Vai acabar morrendo mais cedo... – falou desdenhosa. Aliás, tudo que sai da boca dela vem com desdém. Ela é o desdém em pessoa. E como é mórbida. Credo...
- Vamos Lily, não precisamos ouvir isso... – falou Alice, se segurando para não bater nela. Mais barraqueira que eu, só ela. E, como eu não estava em posição de armar barraco, segui seu conselho e me virei para as escadas, lançando um último olhar de fúria para a patricinha metida...
- Isso, vai mesmo! Você sabe que não pode comigo, Evans! O James nunca vai querer alguém como você, se ele puder ter a mim...
- Ah, cala essa boca sua ridícula! – falou Alice indignada, no que foi segurada por Marlene.
- Nossa, Evans, sua amiguinha consegue ser mais nervosa do que você... – ela soltou risionhos com as comparsas me virei com olhos de fúria. Ela podia falar o que quisesse de mim, mas não tinha o direito de insultar minhas amigas.
- Deixa essa insuportável pra lá, Lily... Vamos subir,... – falou Emelina, ao ver o meu olhar fuzilante pra cima da garota.
Eu mereço isso? Falando sério, o que é que eu fiz pra ter essa metidinha me infernizando? Já não basta a humilhação de ter sido trocada pelo maior galinha da escola e estar em crise novamente por causa disso? Não quero nem ver como será o almoço hoje. Talvez eu nem deva ir... Não estou com fome mesmo...
AULA DE FEITIÇOS, 14:30
Minhas amigas me convenceram a comparecer no almoço de hoje. Disseram que se eu ficasse trancada aqui, isolada do mundo, ia dar na vista que eu estava magoada, e a nojenta da Melissa ia conseguir o que ela queria: me deixar pra baixo. Pois bem, o almoço até que não foi tão ruim. Mas eu não vi o Potter... e pensando bem, ele não está aqui na aula também... ah, na certa está se agarrando com aquelazinha... mas eu não quero saber. Não me interessa. Estou farta dessa história. O Potter que se dane, e a Melissa também!
Acabei de receber um bilhetinho na minha mesa. Estranho, já que a pessoa que geralmente me manda bilhetinhos não está aqui (pára de pensar nele, Lily!). olho pro lado e vejo, que quem me mandou o bilhete é ninguém menos do que Bryan Leigh! Tinha esquecido de mencionar que as aulas de Feitiços são com os corvinais. Bem, o que será que ele tem a dizer?
“Oi Lílian (ele pode me chamar de Lílian porque também é monitor e nos encontramos muito nas reuniões da monitoria; ele tem minha permissão para isso; diferente de outras pessoas que eu não deveria estar pensando no momento). Percebi que você tem andado meio triste ultimamente... está tudo bem?”
Que lindinho! Ele se preocupa comigo! Apesar de eu simplesmente detestar ter que ficar dando satisfações da minha vida até pra meus amigos, quanto mais para colegas... Mas por ele estar sendo gentil, não vou responder de mal humor. Afinal, ele não merece que eu desconte toda a minha raiva dos homens em cima dele...
Realmente não estou muito bem Bryan, obrigada por se importar! Mas nada muito grave, não se preocupe...
“Se tiver alguma coisa que eu possa fazer para ajudar... saiba que pode contar comigo!”
Certo, pode ter certeza que eu me lembrarei de você. Obrigada mais uma vez.
Ele respondeu a esse último bilhete com uma piscadela. Nossa, ele é realmente lindo. Com aqueles cachinhos loiros caindo cobre os olhos azuis como se fosse um anjinho... Lindo mesmo...
Nossa, o sinal já tocou. É melhor eu ir...
BIBLIOTECA, 15:30
Tenho um horário vago agora, e como não quero voltar a esbarrar com aquela garota na sala comunal, vim para um lugar que ela jamais poria os pés em dias normais, e que por sorte minha, é meu lugar preferido em toda a escola: a biblioteca. Eu sei que já devo ter escrito sobre a minha paixão por livros várias vezes, mas não posso evitar. Sou aficionada por conhecimento e leitura.
Certo, mas o que eu ia dizer mesmo? Ah sim, a razão por eu tanto odiar a Melissa Adams. Pois bem.
Antes de tudo, é preciso esclarecer, que por compaixão (não ironia) do destino, Melissa Adams mesmo sendo do mesmo ano que eu, não ocupa o meu dormitório, motivo o qual eu explicarei mais tarde. Agora, um retorno ao passado: como eu conheci Melissa Adams:
Eu tinha onze anos, era nova na escola, não conhecia quase ninguém ainda, mas já sabia que sonserinos não eram boas pessoas. Certa tarde de novembro, eu tinha me perdido num dos inúmeros corredores do castelo, e não sabia como voltar para a sala comunal, quando esbarrei em Melissa Adams. Na época, os cabelos dela eram bem castanhos-acinzentados e frisados (armados, mesmo), diferente de hoje (louro-mel e alisados).
- Olhe por onde anda, ô garota!
- Me desculpe, é que eu estou perdida... você é da Grifinória também, poderia me dizer qual o melhor caminho para a sala comunal?
Ela me olhou de cima a baixo, como se considerasse se ia me dizer ou não. Por fim, abriu um sorriso falsamente meigo que eu, sendo totalmente ingênua na época, pensei ser um sorriso amigável.
- Claro! Pegue aquela escada ali – ela me apontou uma escada circular bem afastada das outras, num canto escuro perto de uma estátua de cobra – e desça, que você vai dar de cara na sala comunal! – outro sorriso afetado.
- Hum... tem certeza? – perguntei meio incerta. Eu sabia que a sala comunal da Grifinória era mais pra cima, e não pra baixo. Mas, como a perdida era eu...
- Absoluta! Vai sem erro! – e ela me piscou um olho, bem confiante. – Se quiser, eu posso ir com você!
- Ah, eu agradeceria muito! A propósito, meu nome é Lílian Evans! – disse, estendendo minha mão para cumprimentá-la, no que ela ignorou e disse, um pouco arrogante, sem tirar os olhos da direção que estávamos seguindo:
- Melissa Adams.
Descemos a escadinha, e pude perceber que o ar ficava mais úmido, cada vez que descíamos mais. Ao chegarmos lá embaixo, percebi que estávamos nas masmorras. Mais especificamente, à porta da sala comunal dos sonserinos. Gelei.
- A-adams... acho que estamos no lugar errado... – tarde demais.
- Ora, o que temos por aqui? – falou Lúcio Malfoy, um garoto alto, de lisos cabelos platinados e olhos cinzentos, com um sorriso desdenhoso, ladeado por um garoto franzino de cabelos oleosos e um nariz anormalmente grande, e uma garota pálida de cabelos muito pretos – uma grifinória nas masmorras? Não sabe que aqui não é o seu lugar? – falou com frieza dessa vez. Respirei fundo, ergui o queixo e respondi, tentando não aparentar medo:
- Desculpe, acabei me perdendo... vamos sair daqui, Adams... – falei, tentando voltar para escada, no que ela me puxou de volta.
- Relaxa, Evans, creio que não te apresentei os meus amigos... Malfoy, Snape, Black... essa é a Evans... uma trouxa...
- Sangue-ruim! Não é digna de estar aqui nessa escola, sobretudo em território de sangues-puro! – vociferou Belatriz Black, um ano mais velha que eu, que por acaso é prima de Sirius, mas como deu pra ver, não se parece nada com ele.
Foi a primeira vez que ouvi aquele xingamento, e me senti completamente indesejada, rejeitada e menosprezada. Eu tinha apenas onze anos, oras! Tentei sair dali, algumas lágrimas começando a se formar em meus olhos. Sempre fui chorona, mas essa situação era terrível! Nunca me trataram dessa forma! Mas então me vi cercada por eles e mais alguns sonserinos que chegavam, e estremeci de raiva ao ver a cara risonha de Melissa Adams... Eles estavam prestes a lançar um feitiço em mim, quando por muita sorte, o feitiço foi desviado. Olhei pra trás pra ver quem tinha me salvado, e descobri ninguém menos que Remo Lupin e Sirius Black, que estavam fazendo sei-lá-o-quê ali.
- Querido primo! Deu pra defender sangues-ruim agora? – Belatriz falou com arrogância.
- Cala a boca, sua nojenta! E não chama ela assim!
- Então eu sugiro que se retirem, porque esta é uma área de sangues-puros, e não sangues-ruins e traidores do sangue! – falou Malfoy, olhando significativamente para eu, Remo e Sirius.
- Vamos, Lílian, vamos sair daqui... – falou gentilmente Remo, que eu já conhecia e já tinha alguma afinidade, me guiando até a escada, enquanto Sirius lançava um último olhar furioso para os sonserinos e para Melissa Adams.
Nossa, tinha me esquecido que Sirius tinha sido legal comigo! Eu só lembrava dele como metido e galinha... até porquê, quem me levou até a sala comunal e me consolou, foi o Remo, porque ele teve que se encontrar com o Potter para aprontar alguma coisa... bem, vou me lembrar de agradecer depois...
De qualquer forma, foi assim que eu conheci Melissa Adams, e comecei a odiá-la. Mas não pense que foi só por causa disso. A megera fez muito pior. Derrubou uma jarra inteira de suco em cima de mim durante um almoço, derramou tinta em um trabalho super importante de dez páginas sobre a guerra dos gigantes que valia uma pontuação muita alta em História da Magia, me empurrou escada abaixo pelo menos duas vezes, tendo sido a razão de duas semanas com o braço engessado, sendo que eu nunca tinha quebrado nenhum osso na minha vida, entre outras coisas, mas isso só no primeiro ano. Depois, quando conheci e fiquei mais próxima de Alice e Emelina, passei a dar o troco, deixando-a com mais raiva, e é por isso que hoje somos inimigas mortais.
O fator decisivo que fez a McGonnagal mudá-la de dormitório no início do segundo ano (ninguém nunca soube, achavam que era por causa da irmã mais nova que era muito ligada a ela) foi quando ela retalhou todos os meus travesseiros e o colchão da minha cama, rasgou os cortinados da mesma, e picotou o meu cabelo durante a noite. Tive que usar um gorro na cabeça por quase dois meses, até que o meu cabelo começasse a crescer parcialmente de novo, já que um lado tinha ficado mais curto do que o outro... tudo isso como vingança por eu ter tingido magicamente por apenas alguns minutos os cabelos dela de amarelo gema-de-ovo... alguns minutos! Não tenho dúvidas que essa garota tenha sérios desvios de conduta e distúrbios de comportamento. Ela é completamente louca, insana, maluca mesmo!
E eu pensando que tinha me livrado dela... nos últimos dois anos eu quase não a vi em todo o castelo... se bem que quando eu a via, ela lançava olhares de ódio, e era justamente quando o Potter insistia para eu sair com ele... hum... será que ela tinha ciúmes? Parece que sim, já que agora ela não faz outra coisa a não ser esfregar na minha cara que está com ele. Pouco me importa. Não quero aquele traste cafageste nem pintado de ouro, com uma fita cor-de-rosa, uma caixa de chocolates, um buquê de lírios e cantando a minha música preferida na frente da escola inteira! Nunca mais eu quero saber de James Potter ou Melissa Adams!
DORMITÓRIO, 21:00
O banquete de boas-vindas aos alunos e reinício de ano (apesar de todos termos reiniciado as aulas hoje cedo) começou com um longo discurso do prof. Dumbledore, e terminou com o anúncio de um Baile da Primavera, em maio. Todas as meninas se alvoroçaram com a idéia. Eu até achei legal, mas tem que ter acompanhante... detesto bailes que tem que ir acompanhada... é como se te obrigassem a ter um namorado ou ficante! Totalmente injusto! E eu, sendo monitora, sou obrigada a ir. Eu mereço?
E o pior, terei que participar da organização do baile. Eu sou péssima para organizar as coisas. Quero dizer, eu sou organizada, minhas coisas são organizadas, mas organizar eventos é muito diferente de livros em ordem alfabética e roupas em ordem de cor... Tem que ter planejamento, orçamento, comprometimento, e eu não sou muito boa com tudo que termina em –ento. Sério mesmo. Por exemplo, relacionamentos. Ah, eu tenho que ficar lembrando a mim mesma que sou sozinha, não arranjo um namorado, e quando me apaixono, o cara é um cafageste que me troca no segundo seguinte? Minha vida é uma tragédia!
SEXTA-FEIRA, 05 DE JANEIRO
DORMITÓRIO, 21:00
O Potter parou de me atormentar e querer conversar comigo, e Melissa Adams não deu mais as caras na minha presença. Minhas amigas continuam preocupadas comigo, achando que eu etou muito abalda, que eu realmente estou apaixonada pelo idiota, e que isso está se refletindo nos meus estudos, blá blá blá. Remo também acha que eu estou muito mal, e triste, pra baixo... até Sirius diz que não osu mais a mesma! Por que tenho amigos tão observadores?
SALA COMUNAL, 01:00
Tive um pesadelo e não consegui mais dormir. Foi o mesmo pesadelo que tive há mais ou menos um mês atrás. Só que dessa vez foi mais... Arrepiante. Aterorizante. Terrível. Nunca senti tanto medo num sonho, nem mesmo na vida real. Sonhei com uma perda. A morte de alguém muito especial. Muito essencial para minha vida.
Acordei completamente suada, o coração batendo acelerado, meu corpo trêmulo; desci as escadas cambaleando, bebi um copo d'água e me afundei no sofá próximo à lareira, tentando me aquecer. Estava sentindo um frio inexplicável incomum. Agora já passou. Mas a sensação da perda ainda é muito vívida em minha mente. Não sei se vou conseguir dormir de novo.
Ouço passos na escada. Talvez eu devesse voltar lá pra cima, mas não consigo me mover. Não ainda. Vou ficar aqui, talvez a pessoa não me veja...
DORMITÓRIO, 01:30
Agora há pouco era James Potter na sala comunal, que para meu azar, me notou, e veio sentar-se ao meu lado, no que eu me encolhi mais ainda, abraçando os joelhos de encontro ao meu peito. Eu não queria nem olhar na cara dele, muito menos lhe dirigir a palavra, mas senti uma certa sensação de alívio ao vê-lo tão próximo. Me limitei a ouvir o que ele diza sem querer responder. Mas quem disse que eu consigo ficar de boca fechada? Principalmente quando James Potter está no estado mais deplorável possível, mais até do que o meu?
- Lily, o que faz aqui a essa hora? - a voz dele estava rouca, e os olhos bem fundos. Parecia que não dormia direito há dias...
- Tive um pesadelo. - respondi olhando as poucas chamas da lareira dançarem lentamente à minha frente. Por que eu tenho que ser tão sincera às vezes? Digo, eu minto o tempo todo! Não que alguém acredite, mas... por que justo com o Potter eu não consigo mentir?
- Eu também. - arrisquei a olhar para ele, e percebi um brilho diferente nos seus olhos. Um brilho triste, levemente esverdeado. Mas os olhos dele são castanhos... sempre achei que fosse o reflexo dos meus olhos verdes nos dele. Mas não. Os olhos de James Potter são castanho-esverdeados, mesmo... - Você sempre tem pesadelos? Como são?
- Não é sempre... na verdade são meio raros... geralmente eu não sonho com muita coisa... - corei ao lembrar de sonhos românticos com a pessoa que estava ao meu lado no momento - mas este pesadelo é bem terrível... sinto que perco algo muito importante... - parei. Por que eu estou conversando com ele? Não foi ele que despedaçou o meu coração? Não é ele o cafageste, idiota e arrogante? Páre de conversar com ele, me censurei. Mas, quem disse que eu escuto a minha razão quando estou perto dele? Digo, realmente próxima, sem ninguém à nossa volta?
- Meus pesadelos também são assim... - ele emendou - uma temível sensação de perda... o irônico, é que não é só nos pesadelos que me sinto assim... tem acontecido na realidade também... - ele olhou de soslaio para mim. Tinha a cabeça apoiada no encosto do sofá, com as mãos sobre a testa, estava sem os óculos (ahá, então é por isso que eu reparei nos olhos castanho-esverdeados! Mas... não era para ele estar cego como um morcego?), e as pernas esticadas apoiadas na mesinha de centro, com os pés descalços (até que o pé dele é bonitinho... concentre-se, Lílian!). Estremeci com o oçhar dele e desviei, olhando para minhas unhas roídas, com as mãos no assento do sofá.
- Lily... - ele pegou na minha mão. Tentei puxa-la de volta, mas ele continuou segurando-a - por favor, acredita em mim. Eu não quis ficar com a Adams, foi ela que...
- Por favor, pára. - falei, pegando minha mão de volta e olhando para os meus joelhos.
- Lily, você tem que entender... eu gosto é de você... - ele tentou se aproximar, mas eu fui mais rápida e me levantei, ficando de costas para ele.
- Não começa com isso de novo... por favor... me deixa em paz...
- Mas Lily, eu...
- Boa noite, Potter. - e com lágrimas nos olhos, eu subi para o dormitório, sem olhar pra trás.
Por que? Por que eu tenho que ser tão idiota? É bem capaz que ele não quisesse nada com a Melissa, e que ela o tenha agarrado mesmo, só pra me deixar como estou agora. Do jeito que essa garota me odeia, tenho certeza que foi isso mesmo que ela fez. Mas então, por quê eu não esqueço tudo e perdôo o James? Porque eu sou burra, é a única explicação! Ou então não quero sofrer... não mais do que eu já sofro longe dele... por mais que ele diga que gosta de mim, como vou ter certeza? E mais, sempre vão existir garotas paranóicas, querendo tê-lo a qualquer custo. Será que eu suportaria, sendo ciumenta do jeito que sou? E o que me garante que ele não vai me trair (como se tivéssemos alguma coisa...) com outra, alegando que "foi agarrado"? Não tem mais jeito... já estou apaixonada por ele, e isso é fato; mas não posso simplesmente me entregar de vez. Não com tantos empecilhos.
Mas o que é isso? Estou deixando minha felicidade de lado por insegurança? Pode ser; mas é por orgulho também. Todos da Grifinória já sabiam que estávamos juntos, quando houve a "traição" na noite de ano novo, e no dia seguinte a escola inteira já sabia. Foi péssimo para a minha imagem. Lílian Evans, a que sempre recusou, o cara mais lindo e popular, finalmente cedeu e foi trocada, como qualquer uma. Fiquei com o orgulho ferido. Orgulho é uma coisa idiota, eu sei. Mas é o que me impede de me sentir inteira, completa.
Talvez nem seja tanto o orgulho, e sim o medo. Medo de ser feliz. Mas, se eu deixar o medo me dominar, posso acabar vivendo um pesadelo...
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